domingo, 24 de novembro de 2013

Por que José Dirceu sorriu pela segunda vez?

Por que José Dirceu sorriu pela segunda vez?
Breno Altman


Os punhos erguidos de Genoíno e Dirceu, ao se apresentarem à Polícia Federal no dia da República, tiraram do sério os áulicos da direita pátria. Os articulistas de aluguel do conservadorismo não esconderam sua frustração. Ansiavam por ver os líderes petistas algemados, vergados e humilhados. Mas foram obrigados a engolir o retrato de dois homens dispostos a enfrentar, com dignidade e valentia, o preço que lhes foi imposto.

Nem mesmo a saúde debilitada de Genoíno, o primeiro a se entregar, arrebatou-lhe a integridade que, nessas horas, faz a diferença entre homens e ratos. Logo foi seguido por Dirceu. O mesmo gesto, horas depois, sem qualquer combinação prévia. Ambos exclamaram, em silêncio, a disposição de lutar contra os abutres da nação, não importa as condições a que estejam submetidos.

A imagem levou a malta reacionária ao ódio indecoroso, mas aqueceu o coração dos que aceitavam desanimados o julgamento de exceção do chamado “mensalão”. Animou a solidariedade entre as forças progressistas. Deixou escancarado o fosso histórico e moral entre os réus e seus verdugos. Pavimentou emocionalmente o longo caminho para que se restabeleça a verdade e a justiça.

Nas horas seguintes já estava claro que o presidente do STF optara pelo caminho da ilegalidade e do arbítrio, pisoteando decisões da própria Corte Suprema e violando direitos legais dos presos. Talvez imaginasse que sua atitude seria respaldada pela passividade dos que poderiam resistir. A firmeza de Genoíno e Dirceu, porém, serviu de exemplo para milhares e milhares que vão dizendo basta ao arbítrio togado. Afinal, eles se entregaram sem rendição e estabeleceram a altura do sarrafo para o comportamento de seus pares.

Além do punho ao alto, no entanto, houve um sorriso. O mesmo de quase 45 anos passados, quando o líder estudantil de 68 mostrava as algemas na foto da turma libertada em troca do embaixador norte-americano.

Da primeira vez, Dirceu saía do cárcere, mas eternamente banido. Na segunda, começava a cumprir sua sentença. Nenhum dos dois deve ter sido sorriso de felicidade, mas possivelmente tivessem ambos o mesmo sentido histórico.

O fato é que Dirceu aparenta chegar ao outono de sua vida – para o bem e para o mal, dirão alguns – com a mesma alma de sobrevivente que carregava na sua juventude. Como se estivesse imbuído da missão de contar para a história que sua causa, a causa de sua geração, é invencível.

As manifestações cariocas dos últimos meses, quando reprimidas violentamente pela polícia militar, jocosamente repetem dois mantras. Quando se põem em movimento, cantam a pleno pulmão: “Olha eu aqui de novo!” Na hora da retirada, mesmo debaixo de pauladas, não perdem o humor e gritam: “Amanhã vai ser maior!”

Preso e sem voz, nas duas vezes restou a Dirceu o punho e os lábios mudos. Como se cantasse, ao sorrir, os mesmos cânticos da garotada de hoje. “Olha eu aqui de novo! Amanhã vai ser maior!”


*Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.


Impeachment de Joaquim Barbosa

impeachment de JOAQUIM Barbosa


Para ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o poder Judiciário 'não pode ser instrumento de vendeta' e classificou de "constrangedora" a atuação de Joaquim Barbosa.

O ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo é mais uma voz dos setores conservadores da sociedade a também manifestar repúdio pelas arbitrariedades do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, contra os condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão.

Lembro criticou a maneira com Barbosa determinou as prisões dos réus, desconsiderando seus direitos e obrigando um deles em particular, o deputado federal José Genoino, a ficar quase uma semana encarcerado com graves problemas de saúde.

“Foi constrangedor, um linchamento”, disse o ex-governador ao programa É Notícia, da Rede TV, segundo a página da emissora na internet. O programa vai às 0h30 de segunda-feira (25).

Lembo disse ainda que as ilegalidades da prisão podem levar ao impeachment de Barbosa. "Nunca houve impeachment de um presidente do STF. Mas pode haver, está na Constituição. Bases legais, há (...).O poder judiciário não pode ser instrumento de vendeta", afirmou.

Fonte: Rede Brasil Atual


NOTA: Cláudio Lembo é doutor em Direito, professor honoris causa pela Faculdades Metropolitanas Unidas e professor titular de Direito Constitucional e Direito Processual Civil da Universidade Mackenzie, instituição da qual já foi reitor. Publicou vários livros. É filiado ao partido DEM.

