terça-feira, 28 de abril de 2020

Favela no Rio de Janeiro!!!! O que será dessas crianças?


 

EM ALERTA Desmonte de políticas públicas tende a agravar impacto da covid-19 no semiárido

EM ALERTA

Desmonte de políticas públicas tende a agravar impacto da covid-19 no semiárido

Por meio de carta, organizações pedem ações que garantam direitos fundamentais para a população da região

Brasil de Fato | Recife (PE) |
 
Aproximadamente 27 milhões de pessoas vivem no semiárido brasileiro, correspondendo a 12% da população nacional - Fátima Pereira
O semiárido brasileiro é uma região que ocupa cerca 12% do território nacional e abrange mais de 1.200 municípios. Aproximadamente 27 milhões de pessoas vivem na região, o que corresponde a 12% da população nacional, segundo o Ministério da Integração Nacional. A maior parte do semiárido situa-se no Nordeste do país, mas também se estende pelos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Dada a importância da região, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que reúne mais de 3 mil organizações, lançou  uma carta com propostas para que o poder público inicie de forma efetiva o combate à covid-19 no semiárido.
:: Carta assinada por 3 mil entidades lança propostas de combate à covid-19 no Semiárido ::

Alexandre pires, coordenador executivo da ASA Brasil, explica os principais pontos da carta. O primeiro é a necessidade de informação e de comunicação eficiente para que as pessoas saibam como evitar o contágio, de que forma elas podem proceder no caso da contaminação. O segundo ponto diz respeito à necessidade de retomada e de ampliação dos recursos do programa de cisternas. O terceiro ponto é a reafirmação da destinação de R$ 1 bilhão para o programa de aquisição de alimentos PAA, por meio do qual o Estado compra alimentos da agricultura familiar produzidos de forma agroecológica e sustentável. E o quarto ponto seria a necessidade de destinação de recursos e de infraestruturas de proteção à vida das mulheres.

De acordo com a ASA, o semiárido é um espaço com grande concentração de terra, da água e dos meios de comunicação, o que produz fortes desigualdades sociais. Nesse sentido, são muitos os desafios para a região diante da pandemia do coronavírus, como explica Cristina Nascimento, integrante da Coordenação da ASA no Ceará. "O impacto da pandemia tem uma questão econômica, social, política e cultural. Quando a gente pega um conjunto de famílias de comunidades num território que estava sendo descoberto por políticas públicas, aí a gente percebe que essa situação tende a se agravar", explica. 

Confira em vídeo a reportagem completa:

Edição: Monyse Ravena e Vivian Fernandes

"SINISTRO NA REAL" Subnotificação, falta de informação e condições precárias aumentam drama da covid-19 nas favelas do Rio

"SINISTRO NA REAL"

Subnotificação, falta de informação e condições precárias aumentam drama da covid-19 nas favelas do Rio

