sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Centrais organizam debate e 'calendário de resistência' por direitos

11/01/2017 19:44 - Copyleft

Centrais organizam debate e 'calendário de resistência' por direitos

Na primeira reunião do ano, entidades buscam manter unidade e querem ampliar discussão para que a população saiba o que está em jogo


Vitor Nuzzi, RBA
Força Sindical
São Paulo – Com rejeição unânime à proposta de reforma da Previdência e algumas diferenças na discussão sobre legislação trabalhista, centrais sindicais começaram a discutir hoje (11) um "calendário de resistência" contra perda de direitos. As entidades levam em conta um cenário político e econômico desfavorável, mas querem fazer um debate nacional para alertar a população sobre as mudanças pretendidas pelo governo. O foco inicial é a Previdência, que será tema de um seminário em 7 e 8 de fevereiro, seguido de uma "jornada de debates" a partir do dia 21 daquele mês.

As preocupações concentram-se na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma do sistema previdenciário, no Projeto de Lei (PL) 6.787, que contém mudanças na legislação trabalhista, inclusive prevendo a tese do negociado sobre o legislado, e no PLC 30, que está no Senado, sobre terceirização. "Independentemente de nossa vontade, as propostas estão Congresso. Do jeito que está aí, nenhuma central aceita. Temos de garantir a mobilização para fazer pressão no Congresso e ganhar a sociedade", afirmou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, após quase três horas de reunião na sede do Dieese, em São Paulo.

A PEC da Previdência tem rejeição unânime. Já o PL trabalhista ainda não tem um diagnóstico comum, segundo Juruna. As centrais devem pedir que o pedido de tramitação urgente seja retirado, para discutir mais.

Para o secretário-geral da UGT, Francisco Canindé Pegado, é preciso discutir o mérito de cada item. Ele citou o exemplo da organização no local de trabalho, um tema considerado importante, mas que precisa ser aperfeiçoado. "Todos são contra os projetos da forma como são apresentados. Vamos pôr na mesa e discutir pontualmente", afirmou. 





"Nós precisamos aprofundar esse debate e a estratégia entre as centrais", acrescentou a secretária-geral adjunta da CUT, Maria Aparecida Faria. "E descentralizar as ações entre os estados, para potencializar o debate, para que os trabalhadores e os sindicatos tenham uma compreensão melhor do momento que estamos. Podemos discutir qualquer coisa, desde que não haja perda de direitos."

Terra arrasada



"Temos de ganhar os trabalhadores para essa mobilização. E, entre nós, ampliar o conhecimento sobre essas medidas", avaliou o secretário-geral da CSB, Alvaro Egea. "Cada central manifestou sua opinião de forma bastante clara. É uma prova de maturidade. Sempre é possível ter pontos de unidade."

Na questão da Previdência, por exemplo, propostas sobre idade mínima, aposentadoria igual para homens e mulheres e mudanças para o trabalhador rural são rejeitadas por todas as centrais. Na questão trabalhista, "ainda há muitas dúvidas", disse Alvaro, lembrando que houve mudanças entre a minuta apresentada previamente pelo governo e o projeto final. Ele considera positivo o item sobre representação sindical no local de trabalho. "Vamos atuar no sentido de aperfeiçoar essa proposta."

Sobre terceirização, aguarda-se o relatório do senador Paulo Paim (PT-RS) sobre o PLC 30. Mas há uma avaliação pessimista sobre as chances de o parecer ser aprovado, diante da correlação de forças no Senado. As centrais querem uma solução negociada no Parlamento, para evitar um risco vindo do Supremo Tribunal Federal (STF), que pode acabar com o entendimento previsto pela Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que veda terceirização na atividade-fim das empresas. "É preferível trabalhar no Congresso para aprovar uma legislação protetiva do que ficarmos com uma política de terra arrasada (no caso de uma decisão desfavorável no STF)", diz Alvaro.