Informativo semanal do Prof. Ernesto Germano Pares

Congresso Nacional restabelece a verdade.
O Congresso Nacional aprovou na madrugada de quinta-feira (21) o projeto de resolução (PRN 4/13) dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP), que anula a sessão do Congresso de 2 de abril de 1964 que declarou vaga a Presidência da República no mandato do presidente João Goulart. Enfim, foi restabelecida a verdade e a história poderá ser contada como realmente aconteceu. A sessão foi acompanhada pelo filho de João Goulart, João Vicente Goulart.
Os dois autores da proposição ressaltaram a ilegalidade em que a sessão se baseou: declarou a presidência vaga mesmo depois que João Goulart enviou ao Congresso um documento dizendo que estava no País e no exercício do cargo.
“João Goulart estava no comando de suas atribuições e em pleno território nacional e, por isso, o presidente do Congresso não poderia ter convocado arbitrariamente a sessão e muito menos ter declarado vaga a presidência”, disse Randolfe Rodrigues.
Como sempre faz, o representante da direita e dos militares golpistas, deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), tentou tumultuar a votação e fazer propaganda da “gloriosa”. Para ele, o projeto quer “tocar fogo” no Diário do Congresso Nacional. “Querem apagar um fato histórico de modo infantil. Isso é mais do que Stalinismo, quando se apagavam fotografias, querem apagar o Diário do Congresso”, disse.
Alerta para a terceirização! Além do PL 4.330, em tramitação na Câmara, a ameaça da terceirização também vem do Senado Federal. O projeto 87/10, de autoria do ex-senador e atual deputado federal Eduardo Azeredo, pretende regulamentar a contratação de serviços de terceiros.
No último dia 13, a matéria entrou na pauta de votações da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa. Mas a decisão sobre o projeto foi adiada, com o compromisso de que o assunto seja mais amplamente discutido. Na próxima semana deverá ser apresentado requerimento para a realização de audiência.
De acordo com informações da Agência Diap, no colegiado poderá ser votado o parecer do relator, senador Armando Monteiro, na forma de substitutivo que nada muda em relação ao relatório do projeto 4.330, discussão na Câmara dos Deputados. O substitutivo contempla as premissas apoiadas pelo setor patronal.
O PLS 89/10 deverá ser apreciado na CCJ e depois na Comissão de Assuntos Sociais, em caráter terminativo, ou seja, se for aprovada e não tiver recursos contrários, a matéria segue direito para a Câmara.
A direita não aprende! O sucesso do Programa “Mais Médicos” está comprovado, mas ainda não é suficiente para acabar com o ranço e a discriminação por parte de profissionais brasileiros e de alguns políticos da direita mais retrógrada. O novo ataque contra médicos cubanos aconteceu no povoado de Viveiros, no município de Feira de Santana (Bahia).
Na segunda-feira (18), Gilmara Santos levou seu filho de dois anos para consultar na Unidade Básica de Saúde, onde foi atendido pelo médico cubano Isoel Gómez Molina. A criança estava com febre alta e ele receitou dipirona, explicando para a mãe que eram 10 gotas, quatro vezes ao dia (quarenta gotas ao todo), dizendo que o garoto pesava pouco mais de 10 quilos e o correto é uma gota por quilo!
Uma médica local obteve a receita feita pelo Dr. Isoel e escaneou, divulgando na internet e acusando o médico de ter errado na dosagem do medicamento.
Uma comissão da Secretaria de Saúde afastou temporariamente o cubano do cargo para analisar a acusação, mas a população reagiu imediatamente. “Queremos ele de volta. Meu filho melhorou logo graças a ele. Estão com raiva porque os cubanos estão fazendo o trabalho que eles não querem fazer, pois os médicos brasileiros tratam a gente como se fôssemos animais”, disse a mãe de um dos pacientes atendidos pelo médico. Os moradores fizeram um abaixo-assinado de 12 folhas em defesa do médico.
A análise da comissão criada comprovou que o médico havia agido corretamente e que não houve erro na medicação, autorizando-o a retomar as funções normais.
Depois de tudo resolvido, descobriu-se que a tal “médica” que fez a denúncia é ligada a vereadores da base do prefeito da cidade, José Ronaldo, do DEM. Tudo esclarecido, não é?
Plano contra Cuba é desmascarado. Por engano, a Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID) divulgou um plano de seis milhões de dólares para desestabilizar o governo cubano. O programa foi divulgado por engano porque a linha que envia documentos diplomáticos para o escritório estadunidense em Havana estava desprotegida.
Segundo o documento vazado por engano no dia 10 de julho, trata-se da “iniciativa” SOL-OAA-13-000110, através da qual cerca de 20 ONGs financiadas pelo governo de Washington solicitam verbas extras para treinar “dissidentes” cubanos nos próximos três anos.
O programa procura criar condições para esses “dissidentes” viajarem ao exterior onde fariam cursos técnicos em “uma série de campos considerados importantes para o desenvolvimento da democracia”.
A USAID é sempre apresentada como um “organismo independente”, mas não passa de um instrumento da Casa Branca para desenvolver seus projetos no exterior. Entre suas principais tarefas está a de reforçar a política exterior estadunidense através de “ajudas” econômicas, agrícolas, sanitárias, políticas e humanitárias.
Para quem já esqueceu, a USAID teve importante papel na implantação do golpe militar no Brasil, a partir de 1964. O acordo MEC/USAID foi um dos principais instrumentos de Washington para dominar o ensino no país.
UNICEF destaca papel de Cuba na atenção às crianças. Enquanto 158 milhões de meninos e meninas, entre 5 e 14 anos, estão submetidos a exploração, no mundo, os menores em Cuba desfrutam de todos os direitos e são atendidos pelo Estado, segundo estudo realizado pelo Fundo nas Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Segundo o relatório do Programa Internacional para Erradicação do Trabalho Infantil, divulgado durante a semana, “a vontade política do Estado cubano acabou com o trabalho infantil que priva os pequenos de sua infância e prejudica o desenvolvimento psicológico”. O relatório destaca também que esse tipo de atividade (o trabalho infantil) “interfere na escolarização das crianças e obriga a abandonar a escola prematuramente”.
Ao contrário do que acontece pelo mundo, onde a marginalização social, a extrema pobreza e as redes de exploração infantil afloram nas ruas, as crianças em Cuba recebem educação gratuita, com caráter obrigatório, até os 14 anos! O relatório diz que Cuba tem uma taxa de escolarização no ensino primário de 100% e nenhuma criança com menos de 14 anos está trabalhando na Ilha.
Elián González vai ao Festival Mundial da Juventude, no Equador. Elián Gonzáles assistirá, como convidado, ao XVIII Festival Mundial da Juventude e de Estudantes, marcado para dezembro, no Equador. Ele representará os estudantes da Universidade Camilo Cienfuegos onde estuda engenharia industrial.
Elián destacou que o convite “é, antes de tudo, uma grande honra, porque não é sempre que um jovem cubano tem oportunidade de representar seu país em um evento de tamanha importância”. Segundo ele, o Festival representa um espaço importante para denunciar a prisão dos Heróis cubanos em território estadunidense e ele pretende aproveitar o espaço para denunciar a situação de Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Antonio Guerrero e Fernando González.
Quem é Elián Gonzáles? No dia 25 de novembro de 1999, dois náufragos são encontrados nas praias da Flórida. Um terceiro náufrago, de 6 anos de idade, foi depois encontrado por pescadores em pleno oceano.
A história de pequeno sobrevivente apareceu mais tarde nas páginas dos principais jornais do mundo e ficou conhecido como o “caso Elián Gonzáles”, o menino que sobreviveu depois de passar dois dias à deriva no mar, usando apenas uma camisa cinza e a roupa de baixo. Ele estava em estado de choque e com hipotermia, seu corpo estava coberto de erupções.
Aos poucos ia sendo desnudada toda a tragédia. Sua mãe, Elizabeth Brotons, era separada do pai de Elián (Juan Miguel Gonzáles, um simples porteiro de hotel em Varadero) e estava noiva de um filho de cubanos naturalizado nos Estados Unidos. No processo de separação, abriu mão da guarda do filho que foi entregue a Juan Miguel.
No dia 22 de novembro de 1999, Elizabeth Brotons pegou Elián na casa do pai e, com mais 12 cubanos, tomou um pequeno barco de alumínio para tentarem a travessia do mar do Caribe. Soube-se depois, pelos depoimentos dos outros dois sobreviventes, que a “aventura” tinha sido planejada pelo noivo de Elizabeth, Lázaro Muñero, de 24 anos, que havia cobrado US$ 2 mil de cada um dos fugitivos. Na hora da saída perceberam que o barco estava cheio demais e providenciaram algumas bóias de câmara-de-ar para sustentar a travessia (providência que salvou Elián pois ele foi encontrado agarrado em uma dessas bóias).
Os cubanos anticastristas que vivem na Flórida – e alimentam com gordas contribuições o Partido Republicano – fizeram de Elián uma bandeira contra Cuba. Os avós do garoto, que vivem nos EUA, entraram na justiça pedindo sua guarda e todo o processo virou uma grande comédia pastelão, com tons de ilegalidade e tragédia.
“Um deputado da extrema direita republicana, Dan Burton, de Indiana, tomou uma iniciativa inconcebível em um país civilizado: convocou um garoto de 6 anos, que nem sequer fala inglês e não pode ter a menor idéia do cabo-de-guerra político de que é protagonista involuntário, a depor na Câmara dos Representantes, a partir de 14 de fevereiro.” (O Estado de São Paulo – 14/01/2000)
“Três dias depois, a juíza Rosa Rodríguez, de uma Vara de Família do Condado de Dade, na Flórida, resolveu conceder ao tio-avô a guarda de Elián até 6 de março, data da audiência por ela marcada para definir o destino da criança. A juíza advertiu que, se o pai (que vivia em Cuba) não comparecer, a ausência ‘poderá resultar numa decisão adversa aos seus interesses’ - que se resumem a ter o filho de volta. A sentença é manifestamente ilegal porque, nos Estados Unidos, a Justiça de um Estado não pode contrariar atos de uma agência federal, como o NIS, vinculado à Secretaria da Justiça (cujo titular, a propósito, é a autoridade máxima em questões de custódia de crianças imigrantes desacompanhadas). Além disso, descobriu-se que a meritíssima e o porta-voz da família do pai de Elián em Miami, Armando Gutierrez, já fizeram negócios juntos. Na campanha de 1998 (os juízes americanos são eleitos), ela pagou a Gutierrez e à agência de publicidade de sua mulher, Maritza, pelo menos US$ 60.946 por serviços de assessoria política. A juíza não achou necessário nem divulgar o fato, nem, muito menos, se declarar suspeita e se afastar do caso.” (O Estado de São Paulo – 14/01/2000)
Depois de muita mobilização e protestos, em Cuba e em diversos países, Elián foi devolvido para seu pai.
