segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Janot parte para o “barraco institucional” com diretor da PF.

Janot parte para o “barraco institucional” com diretor da PF.


Já houve mais respeito nos estatutos da nossa gafieira judicial.
Agora, vale “umbigada”.
Rodrigo Janot, recém-apeado do cargo de Procurador Geral da República, partiu para a agressão debochada contra o recém-implantado chefe da Polícia Federal.
“Esse moço [Fernando Segóvia]  se acha acima de todas as instituições, e ele é só diretor da Polícia Federal, uma instituição respeitadíssima, mas vinculada hierarquicamente ao ministro da Justiça e ao presidente da República, que, aliás, estava na posse dele. Nunca vi um presidente da República ir à posse de um diretor-geral”.
Não satisfeito, manda que o diretor da PF vá tomar aulas de direito penal: “”O doutor Segóvia precisa estudar um pouquinho direito processual penal. Nós tínhamos réus presos. Em havendo réu preso –se ele não sabe disso é preciso dar uma estudadinha–, o inquérito tem que ser encerrado num prazo curto, e a denúncia, oferecida, senão o réu será solto”.
E  fala o que é inaceitável que se diga do chefe da Polícia Federal: “”A pergunta que não quer calar é: ele se inteirou disso ou ele está falando por ordem de alguém?”
Há, porém, outra pergunta que não quer calar. Por que Rodrigo Janot colaborou, por ação e omissão, com a derrubada de um governo que deu a mais ampla liberdade de atuação que a Polícia Federal já teve em sua história? Por que Rodrigo Janot não deteve Eduardo Cunha, por que não deteve o golpismo de Temer? Porque não deteve a farsa das “pedaladas fiscais”? Porque só deteve, de forma abjeta, a nomeação de Lula para Casa Civil, última esperança para contra o golpe de estado que levaria “esse moço” ao comando da PF?
Recomenda-se ao Dr. Janot que se cuide. Age sobre ele a máquina que ele mandou agir contra outros, e que vai arrancar, para usar o bordão de um personagem do Chico Anysio, os segredos até de tudo que ele fazia “quando era menino lá em Barbacena”.
Vai virar picadinho do Estado Policial que ajudou a criar.

De exceção em exceção

Crise Política

De exceção em exceção

por Mino Carta — publicado 20/11/2017 00h30, última modificação 17/11/2017 15h33
Um dos maiores juristas do mundo condena a Justiça à brasileira e os quadrilheiros já preparam o golpe dentro do golpe
Jose Luis Salmeron/AFP
Ferrajoli
Ferrajoli prova a ilegalidade do impeachment de Dilma Rousseff e a perseguição a Lula
Domingo 12 de novembro foi dia movimentado no Palácio do Jaburu. De tarde, Michel Temerfoi visitado pelo “Índio” que preside o Senado Federal, digo, Eunício Oliveira, à noite reuniu-se com o Darth Vader nativo, digo, o ministro Gilmar Mendes, e da bem nutrida conversa participou também o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, melhor conhecido em certos ambientes como “Primo”, “Bicuíra” ou “Fodão”.
Não escapará aos leitores que se trata de graúdos representantes das quadrilhas que tomaram o poder pelo golpe perpetrado pelos próprios Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia. De fato, senti somente a ausência de um dos filhos do colega Roberto Marinho.

O assunto em pauta foi mesmo relevante. Estudava-se a chance do golpe dentro do golpe, algo destinado a garantir a continuidade da demolição do Brasil dentro de uma pretensa legalidade, conforme desfaçatez nunca dantes navegada, praticada nas barbas do povo inerte.
Como é de se esperar, os golpistas, que até agora, de exceção em exceção, agiram a seu bel-prazer, não renunciam ao compromisso eleitoral de 2018, caso uma enésima exceção elimine todo e qualquer risco ao seu poder. Daí cogitarem do seu AI-5.
Leia mais:
Reformas dos direitos sociais e Estado de exceção
Dilma: "A democracia tem sido corroída pelo Estado de Exceção"
"Sob o manto da democracia produzem-se medidas de exceção"