Casos e óbitos relacionados à pandemia nas cerca de 700 comunidades cariocas tendem a se agravar nas próximas semanas
Moradores de favelas do Rio – e toda a população pobre do país – precisam de ações de prevenção dos poderes públicos para enfrentar pandemia
Rio de Janeiro – O avanço da covid-19 para os bairros periféricos e comunidades carentes registrado nestas duas últimas semanas é encarado com muita preocupação nas favelas do Rio de Janeiro. Com o perigo crescente representado pela doença e diante da crônica ausência do poder público, diversas associações de moradores e entidades comunitárias se mobilizam para realizar ações de combate ao coronavírus e de conscientização da população sobre a necessidade de isolamento social. Na avaliação de quem vive nas comunidades, a informação é arma fundamental e o primeiro passo para jogar luz sobre o que de fato começa a acontecer nas favelas cariocas é combater a subnotificação.
subnotificação de casos e óbitos relacionados à covid-19 nas favelas é um problema que tende a se agravar nas próximas duas ou três semanas – período do pico de aceleração da doença, de acordo com a previsão de sanitaristas e epidemiologistas. Segundo o IBGE, cerca de 1,4 milhão de pessoas vivem nas favelas do Rio (22,5% da população carioca), mas o acompanhamento do número real de casos nesta faixa é feito de forma precária. O painel Data.Rio, que traz dados oficiais atualizados pelo Instituto Pereira Passos (IPP), órgão subordinado à Prefeitura, aponta que no domingo (26) chegou a 20 o número de pessoas que morreram em consequência do coronavírus nas comunidades cariocas.
Segundo o levantamento, a Rocinha lidera a lista oficial com seis óbitos, seguida por Vigário Geral (5 óbitos), Complexo da Maré (4), Cidade de Deus (3), Vidigal (1) e Complexo de Manguinhos (1). Também estão oficialmente confirmados pela Prefeitura 136 casos de covid-19 nas comunidades: Rocinha (54 casos), Vigário Geral (18), Cidade de Deus (17), Mangueira (15), Complexo da Maré (12), Complexo de Manguinhos (11), Vidigal (6), Complexo do Alemão (2) e Jacarezinho (1).
O problema é que estas são as únicas comunidades citadas de forma específica pelo Data.Rio. O mesmo não acontece com as outras favelas cariocas – são cerca de 700, estima-se – que têm seus casos de covid-19 diluídos nos números totais dos bairros onde estão localizadas. Além disso, detalhes como a impressionante relação entre casos e óbitos em Vigário Geral e na Cidade de Deus ou o baixo número de casos em comunidades populosas como Complexo do Alemão e Jacarezinho mostram que a subnotificação é uma realidade concreta: “Na comunidade eu tenho visto uma quantidade muito grande de gente doente”, diz a fisioterapeuta Mônica Albuquerque, do Instituto Momento e Vida, que oferece tratamento gratuito aos moradores do Complexo do Alemão.
Combinados, a falta de testes em massa nas comunidades carentes e o atendimento precário na rede pública de saúde revelam uma face dramática da subnotificação dos casos de covid-19: o aumento das mortes em casa. Dois casos assim aconteceram na última semana no Morro da Providência, comunidade localizada na zona central do Rio e não computada de maneira específica pelo painel do Data.Rio. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) recolheu até quarta-feira (22) no Rio 189 corpos de pessoas que morreram em casa. Não foi informado quantos óbitos teriam sido causados pelo coronavírus.
“A subnotificação acontece em decorrência da falta de testes e diagnósticos corretos. O número de óbitos causados pelo coronavírus é muito maior do que a imprensa vem apresentando porque a maioria dessas mortes está sendo registrada nos laudos como morte por causa indeterminada. É fundamental a compra de novos testes”, diz André Constantine, militante dos projetos Babilônia Utopia e Pare de Nos Matar.

“Na favela é outra coisa”

“Vivemos um dos momentos mais delicados no que diz respeito ao contágio. Mas, infelizmente, quarentena e isolamento na favela é outra coisa”, diz Álvaro Maciel, liderança histórica dos moradores das favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, localizadas na zona sul do Rio. Ele ressalta a dificuldade de se convencer as pessoas a aderirem ao isolamento social: “Estamos fazendo de tudo para mitigar o sofrimento da população, levando não só material ou cesta básica, mas, principalmente, informação e higienização”, diz.
A realidade habitacional e econômica dificulta a adesão ao isolamento social nas comunidades: “Na favela, é impossível guardar a quarentena nos moldes estipulados pelo Ministério da Saúde. As moradias são muito próximas umas das outras, com ventilação precária e extremamente quentes. A pessoa é estimulada a sair e ter a residência só como dormitório. A isso se acrescenta a questão econômica, pois é preciso sair de casa para conseguir o que comer”, diz o agente comunitário Jorge Nadais, que atua no Complexo de Manguinhos.
A dificuldade aumenta conforme a precariedade das moradias. Dirigente da associação de moradores da comunidade do Cavalão, na cidade de Niterói, Marcelle Pereira faz seu relato: “Na comunidade moram mais de mil famílias, e muitas delas com mais de 10 ou 15 pessoas em uma mesma casa. É gente que vive dificuldade alimentar e também dificuldade de higiene, pois não há sequer água corrente”.
Quanto mais pobre o morador, maior a dificuldade em ficar isolado: “É difícil conscientizar o povo da favela sobre a necessidade do isolamento social. Em muitos casos há enorme dificuldade das pessoas para ficar em suas moradias, a maioria delas de pau a pique e com água de poço que não é potável”, diz Marcelle.

