quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Com investidores em NY, Michel Temer 'volta ao passado para rifar o futuro', diz especialista

Com investidores em NY, Michel Temer 'volta ao passado para rifar o futuro', diz especialista


Para Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos, assim como na China, presidente foi aos EUA 'vender o Brasil'
Em discurso proferido nesta quarta-feira (21/09), em Nova York, em evento promovido pela Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham Brasil), em colaboração com a Council of the Americas (COA), o presidente Michel Temer enumerou as reformas neoliberais e privatizantes que seu governo está implementando no país como argumento para convencer o mercado a investir no Brasil.
A uma plateia formada por executivos, Temer afirmou “esperar que os senhores possam participar com o Brasil de uma nova visão que o Brasil tem hoje do mundo”. “A iniciativa privada participar junto com o poder público do desenvolvimento do país é fruto da nossa Constituição”, disse. Ele também se reuniu com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Aos investidores, Temer citou como exemplos de que o Brasil está preparado a receber investimentos a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 (que congela investimentos em educação e saúde durante 20 anos), a quebra do regime de partilha do pré-sal, as reformas da Previdência e trabalhista e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que entrou em vigor na semana passada, que vai abrir o mercado para concessões a multinacionais de obras de infraestrutura, petróleo e gás.
“O que estamos fazendo aqui é falar da infraestrutura brasileira, que é exata e precisamente onde os senhores empresários poderão ter um interesse maior.” “No Brasil hoje temos uma estabilidade política extraordinária, por causa da relação adequada entre Executivo e Legislativo”, disse, acrescentando que isso garante a segurança jurídica que permitirá que os contratos sejam cumpridos. Citou pesquisas que revelam que a confiança está voltando rapidamente ao país.
Beto Barata / PR

Joe Biden, vice-presidente dos EUA, em encontro com Michel Temer e José Serra em NY
“Estamos voltando ao passado para rifar o futuro”, diz Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). "Temer foi vender o Brasil, assim como foi vender para a China na reunião do G20 (no início do mês), dizendo que a parceria de investimentos vai abrir mão inclusive da legislação ambiental, que vai exigir licenças aceleradas para garantir investimento em infraestrutura. Está tentando vender o Brasil tanto para os Estados Unidos quanto para onde vislumbre capitais disponíveis e dispostos a apostar nesse pacote neoliberal”, disse.
Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), a afirmação de que o país voltou à normalidade política é “risível”. “Dizer que o Brasil vive uma estabilidade política extraordinária é tão risível que ele se descredencia como interlocutor com razoável credibilidade. Sabe-se no mundo inteiro que ele não pode sair na rua, que é uma figura execrada, não pode participar de um evento público”, diz. “Num mundo globalizado, com internet, ele passa por uma figura ridícula. Isso leva a um descrédito de qualquer afirmação sobre estabilidade econômica e cenário para investimentos.”
Apesar da impopularidade, Temer garantiu aos investidores que vai aprovar as reformas, o que parece provável do ponto de vista do Congresso hoje. Ressaltando sua “interlocução muito fácil com o Legislativo”, disse ter “convicção” de que a PEC 241 será aprovada. “Está sendo processada com muita rapidez no Congresso”, explicou aos executivos.
Para Paulo Pimenta, porém, o governo tem imensas dificuldades quanto à aprovação da PEC 241. Ele acredita que haverá reação na sociedade, já que inviabiliza o país do ponto de vista de suas políticas públicas.
"Temer está tentando retomar um pacote ultraneoliberal que foi tentado nas décadas de 1980 e 90, e foi interrompido porque é um caldeirão de tensões e de ofensiva a direitos, de flexibilização de legislação, de ofensiva à Constituição e de privatização que não vai resolver o problema estrutural de crescimento do país”, diz Alessandra Cardoso.
 