O Brasil das máfias verde-amarelas, em busca da solução, não se inspira na França de 1789, e sim na atual, de 2017. A França já foi para o Brasil um modelo de civilização e cultura e muitas mansões senhoriais em São Paulo e outros cantos passaram a esperar pela neve.
O momento de supremo encanto para os quatrocentões paulistas era visitar Paris acompanhados por fâmulos arrebanhados na lavoura do café e uma vaca leiteira, diante da possibilidade de não haver similares no país de 300 queijos, como sustentava De Gaulle.
Depois demos para macaquear os Estados Unidos da pior maneira. Quanto a 1789, a Revolução Francesa nunca alcançou o País e faz falta até hoje. Sabe-se que nas conversas do Jaburu falou-se em semipresidencialismo à francesa, mas não consigo imaginar, por ora, de que forma se faria a mudança constitucional.
Recordo que o parlamentarismo inventado para limitar os poderes de João Goulart, herdeiro legítimo de Jânio Quadros engolido por sua renúncia: acatar o recurso imposto por aqueles iminentes golpistas por obra de um plebiscito capaz de precipitar a curto prazo o golpe de 1964.
Parece que o ideal dos golpistas de hoje seria sagrar o Macron nativo e nesta linha a revista Veja já nos brindou com pistas válidas, ao propor, recentemente, um candidato de centro, sem deixar de mencionar o presidente francês.

Neste enredo, vários equívocos hão de ser registrados. Sem contar a árdua tarefa de situar o centro em um país entregue aos quadrilheiros. De todo modo, bem ao contrário do Brasil, a França é terra democrática e civilizada, habitada por um povo disposto a sair às ruas para reivindicar por seus direitos e até a enfrentar as chamadas forças da ordem.
Ou seja, semelhança nenhuma com a nossa, bonita por natureza e abandonada por Deus. O ponto é outro. Em primeiro lugar, Lula há algum tempo está acima de 40% nas pesquisas eleitorais, enquanto Jair Bolsonaro é quem fica menos afastado e se confirma a ausência de um candidato viável dos golpistas.

Nesta edição publicamos um magistral artigo de Luigi Ferrajoli, mestre de Direito, aluno mais destacado de Norberto Bobbio. É um irrespondível ato de acusação contra a Lava Jato e a Justiça brasileira e será divulgado pela mídia impressa mundo afora. Ferrajoli denuncia a ilegalidade do impeachment e da perseguição a Lula, define Sergio Moro “inquisidor despótico” e afirma que em um país civilizado já teria sido afastado, e alude ao prejulgamento de um dos magistrados da segunda instância chamados a dar prosseguimento ao processo contra o ex-presidente.
Como supor, ao sabor da lógica desta quadra tão ilógica, que o tribunal de Porto Alegre não chancele a condenação do Tribunal do Santo Ofício de Curitiba, de sorte a alijar o grande favorito do embate presidencial?
Mesmo atingido aquele que se apresentava como objetivo final do golpe, nem por isso seus autores terão condições de dormir em paz. Donde, das duas uma: ou encontram um meio de cometer alguma “legalidade” ilegal ou não haverá eleições.

Certo é que os quadrilheiros já cogitam da próxima exceção e o povo, aturdido, fica de braços cruzados, súcubo. Diz o professor Belluzzo: este é o único país do mundo em que o combate à corrupção leva ao poder os próprios bandidos.

Latino-americano, brasileiro e nordestino: o legado de Celso Furtado E PARAIBANO.


