sábado, 3 de dezembro de 2016

Mais de 2 milhões de pessoas lotam praça da Revolução, em Havana, para se despedir de Fidel


Mais de 2 milhões de pessoas lotam praça da Revolução, em Havana, para se despedir de Fidel


Povo entoou gritos e palavras de ordem, como: “Eu sou Fidel!”, “Viva Fidel, venceremos!”, “Sempre Fidel!” e “O povo, unido, jamais será vencido”
Mais de 2 milhões de pessoas lotaram a praça da Revolução, em Havana, na noite desta terça-feira (29/11), para se despedir do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro. O ato desta terça faz parte dos nove dias de luto oficial decretado pelo governo para homenagear e memória do líder revolucionário.
Na presença de chefes de Governo e representantes de diversas nações, muitos dos quais discursaram em homenagem e agradecimento a Fidel, o povo entoou gritos e palavras de ordem, como: “Eu sou Fidel!”, “Viva Fidel, venceremos!”, “Sempre Fidel!” e “O povo, unido, jamais será vencido”. 
Fidel Castro morreu na noite de sexta-feira (25/11), exatamente 60 anos depois de que partiu, do México rumo a Cuba, no iate roubado Granma, com um grupo de 82 guerrilheiros. A ação foi desbaratada pelas tropas do então presidente do país, Fulgêncio Batista, mas Fidel conseguiu fugir e agrupar forças suficientes na Serra Maestra, de onde, quase três anos depois, viria a liderar a entrada em Havana na Revolução Cubana.
Na primeira etapa da série de atos programados, cubanas e cubanos passaram para se despedir de Fidel pelo salão com suas cinzas montado dentro do Memorial José Martí, que fica na mesma praça, além da assinatura do compromisso com a revolução firmado por Fidel em 2000. Só em Havana, mais de 3,5 milhões de pessoas assinaram os livros disponibilizados com esse propósito. 
Fotos: Cubadebate

População lotou praça da Revolução para dar adeus a Fidel
A partir das 7h desta quarta-feira (30/11), as cinzas de Fidel seguem em cortejo fúnebre para Santiago, cidade natal do comandante (leste da ilha), para que os cubanos de outras cidades possam também dar adeus a ele e firmar o mesmo compromisso. O trajeto repete a Caravana da Liberdade realizada pelos revolucionários após a derrubada de Batista, em 1959, e se encerra no sábado (3/12).
Grande ato de massas
O grande ato de massas na praça da Revolução começou pouco antes das 19h (22h de Brasília), com três músicos cubanos - Luna Manzanare, Maurício Madrigal e Raul Torres - cantando a música “Um homem que sonha”, dedicada a Fidel. Em seguida, houve a execução do hino nacional e a declamação de um poema pela poetisa Corina Mestre, que terminou ao som de “Fidel, Fidel”, vindo da multidão. O grito se repetiria algumas vezes mais no decorrer da noite.
Rodobaldo Hernández, apresentador da TV oficial, foi o mestre de cerimônias, passando a chamar uma lista de 17 presidentes ou representantes de países para proferirem seus discursos. Até que Raul Castro, irmão de Fidel e atual presidente cubano, fizesse uso da palavra, encerrando o ato às 22h50 (horário local), totalizando quase quatro horas.
Desde às 14h, as cubanas e os cubanos começaram a se dirigir para a praça, para buscar os lugares mais perto de onde ficariam as autoridades locais e representantes de outras nações. Muitos jovens e adolescentes, alguns vindos em excursão escolar vestindo uniformes, participaram do ato. Variados tipos de camisetas com rosto de Ernesto Che Guevara, de Cuba ou com a assinatura de Fidel se misturavam a bandeiras, faixas e bandanas com as cores do país. 

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“Vim aqui apoiar a causa de que Fidel nos ensinou. Este ato teve um significado especial para todos os cubanos, com muita gente, as ruas estavam repletas. E todo mundo apoiando Fidel. Somos um só, Fidel vive em nós”, afirmou Marlon Yeladita, 20 anos, maestro de música em uma escola primária.
Para Santiago Herrera, economista de 47 anos, o momento foi de reforçar o compromisso revolucionário. “Como você pode ver, o povo veio reafirmar a Revolução Cubana. Reafirmar que as ideias e o legado de Fidel terão continuidade”, disse. “A partida de Fidel deixou convicções, princípios e ensinamentos que ele nos mostrou durante tantos anos de revolução. A força de nosso futuro está no trabalho político e ideológico que foi feito. E, para isso, a juventude está encarregada de dar continuidade”, complementa.
Marisol Rodrigues Santos, professora primária, acredita que “o líder histórico da revolução” apenas partiu fisicamente. “Mas nos restou a satisfação de seu legado ao qual nós vamos dar continuidade. E, como juramos, vamos seguir adiante com o conceito que ele deu de revolução. Isso é ter Fidel ao nosso lado, o amor que pudemos demonstrar que sentimos por ele. Penso que não só eu, mas todo o povo de Cuba sente. Suas ideias estarão presentes em mim”, diz emocionada.
Os eventos que marcam o luto oficial em memória a Fidel Castro incluem ainda um segundo ato de massas, na praça Antonio Maceo, em Santiago, no sábado. No dia seguinte, ocorrerá a última cerimônia, no cemitério Santa Ifigênia. 