Chile se prepara para segundo turno. A socialista Michelle Bachaelet vai enfrentar a conservadora (direitista) Evelyn Matthei no segundo turno das eleições presidenciais chilenas, dia 15 de dezembro. Mas o resultado das eleições legislativas, no domingo (17), mostram que há mudanças.
Segundo os resultados finais divulgados pelo Servel (Serviço Eleitoral do Chile), a Câmara de Deputados será composta de 67 representantes da coligação Nova Maioria (centro-esquerda), que apoia Bachelet, 49 da governista Aliança pelo Chile (direita conservadora), três independentes e um do Partido Progressista (esquerda), de Marco Enríquez-Ominami. Já para o Senado, a Nova Maioria ficou com 12 das vagas em disputa contra oito da Aliança.
Mas houve uma sensível renovação na composição do Parlamento chileno. Alguns dos principais líderes do movimento estudantil que sacudiu o Chile, em 2011, foram eleitos para a Câmara dos Deputados: Camila Vallejo, Karol Cariola, Giorgio Jackson e Gabriel Boric.
Interessante observar que esses líderes estudantis eleitos estão entre os dez deputados mais votados no país. Camila Vallejo, candidata do Partido Comunista (pertencente à Nova Maioria), obteve o primeiro lugar com 43% dos votos no distrito de La Florida, região sudeste da capital Santiago. Jackson, que disputou pelo movimento RD (Revolução Democrática), criado por ele mesmo, ficou com 48% no distrito Santiago-centro, sendo um dos três eleitos como independente.
É também importante ressaltar a eleição do dirigente sindical Iván Fuentes, eleito como deputado por Aysén. No início de 2012, Fuentes liderou o movimento regional de Aysén, na zona sul do Chile, que se estendeu por um mês e meio e gerou uma forte queda na popularidade do presidente Sebastián Piñera, chegando a níveis inferiores a 30%.
24 anos depois! Segundo uma pesquisa da empresa Infratest Dimap, realizada durante todo o primeiro semestre do ano e que contou com a participação de mai de 50.000 pessoas, 24 anos depois da queda do “muro de Berlim” existem desigualdades sociais imensas na Alemanha e são mais agudas no Leste. Os cidadãos que vivem no território da antiga República Democrática da Alemanha estão menos satisfeitos com o nível de vida.
A pesquisa foi elaborada especialmente para o canal público de televisão ARD e os participantes tinham que responder, em uma escala de zero a dez, se “está satisfeito com o nível atual de vida”. E o resultado mostrou um significativo descontentamento, em particular na classe trabalhadora.
Um dos dados considerados é que, depois da unificação alemã, houve um forte processo de desindustrialização no leste do país, o que vem afetando gravemente a economia regional. A pesquisa mostrou que, depois de assumir o capitalismo, os alemães do Leste começaram a sofrer com desemprego, fome, pobreza e crescente desigualdade social.
As estatísticas europeias mostram que um em cada seis alemães corre o risco de cair na pobreza. E 16,1% da população, cerca de 13 milhões de pessoas, estão já no limite para afundar na chamada “pobreza relativa”
A “democracia” na Espanha atual. O ministro do Interior da Espanha, Jorge Fernández Díaz, apresentou ao Conselho de Ministros um projeto de lei que prevê multas entre € 30 mil e € 600 mil (de R$ 91 mil até R$ 1,83 milhão) para quem fizer manifestações sem permissão na frente do Congresso. Com a legislação, insultar um policial, fazer acordos com prostitutas em espaços próximos a escolas ou participar de “escraches”, como são chamados atos em frente ao local de moradia ou trabalho de alguém que se queira denunciar, também serão atividades passíveis de punição administrativa.
O projeto de lei, intitulado Lei de Proteção da Segurança Cidadã, foi debatido na quarta-feira (20) na Comissão de Secretários de Estado e Subsecretários. A “lei Fernández”, como já é chamada, possui 55 artigos e permite, por exemplo, que a polícia estabeleça “zonas de segurança” no perímetro das quais será impedida a reunião de pessoas. Assim, poderiam ser evitados, por exemplo, protestos em frente a residências de políticos, embora não sejam citados nomes de pessoas específicas.
A lei classifica as infrações de leves a muito graves. Para as leves, as multas variam entre € 100 e € 1.000 (R$ 305 e R$ 3.050); para as graves, de € 1.001 a € 30 mil (R$ 3.060 a R$ 91.730); e, para as muito graves, os valores vão de € 30 mil a € 600 mil. Manifestações sem permissão em frente ao Congresso são consideradas "falta muito grave", enquanto participar de um tumulto com capuzes, capacetes ou outros objetos que dificultem a identificação,  "infração grave".
Alguns números sobre a fome no mundo. Um em cada quatro habitantes do planeta já sofre com desnutrição ou tem algum tipo de carência de vitaminas e sais minerais essenciais para a vida. Segundo os novos dados divulgados pela FAO (organismo da ONU para Agricultura e Alimentação), atualmente temos entre 842 milhões e 1,3 bilhões de pessoas que sofrem com desnutrição. E devemos somar também mais um bilhão de pessoas que carecem cronicamente de vitaminas e minerais essenciais. No outro lado da realidade, temos cerca de um bilhão e meio de pessoas com sobrepeso (obesidade)!
O país que mais sofre com a fome é a Índia: 213 milhões de pessoas atingidas! A África é o continente mais afetado pelo problema. Mas a grande contradição é que, ainda segundo a FAO, o mundo está produzindo atualmente alimentos suficientes para cerca de 12 bilhões de pessoas! Ou seja, quase o dobro da população mundial.
Em um estudo divulgado pela mesma instituição, erradicar a fome no mundo custaria pouco: cerca de 30 bilhões de dólares por ano, mas isto significaria mexer com o poder das grandes empresas agroindustriais. E isto não vai acontecer... Como já mostramos em um número anterior do Informativo, essas empresas movem lucros gigantescos. A indústria alimentícia, incluindo as bebidas, está controlada por alguns poucos monopólios.
Por exemplo, apenas duas empresas controlam 75% do mercado de bebidas com gás e 42% do mercado mundial de café está nas mãos de três empresas!
Saneamento básico é problema mundial, segundo a ONU. Cerca de um terço da população mundial, o equivalente a 2,5 bilhões de pessoas, não tem acesso a serviços de saneamento adequados e 1,1 bilhões de pessoas ainda são obrigadas a fazer suas necessidades básicas ao ar livre, advertiu na terça-feira (19) a ONU por conta do Dia Mundial dos Banheiros.
“Temos que acabar com os tabus e fazer do saneamento para todos uma das principais prioridades da agenda de desenvolvimento mundial”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em sua primeira mensagem para comemorar este dia. Além disso, Ban advertiu que 800 mil crianças menores de cinco anos morrem a cada ano de diarreia, “mais de uma por minuto”.
Quem está “matando” o planeta? Muito importante o estudo apresentado pelo Instituto de Responsabilidade Climática, do Colorado (EUA). Através dele vamos descobrir que apenas 90 empresas causaram em conjunto quase dois terços das emissões de gases do efeito estufa. Na maior parte, são empresas do setor de petróleo, carvão e gás.
Essas 90 empresas produziram 63% das emissões globais acumuladas de dióxido de carbono industrial e metano, entre 1751 (início da industrialização) e 2010. Ao todo, cerca de 914 gigatoneladas de emissões, segundo os cálculos apresentados. Ao todo, contando com as outras emissões, o mundo produziu 1.450 gigatoneladas de CO2!
O mais grave é que, segundo os pesquisadores, a metade dessas emissões aconteceu nos últimos 25 anos! Ou seja, é um processo mais acelerado a cada ano.
Na lista das 90 empresas que mais contaminam o planeta há 50 empresas privadas, principalmente do setor de petróleo, entre as quais aparecem: Chevron, Exxon, BP e Royal Dutch Shell. Além dessas, os produtores de carvão: British Coal Corp, Peabody Energy e BHP Billiton. Sete das empresas listadas são produtoras de cimentos. A Chevron-Texaco é a principal emissora de gases contaminantes, com 3,5% do total.
Poucas empresas controlam o mercado global. Novos dados estão sendo divulgados sobre o poder dessas gigantescas empresas chamadas “transnacionais”. Mas, o que é uma transnacional?
Simples: é uma empresa que é constituída por uma sociedade “matriz”, criada conforme a legislação do país onde é registrada e instalada. Depois passa a se instalar em outros países através de investimentos diretos, sem criar empresas locais, mas criando filiais que funcionam de acordo com a legislação local. Ainda que, aparentemente, seja juridicamente uma pluralidade de sociedades, no essencial é uma unidade econômica com um único centro de poder e decisões.
Em 2010 havia 80.000 empresas transnacionais no planeta, mas controlavam 810.000 empresas “filiais”. Ainda que sejam conhecidas milhares de transnacionais, apenas poucas centenas delas controlam as demais. Em outras palavras: 737 grandes multinacionais monopolizam o valor acionário de 80% de todas as grandes empresas do mundo. E apenas 147 empresas controlam 40% do mercado global!
As covardias de Israel! Na quarta-feira à noite, 20 de novembro de 2013, soldados israelenses invadiram a cidade de Silwan, em Jerusalém Oriental, e sequestraram uma criança de 11 anos de idade, depois alegando que ele arremessou pedras contra eles.
A criança foi identificada como Malek Da'na, seu pai disse que os soldados invadiram uma barbearia em Ein Al-Loza bairro de Silwan, e sequestraram a criança depois de algemá-lo.
A criança foi transferida para a delegacia de polícia em Salah Ed-Deen Street, em Jerusalém.
A mãe da criança foi até a delegacia para vê-lo, mas a polícia reteve sua carteira de identidade, e a interrogou.
Vale ressaltar que, no mesmo dia, os “valentes” soldados israelenses sequestraram 23 palestinos em diferentes partes da Cisjordânia ocupada. A maior parte das prisões aconteceu depois que os “valentes” soldados invadiram violentamente as casas, durante a madrugada, e saquearam seus móveis e pertences. Alguns dos palestinos sequestrados são crianças.
Obama manobra na ONU. Os EUA trabalham nos bastidores para frear a proposta de Brasil e Alemanha contra espionagem, apresentada à ONU no começo de novembro. Segundo documento secreto de Washington vazado na quinta-feira (21) pelo portal The Cable, a NSA (Agência de Segurança Nacional) circula um comunicado a diversos países com o título: “O direito de privacidade na Era Digital - Segurança Nacional dos EUA”.
No texto, Washington enaltece as negociações que estão em curso atualmente na ONU e pede que a proposta de Brasil e Alemanha seja alterada, pois “as referências ao direito de privacidade se referem explicitamente às obrigações dos estados-membro (da ONU) em atividades extraterritoriais”, diz o documento. Em outros termos, os EUA querem alterar o projeto de regulação de espionagem em território estrangeiro sob a justificativa da segurança nacional.
O documento apresentado por Brasil e Alemanha manifesta preocupação com “violações de direitos humanos e abusos que possam resultar da conduta de qualquer vigilância de comunicações, incluindo a vigilância extraterritorial de comunicações”.


