segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

WIKILEAKS: EUA CRIOU CURSO PARA TREINAR MORO E JURISTAS

Wikileaks: EUA criou curso para treinar Moro e juristas
André Augusto
Em documento interno do governo americano que foi vazado pelo Wikileaks, os EUA mostram como treinaram agentes judiciais brasileiros, entre eles Sérgio Moro. O documento, de 2009, pede para instalar treinamento aprofundado em Curitiba.

Alguma suspeita com a atualidade?

O Wikileaks revelou o informe enviado ao Departamento de Estado norte-americano do seminário de cooperação, realizado em outubro de 2009, com a presença de membros seletos da Polícia Federal, Judiciário, Ministério Público, e autoridades norte-americanas, no Rio de Janeiro. O Wikileaks é um site especializado por vazar documentos internos do governo americano.

O seminário se chamava “PROJETO PONTES: construindo pontes para a aplicação da lei no Brasil”, em que se tratava de consolidar treinamento bilateral de aplicação das leis e habilidades práticas de contraterrorismo. Promotores e juízes federais dos 26 estados brasileiros participaram do treinamento, além de 50 policiais federais de todo o país. A delegação tupiniquim era a maior dentre os participantes, que contava com representantes do México, Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai.

O memorando relata o "grande entusiasmo" com que os promotores e juízes federais brasileiros se dissiparam dos temores que o termo "contraterrorismo" desperta em amplos setores – nada mais nada menos o novo discurso com que George W. Bush buscava revestir o direito inalienável do imperialismo norte-americano como "polícia do mundo", depois da queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria com a restauração capitalista na ex-União Soviética, e que fundamentou intervenções militares em todo o Oriente Médio na década de 2000 e a intervenção norte-americana para frear as primaveras árabes de 2011.

Vê-se perfeitamente a intimidade com que a casta jurídica brasileira trata os termos do chefe imperial.

Sérgio Moro discorre, então, sobre os "cinco pontos mais comuns acerca da lavagem de dinheiro no Brasil". Sem detalhes particulares sobre a exposição do chefe da "República de Curitiba", o informe mostra que houve acalorados debates em que a equipe de treinamento ianque, virtuosos na patifaria, ensinam os pupilos brasileiros e estrangeiros os segredos da "investigação e punição nos casos de lavagem de dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os países, confisco de bens, métodos para extrair provas, negociação de delações, uso de exame como ferramenta, e sugestões de como lidar com Organizações Não Governamentais (ONGs) suspeitas de serem usadas para financiamento ilícito".

Na seção “Resultados”, o informe da equipe lembra a harmonia que se estabelece quando o tutor dedicado se depara com o aprendiz atento. Lê-se que “os participantes requisitaram treinamento adicional, sobre a coleta de evidências, entrevistas e interrogatório, habilidades usadas nos tribunais”. Este interesse subserviente se explicaria pelo fato de que a democracia brasileira não alcançava, então, 20 anos de idade. Assim, os juízes federais, promotores e advogados brasileiros, iniciantes no processo democrático, não foram treinados em como lidar com longos processos judiciais [...] e se encontravam incapazes de utilizar eficazmente o Novo Código Penal que foi alterado completamente.

Haveria que verificar a opinião dos participantes sobre esta cortês acusação de estupidez por parte dos chefes ianques. Se o informe merece crédito, aos juristas e promotores brasileiros pouco importava a desconsideração vinda do Norte, contanto que “consentissem em ensinar as novas ferramentas, que estão ansiosos em aprender”. Duas metades se completavam. Como dizia Tchernichevsky, um fósforo é frio, assim como a lixa da parte externa da caixa em que é riscado, mas juntos produzem o fogo que aquece a humanidade. Essa é a síntese das relações entre os Estados Unidos e o Poder Judiciário brasileiro.

E para completar a trama atual se desenvolvendo em determinada passagem do documento o informe pede para ministrar cursos mais aprofundados nos seguintes locais: Curitiba, São Paulo e Campo Grande. É de estranhar agora os procedimentos dá chamada “República de Curitiba”?

O relatório se conclui com a ideia de que “o setor judiciário brasileiro está muito interessado na luta contra o terrorismo, mas precisa de ferramentas e treinamento para empenhar forças eficazmente. [...] Promotores e juízes especializados conduziram no Brasil os casos mais significativos envolvendo corrupção de indivíduos de alto escalão”. Não admira que, durante estes últimos anos, a cooperação com os Estados Unidos, e mesmo sem ela, tenha incrementado o conhecimento do Judiciário e do Ministério Público acerca dos principais casos de corrupção no país.

Com tamanha rede de investigação, é possível acreditar que o Judiciário e a Polícia Federal não sabiam de nada no esquema da Petrobras? Só descobriram agora? Parece inverídico. O próprio desespero de Moro ao colocar em sigilo mais de 300 nomes de políticos envolvidos na delação da Odebrecht sinaliza que ela poderia traçar o rastro para pistas que envolvam membros proeminentes de outros poderes para além do Legislativo. Então, surge a pergunta: quem vai investigar a Polícia Federal? Quem vai julgar os juízes?

A farsa das instituições democráticas

Seguramente, a responsabilidade pelo fortalecimento da direita e das instituições autoritárias do Estado recaem sobre Lula, Dilma e o PT. Por outro lado, as manobras de Sérgio Moro e encampadas pelo Supremo Tribunal Federal representam a trama do “golpe institucional” deste Partido Judiciário, e devem ser denunciadas contundentemente.

Os juízes não são eleitos por ninguém. Pelo contrário, são escolhidos pelos donos do poder. Muitos são funcionários de carreiras cheias de filtros sociais, para que seus cargos sejam ocupados só pela elite. Gozam dos mais altos privilégios da “república dos ricos”, alguns deles vitalícios. E dispõem de todo tipo de laços com o imperialismo e as potências estrangeiras. Documentos como este extraídos de arquivos de Estado comprovam esta verdade.

É lamentável a posição de setores da esquerda que se alinham atrás da superstição da Lava-Jato e de que Moro pode revolver o solo da corrupção, ou revestidos da política de "Fora Todos" e "Eleições Gerais", uma verborragia, quando é necessário unir forças para exigir das direções burocráticas que rompam sua colaboração com o governo golpista e encabecem uma luta séria contra os ajustes e a impunidade.

É preciso questionar todos os privilégios do Poder Judiciário, exigir que cada juiz seja eleito por sufrágio universal e seja revogável, perdendo suas verbas de auxílio e exigindo que recebam o mesmo salário de uma professora. Nem o PT, que fortaleceu esta instituição durante todos os seus governos, nem a direita do PMDB e do PSDB, podem fazer isso. É necessário que a população, em base a um movimento nacional contra os desmontes e a impunidade, impulsione uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que imponha estas medidas, decidindo a revogabilidade de todos os mandatos e que se revertam todos os acordos lesivos aos interesses nacionais.