Sanitização e conscientização

Em parceria com a associação de moradores do Morro Santa Marta, também localizado na zona sul da cidade, Álvaro Maciel e André Constantine comandaram uma operação de sanitização das comunidades com produtos e equipamentos comprados diretamente em São Paulo: “A operação de sanitização in loco teve um bom resultado. Espalhamos o líquido – um desinfetante à base de quaternário de amônio – que é bactericida, inseticida e fungicida em becos, ruas e vielas. Aquilo foi um alívio para a população”, conta Maciel.
Foram distribuídos nas comunidades 500 kits com água sanitária, sabonete, detergente, luvas e máscaras. Houve também a distribuição de cartilhas sobre como prevenir a doença e buscar ajuda se necessário, escritas com linguagem acessível aos moradores mais pobres: “Priorizamos não somente trabalhar a barriga do favelado, mas também a cabeça do favelado. As favelas ainda não atentaram para os riscos da covid-19”, diz Constantine.
A dupla agora trabalha na conformação de uma rede para levar a sanitização a outras favelas da cidade: “A favela se organiza de forma autônoma e forma redes. Mas, não adianta o trabalho de sanitização se a favela não entender e respeitar a importância do isolamento social”, completa Constantine.

Ausência do poder público

O militante do movimento de favelas lamenta a ausência do poder público na ajuda aos moradores, mas diz não se surpreender com isso: “Estamos ocupando o papel do Estado porque, infelizmente, nos territórios denominados como favela, às vezes, a única ação do Estado se dá através do seu braço armado, que é a Polícia Militar”, diz. Maciel acrescenta: “Não recebemos nenhum apoio do poder público. A Prefeitura não ajudou em nada. Procuramos a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana), que fez a promessa de pelo menos nos conseguir o produto desinfetante, mas isso não se concretizou”.
Constantine não poupa críticas também ao governo federal, ao presidente Jair Bolsonaro e as lideranças evangélicas: “Se parte das pessoas nas favelas não está obedecendo à quarentena e ao isolamento social, isso é em decorrência dos pronunciamentos desse presidente que criou um processo de desinformação da população. Por sua vez, as igrejas evangélicas pentecostais aderiram ao discurso do presidente e dizem nas favelas que a covid-19 não é tão grave assim”.
Por isso, um dos objetivos dos movimentos comunitários é propiciar aos moradores de favelas uma narrativa diferente da imposta pelos governantes e a grande mídia: “Na próxima semana compraremos os cabos e a antena para a implementação da nossa rádio comunitária na Babilônia. Entendemos que a informação neste momento é crucial para salvar vidas. Precisamos criar uma contranarrativa ao governo desse presidente miliciano, sociopata e genocida”, diz.

RISCO AUMENTADO Descaso de Bolsonaro com agricultura familiar pode comprometer alimentação saudável

RISCO AUMENTADO

Descaso de Bolsonaro com agricultura familiar pode comprometer alimentação saudável

Em tempos de pandemia pelo novo coronavírus, a qualidade da alimentação torna-se ainda mais importante, mas programa federal de segurança alimentar padece de falta de recursos
aenparaná
Compra direta de produtores familiares e a entrega de alimentos em estabelecimentos cadastrados, como faz o PAA, é o instrumento mais ágil para socorrer agricultores e pessoas em situação de vulnerabilidade durante a pandemia
São Paulo – Reconhecido internacionalmente pela eficácia no combate à fome, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) padece de falta de recursos no governo Jair Bolsonaro. Criado durante a administração Luiz Inácio Lula da Silva, o PAA foi pensado para evitar a fome em situações de crise prolongada, como a seca na região Nordeste. “O objetivo era evitar que as pessoas precisassem migrar por falta de alimentos, e foi um programa muito bem sucedido”, diz o ex-diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano.
A lógica agora é a mesma. Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, entre 2003 e 2004, Graziano cobra apoio para a agricultura familiar durante a pandemia do novo coronavírus. A qualidade da alimentação torna-se ainda mais crucial para a segurança alimentar do país, especialmente a da população mais vulnerável.
“Queremos fortalecer o PAA. O governo prometeu R$ 500 milhões, mas precisamos de mais. Precisamos de pelo menos R$ 1 bilhão. Está na hora de fortalecer o PAA e as organizações que pertencem à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)”, ressalta.
Destinado a viabilizar a compra direta de produtores familiares e a entrega de alimentos em estabelecimentos cadastrados de saúde, educação e assistência social, o PAA é apontado por especialistas em segurança alimentar como o instrumento mais ágil para socorrer agricultores e pessoas em situação de vulnerabilidade durante o período de calamidade pública.