Insanidade! Guerras, até quando?

Qual a verdadeira agenda do estado policial norte-americano?

Paul Craig Roberts*

No meu último artigo, realcei o facto de que é importante para os cidadãos norte-americanos exigir saber quais são as verdadeiras agendas por detrás das guerras que os regimes de Bush e Obama escolheram. Estas são grandes guerras de longa duração, cada uma com duração duas ou três vezes superior à 2ª Guerra Mundial.

A revista Forbes reporta que um milhão de soldados dos EUA tenham sido feridos nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

O Russia Today afirma que o custo de manter cada soldado dos EUA no Afeganistão subiu de 1,3 milhões de dólares por soldado para 2,1 milhões de dólares.

Matthew J. Nasuti relata, no Kabul Press, que matar um soldado talibã custa aos contribuintes norte-americanos 50 milhões de dólares. Isso significa que custaria 1 bilhão de dólares matar 20 guerrilheiros talibã. Esta é uma guerra que apenas pode ser ganha a custo da total falência dos EUA.

Joseph Stiglitz e Linda Bilmes estimaram que os atuais custos diretos e futuros já incorridos das guerras do Iraque e do Afeganistão é de pelo menos 6 trilhões de dólares. Em outras palavras, é o custo destas duas guerras que explica a explosão da dívida pública dos EUA e os problemas econômicos e políticos associados a esta enorme dívida.

O que ganharam os EUA em troca de 6 trilhões de dólares e um milhão de soldados feridos, muitos com gravidade?

No Iraque existe atualmente um regime islâmico xiita aliado com o Irã, no lugar de um regime secular sunita que era inimigo do Irã, tão ditatorial um quanto o outro, a presidir os destroços da guerra, violência contínua em níveis tão elevados como aquando da tentativa de ocupação pelos EUA, e malformações congênitas extraordinárias com origem nas substâncias tóxicas associadas à invasão e ocupação dos EUA.

No Afeganistão estão os Talibãs, que nunca foram vencidos e se revelam aparentemente invencíveis, e um tráfico de droga restabelecido que está a inundar o mercado ocidental de drogas.

A cereja no topo do bolo destes “sucessos” de Bush e Obama são as exigências, vindas de todas as partes do mundo, de que os norte-americanos e o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair respondam pelos seus crimes de guerra. Certamente, a reputação de Washington caiu como resultado destas duas guerras. Nenhum governo em parte alguma é suficientemente ingênuo para acreditar em seja o que for que Washington afirme.

