quarta-feira, 25 de abril de 2018

Com medo de perder o troféu, Lava Jato avisa que desafiará decisão da Segunda Turma do STF


Com medo de perder o troféu, Lava Jato avisa que desafiará decisão da Segunda Turma do STF

 
O procurador Lima faz merchã da Lava Jato
A “força-tarefa” da Lava Jato se queixou ao bispo, ou seja, a Moro, da decisão da Segunda Turma do STF, que retirou de Curitiba as delações da Odebrecht que embasavam os processos contra Lula nos casos do sítio de Atibaia e do terreno do Instituto Lula.
No voto divergente, Dias Tofolli afirmou que, “ainda que o Ministério Público Federal possa ter suspeitas, fundadas em seu conhecimento direto da existência de outros processos ou investigações, de que os supostos pagamentos noticiados nos termos de colaboração teriam origem em fraudes ocorridas no âmbito da Petrobras, não há nenhuma demonstração desse liame nos presentes autos”.
“Dito de outro modo, ao menos em face dos elementos de prova amealhados neste feito, a gênese dos pagamentos noticiados nos autos não se mostra unívoca”, prosseguiu Toffoli.
“Evidentemente não impede que os mesmos colaboradores sejam ouvidos sobre fatos relevantes para instrução de outras investigações e ações penais, que tiveram e têm sua competência definida no âmbito dos canais próprios de decisão e revisão do Judiciário”, informa o documento assinado pelos 13 procuradores.

Os guerreiros do povo brasileiro estão inconformados. Plenipotenciários, desafiam o Supremo.
“Em conclusão, apesar do lamentável tumulto processual gerado pela remessa de depoimentos a uma jurisdição diversa da definida nas vias ordinárias, ignorando realidade conhecida. a decisão majoritária da 2a Turma do STF não tem qualquer repercussão sobre a competência desse douto Juízo para promover e processar a presente ação penal.”
A defesa de Lula já solicitou “a imediata remessa dos autos processuais para livre distribuição na Seção Judiciária do Estado de São Paulo com os consectários legais decorrentes da incompetência deste Juízo (CPP, art. 564, I), a menos que se queira desafiar a autoridade da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do Quarto AgRg na PET 6.780/DF.”
A reação dos lavajateiros não tem nada a ver com a lei, e sim com o desespero de se perder o trofeu. 

A “urgência” da Dra. Lebbos

A “urgência” da Dra. Lebbos

A Dona  Carolina Lebbos, “jauleira” de Lula em Curitiba por delegação de Sérgio Moro, deu hoje mais um passo em direção a Nuremberg.
Sustou a visita do médico de Lula ao ex-presidente na sua solitária na Polícia Federal em Curitiba.
‘Não há indicação de urgência’ diz o seu despacho, segundo o GGN.
Será que a senhora Lebbos é tão dona da verdade que consegue definir, numa penada, o que pode se passar com uma homem de 72 anos, ex-canceroso, depois de passar por um turbilhão de emoções e stress  de uma prisão e de quase três semanas de “solitária”?
Lebbos, agora convertida a subMoro, acha que pode gozar do poder do açougueiro de Curitiba.
Pode não, doutora, e a senhora, politica e juridicamente, vai acabar sendo vítima de overdose de seu poder mesquinho.

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Comentário deste blogueiro:
A cada instante o judiciário brasileiro se desmoraliza mais. O quê mais falta acontecer?