CIDH condena Brasil por trabalho escravo em fazenda agrícola no Pará


CIDH condena Brasil por trabalho escravo em fazenda agrícola no Pará


Condenação diz respeito a caso de fazenda que empregou 85 pessoas em condições análogas à escravidão; esta é primeira vez que CIDH julga caso de escravidão moderna
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão jurídico da OEA (Organização dos Estados Americanos), condenou o Brasil, na quinta-feira (15/12), por um caso de trabalho escravo e tráfico de seres humanos em uma fazenda no Estado do Pará envolvendo 85 funcionários.
Segundo a sentença da CIDH, “o Estado brasileiro não demonstrou ter adotado medidas específicas e nem ter atuado com a devida diligência para prevenir a forma contemporânea de escravidão à qual essas pessoas foram submetidas, nem para por fim a essa situação”, mesmo tendo conhecimento do caso.
Como consequência da condenação, o Brasil deverá realizar medidas de reparação para com as vítimas, o que inclui retomar as investigações do caso para julgar e punir as partes cabíveis, e pagar indenizações aos funcionários afetados.

Cícero R.C. Omena/ FlickrCC

Cerca de 85 pessoas trabalhavam em condição análoga à escravidão na fazenda Brasil Verde, no Estado do Pará
Por danos imateriais, a corte fixou o valor de US$ 30 mil (mais de R$ 101 mil) para cada um dos trabalhadores presentes na fiscalização do dia 23 de abril de 1997 à fazenda, e US$ 40 mil (cerca de R$ 136 mil) para cada um dos 85 funcionários da fazenda Brasil Verde presentes no local durante as fiscalizações de 15 de março de 2000.
A corte afirmou que supervisionará o cumprimento da sentença e só dará o caso por encerrado uma vez que o Brasil tenha realizado as obrigações determinadas.
O caso diz respeito à fazenda Brasil Verde e remonta aos anos de 1989, 1993 e 1997, quando as autoridades relataram “falhas” e “irregularidades” trabalhistas após inspeções, e ao ano de 2000, quando os trabalhadores foram finalmente libertados, após dois jovens fugirem do local e denunciarem a situação ao Ministério do Trabalho.

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Investigações mostraram que os funcionários eram provenientes de regiões pobres do país e recrutados por traficantes de pessoas. Uma vez na fazenda, suas carteiras de trabalho eram tomadas. A jornada de trabalho dos empregados era de 12 horas ou mais, com uma pausa de meia hora para o almoço, durante seis dias por semana.
As instalações onde viviam os funcionários também eram precárias: cabanas sem eletricidade e redes no lugar de camas. E a alimentação, descontada dos salários, era insuficiente.
Em relatos, os funcionários disseram ser vigiados por seguranças armados e relataram ser ameaçados constantemente.
Este é o primeiro caso de escravidão moderna julgado pela CIDH, de forma que o Brasil é o primeiro país a ser condenado por escravidão.
“A Corte observou que o conceito de escravidão e suas formas análogas evoluíram e não se limitam à propriedade sobre a pessoa. Desta maneira, para defini-la [escravidão] deve-se observar a demonstração de controle de uma pessoa sobre a outra, que chegue a se equiparar com a perda da própria vontade ou diminuição considerável da autonomia pessoal”, disse o CIDH no documento.
Opera Mundi não conseguiu entrar em contato com a Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federal. No entanto, o jornalista Leonardo Sakamoto, em seu blog publicou uma nota da secretaria comentando a condenação.
“Consideramos que a sentença da Corte IDH, não obstante condenatória ao Estado brasileiro, representa uma oportunidade para reforçar e aprimorar a política nacional de enfrentamento ao trabalho escravo, especialmente no que se refere à manutenção do conceito, assim como em relação à investigação, processamento e dos responsáveis pelo delito”, disse o órgão.

IMPORTANTE ALERTA: Um em cada dez pilotos tem sinais de depressão, diz estudo


Um em cada dez pilotos tem sinais de depressão, diz estudo

Deutsche Welle

Levantamento indica que muitos não procuram ajuda médica por temerem impacto na carreira
Centenas de pilotos podem estar sofrendo de depressão em todo o mundo, mas decidem não procurar ajuda por medo do impacto negativo em suas carreiras, aponta um estudo publicado nesta quinta-feira (15/12).
Mais de um em cada dez pilotos que participaram do levantamento de forma anônima, realizado por meio da internet, mostraram sinais de depressão, de acordo com o estudo realizado pela Universidade de Harvard e publicado na revista científica Environmental Health.

picture alliance/dpa/D. Reinhardt

Levantamento mostrou que um em cada dez pilotos sofre de depressão
"Descobrimos que muitos pilotos atualmente em atividade apresentam sintomas de depressão, e pode ser que eles não estejam buscando tratamento devido ao medo de impactos negativos na carreira", frisa Joseph Allen, coautor do estudo. "Existe um véu de sigilo em torno de questões de saúde na cabine do piloto."
Pensamentos suicidas
De 1.850 pilotos de mais de 50 países que responderam a perguntas sobre sua saúde mental no estudo, 12,6% apresentaram sinais de depressão. Cerca de 4% dos entrevistados relataram ter tido pensamentos suicidas nas duas últimas semanas.
Apresentaram sinais de depressão especialmente aqueles que tomam elevadas doses de medicamentos para dormir ou sofreram assédio sexual ou moral.

Avião com time da Chapecoense sofre acidente na Colômbia com 81 pessoas; há 4 sobreviventes

Itamaraty vai enviar funcionários a Medellín por conta de acidente com avião da Chapecoense

