terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SUPERSALÁRIO DE PROCURADOR PODE CHEGAR A R$ 120 MIL POR MÊS

SUPERSALÁRIO DE PROCURADOR PODE CHEGAR A R$ 120 MIL POR MÊS

A incorporação de indenizações — como auxílio moradia alimentação e ajuda de custo— podem até quadruplicar o salário mensal de um procurador do Ministério Público Federal. Em alguns meses, essa combinação fez com que procuradores chegassem a receber "supersalários" de R$ 121 mil, dos quais R$ 96 mil em indenizações. A cifra já desconsidera os descontos previstos em lei, como Imposto de Renda e contribuição previdenciária. Essas compensações, que não estão sujeitas ao teto salarial do funcionalismo público, representam 30,4% do gasto com folha dos servidores ativos do Ministério Público Federal.

As informações são do Valor.

"Em outubro, por exemplo, os 1081 procuradores e subprocuradores federais na folha de pagamento do Ministério Público receberam, ao todo, R$ 31,6 milhões, já considerando os descontos obrigatórios. As indenizações e outras remunerações foram de R$ 13 milhões no mês, o que representou 41,1% da remuneração líquida recebida por esses servidores no período.

Por causa das indenizações, entre 10% e 20% dos procuradores ganham, todos os meses, mais do que o teto constitucional, dado pelo salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de R$ 33,7 mil. O Valor identificou que alguns procuradores chegam a ganhar mais de R$ 120 mil em um único mês, embora o salário bruto da categoria seja, em média, de R$ 28 mil.

Esse cenário só é possível por causa das indenizações, que têm sido usadas como alternativa nas negociações salariais para furar o teto remuneratório do funcionalismo público. Por e-mail, a assessoria de imprensa afirmou que as parcelas pagas aos membros e servidores do Ministério Público Federal em caráter indenizatório não estão sujeitas à retenção do teto constitucional, de acordo com resolução de 2006 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Além de auxílio-natalidade, alimentação, mudança, abono pecuniário, auxílio pré-escolar e conversão de licença-prêmio em pecúnia, recentemente os procuradores passaram a receber também R$ 4.377,00 de auxílio-moradia, concessão regulamentada pelo CNMP depois que o ministro do STF, Luiz Fux, estendeu o benefício para todos aqueles que moram em cidades sem apartamento funcional disponível. Diárias e passagens também entram nessa conta.

A regra também vale para o Judiciário, com anuência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o que faz que a situação se repita entre os magistrados. De acordo com levantamento do professor Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas (FGV), boa parte dos desembargadores também ganha acima do teto constitucional em São Paulo, Minas e Rio, por exemplo."


A DEGRADAÇÃO DO JUDICIÁRIO

A degradação do Judiciário
É certo que, ao compactuar com o golpe de 1964 e, assim, com a ditadura militar que durante mais de duas décadas assolou o Brasil, o Judiciário perdeu a identificação que parecia ter com o Estado de direito. Mas, ainda assim, especialmente depois do fim da ditadura, permanecia uma aura de respeitabilidade com o Judiciário brasileiro, uma expectativa de que fosse o guardião da Constituição democrática, dos direitos das pessoas, da democracia.

Junto com a perda da continuidade do processo democrático, o Brasil perdeu também, com o golpe de 2016, o respeito pelo Judiciário, a começar pela sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal. O mínimo que se pode dizer é que, diante da mais grave decisão tomada pelo Congresso brasileiro, a do impeachment, com versões polêmicas sobre os seus fundamentos, o Supremo Tribunal Federal assistiu tudo como se não tivesse nada a ver com ele. Como se não tivesse a responsabilidade de zelar pela Constituição, decidindo sobre se houve ou não crime de responsabilidade. Se não serve para isso, para que serve o Supremo Tribunal Federal?

Pior ainda. O silêncio foi acompanhado da vergonhosa negociação do aumento de 41% para o Judiciário. A Folha de São Paulo noticiou que, nos intervalos das gravíssimas sessões do Senado, que tomava a mais grave decisão da sua história, a do impeachment, o então presidente do Supremo Tribunal Federal fazia lobby a favor daquele aumento com os senadores, sem pudor, num troca-troca explícito. Buscava aumentar ainda mais os salários inconstitucionais de marajás que eles tinham recebido das mãos de Eduardo Cunha, em pleno processo de impeachment na Câmara de Deputados. Personagem poupado pelo Supremo Tribunal Federal até que ele tivesse feito o trabalho sujo de promover o impeachment da Dilma na Câmara.
Depois, uma vez aprovada a infundada decisão do impeachment pelo Congresso, o Supremo Tribunal Federal não se pronunciou sobre a sua constitucionalidade, questionada por tantos advogados. Seu papel, minimamente, de zelador da Constituição, seria o de abrir esse texto e definir se houve ou não crime de responsabilidade. Poderia até concordar com a decisão do Congresso, mas o que não poderia fazer, era ficar calado, deixando, com o seu silêncio cúmplice, que se terminasse com o mandato de uma presidente recém-reeleita pelo voto popular, sem nenhum fundamento que justificasse esse ato de violência contra a democracia.

Mas o fez e, com seu silêncio, sacramentou sua responsabilidade com a ruptura da democracia no Brasil, da qual deveria ser o zelador. Porém, mais do que isso, demonstrando que não se trata de um episódio fortuito, o Supremo Tribunal Federal participa ativamente do projeto do golpe. Impediu que Lula, sem ser réu em qualquer processo, assumisse um cargo no governo de Dilma, mas permite que 15 ministros do governo Temer façam isso.

Aceita que a escandalosa parcialidade de Moro e dos seus comparsas, na ação unilateral contra  Lula, seja considerada "imparcial", permitindo que ele monte os processos contra Lula, façam as acusações, julgue e provavelmente condene o ex-presidente. O Supremo Tribunal Federal aceita silenciosamente as monstruosidades cometidas contra Lula, o único líder popular no Brasil, demonstrando que deseja romper qualquer traço de legitimidade do sistema político brasileiro, compactuando com sua exclusão.