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O pacote de reforma trabalhista, previdenciária e de privatização que Temer apresentou a investidores também não vai resolver o problema estrutural do país do ponto de vista da retomada do crescimento, avalia a analista. “O que vamos fazer é aprofundar as desigualdades, a incapacidade do país de construir uma saída a longo prazo para o problema da crise que está posta e que tem um fator político muito evidente.”
À RBA, o professor Giorgio Romano Schutte, da Universidade Federal do ABC, disse na semana passada, a respeito das PPIs, que o capital demonstrava não ter interesse em investir no Brasil devido a regras jurídico-econômicas que alegava serem restritas, além de, segundo o mercado, haver muita intervenção do governo. Além disso, os investidores internacionais consideravam o governo Dilma Rousseff resistente quanto às licitações.
Regime de partilha
No discurso em Nova York, Temer mencionou a recém-aprovada lei das PPIs como garantia de bons negócios aos investidores. “Estamos abrindo 34 oportunidades de concessões na área de portos, aeroportos, energia, ferrovia, óleo e gás.”
Nesse momento, aproveitou o gancho para falar da quebra do regime de partilha do pré-sal, dizendo que “em brevíssimo tempo nós vamos aprovar um projeto do senador (licenciado) José Serra que acabou com aquela obrigação de a Petrobras participar necessariamente de 30% dos investimentos nessa área”. A intenção, disse, é  “abrir e universalizar o mercado brasileiro, na convicção de que, para combater o desemprego, você precisa incentivar a indústria, o comércio, os serviços, o agronegócio e restabelecer a confiança”.
“Ele foi para lá se colocar como um vendilhão que não disfarça que o papel dele, que é entregar o que nós temos de melhor pra tentar atrair o capital estrangeiro. É evidente que vamos trabalhar para barrar isso. É uma vergonha”, disse Paulo Pimenta.
Temer também enfatizou a “inovação e readequação da legislação tributária”, para falar da intenção de reformar radicalmente a legislação trabalhista e a CLT.  Ele disse que a intenção é “permitir que as convenções façam prevalecer o acordado entre trabalhadores e empregadores” e que a medida tem o objetivo de manter o emprego. “Até mesmo horário de trabalho pode ser acordado”, explicou aos norte-americanos.

*Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual.

Copppal expressa solidariedade a Lula e afirma que ex-presidente é vítima de 'perseguição'


Copppal expressa solidariedade a Lula e afirma que ex-presidente é vítima de 'perseguição'


Para presidente da Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina, objetivo de ação judicial é inabilitar Lula para possível candidatura
O presidente da Copppal (Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e Caribe), Manolo Pichardo, expressou nesta quarta-feira (21/09) solidariedade ao ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de envolvimento em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Em comunicado à imprensa em Santo Domingo, na República Dominicana, Pichardo disse que Lula é vítima de “perseguição”, cujo objetivo é “inabilitar o líder do Partido dos Trabalhadores frente a uma possível postulação à presidência da República Federativa do Brasil”.
Wikicommons

Presidente da Copppal, Manolo Pichardo, afirma que Lula é vítima de perseguição
Segundo Pichardo, há uma perseguição contra líderes progressistas do continente, que teria Lula como uma das figuras mais importantes desse movimento.
"Teriam que perseguir Lula e encurralá-lo até destruir sua imagem de redentor dos pobres, aquela imagem que o colocava como o melhor presidente que o Brasil tinha tido na história. Teriam que apagar o quase milagroso fato de tirar mais de 40 milhões de pessoas da pobreza", disse o presidente da Copppal, que também foi líder do Parlacen (Parlamento Centro-americano).
 

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Ministério da Saúde quer reduzir número de médicos cubanos no programa Mais Médicos

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"Desde a Copppal, manifestamos nosso apoio ao companheiro Lula e reiteramos nossa disposição de continuar ao lado de uma liderança latino-americana que está comprometida com a criação de uma sociedade continental soberana, inclusiva e justa", declarou o líder da Copppal, que agrega cerca de 60 partidos, a maioria deles de esquerda. 
Nesta terça-feira (20/09), o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, aceitou denúncia contra o ex-presidente Lula, sua esposa, Marisa Letícia da Silva, e outras seis pessoas.
De acordo com a denúncia, apresentada na semana passada pelo procurador da República Deltan Dallagnol, Lula seria o “comandante máximo do esquema de corrupção identificado na [Operação] Lava Jato”.
O ex-presidente nega as acusações e diz ser vítima de perseguição política. 