Risco à saúde

Com a falta de recursos para o PAA a qualidade dos produtos consumidos pela população brasileira também ficará comprometida. Segundo Silvio Porto, ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o desmonte dos programas voltados para a agricultura familiar compromete diretamente a qualidade dos produtos oferecidos nas prateleiras, e, diante da covid-19, esse processo inevitavelmente se intensificará. 
Em entrevista ao site Brasil de Fato, Porto explica que sem as verbas que incentivam e auxiliam a produção agroecológica, os camponeses encontram entraves ainda maiores para comercializar a produção em meio à pandemia. 
“Teremos a redução da disponibilidade de alimentos frescos, sobretudo frutas, verduras e legumes. Os hortigranjeiros, de forma geral, esses sim, efetivamente, podem ter um processo de desabastecimento devido aos canais de comercialização que se rompem. Ao mesmo tempo, não são criadas novas alternativas no sentido de dar vazão [à produção]”, afirma.
Professor e pesquisador da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Porto alerta que a diminuição da oferta impactara o preço dos produtos e dificultará ainda mais o acesso aos alimentos considerados mais saudáveis. A população, em isolamento social, será levada a consumir produtos industrializados e ultra processados, disponibilizados pelas grandes empresas alimentícias. A maioria desses alimentos, explica o professor, são geradores de doenças. Doenças que enquadram a população no grupo de risco para o coronavírus, como diabetes e hipertensão, também são causadas por maus hábitos alimentares. 
“Teremos uma situação em que a população poderá garantir seu abastecimento, mas com produtos de péssima qualidade. Vamos estar desestruturando, sobretudo, canais de comercialização e de produção de alimentos mais saudáveis, oriundos da agricultura familiar e camponesa, que será, sem dúvida, a mais afetada”, critica o especialista, que foi diretor da Conab entre 2003 e 2013. O órgão, sob o governo Bolsonaro, anunciou o fechamento de 27 unidades de sua rede de armazéns, localizadas em regiões onde setor privado tem maior presença no mercado. “Isso também compromete o auxílio emergencial à populações carentes durante a pandemia.”  

Sem resposta

Apresentado há três semanas, o documento Comida Saudável para o Povo detalha medidas para a aplicação emergencial de R$ 1 bilhão no PAA, abrangendo 150 mil famílias do campo que, assim, poderão entregar 300 mil toneladas de alimentos nos próximos três meses.
Até agora, no entanto, o governo Bolsonaro ainda não respondeu às mais 770 organizações sociais, redes e movimentos que pedem aos ministérios da Cidadania e da Agricultura que adquiram a produção da agricultura familiar e destinem esses alimentos à população mais pobre nas cidades, por meio do PAA, durante o período que durar a pandemia.
 “Eu quero emprestar meu apoio à ANA e às centenas de entidades que subscrevem a petição ao governo federal para aumentar os recursos do PAA nesta pandemia que estamos vivendo”, completa o ex-ministro Graziano.
Sob responsabilidade dos ministérios da Cidadania e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o PAA tem previsão orçamentária de R$ 186 milhões ao longo de 2020. Mas R$ 66 milhões permanecem contingenciados pelo Ministério da Economia e, até o momento, nenhum recurso foi liberado.
Em 2012, ano em que foi desembolsado o maior volume de recursos pelo programa, foram operacionalizados cerca de R$ 850 milhões, beneficiando aproximadamente 185 mil famílias agricultoras, que forneceram 297 mil toneladas de alimentos, com 380 itens diferentes. Naquele ano, o programa envolveu a participação de mais de 24 mil organizações socioassistenciais.