Um Supremo Tribunal Federal como esse tornou-se uma vergonha para a democracia brasileira. Desonra a função que deveria ter de guardião da Constituição, violada semanalmente pelo governo golpista e por seu Congresso corrupto. Degrada a função do Judiciário. Provoca a necessidade de que a restauração democrática promova a reforma profunda do Judiciário brasileiro, sob o risco de impedir que a democracia volte a reinar no Brasil, através da decisão soberana do povo.


2016: o ano em que se tentou matar a esperança do povo brasileiro

27/12/2016 13:24 - Copyleft

2016: o ano em que se tentou matar a esperança do povo brasileiro

Os que mudaram ilegitimamente os rumos do país, impondo um ultraliberalismo, estão assassinando a esperança do povo brasileiro. Artigo de Leonardo Boff.


Leonardo Boff
Agência Brasil
A situação social, política e econômica do Brasil mereceria uma reflexão severa sobre a tentativa perversa de matar a esperança do povo brasileiro, promovida por uma corja (esse é o nome) de políticos, em sua grande maioria corruptos ou acusados de tal, que, de forma desavergonhada, se pôs a serviço dos verdadeiros forjadores do golpe perpretado contra a Presidenta Diloma Rousseff: a velha oligarquia do dinheiro e do privilégio que jamais aceitou que alguém do  andar de baixo chegasse a ser Presidente do Brasil e fizesse a inclusão social de milhões dos filhos e filhas da pobreza.
 
Obviamente há politicos valorosos e éticos, bem como  empresários da nova geração, progressitas que pensam no Brasil e em seu povo. Mas estes não conseguiram ainda acumular força suficiente para dar outro rumo à politica e um sentido social ao Estado vigente, de cariz neoliberal e patrimonialista.
 
Ao se referir à corrupção todos pensam logo no Lava Jato e na Petrobrás. Mas esquecem ou lhes é negada, intencionalmente pela mídia conservadora e legitimadora do establishment, a outra corrupção, muito pior, revelada exatamente no dia de Natal que junto com o nascimento de Cristo se narra a matança de meninos inocentes pelo rei Herodes, hoje atualizado pelos corruptos que delapidam o país.
 
Wagner Rosário, secretário do Ministério da Transparência, nos revela que nos últimos treze anos esquemas de corrupção, de fraudes e desvios de recursos da União, repassados aos Estados, municípios e ONGs e direcionados a pequenos municípios com baixo Indice de Desenvolvimento Humano podem superar um milhão de vezes o rombo na Petrobrás descoberto na Lava Jato. São 4 bilhões mas camuflados que podem se transformar, num estudo econométrico, em um trilhão de reais. As áreas mais afetadas são a saúde (merenda) e a educação (abandono das escolas).





 
Diz o Secretário: “A gente chama isso de assassinato da esperança. Quando você retira merenda de uma criança, você tira a possibilidade de crescimento daquele município a médio e a longo prazo. É uma geração inteira que você está matando”.
 
A nação precisa saber desta matança e não se deixar mentir por aqueles que ocultam, controlam e distorcem as informações  porque são anti-sistêmicas.
 
Mas não se pode viver só de desgraças que macularam grande parte do ano de 2016. Voltemo-nos para aquilo que nos permite viver e sonhar: a esperança.
 
Para entender a esperança precisamos  ultrapassar o modo comum de vermos a realidade. Pensamos que a realidade é o que está aí, dado e feito. Esquecemos que o dado é sempre feito e não é todo o real. O real é maior. Pertence ao real também o potencial, o que ainda não é e que pode vir a ser. Esse lado potencial se expressa pela utopia, pelos sonhos, pelas projeções de um mundo melhor. É o campo onde floresce a esperança. Ter esperança é crer que esse potencial pode se transformar em real, não automaticamente, mas pela prática humana. Portanto, a utopia que alimenta a esperança não se antagoniza com a realidade. Ela revela seu lado potencial, o abscôndito que quer vir para fora e fazer história.
         
Faço meu o lema do grande cientista e físico quântico Carl Friedrich von Weizsäcker, cuja sociedade fundada por ele me honrou em final de novembro em Berlim com um prêmio pelo intento de unir o grito da Terra com o grito do pobre:”não anuncio otimismo, mas esperança”.
         
Esperança é um bem escasso hoje no mundo inteiro e especialmente no Brasil. Os que mudaram ilegitimamente os rumos do país, impondo um ultraliberalismo, estão assassinando a esperança do povo brasileiro. As medidas tomadas penalizam principalmente as grandes maiorias que veem as conquistas sociais históricas sendo literalmente desmontadas.
         
Aqui nos socorre o filósofo alemão (Ernst Bloch) que introduziu  o “princípio esperança”. Esta, a esperança, é mais que uma virtude entre outras. É um motor que temos dentro de nós que alimenta todas as demais virtudes e que nos lança para frente, suscitando novos sonhos de uma sociedade melhor.
        
Esta esperança vai fornecer as energias para a população afetada poder resisitir, sair às ruas, protestar e exigir mudanças que façam bem ao país, a começar pelos que mais precisam.
         
Como a maioria é cristã valem as palavras do sábio Riobaldo de Guimarães Rosa:”Com Deus existindo, tudo dá esperança, o mundo se resolve…Tendo Deus é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim, dá certo. Mas se não tem Deus, então, a gente não tem licença para coisa nenhuma”.
         
Ter fé  é ter saudades de Deus. Ter esperança é saber que Ele está ao nosso lado, ainda que invisível, fazendo-nos esperar contra toda a esperança.
 
Leonardo Boff é articulista do JB online e escreveu Teologia da libertação e do cativeiro, Vozes  2014.