Sete grandes mentiras sobre Fidel Castro que circulam (muito) nas redes sociais


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Fortuna maior do que a da Rainha da Inglaterra, um dos maiores assassinos do século 20 e dono de uma ilha paradisíaca; confira principais mitos que circulam na Internet
Atualizada às 21h11
A morte do líder da Revolução Cubana e ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, gerou uma ampla comoção nas redes sociais. O fato tornou-se um elemento de mobilização apaixonada.
O problema é que boa parte das informações que mais circularam estão incorretas. De acordo com o levantamento feito pela página Monitor do Debate Político no Meio Digital, dos 10 posts mais compartilhados no Facebook sobre o evento, quatro são chamadas com fatos inverídicos no título e outra é uma piada do site Sensacionalista.
Outras cinco notícias são bastante parciais, publicadas por veículos à direita no espectro político. Por isso, Opera Mundi resolveu esclarecer algumas das informações incorretas mais difundidas e fez uma lista dos sete erros capitais de desinformação sobre o líder da Revolução Cubana. Veja a lista abaixo:

1. Fidel tem fortuna estimada em US$ 550 milhões. Seu patrimônio ultrapassa o da rainha da Inglaterra
De fato, o nome de Fidel Castro apareceu na relação das pessoas mais ricas do mundo por quase 10 anos, entre 1997 e 2006, num ranking da revista norte-americana Forbes. De acordo com a publicação, a fortuna do líder cubano seria, inclusive, maior do que a da rainha britânica Elizabeth. Fidel então, em 2006, desafiou a publicação: “Desafio que provem. E, se o provarem (...), renuncio ao cargo e às funções que estou desempenhando”. Ele fez o mesmo desafio ao então presidente George W. Bush, para que usasse as empresas e inteligência norte-americanas para provar que ele tinha US$ 1 que fosse.
A publicação não respondeu, o governo dos Estados Unidos tampouco e o nome do cubano foi retirado da lista nos anos subsequentes.
CubaDebate

Fidel Castro em 1966
Mas de onde vêm esses números? A revista contava como sendo de Fidel as companhias de propriedade do Estado cubano. Em matéria publicada pela Folha de S.Paulo em 1997, a repórter Carleen Hawn explicou o “método” utilizado na contagem: “Tivemos de fazer uma estimativa", justificou. “Não temos conhecimento exato do que Fidel Castro tem ou deixa de ter. Não sabemos, por exemplo, se ele tem conta na Suíça ou algo do gênero. Estimamos que 10% da economia cubana passa pelas mãos dele, uma estimativa até muito conservadora". A própria repórter, à época, fez uma ressalva: o número não significa que esta seja a fortuna pessoal do presidente de Cuba, mas a que poderia, eventualmente, vir a ser.
2. Fidel, um dos maiores assassinos do século 20
De acordo com texto apócrifo que circula na internet, o número de pessoas mortas por fuzilamento e colocadas na conta de Fidel Castro teria sido 5.621, além de 1.163 assassinados extrajudiciais. A conta final entre combatentes de guerra e pessoas que tentaram fugir do país seria de 115.127 pessoas.
Autor Desconhecido

Fidel treinando tiros com uma metralhadora de tripé sustentada com as mãos
Mesmo o informe do grupo de direitos humanos crítico ao governo cubano Cuba Archive, divulgado há dois anos, indica que 7.634 pessoas morreram desde 1959, incluindo mortes e desaparecimentos em combate em países estrangeiros.
De acordo com o doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos Salim Lamrani, durante os primeiros meses de 1959, ano da Revolução, Ernesto “Che” Guevara era o encarregado dos tribunais revolucionários. Nesse período, cerca de 1.000 pessoas passaram pela “justiça expeditiva” e cerca de 500 foram fuziladas.
Se comparado ao ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, somente na Guerra do Iraque, o saldo foi de 4.000 soldados norte-americanos mortos e 650 mil iraquianos que perderam a vida em decorrência da guerra, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins (EUA) e pela Universidade Al Mustansiriya (Iraque), em parceria com o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA).
De fato, houve mortos em decorrência da Revolução Cubana, muitos deles torturadores e responsáveis por incontáveis crimes à época do ditador Fulgencio Batista. Esse número, entretanto, não permite colocar Fidel em qualquer lista dos maiores assassinos do século 20.
3. Fidel perseguia e executava dissidentes de forma sistemática
Embora os cúmplices da ditadura Batista tenham sido executados no paredão no início da Revolução, as penas capitais que se seguiram foram para crimes comuns.
A legislação cubana prevê pena de morte para crimes como traição; corrupção; homicídio qualificado; violação ou rapto de mulher; roubo executado com violência, além de ações de terrorismo, como incendiar prédios públicos e portar explosivos. Desde 2003, quando foram condenados com a pena capital os cubanos que sequestraram uma embarcação com passageiros para tentar fugir da ilha, não há mais execuções em Cuba – na prática, o país não adota mais a pena de morte, embora ela ainda esteja prevista no código penal.
Pessoas críticas ao governo, inclusive, trabalham com liberdade, como é o caso da blogueira Yoani Sánchez, que mantém sua atividade jornalística a partir da ilha, escrevendo para seu blog e para jornais de todo o mundo — embora relate dificuldades operacionais frequentemente (internet cara, por exemplo) – e o escritor Leonardo Padura, que viaja o mundo e expõe muitas críticas ao governo cubano em seus livros, entre eles o best seller “O homem que amava os cachorros”.
Yoani, no entanto, depois de voltar da Suíça, onde viveu dois anos, precisou esperar cinco anos até obter a autorização para viajar ao exterior, o que ocorreu com a reforma migratória de 2013, que permite a todos os cubanos deixar o país sem outra formalidade além da obtenção de um passaporte e um visto. Antes disso, ela teve os pedidos para sair do país negados diversas vezes.
4. Cuba é um país de miseráveis passando fome
A ideia de que o país socialista é composto por pessoas famintas e sem acesso a alimentação de qualidade é constantemente difundida nas redes.
No entanto, apesar de ser um país empobrecido, resultado, entre outros motivos, do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos à ilha, não há indigência e o direito à alimentação satisfatória está assegurado de fato à quase totalidade do país.
De acordo com o Banco Mundial, o PIB de Cuba saltou de US$ 5,6 bilhões em 1970 para US$ 77,15 bilhões em 2013. Já o PIB per capita, que é o resultado da divisão do produto interno bruto pela quantidade de habitantes de um país, saltou de US$ 850 em 1972 para US$ 5.880 em 2011, superando o da Bolívia (US$ 3.080 em 2015) e o do Paraguai (US$ 4.220 em 2015). Considerando o PIB recalculado considerando a paridade de poder de compra, o número chega a US$ 10.200 em Cuba, valor próximo ao do Equador (US$ 11.300) e do Egito (US$ $11.800).
Pixabay