Avião com 40 pessoas a bordo colide com montanha no Paquistão

 
Os resultados do estudo surpreenderam até mesmo Markus Wahl, piloto e porta-voz do sindicato alemão de pilotos Cockpit. "Talvez os pilotos estejam mais expostos porque trabalham num ambiente de alto risco, onde cada decisão pode colocar em perigo vidas humanas", avalia. Além disso, eles estariam mais sujeitos a pressão. "Eles são pressionados a tomar decisões, o ambiente de trabalho fica cada vez mais cansativo. Quanto maior a pressão, maior o estresse. E estresse, claro, pode levar a doenças psíquicas", opina o sindicalista.
A pesquisa é mais um alerta, após queda de avião da Germanwings em março de 2015, causada por copiloto com problemas psíquicos. As 150 pessoas a bordo da aeronave morreram no desastre.
Entre família e carreira
Um importante fator de estresse para os pilotos são os longos tempos fora de casa. "A pessoa passa, às vezes, de 20 a 22 dias do mês em quartos de hotel, e isso representa um grande desafio para a vida privada – seja com amigos, família ou cônjuge", frisa Wahl. "Todos esses relacionamentos, que também são extremamente importantes para superação do estresse, não estão tão disponíveis como no caso de um funcionário de escritório."
Wahl afirma que no caso de brigas na família, o piloto pode ter mais dificuldades em superar as situações de conflito, por não estar tão presente, tendo que ficar vários dias angustiado com problemas pessoais que não pode solucionar pessoalmente, devido à ausência. E quando os períodos de descanso ficam mais curtos – como na alta temporada, durante as férias de verão – não resta mais tempo para discutir problemas na família.
Pausas mais curtas
Os pilotos de hoje também têm menos pausa no trabalho do que algumas décadas atrás, segundo Wahl. Os intervalos em que as aeronaves têm que voltar ao aeroporto de destino diminuíram, em parte, de 60 para 35 minutos. Caso ocorra algum imprevisto, o estresse é ainda maior.
"Antigamente, quando pousávamos havia sempre um técnico de aeronaves à disposição, que resolvia o problema que aparecesse. Hoje, por razões de custo, em muitos aeroportos não existem mais técnicos. Então, o trabalho acaba ficando com o piloto", lamenta. "No pouco tempo que resta antes do voo de regresso ele deve, então, pegar o telefone e encontrar uma solução rápida."

Novo secretário-geral da ONU nomeia brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti como chefe de gabinete


Novo secretário-geral da ONU nomeia brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti como chefe de gabinete


Ex-embaixadora do Brasil em Berlim, Viotti foi nomeada por António Guterres, ex-premiê português; ele assumirá mais alto cargo da organização em 1º de janeiro
O futuro secretário-geral da ONU, António Guterres, nomeou nesta quinta-feira (15/12) Maria Luiza Ribeiro Viotti, ex-embaixadora brasileira em Berlim, como chefe de gabinete. Além da brasileira, integrarão a equipe de Guterres a nigeriana Amina J. Mohammed, indicada como vice-secretária-geral, e a sul-coreana Kyung-wha Kang, que assumirá o novo cargo de Assessora Especial em Política.
“Estas indicações são o alicerce do meu time, que continuarei a construir, respeitando meu compromisso de igualdade de gênero e diversidade geográfica”, afirmou Guterres, que disse ainda que as escolha foi feita baseada na “sólida experiência que as três possuem em assuntos globais, desenvolvimento, diplomacia, direitos humanos e ação humanitária”.
Atual subsecretária para Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, Maria Luiza Ribeiro Viotti foi embaixadora em Berlim de 2013 a 2016 e membro da Representação Permanente do Brasil nas Nações Unidas (2007 a 2011), além de ter atuado como vice-presidente da comissão preparatória da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo.
Paulo Filgueiras/ONU

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Já a futura vice-secretária-geral Amina J. Mohammed é ministra do meio ambiente da Nigéria e foi assessora especial do secretário-geral Ban Ki-moon no Planejamento de Desenvolvimento pós- 2015, fundamental para promover a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, incluindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Terceira integrante do gabinete anunciado por Guterres nesta quinta-feira, a sul-coreana Kyung-wha Kang é chefe do time de transição do futuro secretário-geral. Ela trabalhou como assistente do secretário-geral para assuntos humanitários desde 2013 e foi vice-alto-comissária para Direitos Humanos entre 2007 e 2013. 
António Guterres, que tomou posse nesta segunda-feira (12/12), assume o cargo de secretário-geral da ONU no dia 1º de janeiro de 2017. Ele sucederá Ban Ki-moon, diplomata sul-coreano que lidera a organização desde 2007. 

Parlamentares brasileiras repudiam agressão a chanceler venezuelana na Argentina


Parlamentares brasileiras repudiam agressão a chanceler venezuelana na Argentina


Em comunicado, deputadas e senadoras afirmam que 'governos alinhados ao imperialismo' no Mercosul convalidam agressão contra Delcy Rodríguez, 'sob a mesma narrativa machista que atinge a participação das mulheres na política'
Um grupo de deputadas e senadoras brasileiras divulgou nesta quinta-feira (15/12) um manifesto em repúdio à agressão denunciada pela chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez, em Buenos Aires nesta quarta-feira (14/12).  As parlamentares também condenam o que classificam como "golpe contra a Venezuela no Mercosul", em referência às medidas tomadas nos últimos meses contra o país por outros membros do bloco.
"Articuladores de um golpe pela retirada da Venezuela, os governos alinhados ao imperialismo, não conformes com essa ofensiva, convalidam agora uma agressão contra uma mulher, sob a mesma narrativa machista que atinge a participação das mulheres na política, o mesmo discurso de ódio misógino que usaram contra a Presidenta Dilma Rousseff", escreveram as parlamentares.
Na quarta-feira, Rodríguez afirmou ter sido agredida ao intentar ingressar no Ministério das Relações Exteriores argentino para participar da reunião do Conselho do Mercosul, do qual a Venezuela está temporariamente suspensa, e para a qual Caracas "não estava convidada”, segundo os outros participantes.
 
“Em nenhuma parte do mundo, nunca, se recebeu a chanceleres com tropas de segurança antiprotesto e se agrediu uma chanceler e sua delegação oficial”, disse Rodríguez após o incidente.

Agência Efe

Chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, denunciou ter sido agredida ao tentar entrar em reunião do Mercosul em Buenos Aires
 
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enviou uma carta de protesto ao governo argentino na noite de quarta-feira (14/12) sobre a agressão. O mandatário afirmou ter sido um episódio “nunca antes visto” e que a “direita intolerante” passou a recorrer novamente à violência. “Em vez de buscar que o Mercosul se fortaleça como o Mercosul social dos povos, que já havíamos conseguido, impuseram um plano retrógrado de destruição e divisão do Mercosul”, disse ele.

"Chanceler, conte com nossa luta, sempre atuando do lado das mulheres, em intensa ação e mobilização por nosso espaço de representação e participação política", expressaram as deputadas e senadoras brasileiras.
 