NOTA DO INSTITUTO LULA

NOTA DO INSTITUTO LULA

Ao aceitar a denúncia inepta da Força Tarefa da Lava-Jato contra o ex-presidente Lula, o juiz Sergio Moro confirmou sua parcialidade em relação a Lula, que já foi denunciada ao Supremo Tribunal Federal e à Corte Internacional de Direitos Humanos da ONU. Moro simplesmente deu prosseguimento ao espetáculo de perseguição política iniciado pelos procuradores na semana passada.

O mundo jurídico brasileiro sabe que a denúncia da Força Tarefa tem caráter eminentemente político, sendo o resultado de uma série de arbitrariedades e violações de direitos – como a condução ilegal de Lula para prestar depoimento, a violação e divulgação de telefonemas do ex-presidente e até de seus advogados, a invasão de sua casa, das casas de seus filhos e de diretores do Instituto Lula.

Após dois anos de investigações, envolvendo 300 agentes do Ministério Público, da Polícia Federal e da Receita Federal, nada foi encontrado para relacionar Lula aos desvios na Petrobras. Nenhuma conta secreta, no Brasil ou no exterior; nenhuma empresa de fachada; nenhum pagamento ilegal, direto ou indireto.

Tudo o que restou à Força Tarefa foram hipóteses e “convicções” em torno de um imóvel que não é e nunca foi de Lula, além do custeio da armazenagem do acervo de documentos reunidos em seu período de governo. Sobre essa base inconsistente foi apresentada uma denúncia inverossímil e insustentável no Direito Penal, acolhida por um julgador notoriamente faccioso em relação a Lula.

O povo brasileiro e a comunidade internacional sabem que Lula é vítima de perseguição, de uma verdadeira caçada judicial, largamente apoiada pela grande mídia brasileira, com objetivos políticos indisfarçáveis. Uma perseguição que não poupa sequer dona Marisa Letícia.

O povo brasileiro e a comunidade internacional sabem que estamos diante de um processo de cartas marcadas, com o claro objetivo de excluir da vida política o maior líder popular e o melhor presidente da História do Brasil.


São Paulo, 20 de setembro de 2016

Ministério da Saúde quer reduzir número de médicos cubanos no programa Mais Médicos Mais uma do "governo" golpista!


Ministério da Saúde quer reduzir número de médicos cubanos no programa Mais Médicos


Pasta dará prioridade a profissionais do país; muitos brasileiros, porém, 'não se apresentam para ocupar os postos de trabalho', diz ministro Ricardo Barros
O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (20/09) por meio de nota que pretende substituir os 4.000 médicos cubanos do programa Mais Médicos por profissionais brasileiros ao longo dos próximos três anos.
O Ministério também espera que, até abril de 2017, cerca de 2.000 das 5.000 vagas ocupadas por médicos cubanos cuja cooperação com o programa se encerra em dezembro sejam ocupadas por brasileiros.

Elza Fiuza/Agência Brasil

O ministro Ricardo Barros ao lado dos médicos do programa Mais Médicos
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a expectativa é de que a participação de profissionais cubanos no programa reduza em 35%.
Cubanos que tenham se casado formalmente ou tenham reconhecido união estável com brasileiros poderão pedir a renovação de sua participação no programa por mais três anos.
A substituição dos profissionais cubanos irá depender da procura e disposição de médicos brasileiros em ocupar as vagas ofertadas uma vez que tenham sido aprovados no processo de seleção, o que nem sempre acontece.
 