Isto representa custos muitíssimo elevados para guerras para as quais não temos explicação. Os regimes de Bush e Obama criaram várias reportagens de capa: “Guerra ao terror”, “Temos de acabar com eles por lá antes que eles cheguem aqui”, “Armas de destruição massiva”, “A vingança pelo 11 de setembro”, “Osama Bin Laden” (que morreu dos seus problemas de saúde em dezembro de 2001 como foi amplamente divulgado na época).

Nenhuma destas explicações é plausível. Nem os Talibãs nem Saddam Hussein se envolveram em atividades terroristas nos EUA. Tal como os inspetores de armas informaram o regime de Bush, não havia armas de destruição massiva no Iraque. Ao invadir países muçulmanos e massacrar inocentes, provavelmente se criam mais terroristas do que se elimina. De acordo com a versão oficial, os sequestradores dos voos do 11 de Setembro e Osama Bin Laden eram sauditas, não afegãos ou iraquianos. No entanto, não foi a Arábia Saudita que foi invadida.

Democracia e governo que respondam pelos seus atos são coisas que simplesmente não existem quando o poder executivo leva um país para guerras em nome de agendas secretas, a pretexto de reportagens de capa que constituem claras mentiras.

É igualmente importante colocar estas mesmas questões na agenda do estado policial norte-americano. Porque retiraram Bush e Obama a proteção da lei sobre as pessoas e a tornaram numa arma nas mãos do poder executivo? Como podem estar os norte-americanos mais seguros mediante a remoção das suas liberdades civis? A detenção por tempo indeterminado e a execução, sem o devido julgamento, são as marcas de um estado tirânico. É terrorismo e não uma proteção contra ele. Por que razão cada comunicação de cada norte-americano e aparentemente as comunicações da maioria das pessoas no mundo, incluindo os mais fiáveis aliados europeus de Washington, estão sujeitos a serem interceptados e guardados numa gigantesca base de dados dum estado policial? De que modo é que isto protege os norte-americanos dos terroristas?

Por que razão precisa Washington de atacar a liberdade de imprensa e de expressão, fazer tábua rasa da legislação que protege os denunciantes como Bradley Manning e Edward Snowden, criminalizar a dissidência e os protestos e ameaçar jornalistas como Julian Assenge, Glenn Greenwald, e o repórter da Fox News James Rosen?

De que modo é que manter os cidadãos na ignorância dos crimes do seu governo deixa os cidadãos a salvo dos terroristas?

Estas perseguições a denunciantes nada têm a ver com a “segurança nacional” e com “manter os norte-americanos a salvo de terroristas”. O único propósito destas perseguições é proteger o poder executivo da revelação dos seus crimes. Alguns dos crimes de Washington são tão horrendos que o Tribunal Internacional emitiria uma sentença de morte caso os culpados pudessem ser levados a tribunal. Um governo que destrói as proteções constitucionais à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa de modo a evitar que os seus crimes sejam revelados é uma tirania.

Hesitamos em colocar estas questões e fazer até mesmo as mais óbvias observações por medo não só de sermos colocados numa lista de vigilância e apanhados numa qualquer acusação, mas também de que essas questões provoquem um ataque com uma falsa bandeira, ou que estas sejam usadas para justificar o estado policial que se instalou.

Talvez tenha sido este o caso dos atentados bombistas da Maratona de Boston. As provas da culpa dos dois irmãos foram relegadas para segundo plano relativamente às pretensões do governo. Não há nada de novo no fato do governo arranjar bodes expiatórios. O que é novo e sem precedentes é o bloqueio de Boston e dos seus subúrbios, o aparecimento de 10 mil tropas fortemente armadas e tanques a patrulharem as ruas e a revistarem sem mandato casas particulares, tudo em nome da proteção da população de um jovem de 19 anos ferido. Não apenas isto nunca aconteceu antes nos EUA, como também não poderia ser organizado em cima do momento. Tinha que ser algo já preparado para o evento. Foi um teste para o que há por vir.

Os norte-americanos mais incautos, em especial os mais ingénuos conservadores legalistas e ordeiros, não fazem ideia da militarização até mesmo da sua polícia local. Eu vi forças da polícia local treinarem em clubes de armas. A polícia é treinada para disparar primeiro não uma, mas muitas vezes, para proteger primeiro as suas vidas a todo o custo e não arriscar a vida fazendo perguntas. É por esta razão que o garoto de 13 anos com a arma de brincar foi feito em pedaços. Fazer perguntas teria levado a perceber que se tratava de um brinquedo, mas questionar o “suspeito” poderia pôr em perigo a valiosa polícia que é treinada para não correr quaisquer riscos.

A polícia atua de acordo com o poder assassino da presidência de Obama: mata primeiro e depois acusa a vítima.

Por outras palavras, caro cidadão americano, a sua vida nada vale, a polícia que você paga não apenas não pode ser responsabilizada, mas a vida de cada polícia é inestimável. Se você for assassinado no cumprimento do dever da polícia, isso não é grande problema. Mas não pense em ferir um agente da polícia num ato de autodefesa. Quem pensa que é? Uma espécie de americano mítico livre e com direitos?

*Roberts é graduado no Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.



http://www.odiario.info/?p=3094

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Diante da "DOAÇÃO" da CVRD (hoje VALE) essas quantias são CENTAVOS




)   Privataria Tucana – R$ 100,155 bilhões;
2)   Banestado – R$ 42,155 bilhões;
3)   Vampiros – R$ 2,450 bilhões;
4)   TRT – R$ 1,850 bilhão;
5)   Anões do Orçamento – R$ 855 milhões;
6)   Sonegação da Globo – R$ 615 milhões;
7)   Operação Navalha – R$ 610 milhões;
8)   Máfia Fiscal Serra/Kassab – R$ 500 milhões;
9)   Propinoduto Tucano – R$ 425 milhões;
10) Sudam – R$ 214 milhões;
11) Sanguessugas – R$ 140 milhões; e

12) Mensalão – R$ 55 milhões.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Para aonde estamos caminhando? PARA REFLEXÃO, ENQUANTO HÁ TEMPO