Latino-americano, brasileiro e nordestino: o legado de Celso Furtado

por Fernanda Graziella Cardoso e Cristina Fróes de Borja Reis — publicado 20/11/2017 13h00
O Estado e parte da sociedade que temos hoje é o mesmo que Furtado enfrentou no início da década de 1960 como ministro de Jango
Arquivo Biblioteca Celso Furtado
Celso Furtado
Celso Furtado: seu pensamento continua atual
O mês de novembro é simbólico para os furtadianos, merece ser lembrado sempre que se fala de Projeto Nacional de Desenvolvimento. O décimo e o vigésimo dia de novembro de 2004 compreendem o intervalo entre o último texto de Celso Furtado, publicado no Jornal do Brasil – “Para onde caminhamos?” – e o dia de seu falecimento.
Celso Furtado, pensador latino-americano, brasileiro e nordestino. Sua origem não será apenas um acidente do destino, um fato sem maior relevância. Pelo contrário, será o diferencial a determinar a direção do seu legado, teórico e vivido.
Uma vasta obra, cerca de 30 livros traduzidos para mais de dez idiomas, e atuação marcante como homem público – idealizador e superintendente da Sudene (1958-1964), (o primeiro) Ministro do Planejamento (1962-63) e Ministro da Cultura (1986-88). Obra e vida dedicadas a identificar, refletir, derivar e implementar estratégias para superar a armadilha do subdesenvolvimento brasileiro. 
Fonte de inspiração para economistas e cientistas sociais desde a década de 1950, principalmente a partir do seu livro mais famoso, publicado em 1958. “Inclinei-me a pensar que ter escrito um livro como Formação Econômica do Brasil, que poderia ajudar a nova geração a captar a realidade do País e identificar os verdadeiros problemas deste, representara o melhor emprego de meu tempo”, declara Furtado em A Fantasia Desfeita, de 1989.
Nesta obra, o autor demonstra como a estrutura de produção brasileira e as instituições sociais marcaram a formação de um país desigual regionalmente, concentrador de riqueza e poder, em que as elites rurais e urbanas sustentam sua posição privilegiada a partir da política econômica, socializando as perdas durante as fases adversas do ciclo econômico.
Em 2017, após um ano do golpe jurídico-parlamentar, véspera de um ano eleitoral envolto de incertezas – que incluem a dúvida sobre a própria ocorrência de eleições – retrocedemos décadas na construção da democracia e do desenvolvimento. A ponte para o futuro, na verdade, nos levou de volta para o passado, em que aquelas mesmas elites detentoras do Congresso reforçam seu poder também no Executivo para realizar reformas que apontam para o caminho inverso aos avanços do período da redemocratização, e até mesmo daquele que se pretendia com o Plano Trienal de Furtado em 1962.
Aí estamos, em pouco mais de um ano de impeachment, diante realmente da desnacionalização dos nossos recursos naturais, depredação do meio-ambiente, subordinação nas relações exteriores, precarização do trabalho, sucateamento dos bens e serviços públicos, cerceamento da educação, cultura e liberdade, opressão das mulheres e negros, dentre outras atrocidades.
Em termos de conservadorismo e autoritarismo, talvez o Estado e parte da sociedade esteja mesmo no início da década de 1960. Para nossa tristeza, não temos mais Celso Furtado para refletir e apontar caminhos a fim de se construir uma nação verdadeiramente desenvolvida, e indivíduos genuinamente emancipados.
Por outro lado, para nossa sorte, temos seu grande legado para continuar a nos inspirar e a nos encher de esperança e a presença de muitos de seus discípulos e amigos, como a querida professora Maria da Conceição Tavares, para reavivar nossa coragem: não há retrocesso que nos impeça de continuar a lutar. 


* Professoras dos Bacharelados de Ciências Econômicas e de Relações Internacionais da UFABC. Fernanda é atualmente coordenadora do Bacharelado de Ciências Econômicas da UFABC e vice- coordenadora do Núcleo de Estudos Estratégicos em Democracia, Desenvolvimento e Sustentabilidade (NEEDDS) e do grupo de pesquisas em Cadeias Globais de Valor da UFABC (CGV). Cristina realiza pós-doutorado na Technische Universtitat Berlim/ EU Marie Curie IPODI (International Post-doc Initiative) e coordena o grupo CGV.

Filme sobre OS DEZ DIAS QUE MUDARAM O MUNDO

Acessem:


https://www.youtube.com/watch?v=8_RfHVLYAdA&list=PLfH4KYqpvDkBYDX_cmDOhtJWwGt-HMz0V&index=4

O diretor Raoul Peck e o Filme ‘O Jovem Karl Marx’: “Vou ao passado para compreender a eleição de Trump” 1 MAIO, 2017 - INSIDER FILM


O diretor Raoul Peck e o Filme  ‘O Jovem Karl Marx’: “Vou ao passado para compreender a eleição de Trump”