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“Os médicos brasileiros têm prestado a prova e são qualificados, mas na hora que são chamados, muitos não se apresentam para ocupar os postos de trabalho”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros, à Folha.
O Ministério também determinou que o programa Mais Médicos passará a aceitar profissionais brasileiros formados no exterior. Antes, só podiam participar médicos formados no exterior que trabalhassem em países com proporção superior à do Brasil de 1,8 médico por habitante.
À Folha, o ministro Barros disse que os médicos selecionados cuja formação tenha sido feita no exterior receberão um “curso de adaptação ao modelo do sistema de atendimento na saúde da família e são avaliados nesse período por nossa equipe”.
Não há previsão de por quanto tempo ainda durará o programa Mais Médicos. Quando se aproximar a data de expiração do acordo feito com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), que trouxe os médicos cubanos para o Brasil e que foi renovado em 12 de setembro por mais três anos, o governo poderá encaminhar um novo pedido de renovação ao Congresso.
Porém, em julho deste ano, o ministro já havia dito que o programa era provisório, visto que seria responsabilidade dos municípios, e não do governo federal, contratar médicos para atender a população.

EUA: polícia divulga vídeo que mostra oficial disparando contra homem negro desarmado


EUA: polícia divulga vídeo que mostra oficial disparando contra homem negro desarmado


Vídeo contradiz versão anterior da polícia de Tulsa, no Estado de Oklahoma, para morte de Terence Crutcher, que tinha as mãos para o alto e não portava armas
O departamento de polícia de Tulsa, no Estado de Oklahoma, divulgou nesta segunda-feira (19/09) um vídeo que mostra o momento em que uma oficial branca dispara contra Terence Crutcher, um homem negro de 40 anos, morto na última sexta-feira (16/09) durante uma abordagem policial. As imagens mostram que Crutcher estava desarmado e contrariam a versão apresentada anteriormente pela corporação de que ele não havia obedecido a ordem de manter as mãos para cima.
Segundo o jornal norte-americano USA Today, Crutcher teve problemas com sua caminhonete, que quebrou em meio a uma estrada na área arborizada da cidade. O departamento de polícia afirmou que os oficiais foram chamados para averiguar um veículo abandonado interrompendo a via.

Agência Efe

Imagem de vídeo mostra Crutcher com as mãos para o alto pouco antes de ser morto
Pelas imagens, gravadas desde um helicóptero e pela câmera do painel de uma das viaturas, é possível ver que Crutcher caminha com as mãos para o alto — desarmado — se afastando dos policiais, no sentido de seu carro. Ele é seguido pela oficial Betty Shelby, que aponta sua arma, junto de outros colegas, contra o homem.

No vídeo gravado desde o helicóptero da polícia é possível ouvir um oficial dizendo “aquele parece um cara do mal, ele pode estar drogado”.
Depois de alguns segundos, Terence Crutcher aparentemente se apoia em seu veículo, momento em que recebe pelo menos um tiro disparado por Shelby e cai no chão.
Crutcher morreu no hospital pouco depois.

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À imprensa, o chefe de polícia de Tulsa, Chuck Jordan, classificou o caso como "muito preocupante".
“Vou dizer para vocês agora que não havia nenhuma arma junto ao suspeito ou dentro de seu veículo (...) Vamos fazer a coisa certa, não encobriremos nada", afirmou ele na segunda, ao descrever o vídeo como "muito difícil de assistir".

Inicialmente, um porta-voz da polícia tinha afirmado que Crutcher havia se recusado a obedecer as ordens dos agentes, entre elas a de manter os braços para o alto.

Tanto Shelby como outro policial identificado como Tyler Turnbough foram suspensos — o procedimento habitual nestes casos —, até que a investigação da polícia de Tulsa sobre o caso seja concluída.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos já anunciou a abertura de uma investigação independente para apurar violações de direitos civis no caso.

O advogado da família, Damario Solomon-Simmons, qualificou o vídeo de "inquietante" e acusou a polícia de ter deixado Crutcher sangrando no chão.

A irmã gêmea do falecido, Tiffany, por sua vez, disse que sua família exige saber o que ocorreu na sexta-feira e se mostrou aborrecida pelo comentário no vídeo que descrevia seu irmão como um “cara do mal”.
"Estamos devastados, toda a família está devastada. Esse cara do mal era pai, esse cara do mal era filho, esse cara do mal estava matriculado na Universidade Comunitária de Tulsa para nos deixar orgulhosos, esse cara do mal amava Deus e cantava na igreja todo fim de semana", disse a irmã da vítima.