A unidade entre as centrais foi fator determinante para conquistas como a da política de valorização do salário mínimo, lembrou o presidente da CTB, Adilson Araújo. "Independentemente da diferença de opiniões, compete a nós ter uma visão mais ampla", afirmou. "A palavra de ordem é resistir. Falam em modernização. É uma modernização para melhorar a vida do trabalhador ou para legitimar o trabalho análogo à escravidão?"

Questões como retomada dos investimentos e recuperação da atividade são temas que unem, segundo o dirigente. Sobre a reforma trabalhista, ele observou que há "diferentes formar de interpretar a proposta apresentada pelo governo". E reafirmou que o processo que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi "um golpe do capital contra o trabalho".

Também participaram da reunião no Dieese dirigentes da Nova Central e da CSP-Conlutas. A CGTB e a Intersindical devem se incorporar à organização dos eventos e das manifestações.


Créditos da foto: Força Sindical

Onde estava Meryl Streep enquanto Obama processava denunciantes e bombardeava casamentos?

11/01/2017 17:42 - Copyleft

Onde estava Meryl Streep enquanto Obama processava denunciantes e bombardeava casamentos?

O discurso anti-Trump de Streep, no domingo, no Golden Globes, foi uma performance sublime. De uma hipocrisia pura e inalterada.


Danielle Ryan, RT News
Reuters
Certo, primeiro vamos tirar uma coisa do caminho: eu adoro a Meryl Streep. Julguem o quanto quiser, mas o Diabo Veste Prada é um clássico e não vou me desculpar por isso.

 

O discurso anti-Trump de Streep no domingo no Golden Globes foi uma performance sublime. Foi entregue com emoção e graça. Um verdadeiro momento emotivo para qualquer um preocupado com a era Trump que se aproxima.

 






E ainda assim...fedeu. Foi podre, de fato. De uma hipocrisia pura e inalterada. Porque Streep, infelizmente, é da raça comum de hipócritas liberais de Hollywood. Sabe, aqueles cujas credenciais de coração partido não são encontradas enquanto o ocupante da Casa Branca é um Democrata legal que é amigo da Beyoncé.

 

Em seu discurso apaixonante, Streep convocou seus colegas e fãs a se unirem a ela e doarem para o Comitê de Proteção aos Jornalistas: “Precisamos que a imprensa tenha poder de responsabilizá-los por cada escândalo. É por isso que nossos Pais Fundadores consagraram a imprensa e sua liberdade na nossa constituição”, ela disse.

 

Ela está certa, é claro. Mas me pergunto se Streep sabe, por exemplo, que a administração Obama foi a que mais perseguiu denunciantes em comparação aos seus predecessores combinados? É uma tradição que Trump provavelmente continuará, é claro, mas é estranho que a questão não tenha passado por sua cabeça até agora.

 

 

E onde estava Streep – repentinamente preocupada sobre como “violência incita violência” – quando Obama estava ajudando a Arábia

 

Saudita a detonar o Iêmen, bombardeando funerais e festas de casamento? Ou quando sua “intervenção humanitária” na Líbia deu tão errado que transformou o país em um estado falido, permitindo a criação de grupos terroristas como o Estado Islâmico? Ou quando o grande unificador conquistou o apelido de ‘Reio dos Drones’ enquanto expandia o programa de Drones dos EUA e conduzia 10 vezes mais ataques aéreos que George W. Bush? Também uma tradição que Trump seguirá com prazer.

 

Onde estava Streep quando o ganhador do Prêmio Nobel da Paz bombardeava não um, dois, ou três – mas sete países diferentes? Para ser justa com Streep, ela provavelmente não percebeu que a imprensa não deu bola também. Algo engraçado sobre isso também, já que Streep e seus amigos estão preocupados com o desdém aparente de Trump com os estrangeiros: todos os países bombardeados pela administração Obama eram muçulmanos.