Barrada em reunião do Mercosul, Venezuela denuncia 'golpe à institucionalidade'

Sob protestos da Venezuela, Argentina assume presidência rotativa do Mercosul

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Leia a seguir a íntegra do manifesto das parlamentares:
 
Manifesto das Parlamentares brasileiras em repúdio ao golpe contra a Venezuela no Mercosul e as agressões contra a chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez
Nós, mulheres parlamentares, senadoras e deputadas do Congresso do Brasil, expressamos a mais profunda solidariedade à chanceler da República Bolivariana da Venezuela, Delcy Rodriguez, e manifestamos nosso repúdio diante do ataque policial sofrido por ela hoje, na cidade de Buenos Aires, Argentina.
Reconhecemos nessa agressão das forças policiais a expressão reacionária, fascista, patriarcal e de violência política mais nojenta da Tríplice Aliança, hoje representada pelos governos de Argentina, Brasil e Paraguai contra a investidura de uma chanceler mulher em exercício das suas responsabilidades à frente da defesa da soberania e os legítimos direitos da Venezuela no Mercosul.
Articuladores de um golpe pela retirada da Venezuela, os governos alinhados ao imperialismo, não conformes com essa ofensiva, convalidam agora uma agressão contra uma mulher, sob a mesma narrativa machista que atinge a participação das mulheres na política, o mesmo discurso de ódio misógino que usaram contra a Presidenta Dilma Rousseff.
Chanceler, conte com nossa luta, sempre atuando do lado das mulheres, em intensa ação e mobilização por nosso espaço de representação e participação política.
Denunciamos ao mundo a ofensiva contra a Venezuela, além de manifestar nosso forte compromisso com o projeto de integração latino-americano e pela defesa dos direitos do povo venezuelano.
Reafirmamos à República Bolivariana da Venezuela nosso apoio à legalidade no Mercosul e a resolução de controvérsias pelo Tratado dos Olivos.
Brasília, 15 de dezembro de 2016.
Assinam:
Senadora Gleisi Hoffmann, Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos – PT/PR
Senadora Fátima Bezerra, Vice Presidente da Comissão de Educação – PT/RN
Senadora Vanessa Grazziotin, Procuradora Especial da Mulher no Senado – PcdoB/RN
Senadora Lidice da Mata – PSB/BA
Deputada Jandira Feghali, Líder da oposição na Câmara – PcdoB/RJ
Deputada Professora Marcivânia – PcdoB/AP
Deputada Jô Moraes – PcdoB/MG
Deputada Alice Portugual – PcdoB/BA
Deputada Janete Capiberibe – PSB/AP
Deputada Erika Kokay – PT/DF
Deputada Benedita da Silva – PT/RJ
Deputada Luiza Erundina – PSOL/SP
Deputada Maria do Rosário – PT/RS
Deputada Ana Perugini – PT/SP

São tempos perigosos para o nosso planeta

16/12/2016 19:43 - Copyleft

São tempos perigosos para o nosso planeta

Não podemos continuar ignorando a desigualdade seja financeira ou social, porque temos os meios para destruir nosso planeta mas não de escapar dele.


Stephen Hawking, The Guardian
Como um físico teórico baseado em Cambridge, vivi a minha vida em uma bolha extraordinariamente privilegiada. Cambridge é uma cidade diferente, centrada em torno de uma das melhores universidades do mundo. Dentro dessa cidade, a comunidade científica na qual me tornei parte nos meus 20 anos está ainda mais rarefeita.

E dentro dessa comunidade científica, o pequeno grupo de físicos teóricos internacionais com quem eu passei minha vida trabalhando pode algumas vezes se referir a si mesmo como o topo. Além disso, com a fama que veio com os meus livros, e o isolamento imposto pela minha doença, eu sinto que a minha torre de marfim está ficando mais alta.

Então, a recente e aparente rejeição das elites tanto nos EUA quanto no Reino Unido está certamente mirada em mim, tanto quanto em qualquer outra pessoa. Seja o que for que pensemos sobre a decisão do eleitorado britânico em rejeitar fazer parte da UE e do público norte-americano em abraçar Trump como seu novo presidente, não há dúvidas nas mentes dos comentaristas de que isso foi um choro de raiva do povo que se sente abandonado por seus líderes.

Foi, e parece que todo mundo concorda, o momento em que o esquecido falou, achando suas vozes para rejeitar aconselhamento e condução de experts e da elite.






Eu não sou exceção a essa regra. Eu alertei antes da votação do Brexit que afetaria pesquisas científicas no Reino Unido, que a votação pela saída seria um passo para trás, e o eleitorado – ou ao menos uma porção significante dele – não se importou comigo nem com outros líderes políticos, sindicalistas, artistas, cientistas, homens de negócio e celebridades que deram o mesmo conselho para o resto do país.

O que importa agora, bem mais do que as escolhas desses dois eleitorados, é como as elites reagem. Devemos, ao invés, rejeitar esses votos como uma onda de populismo que falhou em considerar os fatos, e tentar circunscrever as escolhas que eles representam? Eu argumentaria que isso pode ser um erro terrível.

As preocupações implícitas a esses votos sobre as consequências econômicas da globalização e a mudança tecnológica acelerada são absolutamente compreensíveis. A automação de fábricas já dizimou empregos na manufatura tradicional, e é provável que a ascensão da inteligência artificial estenda essa destruição de empregos mais a fundo na classe média, com apenas os papéis mais criativos, de supervisão e atenciosos permanecendo.

Isso irá acelerar a já ampla desigualdade econômica ao redor do mundo. A internet e as plataformas tornam possível que grupos muito pequenos lucrem muito enquanto empregam pouco. Isso é inevitável, é o progresso, mas também é socialmente destrutivo.

Temos que colocar isso ao lado do colapso financeiro, que trouxe um lar para pessoas que poucos trabalhadores do setor financeiro podem prever grandes ganhos e que o resto de nós aceita esse sucesso e pega a conta quando sua ganância nos leva para o caminho errado.

Então, juntos, estamos vivendo em um mundo de uma desigualdade financeira em ascensão, no qual muitas pessoas não só vêem seus padrões de vida, mas também sua habilidade de se sustentar, desaparecer. Não é de se surpreender que estejam procurando por um novo acordo, o qual Trump e Brexit podem ter parecido representar.

Outra consequência não intencional da internet e das redes sociais é fato de que a natureza dessas desigualdades é muito mais aparente do que era no passado. Para mim, a habilidade de usar a tecnologia para comunicar foi uma experiência libertadora e positiva. Sem ela, eu não teria podido continuar meu trabalho nos últimos anos.

Mas também significa que as vidas das pessoas mais ricas nas partes mais prósperas do mundo estão visíveis para qualquer um que tenha acesso a um celular. E já que agora há mais pessoas com acesso a um telefone do que a água potável na África Sub-Saariana, isso significará brevemente que ninguém conseguirá escapar da desigualdade.

As consequências disso são visíveis: a ida dos campesinos pobres para as cidades, para favelas, levados pela esperança. E depois, vendo que o nirvana do Instagram não estará disponível lá, eles irão procurar além mar, se unindo ao milhares de migrantes econômicos em busca de uma nova vida. Esses migrantes criam novas demandas nas infraestruturas e nas economias dos países nos quais chegam, enfraquecendo a tolerância e alimentando o populismo político.