Organizações de direitos civis se pronunciaram exigindo a prisão imediata de Shelby sob a acusação de assassinato.

A morte de Crutcher ocorreu dois dias após a polícia da cidade de Columbus, em Ohio, matar Tyre King, um garoto negro de 13 anos que portava uma arma de brinquedo. As autoridades dizem que o assassinato ocorreu na quarta-feira (14/09), após King ter tirado uma arma de pressão do bolso ao ser enquadrado pela polícia em um beco.

Segundo a polícia, King era suspeito de um assalto e, de acordo com o prefeito de Columbus, Andrew Ginther, a arma que ele carregava era "quase idêntica" às armas dos oficiais da cidade. No sábado (17/09), o prefeito também disse que investigações estão sendo realizadas para averiguar o que ocorreu.

Os EUA têm debatido com mais intensidade o racismo institucional e a violência policial contra pessoas negras nos EUA desde agosto de 2014, quando Michael Brown, de 18 anos, foi morto pela polícia da cidade de Ferguson, no Estado de Missouri, enquanto estava desarmado. Desde então, os casos de violência de agentes brancos contra pessoas negras — especialmente as mortes de pessoas negras desarmadas nas mãos da polícia — têm vindo à tona, com protestos em todo o país contra o racismo e a impunidade policial.


*com Agência Efe

DE EX-ALIADO A CRÍTICO DE SERGIO MORO

De ex-aliado a crítico de Sergio Moro

Professor da UERJ e ex-interlocutor do juiz, Afrânio Jardim, diz que procuradores estão deslumbrados

AFONSO BENITES

De consultor informal da Lava-Jato a atroz crítico da operação. A conduta adotada por um dos principais juristas da área processual do Brasil, Afrânio Silva Jardim, de 66 anos, demonstra o tamanho da decepção de parte do meio acadêmico (além do político, que tem seus interesses próprios) com os últimos passos da principal ação anticorrupção da história do país. Há pouco mais de dois anos, Afrânio Jardim começou a trocar impressões com o juiz Sergio Moro, o responsável pela operação na primeira instância. Apoiava seus atos. Elogiava a importância das apurações. Mas as últimas ações da força-tarefa fizeram com que ele rompesse com o magistrado e se tornasse um dos principais críticos dos trabalhos que estão sendo conduzidos em Curitiba.

Não porque Afrânio Jardim seja contrário ao combate à corrupção, mas por entender que boa parte do que tem sido feito não respeita as normas. Cita, por exemplo, a condução coercitiva de investigados, a prisão domiciliar de grandes empresários, a divulgação da gravação envolvendo os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, assim como a última denúncia apresentada contra o líder petista nesta semana. “Não é justo o que estão fazendo”, sintetizou o especialista em conversa com o EL PAÍS por telefone.

Autor de quatro livros, promotor de Justiça aposentado, livre-docente, professor de direito processual penal na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), jurista citado em mais de uma centena de acórdãos no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, Afrânio Jardim diz que os procuradores da Lava-Jato parecem viver um deslumbramento. “O que vejo é que os colegas mais novos da Lava-Jato estão meio deslumbrados. Agem messianicamente, acham que são os salvadores da pátria. É uma visão ingênua. Aí, os fins justificam os meios”, avalia.

O rompimento com Sergio Moro e o descontentamento com os rumos da Lava-Jato deram-se exatamente quando interceptações telefônicas de Lula e Dilma foram divulgadas extemporaneamente em meados de março. Na ocasião, Afrânio Jardim disse ao juiz que ali, ele havia perdido a imparcialidade que os magistrados precisam ter. “Eu disse para ele que estava agastado, que ele estava me decepcionando. Ele respondeu que lamentava muito, que ficava triste. Não nos falamos mais, não trocamos mais e-mails”.