'A psicose política tomou conta da nossa sociedade', diz Eugênio Aragão


CLIMA DE ÓDIO

'A psicose política tomou conta da nossa sociedade', diz Eugênio Aragão

Entrevistado por Juca Kfouri, ex-ministro da Justiça afirmou que, se Lula não tivesse feito aliança com o PMDB quando se iniciava o "bombardeio" do mensalão, ex-presidente poderia ter sofrido o golpe que vitimou Dilma depois
por Redação RBA publicado 25/04/2018 07h45, última modificação 25/04/2018 13h21
TVT/REPRODUÇÃO
Eugênio Aragão
Eugênio Aragão, na TVT: 'Os EUA são useiros e vezeiros em se aproveitar das contradições do Estado brasileiro'
São Paulo – O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão afirmou, no programa Entre Vistas, na TVT, desta terça-feira (24), que, apesar do ambiente "tenebroso" que criou, a direita não tem o controle do país. "Deu o golpe instalada confortavelmente por uma mídia que lhe deu suporte, promoveu uma lavagem cerebral na sociedade e espalhou o ódio. Mas ela não tem o domínio pleno do processo social. Tanto é assim que Lula continua em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Nesse sentido eu sou otimista." Ele comentou as possibilidades de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato, mesmo estando preso.
Entrevistado por Juca Kfouri – ao lado da advogada e integrante do MTST Débora Camilo e de Aline Mattos, também advogada e defensora dos direitos humanos –, Aragão defendeu que o clima de crise social e política brasileira não se dá por acaso, mas está conjugado com interesses muito além da "esquerda alfafa" representada pela senadora Ana Amélia (PP-RS), que acusou a senadora Gleisi Hoffmann de "convocar o Exército Islâmico a vir ao Brasil proteger o PT".
"É um cenário tenebroso. A construção desse cenário não foi obra dessa direita 'alfafa'. É um cenário de inteligência, de estimular o caos no país, o caos comunicativo. O tecido social está fortemente corrompido com esse ambiente pesado do país, e isso não é obra do acaso, não é algo espontâneo."
Para ele, com o domínio de "metadados" e de tecnologia de rede, junto aos meios de comunicação social nas mãos, é possível estimular "processos que vão para a psique do cidadão". "Eu acho que nossa sociedade está psicótica. A psicose política tomou conta da nossa sociedade, e isso é uma coisa provocada."
Para o ex-ministro, o ambiente crescente de intolerância é disseminado no país principalmente a partir de 2013. "O ódio tomou conta até dos laços familiares, dos laços de amizade."
Fazendo uma autocrítica, Aragão afirmou que os governos do PT subestimaram a capacidade de mobilização das forças por trás desse processo social e midiático. "Nossos governos não se preocuparam em montar uma estrutura de inteligência e contra-inteligência. Era algo que a gente tinha condições de antever no mais tardar no início de 2013."  Para ele, "os Estados Unidos são useiros e vezeiros em se aproveitar das contradições do estado brasileiro".
O cenário no qual o Brasil mergulhou a partir da derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff e que culminou com a prisão de Lula começou a ser trabalhado pelas forças contrárias, incluindo a mídia e parcelas importantes do Ministério Público e sistema de Justiça, no já esquecido caso Waldomiro Diniz, em 2004, opinou. Cerca de um ano depois, explodia o "mensalão".
"Com o episódio do Waldomiro, antes do mensalão, a gente já viu do que essa direita é capaz distorcendo fatos. Ali, a coisa estava começando a fermentar: queda do Waldomiro, escândalo dos correios, ‘mensalão’. Foram 13 anos de bombardeio", disse Aragão.
Para ele, não há como dissociar o ambiente político de perseguição do corporativismo do Ministério Público e do Judiciário, aliados de forças conservadoras e respaldados pela mídia, ao longo de uma década e meia. Exemplo significativo da "combinação" dentro do Judiciário pela perseguição a Lula é a atitude do TRF-4 ao confirmar a sentença de Sérgio Moro. "Apesar de tanta atuação temerária do juiz, não há nenhum tipo de divergência entre os desembargadores (do tribunal). É um jogo muito rasteiro." 
Em 2005, com o ambiente político obscuro, segundo ele, Lula teve uma reação política de acordo com a situação: a opção do ex-presidente pela aliança com o PMDB de José Sarney, muito criticada por setores à esquerda do PT, mas que era um lance que ao mesmo tempo estava de acordo com o chamado presidencialismo de coalizão e era, já na época, uma questão de luta pela sobrevivência no tabuleiro político.
"A aliança do Lula com o PMDB só aconteceu por causa do mensalão, porque ele sabia que, se não fizesse, ele poderia ser o que Dilma foi dois mandatos depois", disse Aragão no Entre Vistas.
Assista a íntegra do programa desta terça-feira:



https://youtu.be/sPz23lD7sh4

Gritaria da Lava Jato mostra que decisão do STF “sangrou a veia da saúde”