Todas as crianças cubanas têm acesso à escola; expectativa de vida é de 80 anos na ilha, uma das maiores nas Américas
Além disso, Cuba é o único país de América Latina e Caribe que não apresenta o problema de desnutrição infantil severa, de acordo com o último relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), de 2006, o que faz do país, mesmo após os anos do chamado “período especial” (a crise econômica posterior à queda da União Soviética), um cumpridor dos Objetivos do Milênio e das metas estabelecidas pela Cúpula Mundial da Alimentação.
5. Fidel era agente da CIA
Questionando as razões de os Estados Unidos não terem invadido Cuba para dar cabo de Fidel, como foi feito com Saddam Hussein no Iraque, e as razões de a prisão de Guantánamo ficar na ilha sem qualquer ataque dos comunistas a ela, há quem sustente que Fidel foi agente do órgão de inteligência norte-americano.
Talvez o fato de a CIA ter tentado mais de 600 vezes matar Fidel usando as mais diversas técnicas, como charuto explosivo ou caneta envenenada, responda essa questão, como mostra esse documentário do History Channel (em espanhol):
Além disso, acusar líderes ou personalidades ligadas à esquerda de ser agente da CIA não é incomum. Uma pesquisa rápida no Google mostra uma série de sites acusando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, ou Sean Penn, ator norte-americano e amigo de líderes sul-americanos como ex-presidente Hugo Chávez, de serem agentes secretos. Em nenhum desses casos, como no de Fidel, há indícios que sugiram a veracidade da afirmação, mas, como é praticamente impossível desmentir um boato do gênero, ele acaba se propagando.
 

Fidel, por Eduardo Galeano

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A CIA nunca desmentiu se Fidel foi ou não um dos agentes secretos a serviço da agência, claro, até porque qualquer pronunciamento seria visto com desconfiança: afinal, um serviço secreto trabalha com informações secretas e desinformação profissional, não com transparência.
6. Revolução perseguiu homossexuais
De fato, no início da revolução, houve uma grande perseguição a pessoas homossexuais no país. Elas não podiam, por exemplo, trabalhar com educação ou cultura porque o Partido Comunista considerava que seriam maus exemplos para crianças e alunos. De acordo com Mariela Castro, filha do presidente Raúl Castro e expoente da luta pela igualdade sexual e de gênero em Cuba, em entrevista Opera Mundi, “o PC cubano era o reflexo da sociedade cubana, isto é, machista e homofóbico”.
Ela ressalta que isso era reflexo de uma época na qual esse tipo de pensamento era disseminado. Tal orientação se refletiu na criação das Unidades Militares de Ajuda à Produção, as Umap, às quais muitos homens homossexuais foram integrados à força. 
Em entrevista ao jornal mexicano La Jornada em 2010, o próprio Fidel reconheceu a "grande injustiça" perpetrada contra pessoas homossexuais nos primeiros anos da Revolução. "Foram momentos de uma grande injustiça, uma grande injustiça", enfatizou. Ele alegou que, na época, estava imerso nas questões políticas mais urgentes da Revolução. "Tínhamos tantos e tão terríveis problemas, problemas de vida ou morte, que não prestamos suficiente atenção" ao tratamento dispensado às pessoas homossexuais, afirmou, reconhecendo sua responsabilidade: "Se alguém é responsável, sou eu." 
Segundo Mariela, “Fidel Castro é como o Quixote. Sempre assumiu suas responsabilidades como líder do processo revolucionário. Em razão de seu cargo, considera que deve assumir a responsabilidade de tudo o que ocorreu em Cuba, tanto os aspectos positivos como os negativos”. Ela afirma, porém, que Fidel não teve qualquer participação nessas decisões, a não ser na que decidiu extinguir as Umap.
De acordo com artigo de Bruno Mattos, militante da Insurgência Babadeira, setorial LGBT da tendência do PSOL Insurgência, “os campos de trabalhos forçados cubanos eram vistos como mais que medida punitiva, mas espaços de ‘desintoxicação’, de ‘libertação’ de padrões comportamentais degenerados e contrarrevolucionários e ambientes em que esses sujeitos contribuiriam através de seu trabalho, de forma compulsória, com a revolução, manutenção do regime e as necessidades coletivas. As chamadas Umaps não continham somente mão de obra LGBT. Em verdade, a maior parte dos que ali trabalhavam de forma compulsória eram homens héteros. Todo homem cubano adulto estava sujeito a ser enviado a uma Umap e nem todos os homens gays e bissexuais eram submetidos aos trabalhos forçados”.
Reprodução/YouTube