O curioso é que Sergio Moro, ao lado de outros 50 operadores de Direito, é autor de um dos artigos que compõem a obra “Tributo a Afrânio Silva Jardim”, escritos e estudos, livro que terá sua terceira edição publicada até outubro. “Agora, ele deve estar constrangido. E eu também estou”, diz o homenageado.

Ainda com relação à atuação do juiz, Afrânio Jardim afirma que estranhou a série de prisões domiciliares autorizadas por ele. A maioria dos empreiteiros que está detida responde a crimes cujas penas são superiores a dez anos de prisão. A legislação, contudo, prevê que esse tipo de benefício domiciliar só pode ser concedido caso a punição seja inferior a quatro anos de reclusão ou se o processo já tiver sido julgado em todas as instâncias e a lei assim o autorizar, o que ainda não ocorreu em nenhum caso da Lava-Jato. “Às vezes, Sergio Moro passa uma imagem de severíssimo, mas os empresários estão presos em suas casas, suas mansões. Brinco dizendo que talvez estejam com tornozeleiras eletrônicas douradas, cravejadas de diamantes”.

Estupor político e contraofensiva

Não foram só representantes do mundo acadêmico que se espantaram com o tom usado pelos procuradores da Lava-Jato, que atribuíram a Lula a designação de chefe da “propinocracia” (o Governo das propinas), “comandante máximo” ou “maestro de uma grande orquestra concatenada para saquear os cofres públicos”.

De petistas – como era de se esperar – a tucanos, diversos políticos brasileiros demonstraram desconforto com os termos usados pelos procuradores da força-tarefa. Caciques do PSDB, como o senador Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram cautelosos a comentarem a acusação contra Lula. “É preciso ver o que o Judiciário diz. Uma coisa são as acusações, depois é que vem o processo de provas, verificar o que é certo e o que é errado... Eu fico só como espectador”, disse FHC no Rio de Janeiro na última quinta-feira.

Um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), disse que o Ministério Público precisaria baixar o tom das denúncias. Internamente, no Governo de Michel Temer (PMDB), o ex-aliado que hoje é adversário de Lula e do PT, a avaliação é que os procuradores da Lava-Jato estão “exagerando há tempos” nas acusações.

As reclamações, no caso da classe política, embutem autodefesa também. Mais de 50 políticos brasileiros são investigados no esquema de corrupção que desviou bilhões de reais da Petrobras. Entre eles, estão membros do PMDB, de Temer, do PR e do PP. Nesses dois anos e meio, a Lava-Jato apresentou denúncias contra 239 pessoas – sendo 100 do braço empresarial e 36 do político. Atualmente, 21 delas estão presas e 70 assinaram termos de colaboração com a Justiça, as delações premiadas. Há dois palcos principais, com características e velocidades de atuação diferentes: em Curitiba, com os procuradores e Sergio Moro, e o segundo em Brasília, com o procurador Rodrigo Janot e o STF. Não há prazo para que os trabalhos de investigação sejam concluídos, muito menos para que os casos dos políticos com foro privilegiado cheguem ao plenário do Supremo.

Enquanto isso, seguem na capital federal os movimentos para modificar a legislação e abrandar possíveis penas futuras. Na noite desta segunda-feira, um grupo de deputados tentou, sem sucesso, incluir na pauta de votação da Câmara projeto que tipificava o crime de caixa dois. A medida poderia anistiar toda a prática cometida antes, se o texto virasse lei, pelo veto a retroatividade, e poderia potencialmente diminuir o alcance e a punição efetiva de inquéritos da Lava-Jato em curso. Vários deputados, entre eles Alessandro Molon (Rede-RJ), protestaram contra o que consideraram uma manobra e o projeto acabou sendo retirado da lista de votação.

Seja como for, os últimos movimentos do núcleo no Paraná, contudo, forçam os procuradores a calcularem melhor seus passos. “Acho que é a hora de colocar o pé no freio, deixar as coisas mais calmas, mais claras, mais corretas. Esse é nosso desejo. Hoje ninguém quer que acabe a Lava-Jato. Todos queremos que ela continue, mesmo! Mas dentro da lei, dentro do Estado de Direito”, concluiu o professor Afrânio Jardim.