Créditos da foto: Agência Brasil

Vídeo viral mostra a realidade do que é ser negro nos EUA

26/12/2016 16:31 - Copyleft

Vídeo viral mostra a realidade do que é ser negro nos EUA

"Se uma mãe branca tivesse chamado a polícia, eu garanto que o policial não teria ignorado o suspeito e prendido a mãe violentamente."


Lauren McCauley, Common Dreams
Porsha Craver/ Facebook
Salientando o poder da tecnologia em dar luz à injustiça, um policial do Texas que foi pego em um vídeo de celular prendendo violentamente uma mãe negra e suas filhas adolescentes está agora sob investigação depois de milhões terem assistido o encontro impressionante e terem mostrado indignação nas redes sociais e nas ruas.

A residente de Fort Worth, Jacqueline Craig, chamou o Departamento de Polícia de Fort Worth (FWPD), na quarta-feira, depois de um vizinho ter supostamente atacado seu filho por ter jogado lixo no chão. Parentes disseram que o homem branco mais velho “pegou a criança pelo pescoço em uma tentativa de fazê-lo pegar o lixo do chão”, reportou o Fort Worth Star.

O vídeo, visto no Facebook por 2.4 milhões de pessoas até a sexta-feira, mostra o policial atendendo ao chamado e questionando Craig.

“Porque você não ensina seu filho a não jogar lixo no chão?” perguntou o policial.






“Ele não pode me provar que meu filho jogou lixo no chão,” respondeu Craig. “Mas não importa se ele fez ou não. Não dá direito a esse homem de colocar as mãos nele.”

“Porque não?” questionou o policial.
Veja o vídeo: https://goo.gl/PP0sl2

Enquanto a filha de 15 anos de Craig ia em direção à mãe para controlar a situação, o policial agarrou as duas e lutou com elas no chão enquanto as ameaçava com um taser. A outra filha de Craig gravou toda a interação antes de também ser presa.

“Não é uma situação na qual alguém usou uma ofensa racial, mas o racismo está 100% presente”, disse Lee Merritt, advogado representando a família, durante uma coletiva de imprensa na quinta-feira. “Se uma mãe branca tivesse chamado a polícia, eu garanto que o policial não teria ignorado o suspeito e prendido a mãe”.

Merritt disse que Craig e sua filha de 19 anos, Brea Hymon, foram presas e “acusadas de má conduta 1) resistência 2) interferência 3) falha em se identificar”. Foram liberadas na quinta-feira com fiança. A filha de 15 anos foi liberada da detenção juvenil na quarta-feira.

E além disso tudo, noto Merritt, a FWPD “nunca registrou a violência original ao filho de Craig”.

Pedindo que o policial seja imediatamente demitido, manifestantes se reuniram do lado de fora do Tribunal de Tarrant County na quinta-feira à noite. Na mesma hora, mensagens de indignação continuavam a inundar as redes sociais com a hashtag #ThouShallNotLitter.

Em uma declaração na quinta-feira, a FWPD disse que a Unidade de Assuntos Cibernéticos começou a revisar o incidente depois de o Departamento ter recebido informações sobre o vídeo. “O policial envolvido foi colocado em status de atividade temporária pelo Chefe de Polícia esperando o resultado da investigação interna”, lê a declaração.

Respondendo ao incidente, Terri Burke, diretor executivo da ACLU do Texas, disse que o policial “ignorou os padrões de policiamento comunitário básicos e sua própria responsabilidade de controlar a situação”.

“Esse incidente e muitos outros mostram que, para as pessoas de cor, mostrar qualquer coisa que não seja completa reverência aos policiais – independente da situação – pode ter consequências injustas e trágicas”, disse Burke. “Essa injustiça fundamental também é uma ameaça à segurança pública. Se uma mulher negra em Fort Worth não pode chamar a polícia depois de seu filho ser supostamente enforcado por um vizinho sem ser preso, porque ela chamaria a polícia novamente?”

O colunista do New York Daily News, Shaun King , observou que a injustiça exposta no vídeo é, infelizmente, a “realidade do que é ser negro nos EUA”.

“Claramente, os negros já sabem que algo simples como isso nunca é simples com a polícia do nosso país”, ele escreveu. “É ótimo que isso tenha sido filmado, porque o que aconteceu e o que o policial racista disse, não teria sido levado a sério se não tivesse sido filmado”.


Créditos da foto: Porsha Craver/ Facebook

26/12/2016 - Clipping Internacional

26/12/2016 10:31 - Copyleft

26/12/2016 - Clipping Internacional

Israel quer restringir atividade de redes sociais e Internet no país. Governo aprovou projeto possam censurar conteúdos considerados ameaçadores.


Carta Maior
BRASIL
 
Publico, Portugal
Nove em cada dez brasileiros atribuem o seu sucesso financeiro a Deus. Entre os inquiridos estão ateus e também licenciados. A Igreja Católica está a perder terreno no Brasil.
https://www.publico.pt/2016/12/25/mundo/noticia/nove-em-cada-dez-brasileiros-atribuem-seu-sucesso-financeiro-a-deus-1756057
 
Diário de Notícias, Portugal





"Somos sugados pela distante, insensível e fria Brasília". Rebello diz que paulistas têm orgulho na herança portuguesa. Entrevista a Flávio Rebello, presidente do São Paulo Livre e da Aliança Nacional
http://www.dn.pt/mundo/interior/somos-sugados-pela-distante-insensivel-e-fria-brasilia-5571431.html
 
The New York Times, EUA
Quase em ruínas, a Igreja em que a sabedoria sonhou com um Brasil moderno. A Igreja Positivista do Brasil, fundada por livre pensadores da Religião da Humanidade, é outro exemplo do Rio de Janeiro permitir que sua história e sua grandeza se degradem. Por Simon Romero.
http://www.nytimes.com/2016/12/25/world/americas/nearly-in-ruins-the-church-where-sages-dreamed-of-a-modern-brazil.html?ref=americas&_r=0
 