 

E onde estava Streep quando a administração Obama estava negociando em nome dos rebeldes “moderados” ligados à al-Qaeda na Síria? Na realidade, onde estavam todos os hipócritas no evento, quando Obama lançava 26.171 bombas em 2016? Ah é, estavam festejando na casa dele!

 

Olha, todas essas pessoas têm o direito de transmitir suas reclamações sobre Trump – e deveriam. Têm muitas discordâncias legítimas a serem expostas. Mas quando enterram suas cabeças na areia tão fundo assim, não merecem uma rodada de aplausos e adulação das massas. Merecem ser alertados para que acordem. Sua indignação moral é vazia ao menos que sejam consistentes em aplicá-la.  

 

Quanto à Trump, seu ego facilmente atingido estava à mostra em sua reposta ao discurso de Streep quando a chamou de “atriz superestimada” – o que provavelmente não vai magoá-la como ela o magoou. Para ele, pode ser a hora de reconhecer que fará muito pouco em quatro anos se responder a cada insulto e desdém no Twitter.

 

A questão é, muitas das indignações que Streep e seus colegas da elite de Hollywood estão se debruçando agora não são específicas de Trump – e não são novas. Já estão acontecendo. Obama, o herói de Hollywood tornou ainda mais fácil para Trump perseguir jornalistas e denunciantes e bombardear inocentes se esse for o caminho que escolher. É hora de acordar.

 

Você é ótima atriz Meryl. A melhor, alguns dizem. Você poderia ao menos fingir se importar com isso, também.


Créditos da foto: Reuters




Movimento por anulação do impeachment cresce e cria comitês no Brasil e no exterior

11/01/2017 19:40 - Copyleft

Movimento por anulação do impeachment cresce e cria comitês no Brasil e no exterior

Para militantes, só restituição do cargo à presidenta eleita resgataria democracia. Para Eugênio Aragão, Temer não é adversário, é inimigo.


Cida de Oliveira, RBA
arquivo
São Paulo – A derrubada do impeachment de Dilma Rousseff é o único caminho para a saída dos golpistas do poder, o resgate do projeto aprovado e reeleito por 54 milhões de votos, o restabelecimento da democracia, a consolidação do estado democrático de direito e a garantia de que o povo vai poder escolher o futuro que quer para o país. Uma nova eleição, em meio ao avanço do golpe sobre os direitos, seria manipulada pelos golpistas para a sua permanência no poder. Este é o consenso defendido na noite de ontem (10) no primeiro ato-debate oficial realizado pelo Movimento pela Anulação do Impeachment.
O jurista e procurador da República Eugênio Aragão, que foi o último ministro da Justiça do governo Dilma, dividiu a mesa de debate com o jornalista e presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, a enfermeira aposentada e militante do PT Edva Aguilar, idealizadora das ventarolas distribuídas durante os jogos olímpicos do Rio de Janeiro com a estampa “Fora Temer”, e a artista, compositora e ativista digital Malu Aires.
Na plateia que lotou o auditório da Apeoesp (o sindicato dos professores da rede pública estadual), na Praça da República, região central de São Paulo, representantes de movimentos de mulheres, de moradia e da periferia da capital, do interior e de outros estados, além de integrantes do PT e do PCO – que organizou o evento –, e dirigentes do sindicato dos psicólogos, de professores e de sociólogos. Participaram ainda representantes da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes). A ex-ministra de Políticas para as Mulheres e amiga pessoal de Dilma Eleonora Menicucci não pôde comparecer, mas enviou mensagem na qual destaca que as duas agradecem e apoiam a mobilização. Um nome conhecido presente foi o ex-deputado estadual petista Adriano Diogo.
Entre as estratégias do movimento para viabilizar a volta de Dilma estão a ampliação e intensificação e intensificar de debates e a realização de grandes atos e manifestações em várias cidades do país para dar mais peso às pressões que alguns de seus militantes já vem fazendo sobre o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República, onde estão parados processos que questionam o impeachment por não haver crime de responsabilidade. Além disso, levar a questão para cortes internacionais por meio de um pedido de liminar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Costa Rica.
Estão sendo criados comitês em diversas cidades pelo país e até no exterior, os quais começam a agendar eventos. Nesta sexta-feira (13) à noite, haverá debate na sede da CUT, em Brasília, e em Belo Horizonte, a partir das 20h, no Restaurante do Ano, com a presença de Edva e Malu, na chamada Sexta Valente. Entre os próximos dias 27 e 29, elas estarão no 1º Encontro Internacional pela Democracia e Contra o Golpe em Amsterdam, na Holanda, com ativistas brasileiros que moram na Europa. 