*Com informações da ANA e do Brasil de Fato

ARQUITETURA DO ÓDIO Especialista explica o funcionamento das redes bolsonaristas de ‘fake news’


ARQUITETURA DO ÓDIO

Especialista explica o funcionamento das redes bolsonaristas de ‘fake news’

O professor Rodrigo Ratier pesquisa o mecanismo que faz que, em pouco tempo, reputações inteiras sejam “queimadas” ou construídas do nada, fazendo vilões virarem heróis e vice-versa
reprodução/paulo emílio
Discursos de Bolsonaro que podem parecer sem sentido, alimentam diferentes narrativas de disseminadores de ódio nas redes, todas ao mesmo tempo
São Paulo – Entidades da sociedade civil e do poder público estão mobilizadas para combater a ampla propagação de fake news, desinformação e discursos difamatórios que tem tomado as redes sociais do Brasil – e do mundo – desde o início do processo eleitoral de 2018, que levou Jair Bolsonaro (sem partido) a vencer a disputa pela Presidência da República. Investigações formais caminham no Congresso, por meio da CPMI das Fake News, e também na Polícia Federal. No ambiente acadêmico, pesquisadores de diversas áreas também movem esforços para entender o fenômeno.
Recentes conclusões de investigações pela CPMI e a Polícia Federal indicaram ligação direta a alta cúpula bolsonarista no Planalto com uma ampla rede de desinformação. Um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, foi identificado como articulador de um grande esquema criminoso de criação e propagação fake news e difamação.
Apesar de ser vereador pelo Rio de Janeiro, O Zero Três, como é chamado pelo pai, tem presença cativa ao lado do gabinete presidencial, e pode estar por trás da estrutura que ficou conhecida como “gabinete do ódio”. Na verdade, a partir de investigações e depoimentos na CPMI, outro filho do presidente, o deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro também aparece como articulador da rede.
A aproximação da investigação da Polícia Federal do esquema criminoso supostamente executado por filhos do presidente, pode ter sido o grande estopim para a maior crise política do governo até então . – que levou à demissão do agora ex-ministro Sergio Moro do ministério da Justiça e Segurança; Com seus filhos ameaçados, Bolsonaro teria resolvido trocar o diretor da Polícia Federal, “removendo” Maurício Valeixo por um amigo da família, Alexandre Ramagem, em clara afronta à independência das instituições.
Possível estrutura de rede de fake news e difamações. Material apresentado durante audiência da CPMI das Fake News pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP)

A história do submundo

Para ampliar a compreensão de como funcionam as redes bolsonaristas de difamação e propagação de fake news, a RBA conversou com o pesquisador Rodrigo Ratier, jornalista com mestrado e doutorado na área de mídia e educação. Hoje, além de ser colunista do portal UOL, ele desenvolve pesquisa na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, sobre fake news entre apoiadores do presidente no WhatsApp.
Ratier encontrou, em duas frentes diferentes de sua pesquisa, alguns resultados importantes. “Primeiro, que existe uma cadeia de convites intragrupos. Eles se referenciam, colocam até gente à revelia em grupos públicos de WhatsApp, algo possível apenas com o número de telefone. Aparentemente, eles trabalham com cadastros de telefones obtidos por meios escusos”, disse, o que já foi confirmado pela CPMI das Fake News.
“O segundo é que ficou bem claro que pouca gente escreve. A maioria das pessoas nestes grupos estão totalmente caladas. Por exemplo, em uma semana aleatória, metade das postagens foram feitas por menos de 2% dos usuários. Existem indícios claros de que há uma centralização na produção das peças”, completou.
Ratier afirma que os administradores de grandes grupos públicos atuam de forma coordenada, algo também já apontado na CPMI das Fake News, ligando essa articulação ao famigerado “gabinete do ódio”, tocado pelos filhos do presidente e também por deputados da base bolsonarista.
Ratier também descreve o teor dessas postagens compartilhadas em massa, em que se destacam conteúdos ditos noticiosos, sem nenhuma comprovação de fonte, com manchetes “explosivas” e apontando para sites (quem em geral são blogues) igualmente obscuros, em que as “matérias”, nem sequer são assinadas. “Sempre materiais de baixíssima qualidade, apontando para sites de baixíssima qualidade, (que incluem) perfis de parlamentares bolsonaristas, enfim (…) Em geral é um submundo. A história desse submundo é a de um grupo central, sem medo e sem moral, que produz as peças mais absurdas”, disse.