El Espectador, Colômbia
Da série “O mundo em 2016”. A queda estrepitosa de Dilma Rousseff em 2016. A mandatária brasileira foi tirada do cargo por um processo de 8 meses em que o Brasil se dividiu e a classe política demonstrou-se dividida por interesses.
http://www.elespectador.com/noticias/elmundo/caida-estrepitosa-de-dilma-rousseff-2016-articulo-671816
 
El Telégrafo, Equador
Inaugurada em Cuba a primeira fábrica de computadores e tablets.
http://www.eltelegrafo.com.ec/noticias/mundo/9/inauguran-en-cuba-la-primera-fabrica-de-computadoras-y-tablets
 
MUNDO 
 
The Guardian, Inglaterra
Causas progressistas vêm crescimento “sem precedentes” nas doações após as eleições norte-americanas. Organizações não lucrativas como “Parentesco planejado” e ACLU – American Civil Liberty Union - viram sua arrecadação de fundos de fim de ano crescer, principalmente sob a forma de doações ao invés de presentes.
https://www.theguardian.com/us-news/2016/dec/25/progressive-donations-us-election-planned-parenthood-aclu
 
Diário de Notícias, Portugal
Israel quer restringir atividade de redes sociais e Internet no país. Governo israelita aprovou projeto de lei para que os tribunais possam censurar conteúdos considerados ameaçadores
http://www.dn.pt/mundo/interior/israel-quer-restringir-atividade-de-redes-sociais-e-internet-no-pais-5571470.html
 
Pagina 12, Argentina
Rocco Sciarrone, sociólogo e professor da Universidade de Turin, fala sobre corrupção na Itália: “A corrupção, um fenômeno sistêmico”. Coordenador de recente pesquisa, Sciarrone afirma que a corrupção é um fenômeno sistêmico e descentralizado na Itália. E ela mudou o papel da política. “As regiões passaram a gerir setores importantes como a saúde pública.”
https://www.pagina12.com.ar/10755-la-corrupcion-un-fenomeno-sistematico
 
Os Macri em busca do paraíso. Denúncia sobre uma conta bancária em New York de Maurício Macri e sobre esconderijos fiscais. O deputado Dario Martinez juntará à justiça detalhes de 50 empresas offshere e pedirá medidas para a produção de provas a partir de um dado chave: uma conta do atual presidente Macri em banco suíço com filial em NY.
https://www.pagina12.com.ar/10779-i%E2%99%A5ny
 
Esquerda.net, Portugal
A economia europeia no caminho neoliberal.  Um novo consenso começa a formar-se à volta de uma retomada do investimento público. A questão está em saber por que uma medida tão benéfica não é aplicada. Artigo de Michel Husson.
http://www.esquerda.net/artigo/economia-europeia-no-escorrega-neoliberal/46055
 
Telesur, Venezuela
Papa Francisco: o capitalismo tomou o Natal como refém. O Sumo Pontífice assinalou que os conflitos no Oriente Médio têm suas raízes em interesses políticos não religiosos 
http://www.telesurtv.net/news/Papa-El-capitalismo-tomo-como-rehen-la-Navidad-20161225-0030.html
 


Créditos da foto: reprodução

A Lava Jato e os cônsules dos EUA no Brasil

23/12/2016 17:46 - Copyleft

A Lava Jato e os cônsules dos EUA no Brasil

Agora é possível entender porque Moro, muito zelosamente, sempre censurou as perguntas feitas pela defesa de Lula a delatores e testemunhas de acusação


Jeferson Miola *
brasil247
Nos últimos dias a imprensa hegemônica do Brasil passou a divulgar as investigações do Departamento de Justiça dos EUA sobre a corrupção na Petrobrás. O que era apenas uma suspeita dos advogados do ex-presidente Lula, se confirmou como realidade cristalina.
 
Agora é possível entender porque Moro, muito zelosamente, sempre censurou as perguntas feitas pela defesa de Lula a delatores e testemunhas de acusação sobre a assinatura de acordos de colaboração com autoridades policiais e judiciais norte-americanas.
 
Com a mesma arbitrariedade com que livrou Temer das perguntas incriminadoras do Eduardo Cunha, Moro anulou todos os questionamentos formulados pela defesa do ex-presidente a respeito desses acordos [clandestinos] envolvendo funcionários de empreiteiras e da Petrobrás com o Departamento de Justiça dos EUA, com a interveniência da força-tarefa da Lava Jato.
 
Moro, que se notabiliza não como juiz, mas como acusador obsessivo-compulsivo com a condenação do Lula, em determinada audiência contrariou o pedido da defesa do ex-presidente sustentando que “essa linha de indagação, a relevância disso me escapa completamente”. Em outra audiência, ele foi explícito: “Não vou colocar em risco uma eventual tratativa que a testemunha tenha no exterior por um mero capricho da defesa” [sic].





 
O Poder Executivo é titular exclusivo da atribuição constitucional de assinar e colocar em prática acordos, entendimentos e protocolos com Estados estrangeiros; e não o ministério público, a polícia federal ou o judiciário. Estes acordos de colaboração com os EUA são, em razão disso, além de clandestinos, claramente ilegais e inconstitucionais.
 
Considerando o noticiado, é bastante significativa a intimidade de autoridades dos EUA com as investigações criminais da Lava Jato que correm no Brasil. O relatório publicado pelo Departamento de Justiça norte-americano é prodigioso nos detalhes e informações precisas, que são coincidentes com a narrativa processual que se conhece da Operação Lava Jato.
 