É possível reverter o golpe?



Para Eugênio Aragão, é possível. "Se não tivéssemos condições de enfrentar a Globo, o Sergio Moro, Rodrigo Janot, Gilmar Mendes, não deveríamos estar aqui, e sim estar em casa, vendo novela", disse. "Mais do que acreditar nisso, temos de ter fé de que é possível a partir de uma consciência revolucionária. Não se trata de religião. Nossa fé é uma fé ditada, que nasce de um processo histórico, e a gente sabe que as coisas só mudam na luta. Não existe nada que é dado de graça."





Essa consciência revolucionária, segundo ele, é o caminho para uma democracia alternativa à atual, moldada para impedir que os excluídos cheguem ao poder. "Vivemos em uma sociedade escravocrata, pré-histórica em muitos aspectos. Para chegarmos à democracia que queremos, temos de restabelecer a que tínhamos. E para isso precisamos nos organizar e modular o nosso discurso. A gente tem todas as condições na proporção de força para assumir o poder que nunca assumimos", afirmou, ressaltando que, no seu entender, a esquerda nunca esteve no poder, tampouco as massas. "As massas que fazem a crítica ao movimento, que oxigenam o movimento, nunca ditaram as políticas. Apenas tiveram parte nas suas discussões."
Só a organização da sociedade, com participação das massas, pode trazer resultados, conforme o ex-ministro. Ele não acredita que medidas levadas às cortes internacionais possam surtir efeito. O Comitê de Direitos humanos ao qual os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreram contra os abusos na Operação Lava Jato é "apenas mais um elemento, uma pedra no caminho da reação".
"Não podemos ter esperança porque o comitê não tem poderes importantes. Faz um parecer sobre a situação e faz recomendações aos governos. Se os governos não acatarem, o comitê nada pode fazer. No máximo declarar que o governo esta descumprindo um tratado. Ponto. A menos que esteja em jogo interesses estratégicos de grandes potências centrais, o que não é o caso do Brasil."
Diferenciando os conceitos de inimigo e adversário, Eugênio Aragão destacou que o governo Temer é inimigo. E que oposição cabe apenas quando a democracia está em vigor, o que não acontece agora. “Quando a democracia é derrotada, quem resiste é inimigo do golpe. Não temos de ser oposição a Michel Temer porque ele assaltou o poder e se comportou como inimigo, deve então ser tratado como inimigo."
Ele conclamou os movimentos sociais, que participaram, mas não ditaram as políticas nos governos petistas, a relevarem as divergências para a derrubada do golpe. “Volta de Dilma é imperativo, é a partir daí que a gente volta a conversar, a definir o que queremos para revigorar a democracia. Não podemos vacilar agora. Num duelo, quem vacila leva o tiro.”
Ele lembrou episódios da ditadura, como a ocasião em foi humilhado e xingado por militares por não cantar o hino nacional quando se apresentou para o serviço militar. “Não podemos permitir que esse estado de coisas volte”.
E destacou  a diferença entre os setores progressistas e a ala conservadora que teve participação nos governos petistas e que apoiaram o golpe e agora participam de seu governo. “Somos como água e óleo. Temos de nos voltar para as massas, das quais nunca deveríamos ter nos afastado.