Gritaria da Lava Jato mostra que decisão do STF “sangrou a veia da saúde”

Como se previu ontem, é grande o alvoroço com a decisão da 2ª Turma do STF em retirar de Sérgio Moro o poder de investigar as “delações” da Odebrecht relativas a Lula e as transferiu para a Justiça Federal em São Paulo.
Miriam Leitão diz que os procuradores da Força Tarefa “não tiraram” os processos de Sérgio  Moro. o que equivale a dizer que, embora não sejam relativos à Petrobras os inquéritos são dele. Claro, qualquer coisa que se refira a Lula, até multa de trânsito, compete a Moro julgar, segundo suas “convicções”.
“a força-tarefa vai protocolar manifestações nas duas ações penais que correm na 13ª Vara Federal, informando que entende que o STF não discutiu a competência ao retirar a delação da Odebrecht de Curitiba”.
Merval Pereira, o que faz mal à saúde, adverte: “Os processos estão com o juiz Sergio Moro e serão retomados com mais ênfase e os procuradores devem estar com uma atuação frenética para dar uma resposta a esta decisão.”
Dá vontade de perguntar ao 12° ministro do STF onde foi que ele aprendeu que os processos judiciais regem-se por “vingança”.
O que está de fato em questão – e por isso deixa a lava Jato em polvorosa – é a jurisdição universal de Sérgio Moro sobre Lula.
Recorde-se que o caso do triplex, que sustenta a prisão do ex-presidente, foi iniciado pelo Ministério Público de São Paulo na Justiça daquele estado e, por decisão de uma juíza de primeira instância, remetido a Curitiba em separado dos demais envolvidos nas investigações sobre a Cooperativa dos Bancários, que permaneceram sob juízes paulistas e foram, em 1ª e 2ª instância, todos absolvidos.
Lula foi a exceção.
E foi porque foi a um juízo de exceção, o de Sérgio Moro e da matilha de procuradores da Força Tarefa.
A reação traz, implícito, um entendimento: só Moro seria capaz de condenar Lula com a pobreza de provas que foram apresentados.
Se é assim, só Moro podia julgar Lula, porque só ele poderia prendê-lo e tirá-lo da disputa presidencial.