Em vista desta realidade, a força-tarefa da Lava Jato têm o dever funcional de esclarecer as seguintes questões:
 
- como as autoridades policiais e judiciais estadunidenses tiveram acesso às investigações e aos processos que tramitam na PF, MP e no judiciário do Brasil? Quem forneceu o acesso de estrangeiros aos procedimentos criminais internos do nosso país?;
 
- integrantes da força-tarefa abasteceram – ainda que extra-oficialmente – o Departamento de Justiça e agências dos EUA com as informações reveladas no relatório do Departamento de Justiça, ou o acesso a tais informações pode ser produto de espionagem?;
 
- caso tenha considerado a suspeita de espionagem, quais as providências a força-tarefa da Lava Jato adotou? Foram identificados eventuais espiões e interesses envolvidos?;
 
- como as autoridades estadunidenses tiveram acesso a funcionários de empresas privadas e estatais brasileiras que cometeram crimes no Brasil e não nos EUA? Quem intermediou tais contatos e a assinatura dos acordos com o Departamento de Justiça dos EUA?; e, finalmente:
 
- nas freqüentes viagens que Moro, Janot e outros integrantes da força-tarefa fizeram aos EUA nos últimos três anos, com quais autoridades se reuniram e quais foram as agendas de trabalho? Existem registros formais de tais encontros?
 
O Brasil precisa conhecer a verdade sobre esta grave situação que caracteriza a intromissão e a interferência de um Estado estrangeiro em assuntos internos, fato que fere a soberania nacional. Os funcionários públicos que eventualmente contribuíram para este fato, terão cometido crimes de lesa-pátria.
 
Sob o manto do combate à corrupção se escondem interesses poderosíssimos. Está sendo destruída a engenharia nacional que compete com os interesses das companhias norte-americanas no mundo inteiro, em especial nas Américas Central e do Sul, na África e no Oriente Médio.
 
De igual modo, está sendo devastado o setor energético do Brasil – além da Petrobrás, também a Eletrobrás e a estratégia brasileira de tecnologia nuclear – para facilitar a transferência de domínio dessas áreas essenciais a conglomerados transnacionais.
 
Não estivesse o Brasil vivendo um Estado de exceção, aqueles funcionários públicos que agem em associação com interesses externos e quebram a soberania nacional seriam severamente punidos.
 
Os integrantes da Lava Jato atuam como os antigos cônsules do Império Romano. Eles representam os interesses imperiais dos EUA no Brasil – alguns coitados por inocência e outros canalhas por consciência.
 
* Publicado originalmente aqui


Créditos da foto: brasil247

Governo Temer atende bancada ruralista e pretende arrasar agenda socioambiental

23/12/2016 18:52 - Copyleft

Governo Temer atende bancada ruralista e pretende arrasar agenda socioambiental

Bancada ruralista usa série de manobras do Congresso para acelerar aquele que seria o maior revés para o ambiente e indígenas desde a ditadura militar


Mauricio Torres, Sue Branford *
Thaís Borges
Um Congresso Nacional conservador como não se via há tempos alinha-se para aprovar uma enxurrada de normas que, juntas, desmantelarão grande parte da legislação nacional que protege o meio ambiente e garante direito aos povos indígenas e comunidades tradicionais. Um esforço que, ao que tudo indica, se intensificará em 2017.
 
Com legitimidade questionada e cercado de denúncias de corrupção, o governo de Michel Temer tem futuro incerto e duvidoso. Nesse cenário, a bancada ruralista usa uma série de manobras do Congresso para acelerar a aprovação de medidas que representariam o maior revés para o ambiente e direitos indígenas desde o fim da ditadura militar.
 
A última tentativa ocorreu na semana passada. O lobby ruralista apresentou inesperadamente três Projetos de Decretos Legislativos (PDLs) para autorizar a construção de três hidrovias sem necessidade de licenciamento ambiental. Os projetos seriam o PDL 119/2015, no rio Tapajós (em dois formadores, Teles Pires e Juruena); o PDL 120/2015, nos rios Tocantins e Araguaia; e o PDL 118/2015, no rio Paraguai.
 
Se aprovados, os eventuais decretos legislativos permitirão que as hidrovias (que exigirão dezenas de dragagens, desvios de leito, destruição de pedrais e outras obras impactantes) sejam construídas independente dos seus relevantes efeitos ambientais e sociais que seriam compartilhados por todos, especialmente pela população indígena da região. O principal beneficiário das obras será o agronegócio, que terá um meio barato de exportar soja e outras commodities.





 
 3-Porto-graneleiro-Walter-Guimaraes
Portos fluviais de grãos como esse precisariam ser construídos nas três hidrovias industriais que estão sendo propostas pela bancada ruralista no Congresso Nacional. Na verdade, em preparação para sua possível vitória legislativa, as empresas do setor (incluindo a Amaggi, administrada pela família do ministro da agricultura, Blairo Maggi), assim como o setor transnacional de commodities (incluindo Bunge e Cargill), já começaram a investir e construir a infraestrutura necessária. Um novo e gigante complexo logístico de transporte, chamado Miritituba, foi construído para processar a soja do Mato Grosso no lado do rio Tapajós oposto à cidade de Itaituba.  Foto: Walter Guimarães
 
A raposa tomando conta do galinheiro
Nos padrões do sistema de licenciamento ambiental, obras como essas hidrovias demandariam a elaboração de um completo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), documento elaborado de acordo com um termo de referência elaborado pelo Ibama. Entretanto, se os PDL forem aprovados, o EIA das hidrovias poderia ser substituído pelo Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), um estudo elaborado pelos próprios empreendedores – ou seja, pelos maiores interessados na viabilidade da obra, com uma avaliação de impactos e riscos socioambientais muito superficial e que não passa por qualquer processo efetivo de análise técnica por órgãos ambientais e discussão pública.
 
Os ruralista formam uma das maiores bancadas do Congresso, de modo que o máximo que políticos mais progressistas e com consciência ambiental podem fazer é tentar ganhar tempo para que ocorram denúncias públicas e mobilizações da sociedade civil organizada no sentido contrário. Foi o que aconteceu na semana passada.
 