Para mim, o aspecto mais preocupante disso é que agora, mais do que em qualquer época na nossa história, nossa espécie precisa trabalhar junta. Nós encaramos desafios ambientais grandes: mudança climática, produção de alimentos, excesso de população, a dizimação de outras espécies, doenças epidêmicas, acidificação dos oceanos.

Juntos, eles são um lembrete de que estamos no período mais perigoso no desenvolvimento da humanidade. Agora temos a tecnologia para destruir o planeta onde vivemos, mas ainda não desenvolvemos a habilidade de escapar dele. Talvez, em algumas centenas de anos, teremos estabelecido colônias humanas nas estrelas, mas agora temos apenas um único planeta e precisamos trabalhar juntos para protegê-lo.

Para fazer isso, temos que quebrar, não aumentar, as barreiras dentro e entre nações. Se conseguirmos fazer isso, os líderes mundiais precisam reconhecer que falharam e estão falhando com todos. Com recursos concentrados nas mãos de poucos, teremos que aprender a compartilhar muito mais do que agora.

Com não somente empregos mas empresas inteiras desaparecendo, devemos ajudar as pessoas a se preparar para um novo mundo e apoiá-las financeiramente enquanto o fazem. Se as comunidades e as economias não podem lidar com os níveis atuais de migração, devemos fazer mais para encorajar o desenvolvimento global, pois esse é o único caminho no qual os milhões de migrantes serão persuadidos a seguir seu futuro em suas casas.

Podemos fazer isso, sou otimista com relação à nossa espécie; mas exigirá que as elites, de Londres a Harvard, Cambridge a Hollywood, aprendam com as lições desse ano. Aprendem acima de tudo com a humildade.




Créditos da foto: Illustration by Nate Kitch

Quem é a favor do abuso de autoridade?

16/12/2016 19:27 - Copyleft

Quem é a favor do abuso de autoridade?

O Senado decidiu adiar a votação do projeto de lei 280/2016, a Lei de Abuso de Autoridade. A proposta seguirá para a CCJ e será votada somente em 2017


Tatiana Carlotti
Divulgação / Rádio Boa Nova
Nesta semana, o Senado Federal decidiu adiar a votação do projeto de lei 280/2016, a chamada Lei de Abuso de Autoridade. Evitando polêmicas, parte do Senado recuou e, agora, a proposta seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), sendo apreciada somente em 2017. (Confira aqui a íntegra do projeto)
 
Antes da votação, o relator da matéria, senador Roberto Requião (PMDB-PR), foi categórico: “Nenhuma nação subsiste com autoridades que esmagam o pequeno, o pobre, o negro, na base de carteiradas. O que somos, senadores acovardados? Com medo do quê? ”, questionou, ao denunciar a “pressão corporativa” contra a votação da proposta.
 
Os parlamentares, contrários à apreciação da proposta em caráter de urgência, evocaram a “vontade do povo”, reproduzindo a catilinária dos procuradores da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro, que afirmou não ser este, “o melhor momento para aprovar a lei de abuso de autoridade”.
 
Pomo da discórdia entre Judiciário e Legislativo, o projeto determina, de forma mais clara, a penalização de servidores públicos como policiais, delegados, procuradores e juízes que extrapolem a autoridade dos seus cargos. Um tema que, pela lógica, contaria com a simpatia da população brasileira. Correto?





 
Duramente criticada pelos procuradores da Lava Jato, a Lei caiu em desgraça entre os apoiadores da República do Paraná que encamparam, turbinados pelos veículos do oligopólio midiático, a narrativa da Força Tarefa que qualificou a proposta de “perseguição”, “intimidação” e “retaliação” à Operação conduzida pelo juiz Sérgio Moro.
 
As acusações e denúncias em torno do autor do projeto, o senador Renan Calheiros, também não contribuíram. Além de réu, Renan conta com 11 inquéritos na Corte Suprema e acaba de protagonizar uma queda de braços com o ministro Marco Aurélio (STF), permanecendo no comando do Senado após decisão do colegiado dos ministros. 
 
À revelia de suas intenções, porém, é curiosa a ausência de questionamento sobre a reação extemporânea dos procuradores da Lava Jato que, apesar de submetidos às ordens da Procuradoria Geral da República (PGR), ameaçaram debandar da Operação por conta da emenda inserida em outro projeto, o das medidas anticorrupção, aprovado pela Câmara.
 
Com a influência que têm, enquanto agentes públicos, investigando corrupção, não deveriam ser eles os primeiros a apoiar uma lei contra abuso de autoridade? Sérgio Moro, inclusive, participou do debate sobre a Lei de Abuso de Autoridade no Senado, encaminhando uma “salvaguarda” que foi incluída no texto final do projeto pelo senador Requião.
 
Ao relatar suas preocupações, o magistrado avaliou que “uma nova lei poderia ser interpretada com efeito prático de tolher investigações” e que o Senado poderia “passar mensagem errada à sociedade brasileira”. Conforme a sugestão de Moro, incorporada, a Lei deixa claro que “não constitui crime de abuso de autoridade atos praticados com base em interpretações jurídicas divergentes”.
 
Durante a sessão no Senado (confira a íntegra, vale a pena), o juiz de Curitiba ouviu os argumentos de Calheiros e Requião, do ministro Gilmar Mendes (STF) e do juiz federal Silvio Rocha. Todos unânimes em relação a pertinência do projeto. Rocha, inclusive, trouxe sugestões ao projeto de Lei (Confira aqui os apontamentos do juiz).
 
Responsabilidade de agentes públicos
 
No artigo “Abuso de autoridade – tópicos para estudo”, Requião traz um panorama de como funciona o regime de responsabilidade de agentes públicos em diversos países, como Estados Unidos, Portugal, França, Alemanha, Espanha.
 
Sob a premissa de que coibir o abuso de autoridade “é proteger a liberdade, a integridade física e psicológica das pessoas”, Requião esclarece que a proposta não intimida operações, como a Lava Jato. Aponta que a Lei mantém “a competência exclusivamente judicial para a apuração destes delitos [crimes de responsabilidade], no que tange à responsabilização de natureza penal”.
 
E que “somente pelo acórdão de um colegiado de juízes integrantes de um tribunal é que um magistrado ou membro do MP poderia ser condenado por tais delitos”. Afirma, ainda, que, ao contrário do que acontece com os parlamentares, não se trata de “comunicação para prisão ou possibilidade de suspensão em fase processual”.
 