Precisamos ingressar na idade da razão

Política

Opinião

Precisamos ingressar na idade da razão

por Roberto Amaral — publicado 21/03/2018 14h27
Aproveitemos o sacrifício involuntário e inesperado de Marielle para refletirmos sobre a tragédia que é a política fluminense
Fernando Frazão/Agência Brasil
marielle rio.jpg
Uma semana após o assassinato de Marielle Franco, milhares seguem se unindo nas ruas do Rio pedindo por justiça
O Brasil desmoraliza o impossível: a tragédia nacional se agrava dia a dia, abarcando todos os setores da vida nacional, esgarçando o tecido social, trabalhado pela violência indiscriminada e pela intolerância estimulada, em níveis jamais conhecidos em nossa História.
É a mais grave crise da vida republicana que, no passado, por diversas vezes, foi espaço de rupturas constitucionais, violação de direitos e retrocessos políticos, sempre em prejuízo dos trabalhadores e dos mais pobres.
Essa crise de nossos dias, cuja profundidade, violência e gravidade a cortina de um legalismo autoritário tenta escamotear, deita sua peçonha sobre todos os poderes constitucionais, tornados ilegítimos e inconfiáveis, abrindo caminho para a crise institucional já visível à luz do dia.
É este um balanço do regime derivado do golpe de Estado de 2016, e ele exige das forças populares vigilância e ação (organização e mobilização) em defesa da ordem democrática. Nada obstante suas limitações de hoje, a aliança de forças que tomou de assalto o poder investe na fragilização do processo democrático e não titubeará em decepar o processo eleitoral se a oportunidade se oferecer, se a correlação de forças revelar-se favorável
A classe dominante brasileira é despida de escrúpulos, e sem pruridos morais pode transitar do legalismo mais estrito ao golpismo mais deslavado. Não nos esqueçamos de que o golpe de 1º de abril de 1964 tinha como uma de suas bandeiras mais caras, aquela que mais falava aos corações dos liberais, a defesa da Constituição e da democracia – as primeiras vítimas da ordem ditatorial-militar.
Jamais tivemos um presidente de República tão repudiado pela opinião pública. Sua ‘gestão’ é considerada  regular, ruim e péssima por 89% da população (Estadão, 19/03/2018). Jamais tivemos um governo tão inepto, tão antinacional, tão anti-povo.
A alma, o espírito, o corpo, a desqualificação moral de nosso Legislativo foram eviscerados pelo espetáculo grotesco daquela sessão de 17 de abril de 2016. Nada de sério ou de honroso nos é dado esperar dessa Casa de negócios, por mais que lá resista um minoria estatisticamente irrelevante em face da maioria ilegítima e corrupta, desvinculada de pudores ou comprometimento cívico. 
Mas o Poder Judiciário, sócio do golpe de 2016, como fôra do golpe de 1964, como fôra do golpe parlamentar de 1961, sócio do autoritarismo e expressão ativa dos interesses da casa-grande, tem superado todos os limites da auto-degradação.
Quando seus príncipes e suas princesas, habitantes do topo da pirâmide social, faziam greve (juízes fazendo greve!) por penduricalhos salariais como o ilegal e imoral ‘auxílio-moradia’, no Rio de Janeiro,  sob intervenção federal das Forças Armadas, reduzidas ao papel de polícia, mais um crime do atual governo federal, eram executados a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Pedro Gomes, no centro da capital fluminense, nas barbas dos militares.
É sintoma do Judiciário que temos, de sua qualificação moral e ética, de sua furiosa noção de classe, de seu reacionarismo e irracionalismo, de sua sesquipedal incultura, a declaração expelida sobre o crime pela desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, que já ofendera Zumbi dos Palmares e o deputado Jean Wyllys, que desejaria  ver fuzilado. Gostaríamos de crer na sua excepcionalidade, mas tememos estar diante de uma visão-paradigma.
O governo federal humilhou o Rio de Janeiro com a intervenção descabida e inócua (como advertia o resultado pífio de suas antecessoras), mas sua principal vítima foram as Forças Armadas que erraram ao aceitarem o papel de joguete mercadológico-eleitoral de um presidente acossado pela impopularidade e pelos inquéritos que apuram sua  participação em conhecidas falcatruas, muitas das quais remontam ao seu reinado no Porto de Santos. 
A  execução que abateu tão cedo a vida de uma notável líder social (que jamais será suficientemente pranteada) consistiu, muito provavelmente, em tresloucada provocação da banda podre das polícias-milícias contra a intervenção que, por inexperiência de seu comando, anunciou o propósito de saneá-las, quando deveria fazê-lo sem aviso prévio.  
Seja qual tenha sido a motivação, uma bofetada na dignidade dos cidadãos, nada diminui a torpeza e iniquidade do crime político, cujos mentores e mandantes, tanto quanto ou mesmo mais que seus executantes, precisam ser identificados, se a casa-grande não deseja institucionalizar a lei da selva que já impera – governando como se um Estado autônomo fosse – nas periferias pobres de nosso país.