Intolerância insana, 50 anos depois

20/11/2013 13:44
Por Venício Lima - de Brasília

Assassinato do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, nas ruas de Dallas, Texas
Assassinato do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, nas ruas de Dallas, Texas
No final da tarde do dia 22 de novembro de 1963, me aproximei de um pequeno grupo de pessoas que ouvia incrédulo à edição extra do noticiário de um velho rádio no “Bar do Seu Crispim”, bem defronte ao Cine Villa Rica, em Ouro Preto. Foi onde e como fiquei sabendo do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, nas ruas de Dallas, Texas.
Militante estudantil, apesar de ter apenas 18 anos, vivi intensamente o momento político, marcado pela radicalização da Guerra Fria, pelas repercussões da Revolução Cubana, pelo conturbado processo de resistência às Reformas de Base do presidente João Goulart e da ativa movimentação de opositores como Carlos Lacerda que percorriam o país – inclusive Ouro Preto – pregando abertamente o golpe de estado.
Cinquenta anos depois, estaríamos diante de um processo de intolerância e radicalização política que lembra os conturbados meses que se seguiram àquele novembro longínquo?
Dallas 1963
Entre as inúmeras atividades que marcam os 50 anos do assassinato de Kennedy, nos Estados Unidos, está o lançamento do livro Dallas 1963 resultado de um elaborado trabalho de reconstituição histórica realizado por Steven L. Davis e Bill Minutaglio (Editora Twelve, outubro de 2013). A preocupação dos autores não é apresentar uma nova hipótese sobre quem afinal matou o presidente. O que pretendem é reconstituir a atmosfera de intolerância que fez de Dallas a “cidade do ódio” e construiu o cenário no qual o assassinato se tornou possível.
Os autores iniciam sua reconstituição três anos antes (1960) e mostram como conservadores extremistas e antiliberais difundiam o ódio a Kennedy que consideravam um traidor socialista que promovia os direitos civis e estava a transformar os Estados Unidos num país comunista (sic).
Em entrevista concedida à jornalista Juliana Sayuri e publicada no caderno “Aliás”, do jornal O Estado de São Paulo, de domingo dia 17 de novembro [cf.http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,bem-vindos-a-dallas,1097396,0.htm], Steven L. Davis explica que esses conservadores lunáticos “não estavam à margem da sociedade, mas no centro. Líderes cívicos e poderosos eram os organizadores dessa resistência.”
Ele menciona especificamente dois homens de mídia: o bilionário petroleiro H. L. Hunt que controlava várias emissoras de rádio e Ted Dealey, herdeiro e editor do Dallas Morning News, “o mais influente jornal no sul do país”. Também o pastor W. A. Criswell, líder espiritual da maior igreja batista dos EUA, dentre outros. A ação desses “lideres” acaba por criar “uma atmosfera insana” condutora de ações violentas e culmina com o assassinato de Kennedy.
Perguntado se “há uma cidade raivosa como Dallas atualmente nos EUA?”, Steven responde: “Não há uma cidade em particular. Na verdade, esse sentimento de ódio que nós vimos começar, dominar e explodir em Dallas agora se espalhou nacionalmente. Está em todos os lugares do país”.
Brasil 2013 
O 15 novembro de 2013 – dia em que se celebraram os 124 anos de Proclamação da República – certamente ficará marcado na história política do nosso país pela prisão midiática dos réus condenados pela Ação Penal 470.
Os questionáveis deslocamentos, de São Paulo para Belo Horizonte e, depois, para Brasília foram cobertos ao vivo, ao longo do dia e da noite, pela mesma grande mídia que criou a atmosfera que ajudou a condená-los e contribui para transformá-los em figuras de escárnio público para boa parte da população, independentemente de serem culpados ou não.
Escrevendo sobre os efeitos políticos do julgamento da Ação Penal 470, Renato Janine Ribeiro afirma:
“Um segundo resultado (…) foi converter nossa disputa política em guerra. É básico para qualquer analista político que a democracia se distingue dos outros regimes porque nela há adversários e não inimigos. Ela não é guerra. A democracia é o único regime no qual a divergência é admitida, e a oposição – que ao longo de milhares de anos foi presa, banida, executada com requintes de crueldade – tem o direito de falar, e de tornar-se governo. Mas desde o mensalão o que temos é um estado de guerra inscrito no espaço político, substituindo o debate pelo ódio” [cf. “A prisão dos condenados” inhttp://www.valor.com.br/politica/3340990/prisao-dos-condenados#ixzz2l0Ok2JVU].
Pode haver alguma dúvida de que as ações emanadas do STF, conduzidas pela Polícia Federal e “celebradas” pela grande mídia no último dia 15, em nada contribuíram para amenizar “a guerra” em que vem se transformando o processo político brasileiro?
E o futuro?
Para um dos autores do Dallas 1963, como já dito, “o sentimento de ódio que nós vimos começar, dominar e explodir em Dallas agora se espalhou nacionalmente. Está em todos os lugares do país”. Vale dizer, 50 anos depois, os Estados Unidos estariam a viver a mesma atmosfera que levou ao assassinato de Kennedy.
Acontecimentos tão distintos como o ocorrido em Dallas em 1963 e os que ocorrem no Brasil em 2013, ressalvadas as enormes diferenças históricas, todavia, parecem ter algo em comum: o clima político não democrático de intolerância, de ódio, de recusa a ouvir o outro, de defesa intransigente de interesses privados e total desprezo pelo interesse público.
A questão que fica é: a quem e a quais interesses serve a intolerância insana, esteja ela nos Estados Unidos ou no Brasil?
Venício Lima é Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações ¿ História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

Justiça ao grande Presidente João Goulart

         Congresso anula sessão que declarou vaga a Presidência de João Goulart


Decisão, arbitrária, abriu caminho para o golpe de militar de 64. Parlamentares ressaltam que votação permitirá nova interpretação da História e deve evitar a repetição dos mesmos erros
O Congresso Nacional aprovou na madrugada desta quinta-feira (21) o projeto de resolução (PRN 4/13) dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP), que anula a sessão do Congresso de 2 de abril de 1964 que declarou vaga a Presidência da República no mandato do presidente João Goulart. O presidente do Senado, Renan Calheiros, avaliou que a votação é a “oportunidade histórica de reparar uma mancha na História do País”. Ele ressaltou que a sessão foi acompanhada pelo filho de João Goulart, João Vicente Goulart.

Os dois autores da proposição ressaltaram a ilegalidade em que a sessão se baseou: declarou a presidência vaga mesmo depois que João Goulart enviou ao Congresso um documento dizendo que estava no País e no exercício do cargo. “João Goulart estava no comando de suas atribuições e em pleno território nacional e, por isso, o presidente do Congresso não poderia ter convocado arbitrariamente a sessão e muito menos ter declarado vaga a presidência”, disse Randolfe Rodrigues.

Para Pedro Simon, a votação vai permitir uma nova interpretação da História. “Não vamos reconstituir os fatos. A história apenas vai dizer que, naquele dia, o presidente do Congresso usurpou de maneira estúpida e ridícula a vontade popular depondo o presidente da República”, disse.

Ouça a íntegra da sessão do Congresso que declarou vaga a Presidência em 1964.

Evitar repetição do erro - O relator do projeto, deputado Domingos Sávio (PMDB-MG), disse que ao anular a sessão que cassou o mandato de Jango, o Congresso pode impedir que a mesma situação ocorra novamente. “É triste, mas é necessário resgatar essa noite para que não se repitam mais coisas dessa natureza. Essa desastrada decisão é uma das muitas razões para tudo o que padeceram aqueles que viveram esse período sombrio da nossa História”, argumentou.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), o Congresso demonstrou para a História que o golpe que iniciou o regime militar foi baseado em falsidade. Para o senador Randolfe Rodrigues a proposta retirou o "ar de legalidade" do golpe de 1964.

Voz dissonante O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi a voz dissonante na votação do projeto. Para ele, o projeto quer “tocar fogo” no Diário do Congresso Nacional. “Querem apagar um fato histórico de modo infantil. Isso é mais do que Stalinismo, quando se apagavam fotografias, querem apagar o Diário do Congresso”, disse.
Bolsonaro citou vários artigos de jornal segundo os quais políticos e segmentos da sociedade foram favoráveis ao golpe. “A ABI [Associação Brasileira de Imprensa] e OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] aprovaram o movimento. Toda a igreja católica, governadores, empresários e produtores rurais foram na mesma linha. Tiremos o peso dos militares, salvamos o País de um regime ditatorial”, disse.