1 MAIO, 2017 - INSIDER FILM

O Jovem Karl Marx - (Trailer legendado em português PT)

altRaoul Peck é um homem deste tempo. Não só da América que deixa de ser de Obama e passa a ser de Trump, mas também da Europa que parece também seduzida por um nacionalismo que poderá rimar com alguns ‘ismos’ nefastos. Em O Jovem Karl Marx, que agora chega às nossas salas, atreve-se a regressar onde tudo começou, ou seja, ao Manifesto do Partido Comunista, um outro ‘ismo’, até à identificação dos princípios capitalistas que Peck considera gerarem nefastas consequências e vícios atuais; mas refletiu também sobre os ecos do seu outro filme, Eu Não Sou o Teu Negro, o tal documentário que foi nomeado ao Óscar (estreia em maio), onde aborda o privilégio de raça através dos textos e persona do ativista político William Baldwin. Na entrevista que fizemos ao realizador haitiano, no passado festival de Berlim, foram passadas em revista as implicações de ambos esses filmes estranhamente orgânicos.
O realizador politicamente implicado aposta num cinema de causas a admitir certos efeitos. Porque, segundo ele, a democracia não é só votar e ficar sentado no sofá a ver reality shows.
Porque decidiu escolher este momento preciso na vida de Karl Marx, durante a sua juventude até à edição do Manifesto do Partido Comunista?Talvez porque este foi talvez o momento que teve mais impacto naquilo que eu queria mostrar, aquele processo de raciocínio e aproximação à sociedade que mudaria todo o mundo. Esta aproximação não foi apenas feita por dois lunáticos (Marx e Engels), foi um processo baseado na realidade, com uma análise da sociedade. Desde logo pelo livro que Engels escreveu sobre os trabalhadores britânicos – e que Marx considerou fenomenal – encarado como um trabalho duro de pesquisa. O Engels passou muito tempo a fazer inquéritos e recolher material empírico. O trabalho de Marx baseou-se sempre no empenho de muitos outros cientistas, economistas ou filósofos. Portanto, para mim, este filme é importante para mostrar todo esse processo.Acha que este tema continua a ser contemporâneo, mesmo depois da anunciada morte do comunismo?Claro que sim. Para mim é a base. Eu sou aquilo que sou hoje devido a essa estrutura que adquiri quando era ainda jovem a estudar o trabalho do jovem Marx. Estudei em Berlim, nos anos 70 e 80, e essas ideias eram necessárias para nos confrontarmos nós próprios e com esses livros. É o nosso passado e o nosso presente. E faz parte do conhecimento geral, até porque permite compreender a sociedade em que vivemos.Em todo o caso, o capitalismo de hoje é bastante diferente do capitalismo do período que retrata o filme…Tomemos então, por exemplo, o Manifesto do Partido Comunista, alguns dos artigos descrevem com detalhe a crise de 2008. É quase um livro para crianças sobre a história e evolução do capitalismo até hoje. Que outras provas necessitamos? Voltando à pergunta inicial e ao momento que escolhi, porque quis regressar aos fundamentos e instrumentos. Talvez essa seja esse o seu maior legado. O instrumento para analisar de forma mais precisa a nossa sociedade. Também como é hoje. Eu não fiz um filme sobre o passado; vou ao passado para buscar instrumentos e compreender porque o Trump foi eleito.alt
Era precisamente aí que queria chegar. É que este pedaço de história política é particularmente relevante hoje em dia. E ainda mais nos Estados Unidos. Que tipo de impacto espera que o filme possa ter na sociedade?
Espero que muitas pessoas, em particular os jovens, se possam rever nesta procura, que possam encontrar, não uma receita, mas uma resposta para combater aquilo que se passa hoje. Porque estamos exatamente no mesmo tipo de capitalismo, onde o dinheiro e a riqueza ficam cada vez mais nas mãos de poucos ao passo que uma imensa maioria ficará cada vez mais pobre. Isto é a História a repetir-se. O que o Marx nos forneceu foi um instrumento científico para compreender e analisar cada momento desta sociedade. Um momento que começou com a revolução Industrial e que continua até hoje.
De que forma este filme e o documentário Eu Não Sou o Teu Negro se interligam?
Ambos os temas mudaram a minha vida e em épocas próximas. Conheci o trabalho de William Baldwin quando era ainda muito jovem, com 17 anos; e descobri Marx aos 18 anos. Ambos estruturaram a minha mente; de uma forma diferente. São, por assim dizer, as duas pernas com que caminho. No meu filme, Baldwin diz que “o branco é uma metáfora do poder”, o que é uma outra forma de dizer “Chase Manhatan Bank”. Os analistas de Marx não dizem nada de diferente, apenas encaram numa perspetiva semelhante. A raça é apenas uma emanação do capitalismo. É como o tema dos refugiados; não se trata da cor dos refugiados, é o capitalismo a fazer o seu papel, ou seja, a separar pessoas, dividindo-as e uma certa classe a proteger os seus privilégios.