100% de chance



Rui Costa Pimenta também acredita na reversão do golpe. "Um movimento formado pelas bases tem "100% de chances de prosperar", diz. Crítico dos governos do PT principalmente pelas alianças com setores da direita, pelo afastamento dos movimentos sociais e mais recentemente pela falta de empenho das lideranças da legenda para conter a instalação e o avanço do golpe, ele declara que não votou em Dilma – assim como todos do PCO, segundo diz. No entanto, defende a volta da presidenta eleita para a expulsão dos golpistas e o fim do avanço dos ataques à democracia e aos direitos.
Para ele, o momento é propício porque, conforme acredita, o governo golpista entrou em uma espiral da crise que aponta para o fracasso do golpe. "Há diversos choques entre o governo, o congresso e o Judiciário, em que a mídia golpista noticia que Temer tem o controle sobre o legislativo. E há até colunistas conservadores já escrevendo sobre a necessidade de o governo dar marcha à ré e fazer política igual à do PT para evitar o colapso total. É a oportunidade para reverter o impeachment. E se não fosse possível, este auditório não estaria lotado  a uma hora dessas, em início de janeiro. A chance de este movimento formado pelas bases dos movimentos, sindicatos e partidos."
Na avaliação de Pimenta, a maior parte da esquerda não dimensionou a real amplitude do impeachment. "É um típico golpe de estado que avança rapidamente com medidas já aprovadas e outras em andamento para modificar profundamente as relações existentes no país, principalmente trabalhistas e sociais, que colocam em risco até mesmo a sobrevivência da esquerda na legalidade. A depender do plano que minimiza os riscos que o povo está correndo, a esquerda vai ficar à margem de um estado que podem inclusive, vir a sofrer uma intervenção militar."
A grande questão, para ele, é a facilidade com que o impeachment foi assimilado por políticos e pela maioria da esquerda. "Ninguém poderia ter aceitado o golpe desse grupo conspirador. Não podemos recuar diante do golpe que não se esgota com a retirada da presidenta eleita reeleita com 54 milhões de votos mas que nos leva a todos a um beco sem saída. Se não houver resistência, eles vão avançar e engolir  tudo o que foi conquistado com muita luta para derrubar a ditadura” .

Dúvidas



Edva Aguilar afirmou duvidar do apoio de Dilma a novas eleições e criticou seu partido e a maioria da esquerda em dar o golpe como consumado. "Grande parte das lideranças do PT e da esquerda não se empenham na luta pela restituição do mandato de Dilma. Por que não unir forças numa grande mobilização para anular o impeachment?", propõe.
A militante leu uma carta em que questiona a postura dos integrantes do STF e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em relação às ações que questionam o impeachment. 
"As perícias do Senado inocentaram Dilma das supostas acusações de crime de responsabilidade que a tiraram do cargo. Isso torna o impeachment ilegal, ilegítimo e inconstitucional. Por isso os ministros do STF, que são partícipes do golpe, devem acatar a ação que pede o cancelamento do impeachment que é um golpe contra o voto popular, que dá um ponta pé na democracia e um sinal verde ao golpismo. Anular é importante para a democracia porque não há garantias de um processo eleitoral isento e livre."

Processo xexelento



Uma das autoras de Crônicas da Resistência 2016 – Narrativas de uma Democracia Ameaçada, Malu Aires acredita que as pessoas estão finalmente despertando para uma nova realidade. "Parece que estão começando a perceber a mesma coisa, que parece não haver mais leis, ou que as leis não são nossas, e que os brasileiros não têm mais direito a nada", diz.
A ativista não cogita a possibilidade de eleições. “Não vai haver 2018 porque a democracia acabou em 2014. Se a Dilma voltar, se esse processo xexelento for anulado, com um país desse tamanho, muito maior que o Congresso e o STF, nós vamos fazer o que deveríamos ter feito desde o começo: governar junto com ela."


