J. Tarcízio Fernandes*
Finda a II Guerra Mundial, a humanidade
viu aos seus pés a paisagem desoladora de uma das mais graves sequelas da
insanidade nazista: o extermínio de mais de seis milhões de judeus simplesmente
por serem judeus, considerados por Hitler uma raça inferior.
Organizações humanitárias iniciaram o
resgate dos sobreviventes dos campos de concentração e os encaminharam para as
terras palestinas, então sob o poder do colonialismo do império inglês que
tentou por todos os meios impedir o desembarque dos refugiados. Estava nascendo
a idéia da criação de um Estado judeu na Palestina.
Com apoio da opinião pública de todos os
continentes, a ONU deliberou dividir a Palestina em dois Estados: o Estado
Judeu e o Estado Palestino. Era 1947 e, já em maio de 1948, fundou-se
oficialmente o Estado de Israel; mas, não o Estado Palestino, hoje apenas a
conflituosa QUESTÃO PALESTINA.
Desde então, os palestinos lutam para,
como os judeus, ter o seu Estado nos termos do primeiro documento da ONU. Ao
invés dele, um calendário marcando as datas de seu longo calvário, expulsos de
suas terras, a viver em campos de concentração a céu aberto cercados pelos
muros com cerca de arame farpado erguidos pela ironia da história de Israel; ou
em imensos acampamentos de refugiados que o sentimento solidário de outros
países da região lhes concedeu com ajuda das Nações Unidas.
Israel é militarmente poderoso. Tem
dentes atômicos e mãos munidas das mais sofisticadas armas. Está decidido a
impedir a criação do Estado Palestino. Não só a impedir, a ampliar pelas armas
os próprios limites territoriais, como fez na Cisjordânia, Faixa de Gaza e
Jerusalém Oriental. Já tem 78% das terras que a partilha igualitária da ONU
reservou para ambos os lados. E não está satisfeito. Quer mais.
Invade os domínios palestinos e toma
suas terras; faz assentamentos para
colonos judeus; mata civis, mulheres, crianças, idosos; bombardeia
escolas, hospitais, creches, supermercados, templos religiosos, maternidades;
lança bombas incendiárias sobre civis, tudo na mais despudorada violação das
normas internacionais com atos militares proibidos até em tempo de guerra. É
assim que Israel pratica o terror de Estado. Parece movido por um raciocínio de
lógica diabólico: matar mulheres para não gerar palestino, na sua antecipada
incriminação, o terrorista por nascer; matar criança para não ser o terrorista
recrutado de amanhã; matar idoso para punir o amadurecido terrorista de ontem.
Grave é que a imprensa dominada pelas
forças do reacionarismo mais retrógrado e agressivo do mundo, apoiado pelos
USA, quer convencer a comunidade internacional de que Israel defende-se a si
próprio das agressões palestinas.
Com isso, é querer que se acredite nas
razões do lobo, da conhecida fábula de La Fontaine, acusando, para devorá-lo, o
cordeiro de lhe sujar a água que bebe, estando o lobo a beber na parte superior
da margem do regato de onde a correnteza é que vem para os lábios de sede do
cordeiro indefeso.
Desde que criado, Israel bem o que tem
feito é ocupar terras palestinas, sem sequer admitir, na voracidade de sua
política expansionista, que os palestinos, com pedras e mísseis caseiros,
exerçam por atos de raro heroísmo a legítima defesa do que lhes pertence, todos
possuídos do combustível da santa ira necessário ao destemor da reação de sua
justa causa.
Mahmud Darwish, renomado poeta
palestino, denunciou que "ainda goteja a fonte do crime". Se assim é
– e é - resta aos povos unirem-se para secar essa fonte de derramamento de
sangue por onde escorre tanto ódio de um Estado terrorista resoluto a
permanecer fora da lei.
* Advogado
Publicado em Contraponto de 27/07/2014