Eu Não Sou o Teu Negro foi nomeado para um Óscar. Qual é a importância que dá a essa distinção?Enquanto cineasta é importante ser reconhecido pelos meus pares, mas ao mesmo tempo já tenho idade para não ser abalado por essa ideia. Foi bom, mas o mais importante é trazer a obra de Baldwin, um autor acutilante, uma mente brilhante, extremamente relevante hoje em dia. Tudo o que ele diz no filme foi escrito há 50 anos atrás. Tem o mesmo peso do que se tivesse escrito hoje essas palavras. Por aí conseguimos analisar toda a situação do que se passa hoje na América. Para mim, foi importante voltar a essas referências fundamentais. Hoje vivemos num mundo estranhamente nublado, onde não sabemos bem o que são notícias ou eventos falsos, o que é opinião, quando um Presidente pode afirmar que o aquecimento global não existe.Em que momento na sua vida decidiu abandonar a agenda de ativismo politico e passar a ser também um cineasta?Eu vim para a Alemanha com 18 anos, que era um país muito político mas também cultural. Não foi imediato que o cinema pudesse ser um veículo político. Entretanto, estudei engenharia industrial e iniciei depois um mestrado. Provavelmente seguiria uma carreira nessa área. Entretanto, decidi fazer um exame na escola de cinema. Mas sempre com a ideia de regressar ao Haiti e usar o cinema não como entretenimento, mas como forma de transmitir conteúdo. E cheguei numa altura após uma geração anterior empenhada num cinema militante.E como eram as coisas no seu pais nessa altura?Nessa altura, vivíamos uma ditadura no Haiti. O Jean-Claude Duvalier, o “baby doc”, era Presidente. Um grupo de estudantes que tinha vindo antes de mim, regressou ao Haiti, mas foram todos mortos. A CIA já tinha informado o governo que era ativista. Eu sabia que teria também de regressar ao Haiti. Regressei um pouco à arena política, na luta contra a ditadura. Muitos dos meus amigos eram pessoas da SWAPO, ANC, da Nicarágua, Brasil, Irão, Turquia. Estávamos todos juntos na rua a lutar contra a política de Reagan. Essa foi a minha educação. Lembro-me quando estava na escola de cinema, de trabalhar na televisão e de me chamarem traidor. Isso foi nos anos 80. Nesses dias, ter um emprego na televisão era considerado um “vendido”. Imaginem agora…alt
Acha que aquele momento, no filme, em que se preparava uma revolução pode estar também para chegar?
Para quem sabe, a revolução de 1848 acabou em desastre. Foi o acordar de toda a Europa, mas a repressão foi tremenda. É um processo que avança e recua, mas não é sempre retrocesso. Faz parte do processo, mas o processo somos nós. Nós é que decidimos o que fazer. A resposta a Trump é a manifestação, claro, mas passado esse momento, o que podemos fazer? Isso dá trabalho.
Esse é um processo que já dura há algum tempo…
Sim, nos EUA começou em 1973 com a primeira crise do petróleo; a Europa e o mundo ocidental foi abalado, porque foi um ataque a toda esta construção; 80% da produção foi para a Europa e EUA, mas os nativos revoltaram-se. O que acabou em crise económica. Entretanto tivemos Reagan, Thatcher, com a destruição dos sindicatos e organizações progressivas. Tudo isso tem consequência. Por isso, hoje quando os movimentos “Black Lives Matter” ou “Ocuppy Wal Street” iniciam um protesto não têm a mesma liderança, pois os sindicatos não têm a mesma força financeira que antes para assegurar a eficácia desse movimento.
Não deixa de ser curioso o final do filme, em que diversas revoluções se conjugam ao som do tema de Dylan, Like a Rolling Stone. Foi propositado?
Claro. É a mesma História. Está tudo ligado. Eu mostro a crise de 1929, mostro o Vietname, Mandela, Che Guevara, o Muro de Berlim…
Acha que a Presidência de Obama foi um progresso?
Sim. Mas a mudança foi estrutural. O Baldwin tem uma frase sobre o Obama, embora não seja sobre o Obama, claro. O jornalista perguntou-lhe como seria quando tivesse o primeiro Presidente negro. E ele respondeu que a questão não era quando, mas de que país seria esse Presidente. No sentido de saber se as pessoas se levantam par afazer alguma coisa ou se ficam a observar o que se passa. Nos EUA se não tivermos influência sobre os congressistas os “lobbys” terão. A democracia não é votar e ficar no sofá a ver reality shows. Isso não é democracia. A democracia é feita de cidadãos ativos, em que se questiona tudo.
Fala de democracia, mas a televisão, o cinema e até a internet não nos transformam também hoje em meros espetadores?
Isso faz parte da nossa indústria, claro. No meu filme, Baldwin viveu numa altura em que existiam apenas três canais americanos nacionais. Ou seja, a indústria trabalhou da mesma forma que os narcóticos. E isso foi antes de todos os reality shows. É esse o desenvolvimento dos media capitalistas. É o mundo das grandes companhias. Por exemplo, o tipo de liberdade argumentativa que os jornalistas têm hoje já quase não se vê. É esta a realidade. Por isso é mais difícil de lutar. Ficámos mais preguiçosos, mas sabemos que depois a queda do Muro de Berlim, o capitalismo venceu e não há nada a fazer. Não há mais história. Só que a crise de 2008 acordou-nos. Mas também fez com que muitos jornais económicos colocassem Marx na primeira página. Se calhar, ele tinha razão… Agora vem Trump que quer desregulamentar tudo outra vez. Porquê? Porque não demos uma resposta. Ainda estamos letárgicos, sem organização.
Esta entrevista também foi publicada em Insider.