O crime põe em xeque o caráter da intervenção e nos adverte para o calamitoso desastre que poderá ser o saldo da ação das Forças Armadas (doloroso também para elas), em missão para a qual não se destinam e muito menos estão qualificadas. Por isso, sem forçosa relação de causalidade, o crime e a intervenção estão de mãos dadas.
Celso Amorim, ex-Ministro da Defesa, aponta para o âmago da tragédia: “(...) a filosofia que inspirou a intervenção foi o que induziu ao assassinato de Marielle, seja por priorizar a repressão violenta nas comunidades pobres, seja por levar setores policiais ou das milícias ou do tráfico a colocar a autoridade interventora frente a um desafio aberto.
Como no episódio do Riocentro, já lembrado por Tereza Cruvinel, entre outros comentaristas, a responsabilidade pelo crime recai sobre aqueles que escolheram a via da violência como meio de, supostamente, garantir a segurança da população” (“Carta aberta às forças progressistas do Estado do Rio de Janeiro”). 
Além do mais, como é óbvio, como é sabido por todo o mundo, inclusive pelos serviços de inteligência das Forças, o monitor da violência não está nas favelas cariocas ou paulistas, ou cearenses, nem será combatido com a invasão civil ou militar, morro acima, atemorizando ainda mais seus moradores, trabalhadores já acossados por policiais, milicianos e bandidos. A violência que explode nos morros e já desce para o asfalto tem origem no narcotráfico, do qual os facínoras de pés descalços são meros varejistas.
Ou há alguém neste mundo, além de Pedro Bó, que acredite na falácia segundo a qual é essa gente quem negocia com o tráfico internacional, que fornece as armas e a droga que aqui faz escala na sua viagem para os EUA e a Europa? Cumpram com exação as Forças Armadas e a silente Polícia Federal (nesse imbróglio, o que é que ela tem a dizer?) o seu papel de vigilância de nossas fronteiras, e não mais ingressarão em nosso território nem as armas nem a droga. Feche a Marinha de Guerra a baía de Guanabara, a grande porta de entrada do contrabando, e as fontes dos varejistas secarão.
E tenhamos, afinal, a coragem de rever uma legislação retrógrada, caduca, que fomenta o círculo vicioso repressão-contrabando-repressão que enriquece contrabandistas e policiais desonestos, espalhando a corrupção até níveis inusitados do poder público e da política  – como nos lembra o papel da Lei Seca nos EUA (1920-1933), alimentando a máfia, com as consequências que a literatura e o cinema notabilizaram.
É sempre oportuno lembrar: a violência nos morros, massacrando sua gente, aquela que poderíamos chamar de endógena, tem origem nas miseráveis condições de vida de suas populações, de que se aproveitam o tráfico e as milícias para, através do medo, dominar territórios, impor a barbárie no lugar da lei, beneficiados pelo ativo comprometimento de chefias políticas e dos ‘arranjos’ eleitorais.
Para esse fim, ações pontuais, cosméticas, que só valem para fornecer imagem para as televisões, de nada servem. Serve a intervenção maciça de recursos públicos,  intervindo nas periferias como nos bairros da zona sul do Rio, com saneamento básico, urbanização, escola e educação; mediante uma política de desenvolvimento que combata o desemprego e a miséria, a matéria-prima que alimenta o tráfico, a violência e o crime.
De igual modo é  fundamental um policiamento compatível com a cidadania, que privilegie a inteligência em detrimento da força bruta, evitando lançar combustível em fogueira e preservando a vida dos moradores e dos próprios policiais, que não podem continuar condicionados a agir como bestas-feras, servindo de capitães-do-mato e buchas de canhão.
O golpe teve sucesso e, pior, se mantém ágil na sua faina por destruir o que de mais caro possui uma nação, a esperança de seu povo.
É da essência do projeto político a intencionalidade, a vontade, a busca de um determinado fim, a seleção de meios. Isso nos diz que planejamento e ação políticas não casam com a  expectativa do acaso.
Por exemplo: condicionar o futuro de uma causa ao resultado de um julgamento judiciário, ou seja, ao acaso de uma decisão favorável, é renunciar ao papel de sujeito no processo histórico. Mas se o aleatório é uma condição possível, cabe ao estrategista trabalhar com o não-planejado e usar sua energia, sua força – e até as emoções que de acordo com suas características pode desencadear – em benefício do projeto político, que, em seu proveito, tudo deve atrair.
Aproveitemos o sacrifício involuntário e inesperado de Marielle, e a profunda dor que essa perda nos causa, para refletirmos sobre essa outra tragédia que é a política fluminense, a chamar as forças populares e de esquerda para a unidade.
Precisamos, hoje mais que nunca, ingressar na idade da razão.