Exército do ódio

A centralidade de um núcleo de produção dos conteúdos ainda fica evidente na ausência de debate, de crítica, e de muitos conteúdos encaminhados entre si.
“Tem gente produzindo linhas narrativas e as principais peças. Veja: 75% das mensagens, em uma medição que fiz em 10 grupos por 24 horas em um dia aleatório de fevereiro, eram copiadas ou encaminhadas . E a maioria dos conteúdos são bastante repetidos e heterogêneos. De 1.302 mensagens, apenas uma continha uma crítica”, disse.
Então, tais grupos, conclui o pesquisador, funcionam como “meio de propaganda de massa do bolsonarismo”. “O WhatsApp é o lugar das peças mais radicais. É o lugar do politicamente incorreto, sem freio. A criptografia faz com que exista muita dificuldade de entender o que circula. São peças muito pesadas. As menos pesadas acabam ganhando o debate público, seja por deputados bolsonaristas, seja Twitter, Facebook”, completa.

De herói a alvo

A ruptura de uma das grandes bases políticas do bolsonarismo, o lava-jatismo, que tem em Moro seu “herói”, também foi alvo de análise de Ratier, que pesquisa redes bolsonaristas e fake news mesmo antes das eleições de 2018 – chegou a acompanhar 50 grupos simultaneamente. Muitos dos grupos bolsonaristas tinham nomes em referência ao ex-ministro. “Eu apoio a Lava Jato”, “Todos com Sergio Moro”, entre outros títulos. No dia da queda de Moro, sexta (24), em que ele fez denúncias contra Bolsonaro, houve um ruído, que é como comunicadores se referem a qualquer fenômeno que reduza a eficiência da comunicação.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas revelou que, naquele dia, sexta-feira (24), o repúdio ao Bolsonaro alcançou 70% das postagens no Twitter. Entretanto, no WhatsApp, esse efeito foi “resolvido” logo após o pronunciamento do presidente sobre o tema, feito poucas horas depois. A nova narrativa bolsonarista foi reorganizada para atacar Moro. De herói a alvo.
“Esse discurso abilolado do Bolsonaro em resposta ao Moro, para nós, parece não fazer sentido, mas ele acena para vários grupos e gera ‘micropeças’. Fala da facada, que o Moro foi omisso, outra peça fala da falta de lealdade, que o Bolsonaro defendeu o Moro e não o contrário, assim por diante. Existe uma retroalimentação. Os grupos bolsonaristas esperam o discurso do Bolsonaro. Isso é muito evidente. A partir daí surgem peças bastante agressivas tanto em texto quanto em informação visual”, explica Ratier.
Então, o desgaste do presidente foi muito mais sensível na esfera pública tradicional, na grande imprensa, e menos no submundo das fake news e da difamação. “É um submundo pesado, meio deep web, ao mesmo tempo que ele é um aplicativo que as pessoas utilizam no dia a dia.”
“Transformaram a interferência que o Moro denunciou em troca técnica de uma peça, para que as pessoas não abandonassem um presidente (na visão de seus apoiadores) ‘lutando contra o sistema’. O desgaste aconteceu na sexta com menos de 10% de pessoas que saíram dos grupos. Mas muitas mais já foram adicionadas, à revelia até. A maioria sai, mas alguns ficam recebendo mensagens e repassando para família e amigos. Os grupos voltaram à programação normal de difamação dos inimigos”, completa o pesquisador.
No dia da saída de Sergio Moro, discurso bolsonarista perdeu força nas redes sociais. Rapidamente o cenário foi revertido