O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) rebateu as críticas. “Quem quer apagar a historia com seu pronunciamento é colega Jair Bolsonaro, que hoje se superou da tribuna”, criticou.  Já o deputado Ronaldo Benedet (PMDB-SC) disse que é uma vitória da democracia o fato de o colega poder se manifestar contra uma proposta com ampla maioria. “Como é bela a democracia que conquistamos. Tão valiosa que até quem defende a ditadura e quer justificar a ditadura pode vir fazê-lo”, disse.
Os restos mortais de Jango, exumados na quarta-feira da semana passada (13), chegaram no dia seguinte a Brasília com honras de Estado. Eles passarão por exames no Instituto de Criminalística. Os testes foram solicitados pela família à Comissão da Verdade após declarações de um ex-agente da repressão da ditadura uruguaia, segundo o qual Jango teria sido envenenado.

Matéria do Rede Brasil Atual


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Escuta, classe média ressentida. Artigo de Gilson Caroni Filho

Escuta, classe média ressentida
 

 


E aí, classe média, “teve um bom fim de semana?
O sol estava lindo e a praia convidativa”

Em poucos momentos da história, a justiça foi tão achincalhada como na tarde de sexta-feira. Negação do contraditório, fatiamento do transitado em julgado e ordens de prisão para satisfazer a sanha de uma classe média reacionária e patrimonialista. Tudo, desde o início, não passou de um espetáculo jurídico-midiático visando ao entretenimento do que há de mais retrógrado no país. Mesmo os que, no campo da esquerda se opõem ao PT, não aprovaram o linchamento de lideranças que lutaram contra a ditadura. Passado tudo isso, veremos que a farsa se voltará contra quem a perpetrou: o STF, cada vez mais partidarizado, se desmoralizou como instância responsável pelo cumprimento da constituição. A credibilidade da imprensa, como mostra pesquisa da FGV, está no subsolo.
 
Joaquim Barbosa, longe de ser um magistrado, tornou-se uma figura folclórica da mídia. Em sua toga há um colarinho em arco, uma rosa que esguicha água, faltando providenciar o nariz vermelho. Talvez, como os jogadores que marcam três gols em uma partida, tenha até direito a pedir música no Fantástico e, quem sabe, um convite para participar de um reality show. Mas numa Corte que já teve Nunes Leal, ele sabe que é um ponto fora da curva.
 
 
Lamento, mas se você é um dos que festejam, saiba que teve uma vitória de Pirro. Um partido que tem história e militância comete erros, mas não é destruído por circos macabros. E outra coisa: você não tem qualquer preocupação com o aperfeiçoamento das instituições. Seu ódio é contra programas de transferência de renda que lhe retiraram a empregada barata, o caseiro faminto e ainda puseram no aeroporto, que você julgava seu espaço privativo, cidadãos que antes só pisavam lá para carregar sua bagagem de bijuterias baratas. Mas, daqui a pouco, você estará triste novamente. E é do seu ressentimento que você recolhe forças para reproduzir os mantras que publicações como a revista Veja lhe proporcionam semanalmente.
 
 
Só uma coisinha mais. Não deixe sua contrariedade aqui, no Correio do Brasil. Não peça a um site que lhe dê o que você nunca tolerou que fosse concedido aos seus inimigos políticos: o direito ao contraditório. Teve um bom fim de semana? O sol estava lindo e a praia convidativa. Levou a sua revista predileta e aproveitou bastante? Hoje, domingo, o tempo mudou e chove torrencialmente no Rio? Acredite, meu bom ” republicano” de ocasião, com sua alegria ressentida acontecerá o mesmo. Ou não tem sido assim nos últimos anos?
 
 

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia da Facha (RJ) e articulista do Correio do Brasil.

Artigo de Luis Nassif

18 nov 2013
 
 
 
“O resultado final do julgamento foi o acirramento da radicalização, o primado da vingança sobre a justiça, a exposição do deslumbramento oportunista de Ministros sem respeito pelo cargo…”
 
 
Publicado originalmente no blog do jornalista : LUIS NASSIF ONLINE
 
 Luis Nassif Online
 
 
 
A democracia se consolida nos grandes processos bem conduzidos de inclusão social e política.
 
 
Em determinados momentos da história, emergem novas forças políticas, inicialmente em estado bruto, ganhando espaço com a radicalização do discurso contra o status quo.
 
 
Em todos os tempos, as democracias passam por processos de estratificação nos quais os grupos que chegaram antes ao poder levantam um conjunto amplo de obstáculos – políticos, econômicos e legais – para impedir a ascensão dos que chegam depois.
 
 
Trava-se, então, uma luta feroz, na qual os grupos emergentes radicalizam o discurso, enfrentam as leis, as restrições e vão abrindo espaço na porrada.
 
 
É a entrada definitiva no jogo político que disciplina esas forças, enriquece a política e reduz os espaços de turbulência. Todos ganham. Rompe-se a inércia dos partidos tradicionais, amaina-se o radicalismo dos emergentes; abre-se mais espaço para a inclusão; permite-se uma rotatividade de poder que derruba a estratificação anterior.
 
 
Sem essas lideranças, as disputas políticas iniciais enveredam para o conflito permanente, deixando o legado de nações conflagradas, como na Colômbia e no México.
 
 
Daí a importância essencial dos líderes que unificam a ação, impedem a explosão das manadas e montam estratégias factíveis de tomada do poder dentro das regras do jogo.
 
 
Acabam enfrentando duas espécies de incompreensão. Dos adversários políticos, a desconfiança sobre suas reais intenções, manobrando o receio que toda sociedade tem em relação ao novo. Dos aliados, a crítica contra o que chamam de “acomodamento”, a troca do sonho por ações pragmáticas.
 
 
Em seu estudo sobre Mirabeau, Ortega y Gasset define bem o perfil do estadista e de outros personagens clássicos da política: o pusilânime e o intelectual. O estadista só tem compromisso com a mudança do Estado. É capaz de alianças com o diabo, desde que permita a suprema ambição de mudar um país, um povo.
 
 
Já o intelectual se vale todos os argumentos do escrúpulo como álibi para a não ação.
 
 
Aliás, nada mais cômodo que o niilismo de um Chico de Oliveira, do bom mocismo de Eduardo Suplicy, dos homens que pairam acima dos conflitos, como Cristovam Buarque, dos apenas moralistas, como Pedro Simon. Para não se exporem, não propõem nada, não se comprometem com nada, a não ser com propostas genéricas de aprovação unânime que demonstrem seus bons sentimentos, sua boa índole, sua integridade intelectual – e que quase nunca resultam em mudanças essenciais.
 
 
As mudanças no PT
 
 
É por esse prisma que deve ser analisada a atuação não apenas de Lula, mas de José Dirceu e José Genoíno.
 
 
Ambos passaram pela luta armada. Com a redemocratização, ingressaram na luta política e das ideias. E ambos foram essenciais para a formação do novo partido e para a consolidação do mito Lula.
 
 
Na formação do PT, cada qual desempenhou função distinta.
 
 
José Genoíno sempre foi o intelectual refinado. Durante um bom período dos anos 90 tornou-se um dos mais influentes formadores de opinião do Congresso e do país, com suas análises sobre regimento da Câmara, sobre reforma política, sobre defesa.
 
 
Já José Dirceu era o “operador”, trabalhando pragmaticamente para unificar o PT em torno de um projeto de tomada do poder e, a partir daí, de reformas.
A estratégia política do PT passava por sua institucionalização, por um movimento em direção à centro-esquerda, ocupando o espaço da socialdemocracia aberto pelo PSDB – devido à guinada neoliberal conduzida por Fernando Henrique Cardoso e à ausência de lideranças sindicais.
 