O Jovem Karl Marx - (Trailer legendado em português PT)



I Am Not Your Negro - Official Trailer


BOMBA: INGLATERRA MUDOU REGRA DO PRÉ-SAL E TEMER CEDEU A LOBBY DA SHELL

BOMBA: INGLATERRA MUDOU REGRA DO PRÉ-SAL E TEMER CEDEU A LOBBY DA SHELL



Uma notícia bombástica acaba de ser publicada pelo jornal The Guardian, o mais respeitado da Inglaterra. O governo inglês fez lobby, com sucesso, junto ao governo golpista do Brasil para mudar as regras de exploração do petróleo, em benefício de multinacionais como a Shell e a BP.

O encarregado do lobby foi o ministro do Comércio, Greg Hands, que veio ao Rio de Janeiro, onde se reuniu com Paulo Pedrosa, secretário do Ministério de Minas e Energia, de Michel Temer.

Com a vinda, a Inglaterra conseguiu que o governo brasileiro eliminasse exigências de compra de conteúdo local da indústria nacional, flexibilizasse exigências ambientais e isentasse grandes multinacionais de petróleo do pagamento de impostos num montante que supera R$ 1 trilhão.

Leia aqui a reportagem original e confira como o governo de Michel Temer – apelidado de Mishell Temer pelos petroleiros – trabalha contra os interesses nacionais, segundo denuncia a própria imprensa inglesa:
A Grã-Bretanha pressionou com sucesso o Brasil em nome da BP e da Shell para responder às preocupações dos gigantes do petróleo em relação à tributação brasileira, regulação ambiental e regras sobre o uso de empresas locais, revelam documentos do governo.

O ministro do Comércio do Reino Unido viajou para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo em março para uma visita com um "foco pesado" em hidrocarbonetos, para ajudar as empresas britânicas de energia, mineração e água a ganhar negócios no Brasil.

Greg Hands se encontrou com Paulo Pedrosa, vice-ministro brasileiro de minas e energia, e "diretamente" levantou as preocupações das empresas petrolíferas Shell, BP e Premier Oil britânicas sobre "tributação e licenciamento ambiental".

Pedrosa disse que estava pressionando seus homólogos no governo brasileiro sobre as questões, de acordo com um telegrama diplomático britânico obtido pelo Greenpeace.

O Departamento de Comércio Internacional (DIT) lançou inicialmente uma versão não-editada do telegrama sob as regras de liberdade de informação para a unidade de investigação do Greenpeace, Desenterrada, com as passagens sensíveis destacadas. Pouco depois, o departamento emitiu uma segunda versão do documento, com as mesmas passagens redatadas.

A Greenpeace acusou o departamento de agir como um "braço de pressão da indústria de combustíveis fósseis".