Marcha do orgulho LGBT em Havana, realizada em 2014
A homossexualidade deixou de ser crime em Cuba nos anos 1990 e, desde 2007, a ilha celebra, anualmente, o dia de luta contra a homofobia. Além disso, desde 2008 o Estado cubano se encarrega gratuitamente das cirurgias de redesignação sexual de pessoas transgênero. “Cuba, portanto, reconhece seu passado LGBTfóbico e vem dando tratamento a isso, avançando em direitos em uma velocidade muito maior que boa parte das nações capitalistas e signatárias dos tratados de direitos humanos internacionais do mundo”, ressalta Mattos.
7. Fidel tinha uma mansão e uma ilha só dele
A suposta existência da ilha exclusiva de Fidel, chamada Cayo Piedra, foi contada no livro “A vida luxuosa de Fidel”, escrito por seu ex-guarda-costas Juan Reinaldo Sánchez que, após servir o líder cubano por 17 anos, fugiu de Cuba depois de passar dois anos na prisão, acusado de insubordinação.
Com uma pesquisa básica na internet, encontramos fotos de um pedaço de terra rodeado por um mar azul turquesa e as diversas indicações do que seriam as mansões de Fidel no local. Consta ainda que ele dirigia um luxuoso barco por 45 minutos desde Havana até ilha, para onde só levava amigos próximos, como o escritor colombiano Gabriel García Márquez. De fato, em 2015, ao pesquisar a localidade no Google Maps, aparecia a indicação “Fidel Castro Island”.
Porém, o Google reconheceu o erro e retirou a menção no mapa ao ex-presidente cubano no mesmo ano. Apesar de o livro de Sánchez ter alcançado um grande sucesso de vendas e ampla repercussão nos meios de comunicação, de acordo com a imprensa cubana, a casa na ilha Cayo Piedra é do Estado cubano e destinada a recepcionar personalidades políticas, “especialmente dos Estados Unidos que, para evitar sanções por causa do bloqueio, não era conveniente receber em Cuba”, como diz reportagem da emissora Cubavisión.
Com relação às diversas mansões das quais Fidel seria proprietário, novamente a emissora desmente ressaltando que ao longo de seis décadas o líder cubano morou em três casas diferentes, mas sempre teve apenas uma. As casas mencionadas pelo ex-guarda-costas são, novamente, do Estado cubano.
Há ainda imagens da casa dos Castro vendidas à imprensa norte-americana por uma ex-namorada de um dos filhos de Fidel que fugiu para Miami (como mostra o vídeo acima). As imagens, no entanto, atestam pela simplicidade das acomodações. Nas fotos divulgadas na imprensa por ocasião dos encontros do líder com personalidades estrangeiras desde sua saída da presidência, de fato, o que se vê são instalações relativamente simples, especialmente se comparadas com o luxo reservado a chefes de Estado de todo o planeta.
CubaDebate

Fidel com o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter

Chefes de Governo destacam importância histórica de Fidel em ato na praça da Revolução


Chefes de Governo destacam importância histórica de Fidel em ato na praça da Revolução


Ao todo, 17 representantes de nações de todos os continentes discursaram; maior parte fez referências a como Fidel difundiu ideais de justiça social, igualdade, resistência ao imperialismo estadunidense e humanidade
Os discursos dos chefes de Estado que fizeram parte do grande ato de massas realizado nesta terça-feira (29/11), na praça da Revolução, em Havana, falaram sobre a importância histórica de Fidel Castro e as referências que deixou para o mundo, especialmente os países da América Latina.
Ao todo, 17 representantes de nações de todos os continentes discursaram. A maior parte fez referências a como Fidel conseguiu difundir ideais de justiça social, igualdade, resistência ao imperialismo estadunidense e humanidade. Alguns, como o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, buscaram um caminho mais emotivo e apoiado em relatos de histórias vividas ao lado de Fidel, como a ajuda no enfrentamento aos furacões que assolam a América Central.
“Fidel sempre dizia que as perdas materiais podem ser recompostas, mas as vidas humanas tinham que ser preservadas”, afirmou.
Além dos representantes de outros países, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica e o brasileiro Frei Betto estiveram presentes à cerimônia, que contou com uma multidão ocupando a praça e foi encerrada com o discurso do presidente de Cuba, Raul Castro, irmão de Fidel.
Rafael Correa
“Os que morrem pela vida não podem ser chamados de mortos. Sua luta continua em cada jovem anti-imperialista que quer mudar o mundo”, disse Rafael Correa, presidente do Equador, o primeiro a discursar. Ele fez questão de mencionar os mais de 50 anos de bloqueio econômico imposto pelos EUA, que chamou de “criminoso”, para reforçar a importância de Fidel. “Não há nenhuma criança vivendo na rua em Cuba, mesmo com um bloqueio criminoso de mais de 50 anos que colapsaria qualquer outro país da América Latina”, afirmou.
Jacob Zuma, presidente da África do Sul, emocionado, lembrou do papel do líder cubano na campanha internacional para isolar o regime de apartheid que, desde 1948, orientava-se pelo racismo e pela exclusão e segregação da maioria negra do país e só foi interrompido em definitivo com a chegada de Nelson Mandela ao poder, em 1994.
Agência Efe

Autoridades internacionais discursaram em evento à memória de Fidel Castro na praça da Revolução

Raúl Castro lidera última guarda de honra a Fidel no Memorial José Martí

Primeira etapa de despedida a Fidel Castro se encerra em Havana

Mais de 2 mi de pessoas lotam praça da Revolução, em Havana, para se despedir de Fidel