 
Não foi um desafio fácil. O PT logrou juntar em torno de si uma multiplicidade de movimentos sociais, a parte mais legítima do partido mas, ao mesmo tempo, a parte menos talhada para a tomada de poder. Foram movimentos que surgiram à margem do jogo político, desenvolvendo-se nos desvãos da sociedade civil e sem nenhuma vontade de se sujar com a política tradicional.
 
 
Por outro lado, o papel unificador de Lula o impedia de entrar em divididas. Tinha que ser permanentemente o mediador.
 
 
O papel do operador Dirceu
 
 
Sobrava para Dirceu o papel pesado de mergulhar no barro. De um lado, com o enquadramento das diversas tendências – o que fez com mão de ferro -, dando ao PT uma homogeneidade que tirava o brilho inicial do partido, mas conferia eficiência no jogo político tradicional trazendo-o para o centro.
 
 
E o jogo político exigia muito mais do que enquadrar os grupos sociais do PT.
 
 
As barreiras eram enormes. Passava por montar formas de financiamento eleitoral, pela aproximação com o status quo econômico, pelos pactos com os grupos que atuam na superestrutura do poder, com os operadores dos grandes interesses de Estado, pelo mercado, pelo estamento militar, pela mídia.
 
 
Dirceu foi essencial para essa transição, tanto para dentro como para fora.
 
 
Um retrato honesto dele, mostrará a liderança inconteste sobre largas faixas do PT, o único a se ombrear com Lula em influência interna e com uma visão do todo que o coloca a léguas de distância de outros pensadores do partido.
 
 
Mas também era dono de um voluntarismo até imprudente.
 
 
Lembro-me de uma conversa com ele em 1994 em Brasília, com Lula liderando as pesquisas. Falava do projeto popular do PT e do projeto de Nação das Forças Armadas, sugerindo um pacto não muito democrático.
 
 
Não por outro motivo, em diversas oportunidades Lula confessou que, se tivesse sido eleito em 1994, teria quebrado a cara.
 
 
Com o tempo, o voluntarismo foi sendo institucionalizado. Internamente, no governo, Dirceu exercia uma pressão similar à de Sérgio Motta sobre FHC. Queria avançar mais, queria menos cautela na política econômica, queria um projeto de industrialização.
 
 
Sua grande obra de arte política, nos subterrâneos do poder, no entanto, foi ter mapeado os elos da superestrutura que garantia FHC e inserido o PT no jogo.
 
 
Esse mapeamento resultou na viagem aos Estados Unidos, desarmando as desconfianças do Departamento de Estado, dos empresários e da mídia; a ocupação de cargos-chave no Estado, que facilitaram negociações políticas com grupos de influência. Nada que não fosse empregado pelos partidos que já haviam chegado ao poder e que precisaram garantir a governabilidade em um presidencialismo torto como o nosso.
 
 
O veneno do excesso de poder
 
 
Assim como Sérgio Motta, no entanto, as demonstrações de excesso de poder tornaram-no alvo preferencial da mídia.
 
 
Trata-se de uma regra midiática clássica, que não foi seguida por ambos. Quando a mídia sente alguém com superpoderes, torna-se um desafio derrubá-lo. Com exceção de ACM e José Serra – a quem os grupos de mídia deviam favores essenciais e, em alguns casos, a própria sobrevivência -, todos os políticos que exibiram musculatura excessiva – de Fernando Collor ao próprio FHC (no período de deslumbramento), de Sérgio Motta a José Dirceu – terminaram fuzilados.
 
 
No auge do poder de Dirceu, creio que foi o Elio Gaspari quem o alertou para o excesso de exibição de influência. Foi em vão.
 
 
O reinado terminou em um episódio banal, a história dos R$ 3 mil de propina a um funcionário dos Correios. Tratava-se de uma armação de Carlinhos Cachoeira com a revista Veja, visando desalojar o grupo de Roberto Jefferson para reabilitar os aliados de Cachoeira (http://bit.ly/19sMvtX).
 
 
O que era claramente uma operação criminosa midiática, de repente transformou-se em um caso político, por mero problema de comunicação. Roberto Jefferson julgou que a denúncia tinha partido do “superpoderoso” Dirceu, para amainar sua fome por cargos. E deu início ao episódio conhecido por “mensalão”.
 
 
E aí Dirceu – e o próprio Genoíno – sentiram o que significa ter chegado tardiamente ao jogo político, não dispor de “berço” e de blindagem contra as armadilhas institucionais do Judiciário e da mídia.
 
 
A cara feia da elite
 
 
É uma armadilha fatal. Para chegar ao poder, tem que se chegar de acordo com as regras definidas por quem já é poder. Mas, sem ter sido poder, não se tem a mesma blindagem dos poderosos “de berço”.
 
 
O episódio do “mensalão” acabou explodindo, revelando – em toda sua extensão – a hipocrisia política e jurídica brasileira, o uso seletivo das denúncias, o falso moralismo do STF (Supremo Tribunal Federal).
 
 
Nos anos 40, Nelson Rockefeller tinha um diagnóstico preciso sobre o subdesenvolvimento brasileiro: havia a necessidade de um choque de modernidade, de criação de uma classe média urbana que superasse o atraso ancestral das elites brasileiras, dominada pelo pensamento de velhos coronéis.
 
 
Uma coisa é a leitura fria dos livros de história, as análises de terceiros sobre a República Velha, sobre o jogo político dos anos 30, 40, 50. Outra, é a exposição dos vícios brasileiros em plena era da informação.
 
 
Para a historiografia brasileira, o “mensalão” é um episódio definitivo, para entender a natureza de certa elite brasileira, a maneira como o conservadorismo vai se impondo, amalgamando candidatos a reformadores de poucas décadas atrás, transformando-os em cópias do senador McCarthy. E não apenas no discurso antissocial e na exploração primária ao anticomunismo mais tosco, mas na insensibilidade geral, de chutar adversários caídos, de executar adversários moribundos no campo de batalha, de abrir mão de qualquer gesto de grandeza.
 
 
Expõe, também, de maneira definitiva as misérias do STF.
 
 
Aliás, Lula e o PT foram punidos pela absoluta desconsideração pelo maior órgão jurídico brasileiro. Só o desprezo pelo STF pode explicar a nomeação de magistrados do nível de Ayres Britto, Luiz Fux, Joaquim Barbosa e Dias Tofolli, somando-se aos inacreditáveis Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello, à fragilidade de Rosa Weber e Carmen Lucia e ao oportunismo de Celso de Mello.
 
 
O resultado final do julgamento foi o acirramento da radicalização, o primado da vingança sobre a justiça, a exposição do deslumbramento oportunista de Ministros sem respeito pelo cargo.
 
 
No plano político, sedimentam no PT a mística de Genoino e Dirceu.
 
 
Se deixam ou não o jogo político, não se sabe. Mas, com sua prisão, fecha-se um ciclo que levou um partido de base ao poder, institucionalizou um novo jogo político e, sem o radicalismo dos sonhadores sem compromissos, permitiu mudar a face social do país.
 
 
Não logrou criar um projeto de Nação, como pensava Dirceu. Mas deixou sua contribuição para a luta civilizatória nacional.
 
 
A democracia brasileira deve muito a ambos.