A bancada ruralista havia anexado os PDLs a outro projeto de lei que tramitava pelo Congresso em regime de urgência, para que entrassem rapidamente em votação. O plano era que eles fossem diretamente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) para o plenário. Mas a manobra foi interrompida na última hora pelos deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Nilto Tatto (PT-SP). Eles aproveitaram uma falta temporária de quórum na Comissão para suspender a sessão e “desvincular” os PDLs do processo que corria em regime de urgência.
 
A manobra funcionou e ganhou tempo. Mas os PDLs estão na agenda para a próxima reunião da Comissão, que acontecerá depois do recesso parlamentar, que acaba no início de fevereiro. Se depender das votações nas comissões e, ainda pior, em plenário, não há chance de parar os PDLs. Entretanto, os projetos teriam  impactos ambientais tão amplos — sobretudo para povos indígenas e outras comunidades tradicionais — que uma forte resistência é esperada.
 
 6-Tapajos-Walter-Guimaraes
 Pôr do sol no rio Tapajós. Mais de 40 represas estão em fase de construção ou foram propostas no rio principal ou em seus afluentes. Os cientistas dizem que as represas seriam um desastre para a Amazônia, e, possivelmente, para todo o mundo. Alguns acreditam que o desmatamento em consequência de tamanho projeto de infraestrutura poderia transformar a Amazônia, que agora é um reservatório de carbono, em uma fonte de carbono, agravando o aquecimento global. Foto: Walter Guimarães
 
O casamento do Congresso com o agronegócio
O deputado federal Nilto Tatto disse ao The Intercept Brasil que, mesmo que o governo de Michel Temer venha a cair em virtude dos sucessivos escândalos, a bancada ruralista continuaria fortalecida: “a bancada ruralista é, hoje, a bancada mais estruturada e organizada do Congresso Nacional”, disse ele. “O grupo ganhou ainda mais força após o golpe que destituiu a presidente eleita Dilma Rousseff. Por seu tamanho e sua força, a bancada ruralista foi fundamental para a votação do impeachment e é fundamental para aprovação, no Congresso, das medidas de interesse do governo”.
 
Embora as manobras do Congressos possam parecer muito distantes da vida cotidiana, as decisões ali tomadas podem ter impactos muito reais sobre muita gente. Veja o PDL 119/2015, por exemplo. Se for licenciada, a hidrovia Teles Pires-Tapajós significará ou a destruição das corredeiras no rio Teles Pires ou a transposição de suas águas para evitá-las.
 
Para o povo Munduruku, destruir as corredeiras equivaleria dinamitar o paraíso cristão.
 
Qualquer opção teria um enorme impacto sobre a vida aquática do rio e todos os complexos sistemas de vida na floresta que dependem da inundação sazonalPara os índios Munduruku, para quem as corredeiras são sagradas e habitadas por seus ancestrais, significaria, literalmente, o fim de seu mundo. Para eles, a destruição das corredeiras equivaleria dinamitar o paraíso cristão.
 
 
Mas para outros, a hidrovia faz sentido econômico. O deputado Adilton Sachetti(PSB-MT) propôs o projeto para o Tapajós. Ele é um aliado do ministro da Agricultura nomeado por Temer, Blairo Maggi – também de Mato Grosso, já conhecido como “Rei da Soja”, e cuja família detém verdadeiro império econômico do ramo de commodities agrícolas. Segundo Nilto Tatto, é Maggi quem “articula os grupos que se apossaram do governo na promoção de ações de interesse do agronegócio”.
 
O estado de Mato Grosso, localizado no coração do Brasil, é a principal região produtora de soja do país, mas enfrenta grandes problemas logísticos para levar seus grãos aos mercados da Europa e da Ásia. A via fluvial Teles Pires-Juruena-Tapajós tem como objetivo ajudar a resolver este problema, pois criará um novo corredor de exportação para o norte.
 
Sachetti disse ao Canal Rural que a construção das vias navegáveis era essencial. “Somente cerca de 4% do transporte de cargas no país é feito por hidrovias, enquanto a matriz rodoviária – cara e poluente e de maior risco – é a mais utilizada”, afirmou.
 
Se, na relação custo-benefício da hidrovia equacionam-se os imensos danos ambientais e o etnocídio de povos indígenas, nos benefícios há que se considerar que a via correria paralela à BR-163 (veja o mapa aqui), cuja pavimentação está quase concluída, e de uma ferrovia anunciada recentemente por Michel Temer, a Ferrogrão, que iria de Mato Grosso até o baixo Tapajós, onde a navegação até o rio Amazonas já não encontra trechos encachoeirados.
 
2-Floresta-Walter-Guimaraes
As três hidrovias industriais propostas trariam, assim como acontece em grande parte dos outros projetos de represas amazônicas, desmatamento em grande escala como consequência. O desmatamento começa com a construção de represas e reservatórios e continua à medida que as ruas de acesso às represas são construídas, as linhas de transmissão são usadas por madeireiras ilegais e inúmeros trabalhadores e habitantes são atraídos para a área onde será construída a represa.  Foto: Walter Guimarães
 

Repetindo Belo Monte


 

As táticas atualmente utilizadas pela bancada ruralista são muito semelhantes às empregadas em um passado recente, quando o PT de Nilto Tatto, de mãos dadas com o lobby da energia hidrelétrica, valeu-se do mesmo instrumento da PDL para livrar-se de “embaraços socioambientais”. Tratava-se do Decreto Legislativo (DL) 788/2005, usado para autorizar a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. Hoje, embora a usina de Belo Monte ainda nem esteja terminada, já é internacionalmente conhecida por seus dramáticos impactos sociais e ambientais, respondendo na justiça por ações que vão desde a mortandade de peixes ao genocídio indígena.



 
Sete anos após sua promulgação, o Decreto Legislativo 788 teve seu efeito anulado pela Justiça Federal. Segundo o Procurador da República Felício Pontes Júnior, “O decreto legislativo que autorizou Belo Monte sem consultar os índios era um verdadeiro monumento da afronta à Constituição. Finalmente, depois de anos de debates, o Judiciário se pronunciou em defesa da lei maior do país e dos direitos dos povos originários”.
 