 
“Agradecemos a Fidel pelos soldados mortos cubanos que lutaram contra o imperialismo, pela Justiça e pela liberdade”, disse Zuma, que citou também o apoio de tropas de Cuba na defesa de Angola dessas mesmas forças condutoras do apartheid sul-africano e na libertação da Namíbia, entre 1988 e 1989. “A ajuda para defender Angola das forças racistas sul-africanos foi exemplo de solidariedade internacional. Saudamos o companheiro Fidel por esses sacrifícios desinteressados. É por isso que a revolução cubana segue um exemplo para a África do Sul e para o mundo de como lutar em favor do povo.”
Tsipras
O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, disse que Fidel é referência de independência para a história, com seu lema da Revolução Cubana “Pátria ou morte”, constituindo-se em um “símbolo internacional de liberdade”. A vice-presidente do Conselho de Estado da China, Li Yanchao, chamou Fidel de um “colosso de nossa era”, por ter consagrado sua vida à soberania e à causa socialista. “A amizade entre os países cresce a cada dia. Temos a convicção de que Raul transformará dor em força para prosseguir o legado de Fidel”, afirmou a chinesa.
Com frequência, os que usavam a tribuna para homenagear Fidel encerravam seus discursos com a famosa frase imortalizada na Revolução Cubana “Até a vitória, sempre!” (“Hasta la victória, siempre”, em espanhol), que estampava muitas das camisetas usadas pelos presentes. Também se dirigiam a Raul ou à massa de cubanas e cubanos na praça como sendo uma expressão espontânea e sincera de que Fidel conduziu Cuba por um caminho com ampla aprovação popular.
Nesse contexto, discursaram na defesa de um caminho que passe pelo aprofundamento da integração regional os presidentes da Bolívia, Evo Morales; de El Salvador, Salvador Sanchez Cerén; da Venezuela, Nicolás Maduro; de Dominica, Roosevelt Skerrit; e do Equador, Rafael Correa. O presidente do México, Enrique Peña Nieto, citou a partida, em 1956, do barco Granma da região de Vera Cruz na costa mexicana, como uma mostra das relações de amizade entre os dois países. Foi com a chegada do iate Granma a Cuba, roubado por Fidel e outros 81 guerrilheiros, que se iniciou o processo que culminaria com a Revolução Cubana, em 1959.
Último a falar antes de Raul Castro, o presidente venezuelano abriu seu discurso com um grito comum nos congressos da juventude comunista: “Fidel, Fidel, o que tem Fidel/ Que os yankees não podem com ele?”. Em seguida, mesclou seu discurso as alusões a Fidel e a Hugo Chávez, chegando a dizer que Chávez tinha em Fidel seu “pai” ideológico, cuja referência levou ao “discípulo a refundar o Bolivarianismo”. 

Leia e ouça íntegra de discurso de Raúl Castro na cerimônia a Fidel em Havana


Leia e ouça íntegra de discurso de Raúl Castro na cerimônia a Fidel em Havana


"Fidel consagrou toda sua vida à solidariedade e encabeçou uma Revolução socialista 'dos humildes, pelos humildes e para os humildes'", disse presidente cubano
Estimados chefes de Estado e de Governo,
Senhores chefes de delegações,
Destacadas personalidades,
Todos os amigos,
Querido povo de Cuba [aplausos],
Ainda que me corresponda pronunciar o discurso final no próximo dia 3 de dezembro, quando nos reuniremos na praça da Revolução Antonio Maceo, em Santiago de Cuba, desejo manifestar agora, em nome de nosso povo, Partido e Governo, assim como da família, sincera gratidão por sua presença neste ato [aplausos], pelas emocionantes palavras que aqui se expressaram e também pelas extraordinárias e inumeráveis mostras de solidariedade, afeto e respeito recebidas de todo o planeta nesta hora de dor e de compromisso.
Fidel consagrou toda sua vida à solidariedade e encabeçou uma Revolução socialista “dos humildes, pelos humildes e para os humildes” que se converteu em um símbolo da luta anticolonialista, antiapartheid e anti-imperialista, pela emancipação e dignidade dos povos.
Suas vibrantes palavras ressoam hoje nesta praça, como na Concentração Camponesa de 26 de julho de 1959 em apoio à reforma agrária, que foi como cruzar o Rubicão e desatou condenações de morte da Revolução. Aqui Fidel ratificou que “a reforma agrária segue”. E a fizemos. Hoje, 57 anos depois, estamos honrando quem a concebeu e a encabeçou.
Neste lugar, votamos junto a ele a Primeira e a Segunda Declaração de Havana de 1960 e 1962, respectivamente [aplausos]. Frente às agressões apoiadas pela Organização de Estados Americanos, Fidel proclamou que “por trás da Pátria, por trás da bandeira livre, por trás da Revolução redentora… há um povo digno” disposto a defender sua independência e “o comum destino da América Latina liberada”.
Estava junto a Fidel no edifício que hoje é ocupado o MINIFAR, ou seja, Ministério das Forças Armadas Revolucionárias, quando escutamos a explosão do barco francês La Coubre, que trazia as primeiras e únicas armas que pudemos comprar na Europa, e partimos ao cais, porque já sabíamos que essa explosão só podia se originar no barco que estava descarregando essas armas, para socorrer as vítimas, quando minutos depois de nossa chegada, se produziu, como armadilha mortal, uma segunda explosão. Entre ambas, se causaram 101 mortes e numerosos feridos.
Aqui, com ele, se fez a Declaração de Cuba como Território Livre de Analfabetismo em dezembro de 1961 [aplausos], ao terminar a Campanha de Alfabetização protagonizada por mais de 250.000 professores e estudantes que não se detiveram, enquanto que, neste mesmo ano, os veteranos do Exército Rebelde e as nascentes Milícias Nacionais Revolucionárias combatiam aos mercenários na praia Girón e nas zonas montanhosas contra os grupos armados infiltrados do exterior que, entre outras muitas e múltiplas prevaricações, assassinaram a 10 jovens alfabetizadores. Venceu-se em Girón e se cumpriu ao mesmo tempo com a alfabetização de todo o país [aplausos], para consagrar, como então disse Fidel, que “os jovens têm o porvir em suas mãos” [aplausos].
Com profunda emoção, aqui mesmo escutamos ao Comandante em Chefe nesta praça, na Velada Solene de outubro de 1967, para render tributo ao inesquecível Comandante Che Guevara e regressamos a ela, 30 anos depois, durante a etapa mais dura do Período Especial, para nos comprometermos ante seus restos que seguiríamos seu exemplo imortal.
Estremecidos e indignados, assistimos à Despedida de Dor das 73 pessoas assassinadas pelo terrorismo de Estado no voo do avião da Cubana de Aviação em Barbados; entre elas, os jovens ganhadores de todas as medalhas de outro no quarto Campeonato Centro-americano e do Caribe de Esgrima. Nessa ocasião, repetimos com ele que “quando um povo enérgico e viril chora” [exclamações de “A injustiça treme”!], exatamente, “a injustiça treme!” [aplausos].
Esta é a praça de importantes marchas do Primeiro de Maio da capital; em 1996 contra o bloqueio e a lei Helms-Burton, que ainda se mantêm; do enorme Desfile de 1999 e da Tribuna Aberta da Juventude, os Estudantes e Trabalhadores de 2000, onde Fidel expôs seu conceito de Revolução, que nestes dias milhões de cubanos fazem seu com sua assinatura, em um ato de vontade sagrada [aplausos].
Este é o lugar onde acudimos para respaldar os acordos dos nossos Congressos do Partido Comunista de Cuba.
Neste mesmo espírito, o povo veio nestes dias, com uma grande participação dos jovens, a render emocionado tributo e a jurar lealdade às ideias e à obra do Comandante em Chefe da Revolução Cubana [aplausos].
Querido Fidel:
Junto ao monumento a José Martí, herói nacional e autor intelectual do assalto ao Quartel Moncada, onde nos reunimos durante mais de meio século, em momentos de extraordinária dor, ou para honrar a nossos mártires, proclamar nossos ideais, reverenciar nossos símbolos e consultar ao povo decisões transcendentais; precisamente aqui, onde comemoramos nossas vitórias, te dizemos junto a nosso abnegado, combativo e heroico povo: “Até a vitória, sempre!” [exclamações de “sempre!” e aplausos]
[Gritam “Viva Fidel!”, “Viva Raúl!”]
Granma