Créditos da foto: arquivo

Trechos imperdíveis da excelente entrevista de Luiz Gonzaga Belluzzo


RBA – No atual processo, estamos vendo acontecer com a Petrobras o que nem a ditadura militar – que tinha setores nacionalistas –, nem Fernando Henrique conseguiram…

 
Belluzzo – Isso nasce de uma situação peculiar, que foi a investigação da Lava Jato. Porém, se você examinar os episódios de crimes financeiros nos Estados Unidos, por exemplo, eles procuraram preservar as empresas. Aqui, conseguimos fazer uma coisa muito grave: prejudicar uma cadeia produtiva muito importante, talvez a mais importante num momento de recuperação. Tem algumas coisas que só podem ser explicadas pela indigência mental dessa gente.
 
RBA – Ou estão certas as teorias da conspiração segundo as quais isso tudo foi orquestrado a partir de interesses externos?

 
Belluzzo – Acho que o Sérgio Moro, por exemplo, nem sabe o que está fazendo. Isso é o pior nessa sociedade em que nós vivemos. Tanto ele (Moro) quanto os que deflagraram o ajuste não têm consciência exata do que estão fazendo. Há estudos agora sobre o caráter da informação, da língua, da linguística, dos falsos conceitos, o que tem a ver com a mídia brasileira, escancaradamente de quinta categoria.
 
O Moro é o que nos anos 1920 ainda se chamava idiot savant, uma expressão psiquiátrica, para falar do sábio idiota, aquele que só conhece a área dele e não consegue fazer uma relação entre a área dele e as demais. Então não acho que o Moro seja um conspirador. Ele está encharcado dessas convicções, foi ensinado assim, estudou lá, percebe-se claramente que não tem uma cultura mais ampla. Aliás, isso faz falta entre operadores de direito e de economia. A gente sempre precisa achar que a gente sabe menos do que acha que sabe.

-------------------------------------------------------------------------------------

RBA – O Brasil passa por uma conjuntura em que não se sabe se o governo vai cair, se vai haver parlamentarismo ou o que vai acontecer. É possível prever um cenário?

 
Belluzzo – O cenário é muito obscuro, muito difícil de fazer previsão. Acho que a recuperação da economia vai demorar muito, mas esse sistema político que está aí é um obstáculo, não oferece nenhuma possibilidade de solução. Eles se comprometeram muito. Essa “PEC do Fim do Mundo” é uma insensatez. Qualquer pessoa com inteligência acima de dois neurônios se dá conta de que isso é um desastre. É uma coisa de hospício.
 
RBA – No entanto, passou…

 
Belluzzo – Passou. Pois é. A gente tem que buscar a explicação numa região mais profunda da sociedade brasileira. Você está vendo o que está acontecendo com os presídios. Uma vez li no Norberto Bobbio que você pode avaliar o grau de civilidade de uma sociedade pela forma com que trata as crianças, os velhos e os prisioneiros. Quanto mais selvagem e mais bárbara a sociedade, pior o tratamento que dá a essas categorias de pessoas, que são as que estão à mercê do Estado, e deveriam estar sob a proteção do Estado. Você viu manifestações de deputados, secretários de Estado, dizendo que não tinha nenhum santo (nos presídios). Não se trata de santo ou não santo, trata-se de um sujeito que está investido da condição humana.
 
Há o atraso secular do Brasil, atraso social, moral e ideológico que vem lá do escravismo, e depois vem da desigualdade, e de todas as mazelas das quais esse país não se livrou. Isso tudo está cristalizado hoje em duas coisas: no mercado financeiro e na mídia de massas. Isso é que conforma o imaginário, a compreensão de muitos brasileiros entregues a isso sem nenhum poder de reação e nenhuma possibilidade de se informar alternativamente.