Entretanto, como sempre acontece, o tempo do rolo compressor que atropela índios, ribeirinhos e a floresta não é o tempo do rito judiciário. A obra ilegal já era fato consumado e o dano ao meio ambiente e aos povos e comunidades tradicionais, irreparável.
 
 8-Completed-Belo-Monte-Dam-Fredit-Zoe-Sullivan-copy
Em 2005, foi aprovada uma proposta parecida com a que está sendo discutida de forma apressada no Congresso para acelerar a construção de Belo Monte, ignorando a avaliação ambiental adequada. Hoje, a Norte Energia, consórcio que construiu a grande represa na Amazônia, foi acusada de crimes ambientais, etnocídio e está sendo investigada por corrupção. Foto: Zoe Sullivan
 
O Decreto Legislativo 788/2005 concedeu autorizações sem consulta prévia aos povos indígenas e comunidades tradicionais que estão na região a ser impactada, e os PDLs repetem absolutamente o mesmo roteiro de ilegalidade. Não foi realizado qualquer processo de Consulta Livre, Prévia e Informada junto a esses povos e comunidades tradicionais que vivem às margens dos rios, conforme lhes garante o artigo 231 da Constituição Federal, Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outros acordos internacionais, como a Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Direitos dos Povos Indígenas e o Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
 
E isso acontece apenas 11 dias após os desembargadores da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em 2 de dezembro, decidirem por unanimidade a ilegalidade da obra da hidrelétrica de Teles Pires, no rio de mesmo nome, por falta, justamente da Consulta Livre, Prévia e Informada, nos moldes previstos na Convenção 169 da OIT, com os povos Kayabi, Munduruku e Apiaká, atingidos pelo empreendimento. Ou seja, por mais que esteja claro e certo, direitos de índios e outras minorias não se fazem valer.
 

A Amazônia como obstáculo


 

Os decretos legislativos – tanto o passado, quanto os que se pretendem aprovar – são apenas uma pequena amostra do que está por vir. O poder atualmente exercido pela bancada ruralista, aparentemente, fez com que o atual governo considerasse o meio ambiente – e especialmente a Amazônia – não como algo a ser preservado, mas como um obstáculo a ser removido.



 
Todo um aparato jurídico e político está sendo preparado pelo Congresso para se livrar das restrições regulatórias impostas pela legislação ambiental. Uma das principais medidas é o Projeto de Lei (PL) 3.729/2004, que está, hoje, na pauta da Comissão de Finanças e Tributação (CFT).
 
 5-Munduruku-Indians-meet-to-decide-strategy-Sept-2014-Muaricio-Torres-copy
Índios Munduruku se reúnem para decidir a estratégia a respeito de uma das quatro represas sendo construídas no rio Teles Pires, em setembro de 2014. As represas serão fundamentais para a futura hidrovia industrial que transportaria soja do estado do Mato Grosso descendo o rio até o Atlântico. Os índios tiveram ganho de causa contra as represas inúmeras vezes. Mas todas as decisões foram anuladas pelos tribunais superiores usando a disposição jurídica de “suspensão da segurança”, um resquício da ditadura militar que pode ser usado para anular decisões de tribunais de primeira instância. Foto: Mauricio Torres
 
Mais de 250 entidades repudiaram esse PL, cuja relatoria é do deputado federal Mauro Pereira (PMDB-RS), outro membro da bancada ruralista. As entidades apontam, em nota, que o novo sistema de licenciamento aumentaria muito a chance de deixar o país sujeito a outras tragédias como a ocorrida em Mariana (MG), em novembro de 2015, quando o rompimento de uma represa de rejeitos de ferro despejou 60 milhões de metros cúbicos de resíduos no Rio Doce, matando 19 pessoas e o próprio rio, com o imenso fluxo tóxicos gerado, que chegou até o Oceano Atlântico duas semanas depois. Não se sabe se e como a região se recuperará da maior catástrofe ambiental da história do Brasil, e executivos brasileiros e internacionais de mineração foram acusados pelo seu papel no desastre.
 
“A intenção do PL é desmantelar o sistema de licenciamento atual. O sistema ficaria tão flexível que não mais seria possível impedir ou prevenir desastres como os de Mariana.”
 
O PL 3.729/2004 “flexibilizaria” o licenciamento ambiental de quatro maneiras:
 

1_


 

 Permitiria que uma empresa obtivesse uma licença automaticamente para qualquer atividade considerada (sem maiores critérios) como de “baixo impacto”.



 

2_


 

 Os governos estaduais e municipais passariam a poder competir entre si de modo a atrair investimentos para suas regiões numa espécie de “ganha quem exige menos”, um estado poderia reduzir rigor de suas demandas em termos de proteção/mitigação ambiental para tornar-se mais “atrativo” a empreendimentos impactantes e poluidores.



 

3_


 

Passaria a haver “isenções de licenciamento”: o PL dispensa a licença ambiental para uma série de atividades e empreendimentos impactantes ambientalmente, embora não tenha estabelecido critérios consistentes para isso.



 

4_


 

A avaliação dos Estudos de Impacto Ambiental dos projetos passariam a contar com tempo reduzido, e o novo sistema estabeleceria a concessão automática da licença por vencimento desses prazos.



 
Isso tornariam impossíveis a análise adequada dos impactos socioambientais de empreendimentos da parte do Ibama e abriria caminho para o licenciamento sem a participação de órgãos como Funai, ICMBio, Fundação Cultural Palmares e Iphan.
 
A versão final do PL, segundo nota publicada pelo Instituto Socioambiental (ISA), “foi elaborada a portas fechadas com apoio do lobby da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Não foi discutida em audiência pública, com a sociedade civil ou pesquisadores”.
 