Há 54 anos... A mais longeva ditadura de nossa história

Política

Memória

Há 54 anos... A mais longeva ditadura de nossa história

por Roberto Amaral — publicado 25/04/2018 00h10, última modificação 24/04/2018 12h25
O clima de hoje lembra o vivido nas vésperas do golpe de 1964, que dividiu o país e abriu espaço para a violência. Antes da ruptura, a conflagração
Arquivo Público do DF
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Do golpe de 1964 muito se pode afirmar, menos a surpresa
Completaram-se, no último 1º de abril, 54 anos da implantação da mais longeva ditadurade nossa história, com todo o seu acervo de tragédias sociais e individuais, e profundo atraso político. Suas consequências ainda se fazem sentir, pois estão na raiz dos dramas de nossos dias, cujo desfecho  não podemos divisar: em alguns momentos a ‘luz no fim do túnel’ nos enche de esperanças; noutros sugere um trem na contramão.
Lamentavelmente, os regimes autoritários e as ditaduras não são fenômenos estranhos à República, marcada por insurreições militares e golpes de Estado, manifestações exacerbadas de um  autoritarismo larvar cujas fontes remontam à Colônia e ao escravismo de séculos, construtor da ideologia da casa-grande, profundamente presente em nossa vida política e em nossa vida social, e mesmo nas relações interpessoais.
A própria República é obra de um golpe de Estado construído na caserna, e sua consolidação fez-se dependente de outro golpe, sustentado pela espada  de Floriano Peixoto. Assim se firmou a República oligárquico-agrária, sem povo e sem eleitores, que sobreviveria até a ‘revolução de 1930’. Antes, porém, viveria o país a insurreição de 1922 (Levante do Forte de Copacabana), e os dois 5 de julho que desembocariam na Coluna Prestes (1924).
E, na sequência de 1930, o levante paulista de 1932, o levante comunista de 1935, a implantação da ditadura do ‘Estado Novo’, o putsch integralista de 1938 e, fechando o ciclo, o golpe que detonou a ditadura e levou Vargas para seu exílio na estância Santos Reis em 1945.
É a história do ‘tenentismo’ que se estende até o regime de 1964, quando seus líderes já eram generais, almirantes e brigadeiros.  No seu currículo constam ainda a deposição e suicídio de Vargas em 1954, o golpe e contragolpe de 1955, a crise de 1961 e a implantação casuística do Parlamentarismo, de vida breve. A história da República tem sido a história da preeminência dos militares sobre a política e a vida institucional.
O clima de hoje muito lembra aqueles vividos nas vésperas do golpe de 1964, dividindo o país e abrindo espaço para a violência. É sempre assim. Antes da ruptura propriamente dita, a conflagração. Os  conflitos exacerbados em 1963 foram a preparação ideológica da ditadura militar.
Os anos difíceis que se instalam com as jornadas de 2013, de que se apropriou a direita com seu aparato midiático, abrem as rotas que levariam ao golpe de 2016 e à instauração do regime de exceção jurídica que não sabemos se será declarado perempto com as eleições de 2018. O precedente histórico não é animador.
Esse viés autoritário, cultivado pela casa-grande desde a Colônia, é servido à população pelos aparelhos ideológicos do Estado a serviço dos interesses de nossas elites perversas. Nesta  faina destaca-se o papel dos meios de comunicação de massa, a quem se pode tributar, hoje, a maior responsabilidade pelo clima de violência que pervade a política.
Em 1964 os militares e seus associados – na política e no ‘mercado’– encerraram o ciclo da Constituição democrática de 1946, enquanto a consolidação do impeachment de 2016 declarou perempto o ciclo iniciado com a ‘Constituição cidadã’ de Ulisses Guimarães, que culminara com a ascensão e queda do lulismo.
Talvez sejam os dias correntes a boa oportunidade para tentarmos antecipar o que podem ser os tempos vindouros. As lições colhidas dos fatos que não se repetem podem orientar estratégias e corrigir táticas, principalmente quando o distanciamento histórico favorece a análise fria.
Naqueles anos hoje distantes, os anos do pré-golpe e do golpe de 1º de abril,  poucos viram para além da superfície, e assim muitos ignoraram a conspiração que se desenvolvia nos subterrâneos da caserna em  interlocução com a ordem econômica, o Congresso e os meios de comunicação,  para logo estampar-se à luz do dia.