Raúl Castro discursa em Havana
 
Em espanhol:
Estimados Jefes de Estado y de Gobierno;
Señores Jefes de Delegaciones;
Destacadas personalidades;
Amigos todos;
Querido pueblo de Cuba (Aplausos):
Aunque me corresponderá pronunciar el discurso final el próximo 3 de diciembre, cuando nos reunamos en la Plaza de la Revolución Antonio Maceo, en Santiago de Cuba, deseo manifestar ahora, en nombre de nuestro pueblo, Partido y Gobierno, así como de la familia, sincera gratitud por su presencia en este acto (Aplausos), por las emocionantes palabras que aquí se han expresado y también por las extraordinarias e innumerables muestras de solidaridad, afecto y respeto recibidas de todo el planeta en esta hora de dolor y de compromiso.
Fidel consagró toda su vida a la solidaridad y encabezó una Revolución socialista “de los humildes, por los humildes y para los humildes” que se convirtió en un símbolo de la lucha anticolonialista, antiapartheid y antimperialista, por la emancipación y la dignidad de los pueblos.
Sus vibrantes palabras resuenan hoy en esta Plaza, como en la Concentración Campesina del 26 de julio de 1959 en apoyo a la Reforma Agraria, que fue como cruzar el Rubicón y desató la condena a muerte de la Revolución. Aquí Fidel ratificó que “la Reforma Agraria va”. Y la hicimos. Hoy, 57 años después, estamos honrando a quien la concibió y encabezó.
En este lugar, votamos junto a él la Primera y la Segunda Declaración de La Habana de 1960 y 1962, respectivamente (Aplausos). Frente a las agresiones apoyadas por la Organización de Estados Americanos (OEA) Fidel proclamó que “detrás de la Patria, detrás de la bandera libre, detrás de la Revolución redentora... hay un pueblo digno” dispuesto a defender su independencia y “el común destino de América Latina liberada”.
Estaba junto a Fidel en el edificio que ocupa hoy el MINFAR, o sea, Ministerio de las Fuerzas Armadas Revolucionarias, cuando escuchamos la explosión del barco francés La Coubre, que traía las primeras y únicas armas que pudimos comprar en Europa, y partimos al muelle, porque ya sabíamos que solo esa explosión podía originarse en el barco que estaba descargando esas armas, para socorrer a las víctimas, cuando minutos después de nuestra llegada se produjo, como trampa mortal, una segunda explosión. Entre ambas causaron 101 muertos y numerosos heridos.
Aquí, con él, se hizo la Declaración de Cuba como Territorio Libre de Analfabetismo en diciembre de 1961 (Aplausos), al terminar la Campaña de Alfabetización protagonizada por más de 250 000 maestros y estudiantes que no se detuvo, mientras ese mismo año los veteranos del Ejército Rebelde y las nacientes Milicias Nacionales Revolucionarias combatían a los mercenarios en Playa Girón y en las zonas montañosas contra las bandas armadas infiltradas desde el exterior que, entre otras muchas y múltiples fechorías, asesinaron a 10 jóvenes alfabetizadores. Se venció en Girón y se cumplió al mismo tiempo con la alfabetización de todo el país (Aplausos), para consagrar, como dijo entonces Fidel, que “los jóvenes tienen el porvenir en sus manos” (Aplausos).
Con profunda emoción aquí mismo escuchamos al Comandante en Jefe en esta Plaza, en la Velada Solemne de octubre de 1967, para rendir tributo al inolvidable Comandante Che Guevara y regresamos a ella, 30 años después, durante la etapa más dura del Período Especial, para comprometernos ante sus restos a que seguiríamos su ejemplo inmortal.
Estremecidos e indignados, asistimos a la Despedida de Duelo de las 73 personas asesinadas por el terrorismo de Estado en la voladura del avión de Cubana de Aviación en Barbados, entre ellas los jóvenes ganadores de todas las medallas de oro en el cuarto Campeonato Centroamericano y del Caribe de Esgrima. En esa ocasión repetimos con él que “cuando un pueblo enérgico y viril llora”, (Exclamaciones de: “¡La injusticia tiembla!”), exactamente, “¡la injusticia tiembla!” (Aplausos.)
Es esta la Plaza de importantes marchas del Primero de Mayo de la capital; en 1996 contra el bloqueo y la Ley Helms-Burton, que aún se mantienen; del enorme Desfile de 1999 y de la Tribuna Abierta de la Juventud, los Estudiantes y los Trabajadores del 2000, donde Fidel expuso su concepto de Revolución, que en estos días millones de cubanos hacen suyo con su firma, en un acto de voluntad sagrado (Aplausos).
Es este el lugar a donde hemos acudido para respaldar los acuerdos de nuestros Congresos del Partido Comunista de Cuba.
En ese mismo espíritu ha venido en estos días el pueblo, con una gran participación de los jóvenes, a rendir emocionado tributo y a jurar lealtad a las ideas y a la obra del Comandante en Jefe de la Revolución Cubana (Aplausos).
Querido Fidel:
Junto al Monumento a José Martí, héroe nacional y autor intelectual del asalto al Cuartel Moncada, donde nos hemos reunido durante más de medio siglo, en momentos de extraordinario dolor, o para honrar a nuestros mártires, proclamar nuestros ideales, reverenciar nuestros símbolos y consultar al pueblo trascendentales decisiones; precisamente aquí, donde conmemoramos nuestras victorias, te decimos junto a nuestro abnegado, combativo y heroico pueblo: ¡Hasta la victoria siempre! (Exclamaciones de: “¡Siempre!” y Aplausos)
(Exclaman consignas de: “¡Viva Fidel! ¡Viva Raúl!”.)