“É ilusório supor que o projeto de lei possa pôr em risco a atividade de juízes ou de procuradores, que já são dotados de diversas garantias que asseguram a sua independência e segurança profissional”, complementa o texto, ao justificar a necessidade de impedir que servidores públicos permaneçam “em regime de irresponsabilidade, incompatível com a Constituição”.
 
Requião já havia manifestado desconforto com a possibilidade de adiamento da votação da Lei. Uma “covardia brutal” do Senado, já que o interesse da proposta não é “propriamente a punição de autoridades”, mas “a proteção do fraco perseguido pelo forte” (leia mais).
 
Pesquisa do Instituto Paraná, realizada em 152 municípios de todas as regiões do país, revela que 69,8% dos entrevistados são favoráveis a uma legislação mais rígida contra o abuso de autoridade.
 
O Projeto de Lei
 
O projeto de Lei de Abuso de Autoridade esclarece quais condutas podem ser tipificadas como crime de responsabilidade, estabelecendo a penalidade correspondente a cada uma delas.
 
A Lei tipifica como crimes de responsabilidade: a invasão de residências sem autorização judicial, tão comum nas periferias do país; a captura, prisão ou detenção que infrinja o Código Penal; o constrangimento de presos com violências ou ameaças; a obtenção de provas por meios ilícitos.
 
Também são considerados crimes de abuso de autoridade: a promoção de interceptação telefônica ou de dados sem autorização judicial ou fora das condições estabelecidas no mandado judicial; a persecução penal sem justa causa fundamentada; o ocultamento de investigações dos advogados de defesa do investigado; a ofensa à intimidade e à vida privada durante o inquérito policial.
 
Outro crime, tipificado na lei, é o ato de "coibir, dificultar ou, por qualquer meio, impedir a reunião, a associação ou o agrupamento pacífico de pessoas para fim legítimo".
 
As penas variam de prestação de serviços à comunidade ao afastamento das funções públicas e multa. Em casos de detenção, a maior parte das penas variam de 6 meses a 2 anos. Os agentes públicos reincidentes em condenações de abuso de autoridade podem perder o cargo.
 
“Pé na porta”
 
Independente da queda de braço entre os Poderes, urgem no país medidas civilizatórias que combatam, efetivamente, o abuso de autoridade no país. A barbárie sistemática contra a população mais desfavorecida é tema da reportagem do jornalista Álvaro Magalhães, do R7, que mostra: “Brasil tem 1 mil casos de violência policial por dia”.
 
Com base nas respostas de 90 mil pessoas entrevistadas pelo IBGE, durante a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), a reportagem aponta que 370 mil pessoas são vítimas de violência policial por ano, 1 mil casos por dia.
 
“A maior parte das vítimas é negra (preta ou parda, na classificação do IBGE): somam 220 mil vítimas, ou 60% do total. A violência contra brancos atingiu 144 mil pessoas, ou 39% do total. As outras quase 6 mil vítimas (1,5% do total) que completam o quadro são orientais ou indígenas”, destaca o texto.
 
Relator na CPI sobre assassinatos de jovens, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) destacou, durante sua defesa da Lei, que nas comunidades “é pé na porta”, a polícia invade casas e aterroriza famílias, sem qualquer mandado policial. Entre as “59 mil pessoas assassinadas por ano no país, metade é jovem e 77% jovens negros, moradores das periferias”, apontou.
 
Vale destacar, também, o alerta do presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), James Cavallaro, em fevereiro deste ano: “a população carcerária no Brasil cresceu quatro vezes em 20 anos, para cerca de 600 mil pessoas, dos quais cerca de 40% não foram julgados. Há mais presos provisórios que o total de presos no país em 1995”.
 
CNJ
 
No artigo “Sabe com que está falando?”, Renan Calheiros traz os dados relativos a 2015, colhidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tratam-se de 10.308 casos de abuso de poder; 10.047 de abuso de autoridade; 1.137 casos de exercício arbitrário, totalizando 21.492 casos de “excesso de autoridade em todas as instâncias”.
 
Além disso, os meandros corporativistas dificultam a penalização de crimes cometidos por magistrados e juízes, como mostra a reportagem “Quem julga o juiz?”, de Vinícius Assis, publicada do site Pública, com base na lista de 72 magistrados punidos pelo CNJ desde 2005, quando o órgão começou a atuar.
 
Lembrando que os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais também possuem “o poder de abrir processos criminais contra magistrados, desde que denunciados pelo Ministério Público, após inquérito policial”, a reportagem discrimina as punições do CNJ.
 
“Com base no capítulo IV da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, depois de julgado pelo CNJ, o magistrado pode ser: advertido, censurado (na prática, uma segunda advertência); removido compulsoriamente (ou seja: transferido de comarca); posto em disponibilidade (é afastado por dois anos, mas continua recebendo salário); aposentado compulsoriamente (se aposenta com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço).
 
Em suma: a pena máxima dos magistrados condenados pelo CNJ é a aposentadoria compulsória garantidos os vencimentos.
 
Soma-se a isso, a defasagem da legislação de 1965 sobre o tema, um entulho da ditadura civil-militar. Em sua participação no Senado, ao apresentar suas sugestões ao projeto, o juiz federal Sílvio Rocha destacou sobre a lei de 1965, que, do ponto de vista da segurança jurídica, diferentemente do projeto, “os tipos ali são tipos abertos”, trazendo “uma insegurança jurídica no sentido de uma possível divergência de interpretações”.
 
“O que o projeto faz é definir de forma minuciosa, detalhada, precisa, quais os comportamentos podem ser caracterizados abusos de autoridade”, afirmou, apontando que sob a perspectiva da magistratura, “é interessante que haja uma atualização para que nós não fiquemos sujeitos a uma legislação que não cumpre o requisito da estrita legalidade”. (Confira aqui, a fala do juiz)
 
É este o estado da arte, somado à mentalidade colonial de algumas autoridades, espalhadas em todas as regiões do Brasil, nos diversos âmbitos do serviço público. Um breve retrato disso pode ser conferido na lista abaixo (para ler sobre os casos, clique nas datas).
 
Trata-se de uma pequena e incompleta mostra de várias situações de abuso de autoridade, em vários âmbitos, cujas vítimas merecem Justiça, da mesma forma como todos esperamos que a Justiça seja feita, mas também obedecida, no escopo da Operação Lava Jato.
 
Confiram:


1.Há dez anos as Mães de Maio clamam por justiça pelo assassinato de 505 civis, a maioria jovens negros e moradores da periferia, durante a retaliação da PM aos ataques do PCC, em maio de 2006. Neste ano, elas lançaram o livro “Mães em Luta – Dez anos dos Crimes de Maio”.
 