De outra parte, uma vez mais, a continuidade e segurança do governo popular se havia deslocado das ruas para os acordos políticos de cúpula. O povo continuava percebido como  elemento tático numa estratégia que se resolveria fora das ruas.
Não obstante os elementos fornecidos pela realidade palpável, não eram poucos, então, os que transferiam da mobilização popular  para o ‘dispositivo militar do general Assis Brasil’,  chefe da Casa Militar de Jango, a defesa do governo, das ‘reformas de base’ e da ascensão das massas.
Nesta linha pontificava o antigo capitão Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro.
No dia 17 de março de 1964, para uma plateia que lotava o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o antigo Cavaleiro da Esperança, após dissertar sobre ‘a formação popular do Exército brasileiro’, anunciou, com o respaldo de sua biografia, a impossibilidade de um golpe militar no Brasil. E quando este se efetivou, muitos o viram como ‘apenas mais uma quartelada’, como as outras  que haviam pontuado a República de 46. Passaria logo.
A história que se segue é conhecida.
Do golpe de 1964 muito se pode afirmar, menos a surpresa, defendido que foi abertamente  pela grande imprensa, preparando sua recepção e animando as manifestações dos adversários do governo e de suas teses.
O pretenso combate à corrupção de 2013-2016 era, em 1963-1964, a denúncia de suposta  corrupção e  de infiltração comunista no governo João Goulart, dando conta das conspirações de toda ordem, militares e civis igualmente conjurados, e, hoje documentalmente comprovada, a arquitetura do Departamento de Estado dos EUA, para quem Goulart, se não era comunista, estava a serviço do comunismo, o que dava no mesmo, segundo Washington. Vivíamos o auge da Guerra Fria e poucos meses nos separavam da crise dos mísseis estocados em Cuba pela União Soviética, incidente que por muito pouco não nos levou ao suicídio nuclear.
A conspiração, aliás, já se iniciara e era visível  desde a posse de Goulart,  como em suas memórias registra sem peias o Marechal Denis, líder da trinca militar que em agosto de 1961 tentara impedir a posse do vice-presidente constitucional, chamado ao posto pela renúncia do presidente Jânio Quadros. 
Hoje também já se sabe que a articulação que culminou com a deposição de Dilma Rousseff já era maquinada nos idos de 2013, a onda preparadora do levante de 2015, com sua inédita carga de violência, deixando  para trás os piores momentos de 1963.
Nas duas oportunidades os golpes foram precedidos de grandes mobilizações populares e, ainda em ambos, o leitmotiv unificador da conspiração era, fundamentalmente,  a resistência da casa-grande à ascensão político-econômica das grandes massas, naquela altura representada pelo varguismo, em nossos dias pelo lulismo.
Os  golpes de 1964 e de 2016 guardam parentesco que precisa ser posto de manifesto. Ambos foram precedidos de mobilizações populares  carregadas de atos de violência que expunham a genealogia fascista. Em 1964 importava  aos seus verdadeiros formuladores algo muito além da mera deposição de Jango e esse seu caráter profundo só ficou claro aos analistas em 1965, com o Ato Institucional n. 2, baixado pelo presidente que havia jurado a Constituição e prometido defender a democracia.
O significado de 2013 não foi compreendido em seu primeiro momento, e os sismógrafos dos especialistas  não perceberam o real significado do impeachment, aquele que se revelaria pelo governo que a ele se segue..
O difícil não está na identificação dos fatos expostos e vividos, mas na arte ou ciência da prospecção social, aquela que revela a realidade ainda em gestação, ou seja, a serpente ainda no ovo.
Em 1964 muitos não lograram antever o significado e os objetivos da ditadura, nem seu largo e profundo mando de 21 anos. Carlos Lacerda, sua principal voz civil, e Juscelino Kubitschek, que votaria no marechal Castello Branco, primeiro ditador, apostaram, olhando para trás,  na transitoriedade do novo regime, e logo engrossariam  a lista de suas vítimas.
Se não nos foi possível antever a gestação da irrupção popular de 2013, também faltou clareza à esquerda quanto a deposição da presidente Dilma Rousseff, apenas o passo necessário para  defenestrar o lulismo, a grande operação de nossos dias.
O ovo da serpente, este é o título da obra-prima de Ingmar Bergman. Quem já assistiu, assista de novo. Quem ainda não o viu, corra para ver. Está no YouTube.