----------------------------------------------------------------------------------------------


RBA – Depois de tanta luta pela redemocratização, o impeachment, como ocorreu, provocou em muitas pessoas um sentimento de total descrença no Brasil, os que acham que o país não tem mais jeito. Qual sua posição, está entre esses?

 
Belluzzo – Não, porque se eu tivesse essa visão eu teria me retirado de alguma forma. Acho que a gente pode juntar forças democráticas e acho que uma parte da esquerda tem que entender que a democracia é importante. A gente está aprendendo que é importante, que as instituições são importantes. A gente está voltando às origens do pensamento de esquerda que era liberal democrático. O liberalismo politico faz parte da construção dessa forma de ver o mundo, de organizar as instituições, junto com o controle da economia pelo Estado, sem que você se deixe iludir pela ideia de que o mercado se autorregule.
 
Não estou falando nada de novo, mas simplesmente voltando ao que disseram e praticaram os grandes estadistas do pós-guerra, como (Konrad) Adenauer, (Charles) De Gaulle, (Alcide) De Gasperi, gente que se deu conta de que a democracia só pode florescer enquanto houver segurança econômica do cidadão, senão você desencadeia um processo perverso, como o que a gente está vendo aqui. O que é assustador aqui é nosso atraso cultural, intelectual, sobretudo nas camadas dos que se consideram acima dos mais fracos e mais pobres. Seria bom que o Brasil tivesse uma elite, mas não tem. O Brasil tem ricos, mas não tem elite.
 

As camadas superiores não querem saber do Brasil. É como se estivéssemos voltando à época do pau brasil, isso aqui virou um campo de caça. Como se viessem fazer uma coisa extrativista: tirar e ir morar em Miami. Não têm solidariedade com o outro. E isso é fundamental, foi o que cimentou a construção do Estado do bem estar, que hoje está começando a se dissolver também na Europa. Isso é que é terrível. O capitalismo não consegue mais se proteger dele mesmo.
 
RBA – Mas, pelo menos no Brasil, a pouca civilidade que tinha está indo pelo ralo…

 
Belluzzo – Sim, aqui a coisa é mais grave, mas na Europa a situação da Grécia, por exemplo, é terrível. Aumentou o número de suicídios violentamente. O que a gente quer? A gente quer dar uma contribuição para a sociedade e ao mesmo tempo ter direito de viver melhor. O que está colocado aí na frente pelo avanço tecnológico etc. é que você vai poder trabalhar menos horas. Precisamos nos livrar dessas relações postas nas empresas com os trabalhadores e a população, para que as pessoas possam trabalhar menos, curtir mais a vida.

Belluzzo: 'Quanto mais selvagem a sociedade, pior trata crianças, velhos e prisioneiros'

11/01/2017 09:40 - Copyleft

Belluzzo: 'Quanto mais selvagem a sociedade, pior trata crianças, velhos e prisioneiros'

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo considera que a recuperação da economia vai demorar muito e que nosso sistema político é um obstáculo.


Eduardo Maretti - Rede Brasil Atual
Agência Brasil


O economista Luiz Gonzaga Belluzzo não gosta de analisar conjuntura sem contextualizar o cenário em um panorama histórico mais amplo. Assim, por exemplo, para responder se o mercado está começando a sinalizar sua decepção com o presidente Michel Temer, ou, mais concretamente, se o mercado está de fato abandonando Temer, ele começa dizendo: “Eu não acho que essa seja uma pergunta que esclareça a situação”. Para Belluzzo, é preciso situar o atual cenário no processo que começou a se formar a partir do fim de 2014, quando a ex-presidenta Dilma Rousseff começou a consolidar a ideia do ajuste fiscal.
 