Saídas

Além das investigações formais para tentar desmantelar o esquema criminoso da propaganda bolsonarista, o WhatsApp também poderia tomar medidas mais duras neste sentido, defende o pesquisador. Ele avalia que fake news e campanhas de difamação, contra as quais o aplicativo reage, mas não toma efetivas medidas para barrar, minam democracias e confundem, desinformam, os cidadãos. Ratier pensa algumas ações possíveis que a empresa, comandada pelo grupo Facebook, poderia adotar.
“O WhatsApp já tomou várias atitudes contra isso. Em 2018, com o Brexit, com uma onda de linchamentos na Índia, reduziram os encaminhamentos. Você podia encaminhar para 250 destinatários e reduziram para 20. Nas eleições no Brasil, reduziram para cinco. E também teve a sinalização da mensagem encaminhada. Na minha avaliação as medidas são tímidas. Entendo que se tomarem medidas mais duras, as pessoas vão migrar para outros aplicativos. Mas talvez não muito, porque o sistema está tão consolidado que eu acho que o correto seria extinguir grupos públicos”, disse.
Outro caminho seria reduzir o número de pessoas que podem participar destes grupos públicos. “Só administradores devem poder convidar (e regras deveriam ser criadas para regular a expansão dos grupos).”
“A segunda coisa”, completa: “hoje, você é inserido em um grupo. Deveria ter uma etapa falando que tal pessoa está tentando te adicionar em um grupo tal, se você aceita ou não. Por que não reduzir o número de participantes em grupos públicos? Hoje são até 256, por que não passar para abaixo de 110, por exemplo? Não são medidas que vão impedir uma estrutura em rede, mas vão diminuir o alcance, vão tornar a coisa mais trabalhosa, vão exigir gente de carne e osso operando”, completou.

ALIMENTAÇÃO NA QUARENTENA

ALIMENTAÇÃO NA QUARENTENA

O sol da vida: a força da vitamina que vem da luz dos dias e germina os alimentos

A pandemia vai passar, mas as lições aprendidas com ela ficarão. Aproveite para compreender os ensinamentos que chegam até você à luz do sol
Divulgação | Arte/RBA
Meu pai foi diagnosticado com sintomas similares ao da covid-19, em Belém, onde nasci e mora a minha família. Como milhares de brasileiros, não sabemos se é ou não é, porque não há teste disponível. Uma amiga pulou esta fogueira no começo do mês. Perguntei qual a orientação de tratamento que recebeu no Rio de Janeiro. A médica dela enfatizou valorizar a vitamina D na dieta. Fui estudar um pouquinho virtualmente e ao que tudo indica ainda não há evidências científicas suficientes para garantir ou afastar totalmente o papel da vitamina D na imunidade e no combate ao coronavírus. Muitos estudos estão em curso desde o início da pandemia buscando esta resposta. 
De qualquer forma, queria saber mais sobre a vitamina D. Já sabia que é obtida pela exposição solar, mas queria saber se a posição do sol influenciava, tempo mínimo de exposição e se era possível obtê-la através da alimentação. Bom, é possível, mas é estritamente advinda de proteína animal. O que não consumimos por aqui há 11 anos. 

Vamos de sol como alimento!

De acordo com o site Nutriveg, que é assinado pelo nutricionista George Guimarães, especializado em alimentação vegetariana, para pessoas de pele clara, a exposição diária necessária é de 20 minutos, de mãos e rosto – o suficiente para realizar a síntese da vitamina D em quantidade adequada. Para peles mais escuras, que segundo ele são mais resistentes à radiação solar, recomenda-se até uma hora de exposição diária para que se produza o estímulo desejado.
O horário de exposição deve ser observado independentemente do tom de pele. Para o especialista, quanto mais distante do meio-dia, melhor, para evitar queimaduras e/ou o desenvolvimento de um câncer de pele, por exemplo.
“Apesar de ser muito recomendável que se evite a exposição ao sol quando ele está mais alto no céu, deve-se considerar que para produzir um estímulo eficiente, o sol não pode estar abaixo dos 40 graus da linha do horizonte, altura na qual seus raios são bloqueados pela atmosfera de maneira significativa”, explica, em artigo publicado em seu site.
Uma dica do nutricionista para saber se o sol está alto o suficiente para proporcionar a síntese da vitamina D é observar o tamanho da sua sombra: a sombra do seu corpo estará mais curta do que a sua própria altura.