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) disse ao The Intercept Brasil que estava “preocupado” com a possível aprovação do PL 3.729/2004, que, segundo eles, poderia provocar “uma guerra ambiental” entre os estados e gerar “insegurança jurídica”.
 
Em entrevista concedida ao The Intercept Brasil, Adriana Ramos, coordenadora de Política e Direito, do Instituto Socioambiental, afirma que, se tornado lei, esse projeto representaria um dos maiores retrocessos ambientais da história do país. “A intenção do PL é desmantelar o sistema de licenciamento atual, o sistema ficaria tão flexível que não mais seria possível impedir ou prevenir desastres como os de Mariana, em Minas Gerais, ou mesmo mitigar, grandes impactos socioambientais decorrentes das atividades econômicas de grandes projetos, como a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará”. The Intercept Brasil solicitou uma entrevista com a CNA mas não obtivemos resposta.
 
E isso não é tudo. Provavelmente, a cereja do bolo nos retrocessos socioambientais chegados com o governo Temer surge no apagar das luzes de 2016, quando as mobilizações para reação são sempre mais difíceis, na forma de um projeto de decreto que altera o procedimento de demarcação de terras indígenas (TIs), hoje regulamentado pelo Decreto 1.775/1996.
 
Na forma como é hoje, as conclusões de demarcações de TIs demoram décadas. No modelo proposto, ficariam praticamente impossíveis, pois além das enormes dificuldades criadas, passariam a existir muitas que dariam amplas possibilidades para paralisar os processos judicialmente. E mais, a proposta do governo possibilitaria, ainda, a diminuição das TIs já demarcadas que, por qualquer motivo, não tenham sido ainda registradas na Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e nos cartórios de registro imobiliário. Essas TIs estariam subordinadas aos novos procedimentos previstos, anulando etapas já cumpridas com base nas regras então vigentes e reabrindo conflitos já superados e devolvendo os povos indígenas que ali vivem a uma condição de extrema insegurança.
 
“O decreto, que é em sua essência inconstitucional, aponta, portanto, para um novo ciclo de extermínio dos povos indígenas.”
 
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), uma organização que fala para todos os povos indígenas do Brasil, publicou imediatamente um comunicado de imprensa no qual “repudiam veementemente para a opinião pública nacional e internacional a macabra do governo ilegítimo de Michel Temer de colocar fim à demarcação das terras indígenas”. A nota afirma, ainda que a medida criaria “artimanhas que empurrarão os povos indígenas à remoção, reassentamento ou expulsão, disfarçadas de legalidade, de seus territórios”.
 
Para Márcio Santilli, sócio-fundador do ISA e ex-presidente da Funai, o Decreto significa um grande retrocesso e uma ameaça às conquistas da Constituição de 1988. Conforme ele disse ao The Intercept Brasil:
 
“Desde o final da ditadura militar, é a pior proposta sobre demarcação de TIs. Ela possibilitaria, entre outras coisas, reduzir limites de TIs já homologadas e ainda não registradas em cartórios (a última etapa). Ela ainda iria além, chegaria a admitir a possibilidade de, em vez de demarcar as TIs, dar aos índios dinheiro para que continuassem sem suas terras, perpetuando uma situação de expropriação.”
 
 7-UHE-Sao-Manoel-Mauricio-Torres-copy
Represa São Manuel, em construção no rio Teles Pires. Os índios Kayabi, Munduruku e Apiaká entraram com diversos processos legais contra a construção das quatro represas no rio Teles Pires, defendendo que o país não consultou as tribos que seriam afetadas pelos projetos, conforme obriga a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário. Foto: Mauricio Torres
 
O deputado federal, Nilto Tatto, concorda:
 
“O decreto, que é em sua essência inconstitucional, aponta, portanto, para um novo ciclo de extermínio dos povos indígenas. Ciclo este que tinha sido revertido a partir da Constituição Federal de 1988, com a fundamental garantia de acesso à terra que permitiu aos povos se reerguerem e voltarem a crescer.”
 
Sob esse cenário, o desmatamento dispara na Amazônia e o aparato de fiscalização implode. No início de dezembro, os chefes regionais do Ibama publicaram uma carta aberta, na qual expressaram indignação com cortes em seu orçamento, com a diminuição no seu quadro de servidores e com a indicação política de gestores estaduais sem competência e comprometimento com a causa ambiental. Referindo-se aos números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mostraram um aumento de 29% no desmatamento da Amazônia entre agosto de 2015 e julho de 2016, o mais alto índice em oito anos, os servidores do Ibama alertaram que o órgão seria incapaz de conter o aumento da degradação se a situação que denunciavam não fosse alterada.
 
O Ministério do Meio Ambiente disse ao The Intercept Brasil, em resposta às críticas feitas por esses chefes regionais, que, apesar dos cortes do governo, o Ministério “priorizou as unidades finalísticas, especialmente as que atuam diretamente no combate ao desmatamento”. Além disso, informou que a gestão do ministro Sarney Filho obteve um aumento orçamentário na ordem de R$ 35,8 mi. Sobre a redução dos recursos humanos e a denúncia acerca das nomeações políticas dos gestores estaduais nada foi dito.
 
Todo esse cenário soma uma situação política dramática e incerta. Como Nilto Tatto disse ao The Intercept Brasil: “Os contratempos são violentos. Eles combinam, em sua gravidade, a ruptura institucional que ocorreu com o processo de impeachment”.
 
Originalmente publicado em inglês por Mongabay.
 
Foto principal: Uma balsa de soja na parte baixa do Rio Tapajós. A aprovação de três propostas de lei no Congresso Nacional autorizaria a construção de dezenas de represas e três hidrovias industriais, praticamente sem fiscalização ambiental, em três extensos rios brasileiros: os rios Tapajós, São Manuel e Juruena na bacia do Tapajós na Amazônia; rios Tocantins e Araguaia, também na Amazônia; e o rio Paraguai.


Créditos da foto: Thaís Borges