22º CURSO ANUAL DO NPC: Consciência histórica e comunicação popular: eis as armas para a resistência dos trabalhadores!

Consciência histórica e comunicação popular: eis as armas para a resistência dos trabalhadores!
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Na abertura do 22º Curso do NPC, Frei Betto, Beto Almeida e Flávia Braga Vieira debateram o que ocorre ao sul da fronteira em tempos de fim de ciclo dos governos populares e de mudança de época
Por Najla Passos/ para o NPC
O fim do ciclo dos governos populares na América Latina está inserido no atual contexto de mudança de época, em que o mundo experimenta transformações só vivenciadas há 500 anos, com a passagem da Idade Média para a Moderna? E qual o papel da comunicação de esquerda na disputa de hegemonia nesta conjuntura histórica? Essas foram algumas questões levantadas durante a mesa de abertura do 22º Curso Anual do NPC, intitulada “O que se passa ao sul da fronteira”, que reuniu o diretor da TeleSur no Brasil e jornalista do Brasil Popular e da TV Senado, Beto Almeida; o militante e escritor premiado Frei Betto; e a professora da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Flávia Braga Vieira.
Beto Almeida abriu o debate defendendo a centralidade da comunicação em todo processo revolucionário, em todas as lutas anti-imperialistas. “Durante toda a longa marcha da revolução chinesa, a impressora foi levada no lobo de burro para comunicar às populações a razão daquele movimento. Aquela não era só uma marcha militar, mas uma verdadeira revolução cultural, porque sempre se entendeu que era preciso a comunicação para fazer a formação revolucionária”, explicou.
Segundo Almeida, a longa marcha percorreu 10 mil quilômetros e o jornal saiu todos os dias, mesmo debaixo de bala. Ele lembrou também que, durante a Revolução Cubana, os rebeldes, mesmo nas condições precárias em que viveram na Sierra Maestra,  mantiveram programação diária na Rádio Rebelde e editaram o Jornal Cuba Livre.
O jornalista apontou ainda exemplos da história recente do sul do Equador. De acordo com ele, os governos de esquerda da América Latina que investiram em uma imprensa da classe conseguiram maior apoio popular – e consequentemente uma maior sobrevida – do que aqueles que desdenharam o papel da atividade na disputa de hegemonia.
“Experiências revolucionárias com grande apoio popular, como a venezuelana, a boliviana, sempre são precedidas da implementação de uma imprensa forte dos trabalhadores, capaz de disputar a hegemonia com a imprensa comercial”, destacou.
Segundo ele, a Venezuela enfrenta uma grave crise de desabastecimento fabricada de fora, mas mesmo assim conseguiu combater o analfabetismo, reduzir a mortalidade infantil, dentre outras conquistas sociais importantes. E, apesar de todas as mentiras veiculadas pela imprensa comercial internacional, mantém grande apoio popular.  Para Almeida, isso ocorre porque Chaves fez investimentos reais na implementação de uma imprensa de esquerda. Como exemplo, citou o programa Alô Presidente, que o próprio mandatário apresentava na televisão aberta.
Na Bolívia, ainda segundo ele, a situação é parecida. “Cansado de ser chamado pela imprensa comercial de “narcopresidente”, Evo Morales decidiu lançar uma jornal comprometido com seu governo revolucionário. Em 5 anos, O Câmbio já alcançava a mesma tiragem do que o principal jornal burguês do país, com 75 anos de história”, informa.
Em contraposição, Beto Almeida apontou a experiência dos governos populares brasileiros que, segundo ele, mesmo registrando avanços extraordinários, não conseguiram se manter no poder, justamente porque não investiram em comunicação. “Os processos transformadores que não se sustentam em uma comunicação verdadeiramente transformadora, eles padecem”, concluiu.