2.Demóstenes Torres, ex-senador cassado por quebra de decoro parlamentar (acusado de favorecer o bicheiro Carlinhos Cachoeira), está afastado há quatro anos das atividades de procurador do MP de Goiás, mesmo assim, durante esse período, ele recebeu R$ 2,2 milhões em salário e retroativos funcionais do MP. (CongressoEmFoco, 12.2016)


3.Juiz do Espírito Santo, Antônio Leopoldo Teixeira, condenado por vender sentenças, e acusado de mandar matar o juiz Alexandre Martins de Castro Filho (que o teria condenado), foi aposentado compulsoriamente, mantendo uma pensão de R$ 32 mil. (FV, 11.2016)

4.Concessão de reajustes para servidores da Justiça e do Ministério Público em Minas supera o limite percentual de 95% do teto de gastos com pessoal, impactando os cofres públicos. Cerca de 1,4 mil servidores receberam contracheques acima do teto constitucional. (Em.com.br, 11.2016)
 
5.Promotor eleitoral Francisco Dirceu Barros, de Pernambuco, defendeu alternativas para compensar a perda de auxílio-moradia (R$ 4.377), como a substituição do auxílio-moradia pelo auxílio-saúde, em áudio que circulou nas redes sociais. Questionado, ele afirmou: “Não é uma posição pessoal. É defendida por vários membros do MP de Pernambuco e do Brasil. (Época, 11.2016)
 
6.Juiz Marcelo Testa Baldochi, denunciado pelo MP do Maranhão, por explorar trabalho escravo, foi absolvido pelo TJ MA. O STJ recebeu a denúncia do MP e a ação segue em andamento. Trata-se do mesmo juiz que deu ordem de prisão a três funcionários da TAM porque ele não conseguiu embarcar em um vôo de Imperatriz (MA) com destino a Ribeirão Preto (SP).(Exame, 12.2016) (Conjur, 14.11.2016)
 
7.A juíza Olga Regina de Souza Santiago, do TJ BA, condenada pelo CNJ por negociar liminares com o narcotraficante Gustavo Duran Bautista, recebeu a pena de aposentadoria compulsória, recebendo proventos proporcionais ao tempo de serviço. (CNJ, 11.2016)
 
8.Policiais civis de Mogi das Cruzes e Guararema invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) do MST, em Guararema, sem mandado de busca e apreensão, disparando contra as pessoas na recepção da unidade. Dois militantes foram presos. (Brasil de Fato, 11.2016)
 
9.Após ser preso, durante 8 meses, acusado de agredir e manter em cárcere privado uma ex-namorada, o deputado federal Osmar Bertoldi (DEM) retornou à Câmara, como suplente do ministro da Saúde Ricardo Barros (PP) (G1, 11.2016).
 
10.Os 105 casos de tortura em presídios, denunciados pela Pastoral Carcerária Nacional, entre 2005 e 2016, permanecem impunes. Nenhum agente público foi responsabilizado até agora. (Conjur, 11.2016)
 
11.Juíza Clarice Maria de Andrade manteve jovem de 15 anos em cela com 30 homens, durante 26 dias, em Abaetetuba (PA). O CNJ aplicou a “pena de disponibilidade”, suspendendo a juíza por dois anos. Ela continua recebendo salário. (G1, 10.2016)
 
12. juíza Patrícia Acioli, responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e grupos de extermínio, foi assassinada com 21 tiros, na porta de sua residência. Ao todo, 11 policiais militares foram denunciados pelo MP por participação no crime, eles foram condenados em primeira instância. (G1, 10.2016)
 
13.Juiz Luiz Carlos Boer de Porecatu (PR) foi acusado de agir em parceria com um advogado, ao menos, em 15 sentenças relacionados a processos bancários, agilizando processos. O juiz foi afastado de suas funções. (GP, 10.2016)
 
14.Promotor Thales Ferri Schoedl foi absolvido, por unanimidade, pelo órgão especial do TJ SP, após matar Diego Mendes Modanez e ferir Felipe Siqueira de Souza, em uma praia em Bertioga, em 2004. Em outubro, o STF confirmou a decisão do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e manteve a decisão de exonerar o promotor. (UOL, 10.2016)
 
15.18 jornalistas ouvidos pelo MP SP, em setembro de 2016, denunciaram agressões da PM durante as manifestações de rua, citando balas de borracha, golpes de cassetete na cabeça, jatos de gás pimenta, xingamentos e até disparo a queima-roupa com munição não letal. Mais de 150 jornalistas foram agredidos durante as manifestações. (ABr, 09.2016)
 
16.Justiça de São Paulo anula julgamento de PMs pelo massacre do Carandiru. Decisão passou por cima do veredicto de 5 júris que condenaram 74 PMs pelo assassinato de 111 pessoas na Casa de Detenção em outubro de 2012. (ElPaís, 09.2016)
 
17.Vários casos de abusos cometidos pela PM contra manifestantes foram registrados durante os atos Fora Temer em várias regiões do país. Entre eles, a prisão de 18 pessoas, inclusive menores, cinco horas incomunicáveis e impedidos de ter contato com advogados; a suspeita de infiltração de agente do exército visando emboscada dos manifestantes; a perda de visão do olho esquerdo da estudante Deborah Fabri, atingida por um estilhaço de bomba jogada pela PM. (EXAME, 09.2016), (El Pais05.09.2016).
 
18.Vários episódios atestam a truculência da PM que invadiu, agrediu e prendeu vários estudantes secundaristas, menores de idade, durante as ocupações nas escolas públicas entre 2015 e 2016. (ElPaís, 12.2015)
 
19.Juiz Cícero Rodrigues, acusado de envolvimento e falsificação de registros de imóveis e terrenos hipotecados, em diversos estados do país, foi preso em Teresina (PI) em agosto deste ano. (TD, 08.2016)
 
20.Fotógrafo Sérgio Andrade da Silva perdeu a visão após ter sido atacado pela PM, durante a cobertura de uma manifestação em São Paulo, em junho 2013. O TJ SP negou o pedido de indenização do fotógrafo. (G1, 08.2016).
 