O governo do Reino Unido negou que fosse lobby para enfraquecer o regime de licenciamento ambiental, embora a campanha de lobby mostrou ter dado frutos. Em agosto, o Brasil propôs um plano de alívio tributário de vários bilhões de dólares para perfuração offshore e, em outubro, a BP e a Shell ganharam a maior parte das licenças de perfuração de águas profundas em um leilão do governo.

Rebecca Newsom, assessora política seniores do Greenpeace, disse: "Este é um duplo embaraço para o governo do Reino Unido. O ministro do Comércio de Liam Fox tem pressionado o governo brasileiro em um enorme projeto de petróleo que prejudicaria os esforços climáticos feitos pela Grã-Bretanha na cúpula da ONU em Bonn.

"Se isso não fosse ruim o suficiente, o departamento da Fox tentou encobri-lo e ocultar suas ações do público, mas falhou comicamente".

O documento também revela que o Reino Unido pressionou o Brasil a relaxar seus requisitos para que os operadores de petróleo e gás usassem uma certa quantidade de empresas brasileiras e empresas da cadeia de suprimentos.

Diplomáticos britânicos descreveram o enfraquecimento dos chamados requisitos de conteúdo local como um "principal objetivo" porque a BP, a Shell e o Premier Oil seriam "beneficiários britânicos diretos" das mudanças.

A tentativa do Reino Unido de suavizar os requisitos continuou no dia seguinte à reunião entre Hands e Pedrosa, com um funcionário senior da DIT liderando um seminário sobre o assunto na sede do regulador de petróleo e gás do Brasil.

O governo do Reino Unido passou por incêndio no passado por fornecer centenas de milhões de libras de apoio para a Petrobras, empresa estatal de petróleo do Brasil, atingida pelo escândalo, através da agência de exportação de crédito do Reino Unido.

Os esforços contínuos de lobby do petróleo do Reino Unido no Brasil surgiram dias depois que os ministros britânicos estavam promovendo a liderança do Reino Unido no corte de emissões de carbono nas negociações climáticas internacionais em Bona.

Claire Perry, o ministro das mudanças climáticas, disse na cúpula: "estamos assumindo nossos compromissos sob o acordo de Paris muito a sério e estamos a agir".

Um porta-voz da DIT disse: "A DIT é responsável por incentivar as oportunidades de investimento internacional para as empresas do Reino Unido, respeitando os padrões ambientais locais e internacionais. A indústria britânica de petróleo e gás e cadeia de suprimentos suportam milhares de empregos e fornecem £ 19 bilhões em exportações de bens sozinhos.

"No entanto, não é verdade que nossos ministros fizeram lobby para afrouxar as restrições ambientais no Brasil - a reunião foi sobre melhorar o processo de licenciamento ambiental, garantindo condições equitativas para as empresas nacionais e estrangeiras e, em particular, ajudando a acelerar o licenciamento processar e torná-lo mais transparente, o que, por sua vez, protegerá os padrões ambientais ".


Coalizão de esquerda Frente Ampla supera pesquisas e se consolida como 3ª força política do Chile

Coalizão de esquerda Frente Ampla supera pesquisas e se consolida como 3ª força política do Chile