A historicidade faz o revolucionário
Em uma leitura mais geral, Frei Betto defendeu que o entendimento do atual momento exige duas chaves de leitura. A primeira, segundo ele, é a percepção de que o processo que o mundo vive hoje só encontra equivalência há 500 anos, quando a história passou da Idade Média para a Idade Moderna. “Nossos pais, avós e bisavós viveram épocas de mudanças, mas nos estamos vivendo uma mudança de época”, explicou.
De acordo com o escritor, o paradigma da Idade Média foi a religião, enquanto o da modernidade foi a ciência. Mas a passagem do obscurantismo à chamada época das luzes não conseguiu cumprir a tarefa que se propunha. “A modernidade trouxe avanços, mas também trouxe o capitalismo. O homem conseguiu colocar os pés na lua, mas  não conseguiu colocar nutrientes nas barrigas de milhões de crianças com fome”, protestou.
Agora, conforme ele, a pós-modernidade parece adotar o mercado como paradigma. “Eu gostaria muito que o novo paradigma fosse a globalização da solidariedade, mas o que está pintando é o mercado. E isso significa a barbárie, o fim”. Para Frei Betto, os sinais de desarrancho neste início de pós-modernidade são claros: fundamentalismo, terrorismo, xenofobia.
A segunda chave citada pelo escritor é a “amnésia global”, que ele define como a grande estratégia do imperialismo dos Estados Unidos para fazer com que todos nós percamos nossa consciência histórica e fiquemos à mercê do consumismo, do mercado. “Se o capitalismo condena a historicidade, se prega o fim da história, para que fazer planos? Nada adianta”, sintetizou.
Para Frei Betto, é a noção de historicidade que faz o revolucionário. E, por isso, é necessário recuperá-la para conter o avanço da direita e reorganizar a esperança, como fizeram antes Jesus Cristo, Karl Marx e Freud – os três grandes revolucionários que, segundo ele, cada um a seu tempo, reforçaram a importância da historicidade na cultura ocidental. Segundo o pensador, é tempo de resistência. “Só tem medo da morte quem não sabe porque e para que vive”, defendeu.
Fim de ciclo e violência crescente
Flávia Braga Vieira afirmou que o fim do ciclo dos governos populares da América Latina está diretamente relacionado ao contra-ataque da burguesia, após a região experimentar transformações nunca antes imaginadas. Segundo ela, mesmo instituições insuspeitas do mundo capitalista apontam avanços extraordinários na região nestes últimos anos. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal),  a pobreza caiu 44% na América Latina em apenas uma década. A Unesco aponta que a escolarização inicial aumentou de 55% para 75%, de 1999 a 2013.
Para a professora, a criação de organismos multilaterais Sul-Sul, como a Alba, a Unasul e mesmo a Telesur foram feitos absolutamente inéditos, inseridos no bojo das mudanças promovidas pelos governos populares. “Esse ineditismo indicava uma mudança uma capacidade real de mudança na vida das pessoas. Por isso, foi brutalmente combatido pela burguesia”, afirmou.
De acordo com ela, o “impeachment” do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, fabricado juridicamente como o da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, foi o primeiro indício de como a burguesia iria atuar para conter os avanços na região. “A burguesia foi testando limites, medindo forças, até achar, em alguns lugares, como o Brasil, que já era possível tentar algo mais forte”, explicou.
A professora explicou também que o fim do atual ciclo econômico pressupõe a crise dos commodities, que vem acompanhada de uma avalanche conservadora, cujo elemento comum é o combate à corrupção – embora o combate seja sempre seletivo, direcionado a atores específicos.  “O modelo do justiceiro, ao estilo Sérgio Moro, desponta em vários países da América Latina”, observou.
Flávia alertou que o fim do ciclo tende a ser cada vez mais violento. Na América Latina os sintomas são vastos: os índices de assassinatos de lutadores sociais, que estiveram estáveis durante anos, já estão aumentando. Entretanto, observou que a possibilidade de se aprender com a história é sempre uma vantagem estratégia para os que luta na contramão do poder dominante. “Não há perspectiva de mudança de cenário nos próximos anos. Mas que bom que a historia está em aberto e que nós podemos aprender com ela e buscar alternativas”, ressaltou.
Nesta perspectiva, ela ressaltou a importância da esquerda reavaliar as lacunas deixadas pelos seus governos progressistas. Entre elas, a da dificuldade de estabelecer modelos de desenvolvimento diferenciados, como alertaram os movimentos sociais latino-americanos em lutas concretas como naquela contra à construção da Usina de Belo Monte. “Os governos de esquerda copiaram o modelo de desenvolvimento do capitalismo. Não deram conta de fazer a diferença. Agora, a esquerda precisa ouvir os movimentos sociais que estão há 15 anos dizendo que não pode ser assim”, defendeu.