21.PM matou um garoto de 10 anos, suspeito de furtar um carro, na Vila Andrade, em São Paulo. (OESP, 06.2016)
 
22.Desembargador Valmir de Oliveira Silva, ex-corregedor geral do (TJ RJ) ameaçou o juiz João Batista Damasceno: “Vou estourar sua cabeça” (ViOMundo, 02.2016) Em junho de 2015, o TJ RJ abriu um procedimento administrativo disciplinar contra o juiz, após ele ter sacado uma arma durante desentendimento com o desembargador (Conjur, 08.06.2015)
 
23.Juiz federal Flávio Roberto de Souza foi acusado pelo desvio de mais de R$ 1 milhão do Tribunal de Justiça, em ação penal movida contra o traficante Oliver Ortiz de Zarate Martins. Ele também foi flagrado dirigindo o Porsche do empresário Eike Batista, além de ter levado para casa uma Range Rover, um piano e relógios Rolex e Bulgari do empresário. Souza foi aposentado com salário proporcional ao tempo de serviço. (G1, 11.2015)
 
24.Juiz Alcemir dos Santos Pimentel foi acusado de retardar processos na Vara única de Santa Teresa, mais de 2,8 mil processos foram paralisados no gabinete do magistrado. O TJ ES deflagrou um procedimento disciplinar contra o juiz. (SD, 10.2016)
 
25.Juiz José Admilson Gomes Pereira, do TJ PA, foi condenado à aposentadoria compulsória, recebendo salário proporcional ao tempo de contribuição. Acusado de vender sentenças judiciais, ele chegou a revogar a prisão preventiva de um réu denunciado pela suposta prática de homicídio, no mesmo dia em que seu irmão recebeu depósito bancário de cerca de R$ 70 mil. (ODIA, 10.2016)
 
26.Magistrados e promotores do Paraná entraram com mais de 36 ações contra repórteres da Gazeta do Povo que revelarem salários e vencimentos dos juízes, mostrando que, em 2015, o salário médio por ano de juízes e promotores no Estado superou R$ 500 mil. (OESP,06.2016) Reportagem de O Dia, naquele ano, apontava que o salário do juiz Sérgio Moro havia ultrapassado R$ 77 mil, acima do teto constitucional de R$ 33,7 mil no período. (ODIA, 22.08.2015)
 
27.Chacinas na Grande SP – Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba – deixaram 23 mortos e sete pessoas feridas. Apesar de a Polícia Civil ter concluído pelo indiciamento de oito agentes de segurança, o MP entendeu que apenas três PMs e um guarda deveriam ser responsabilizados por 18 mortes e seis feridos. (G1, 08.2016)
 
28.Juiz Macário Ramos Júdice Júnior, aposentado compulsoriamente pelo Tribunal Regional Federal da 2ª. Região, retornou às suas funções por decisão do CNJ. Ele estava afastado há dez anos do cargo, acusado de envolvimento com grupos que exploram caça-níqueis e jogo do bicho no Espírito Santo. (Conjur, 01.2016)
 
29.Juiz Francisco Chagas Barreto Alves, condenado à aposentadoria compulsória em setembro, retornou às atividades por decisão do CNJ. Ele havia sido condenado pelo Pleno do Tribunal depois de investigado pela corregedoria local por suspeita de venda de liminares em plantões judiciais entre 2011 e 2013. (Conjur, 01.2016)
 
30.O juiz João Carlos de Souza Correa deu voz de prisão a agente de trânsito Luciana Tamburir que o autuou por dirigir sob efeito de álcool, sem carteira de habilitação e em um veículo sem placa, em uma blitz da Lei Seca, no Rio de Janeiro, em 2011. Ela foi condenada a pagar indenização de R$ 5 mil ao juiz. O caso foi julgado no TJ RJ. Em 2015, o CNJ decidiu revisar a decisão do TJ RJ. (ABr, 03.2015 – ZH, 05.11.2014).
 
31.Funcionários da Fundação Casa, unidade Cedro, foram afastados a pedido da Defensoria Pública, após denúncias de tortura e agressão com cassetetes, cadeiras, cintos e cabos de vassoura contra 15 adolescentes, em junho de 2015. (G1, 07.2015)
 
32.Juiz Carlos Eduardo Neves Mathias, de Inajá (PE) deu voz de prisão ao advogado Hélcio de Oliveira França, após o advogado tentar acessar autos de um inquérito policial de seu cliente. O juiz foi condenado a pagar multa equivalente a 25 salários mínimos (EXAME, 12.2014)
 
33.Juiz Jairo Cardoso Soares, magistrado em Lavras do Sul (RS), acusou de estelionato e mandou prender o então gerente do Banco do Brasil, Seno Luiz Klock, após desentendimento em relação a sua situação bancária. O gerente chegou a ser detido e entrou com ação contra o magistrado. O juiz foi condenado a pagar indenização de R$ 80 mil por danos morais (valor sem correção). (EXAME, 12.2014)
 
34.A Justiça de São Paulo absolveu sumariamente 53 policiais militares acusados de executarem 12 pessoas, membro do PCC, em uma praça de pedágio da rodovia Castelo Branco, em março de 2002. (OESP, 11.2014)
 
35.A Polícia Civil de Araquari indiciou, por abuso de autoridade, dois policiais militares suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Wesley Lopes que, segundo testemunhas, foi abordado de forma truculenta pelos policiais e jogado na viatura. O inquérito policial militar acusou transgressões disciplinares por parte dos policiais e indícios de crime, mas auditoria da PM em Florianópolis, informou que a promotoria não ofereceu denúncia por não constatar elementos suficientes na investigação. (A Notícia, 04.2014)
 
36.Reportagem sobre as piores prisões brasileiras destaca a violação de direitos humanos no complexo de Pedrinhas (MA); no Presídio Central de Porto Alegre (RS); no complexo do Curado (PE); no presídio Urso Branco (RO); nos Centros de Detenção Provisória de São Paulo (Osasco) e na Cadeia Pública Vidal Pessoa (AM). (BBC, 01.2014)
 
37.Coronel da PM paulista é denunciado pelo MP SP, por abuso de autoridade durante reintegração de posse da Comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), em 2012. (UOL, 11.2013) Treze policias da Rota que auxiliavam no patrulhamento durante a reintegração de posse foram indiciados por crimes de estupro, lesão corporal e tortura. (R7, 25.07.2013)
 
38.Policial civil Rita de Cássia Novak assassinou a tiros um vendedor ambulante, após ele mexer com uma mulher que a acompanhava no centro de Curitiba. A policial estava afastada para tratamento de problemas psicológicos, mesmo assim, ela tinha autorização para andar armada. Ela foi presa em flagrante. (Tribuna, 09.2011)
 
39.O senador Aécio Neves (PSDB) foi flagrado com carteira de habilitação vencida e se recusou a fazer o teste do bafômetro em blitz da Operação Lei Seca, no Rio de Janeiro (OESP, 04.2011)
 
40.Em maio de 1988, a CBF bancou passagens aéreas e estadias em hotéis para 60 pessoas, entre elas, presidentes e auditores do Tribunal Especial e Superior Tribunal de Justiça Desportiva, como o juiz Luiz Zveiter (STJD), que assistiram à Copa do Mundo na França (FSP, 05.1998). (Leia também “No ar: O Direito de Destruir”)
Créditos da foto: Divulgação / Rádio Boa Nova