Luz, quero luz!

Na alimentação biogênica, que prioriza a ingestão de alimentos germinados como fonte de vitalidade para todos os nossos corpos, o sol energiza e desidrata sementes e preparos, como o pão. 
Em uma passagem do livro O Evangelho Essênio da Paz – do linguista húngaro Edmond Bordeaux Szekely –, Jesus aparece ensinando a fazer um pão cru e vivo. Olha que modo mais poético de passar uma receita:
“Deixai que os anjos de Deus vos preparem o pão. Umedecei o vosso trigo, para que o anjo da água penetre nele. Ponde-o então no ar, para que o anjo do ar o abrace. E deixai-o da manhã à noite debaixo do sol, para que o anjo da luz solar desça sobre ele. E a benção dos três não tardará a fazer o germe da vida brotar no vosso trigo.
Em seguida, moei o vosso grão e fazei obréias finas, como faziam os vossos antepassados quando partiram do Egito, a casa da servidão. Tornai a pô-las debaixo do sol quando ele aparece e, quando ele tiver subido ao ponto mais alto dos céus, virai-as do outro lado, para que elas sejam abraçadas ali também pelo banho da luz solar, e deixai-as onde estão até que o sol se ponha.
Pois os anjos do ar, da água e da luz solar alimentaram e amadureceram o trigo do campo e, da mesma forma, precisam preparar também o vosso pão. E o mesmo sol que fez o trigo crescer e maturar com o fogo da vida, precisa cozer o pão com o mesmo fogo. Pois o fogo do sol dá vida ao trigo, ao pão e ao corpo.” 

Receitinha

Fiz essa receitinha este mês como uma meditação: em silêncio, pensamentos quietos e pensando na sabedoria tão antiga de misturar os alimentos para nutrir o corpo com o máximo respeito. Que força foi misturar o trigo germinado, água e sal! Simples assim como há mais de 2 mil anos. Se quiser experimentar em casa:
  • Compre trigo em grãos (orgânicos, de preferência) e coloque 1 ou 2 punhados dentro de um recipiente;
  • Cubra os grãos com água e, com um pano de algodão, tampe a boca do recipiente;
  • Aguarde 8 horas a 12 horas, então escorra a água e coloque-o em uma peneira de forma que fique meio suspensa (apoiada em um escorredor de macarrão, por exemplo, para que o ar circule); 
  • Aguarde cerca de um dia: vão começar a sair uns narizinhos das sementes. Elas estão supervivas e deliciosas! Prove algumas, mas deixe outras para passa mais 24 horas secando;
  • Moa as sementes em um moedor de café ou no processador;
  • com as mãos, misture água e sal (a gosto, mas não exagere) aos poucos e mexa bem. Aperte. Sove de leve para que o glúten seja ativado; 
  • Quando estiver moldável, achate-a como a uma massa de pizza; 
  • Coloque ao sol de 8 horas a 12 horas. Verifica uma ou duas vezes. A alimentação viva nos ensina a fazer o que nos propomos com presença;
  • Vire o outro lado e deixe secar também.

Tempo das coisas

Lendo assim parece que vai demorar uma eternidade. Essa é outra lição de quem germina seus alimentos: aprendemos a respeitar o tempo das coisas, o tempo dos ciclos. Aprendemos que as fases passam, que a hora certa chega.
Como essa pandemia. Ela também vai passar. Mas as lições aprendidas com ela ficarão. Aproveite para compreender os ensinamentos que estão chegando até você à luz do sol. 
Nesta quarta-feira (29), às 16h, estarei ao vivo no Instagram da Clínica Nakanuy compartilhando o humilde conhecimento que tenho sobre germinação. Vamos focar na receita desse pão e de uma pastinha para comer com ele. Aguardo vocês!

alimentação viva
Úrsula Ferro é jornalista de formação e cozinheira de coração. Em 2018, decidiu deixar o jornalismo um pouquinho de lado para passar um mês entre aldeias acreanas, fazendo dietas espirituais e aprendendo sobre a culinária nativa. Quando voltou dessa jornada, começou a se dedicar exclusivamente à Ayá Comidas Veganas.