'O Chile quer mudanças e mais de 1,2 milhão de pessoas votaram pela mudança', afirmou candidata Beatriz Sánchez em seu discurso após divulgação do resultado
Atualizada às 18h10
A coalizão de esquerda Frente Ampla (FA) obteve neste domingo (19/11) um resultado melhor do que previsto pelas pesquisas, ficando a poucos votos de passar para o segundo turno com o ex-presidente Sebastián Piñera e se consolidando como terceira força política no Chile.  
A Frente Ampla é formada por uma coligação de 13 partidos: Poder Cidadão, Esquerda Autônoma, Movimento Democrático Progressita, Movimento Autonomista, Esquerda Libertária, Partido Igualdade, Movimento Político Socialismo e Liberdade, Partido Ecologista Verde, Nova Democracia, Partido Liberal do Chile, Partido Pirata, Partido Humanista e Revolução Democrática. Alguns membros da FA, como os deputados Gabriel Boric e Giorgio Jackson, foram líderes das manifestações estudantis que marcaram o Chile em 2011.
Com 99,04% das urnas apuradas, Piñera ficou em primeiro, com 36,64% dos votos, seguido pelo candidato de Bachelet, o senador Alejandro Guillier, que ficou com 22,70%, e Beatriz Sánchez, da Frente Ampla, com 20,27%.
Pesquisas, no entanto, indicavam que Sánchez não chegaria a 20%. O último levantamento da Cadem, divulgado em 3 de novembro, dava Piñera com 42%; Guillier, com 20%; Sánchez, com 13%. Já o do CEP (Centro de Estudos Públicos), um dos institutos mais importantes do país, colocava o ex-presidente com 44%, seguido de Guillier, com 19%, e por Sánchez, com 8,5%. Os institutos só podem divulgar números de intenções de voto até, no máximo, 15 dias antes das eleições.
"Somos uma força que chegou para ficar", afimou Sánchez, em discurso após a divulgação dos resultados. Ela não deixou de notar a disparidade entre as pesquisas e o que saiu das urnas. "Se as pesquisas tivessem dito a verdade, estaríamos no segundo turno", disse.
Além do expressivo resultado na eleição para presidente, a Frente Ampla também conseguiu um bom número de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Segundo o Servel (Serviço Eleitoral do Chile), a FA elegeu um senador e 20 deputados, efetivamente se tornando a terceira força na Câmara Baixa (atrás da direitista Chile Vamos, de Piñera, que terá 73, e da centro-esquerdista Nova Força da Maioria, que apoia Guillier, com 43).
A presidente Michelle Bachelet disse que a eleição deste domingo tornou realidade "mudanças que fortalecem a democracia". "Hoje se abre ante ao país uma nova eleição, cujo resultado está aberto e dependerá do que nossos compatriotas dirão em 17 de outubro."
Origens
A origem da Frente Ampla guarda certa relação com a Nova Maioria - que, por sua vez, é descendente da Concertação, responsável por juntar a Democracia Cristã, o Partido para a Democracia (PPD), o Partido Radical Socialdemocrata (PRSD), o PS (Partido Socialista) e outros menores na época do plebiscito que decidiu pela saída do ditador Augusto Pinochet.

Equipe internacional de peritos afirma que Pablo Neruda não morreu de câncer

Acompanhe a apuração da eleição presidencial do Chile; Piñera e Guillier vão para 2º turno

Ex-presidente Sebastián Piñera e Alejandro Guillier, candidato de Bachelet, vão ao 2º turno no Chile

 
Patricio Alarcón/Flickr CC

Beatriz Sánchez ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais do Chile
Entre 1990 e 2010, todos os presidentes chilenos saíram desta coalizão: Patricio Aylwin, Eduardo Frei (democratas-cristãos), Ricardo Lagos e Bachelet (socialistas). A sequência só foi interrompida com a eleição de Piñera, em 2010, e a Concertación foi para a oposição. Em 2013, novos partidos se juntaram à coalizão e formaram a Nova Maioria: Esquerda Cidadã, Partido Comunista e Movimento Amplo Social. Rebatizado, o grupo de partidos levou Bachelet novamente ao governo.
Em janeiro de 2016, a Revolução Democrática, fundada por Giorgio Jackson, e a Esquerda Autônoma, criada por Boric (ambos reeleitos no domingo), entregaram seus cargos no governo Bachelet, anunciaram um distanciamento da Nova Maioria e fundaram a Frente Ampla, que se inspira na sua versão uruguaia e diz querer ser uma alternativa de esquerda aos atores tradicionais da política do país.
Um ano depois, a Nova Maioria teve um novo racha: a Democracia Cristã decidiu não participar das primárias da coalizão e lançou candidata própria – a da líder do partido, Carolina Goic, que terminou com 5,88%. Guillier passou a ser apoiado pela coalizão de centro-esquerda Nova Força da Maioria, da qual fazem parte o Partido Comunista, o PPD, o PRSD e o PS.
Mudança
“O Chile quer mudanças e mais de 1,2 milhão de pessoas votaram pela mudança”, afirmou Sánchez.
Ela disse que enfrentou uma concorrência desigual. “Havia um candidato que gastou seis vezes mais que nós, dez vezes mais que nós. Aqui houve trabalho, seriedade, porque aqui houve coerência, porque houve convicção, porque o fizemos de maneira honesta, não quisemos enganar ninguém”, disse.