Para ele, na sequência dos acontecimentos que culminaram no impeachment, as pessoas continuaram falando que era só passar o impeachment que ia melhorar a confiança. O que é um pensamento simplista numa conjuntura de grave crise. “A ideia de que uma vez deflagrado o impeachment você iria recuperar a confiança é primária. O que aconteceu foi que a situação se agravou, continuamos numa espiral descendente, e todas as pesquisas de confiança dos empreendedores acabaram se mostrando negativas”, diz.
 
O economista considera que o cenário atual do país “é obscuro” e é difícil fazer previsões. “Acho que a recuperação da economia vai demorar muito, mas esse sistema político que está aí é um obstáculo.”  Um exemplo para ilustrar a cor cinzenta do horizonte hoje é a chamada “PEC do Fim do Mundo”, que congela gastos públicos em áreas vitais como saúde e educação . “É uma insensatez. Qualquer pessoa com inteligência acima de dois neurônios se dá conta de que isso é um desastre. É coisa de hospício.”





 
Ele episódios recentes nos presídios brasileiros para dizer, citando o filósofo Norberto Bobbio (autor de Teoria Geral da Política), que se pode avaliar “o grau de civilidade de uma sociedade pela forma como trata as crianças, os velhos e os prisioneiros”. “Quanto mais selvagem e mais bárbara a sociedade, pior o tratamento que dá a essas categorias de pessoas”, disse, ao receber a reportagem da RBA em seu apartamento em São Paulo para esta entrevista.
 
RBA – O mercado está abandonando Temer?

 
Belluzzo – Eu não acho que essa seja uma pergunta que esclareça a situação. As opiniões prevalecentes no mercado foram importantes para fazer com que a Dilma mudasse de ponto de vista, entre o momento em que ela estava fazendo a campanha eleitoral, e portanto propondo um outro programa, e a decisão que ela tomou no final de 2014 (quando o pacote fiscal começou a tomar corpo). Na época eu disse quer ela ia fazer um ajuste equivocado e eu esperava consequências desastrosas. Eu já fiz muita previsão errada, mas nesse caso não precisaria nem ser economista, precisaria de elementar bom senso e ter um mínimo de conhecimento para ver que adotar aquele programa de ajustamento, como foi feito, quando a economia estava desacelerando fortemente, ia desencadear um processo cumulativo que se autorreforçava, de queda do PIB e aumento dos custos das empresas, porque houve um choque de tarifas – gasolina, energia, água, esgoto – e explosão do serviço das dívidas contraídas no período de expansão, quando empresas e famílias se endividaram.
 
A inflação saiu de 6,4 no final de 2014 e foi para 10,25, se não estou enganado (chegou a 11,31% em janeiro de 2016). Com a subida da taxa de juros e cortes de investimento, a economia entrou num processo de derrocada que se autoalimenta: queda do nível de atividade, menos receitas para empresas e menos impostos para o governo. À medida que as condições das empresas foram piorando, pioraram também as condições do crédito, para as empresas e famílias. Você jogou a economia não numa recessão, mas numa depressão. A despeito disso, as pessoas continuaram falando que era só passar o impeachment que ia melhorar a confiança. Ora, isso é uma visão tosca de como você recompõe a confiança de uma economia de mercado.
 
RBA – Isso sob uma ótica política…

 
Belluzzo – Político-econômica, porque as coisas estão muito entrelaçadas. A ideia de que uma vez deflagrado o impeachment você iria recuperar a confiança é uma ideia primária. O que aconteceu foi que a situação se agravou, continuamos numa espiral descendente, todas as pesquisas de confiança dos empreendedores acabaram se mostrando negativas. No caso das empresas houve uma piora grave do serviço da dívida e aumento da capacidade ociosa, como no setor automobilístico.
 
As empresas estão muito machucadas pelo choque de tarifas e de juros e pela deterioração dos seus balanços. Essa é uma recessão muito grave porque a piora do balanço das empresas, de serviços ou industriais, afeta também os bancos, que começam a ter problemas com seus balanços. O que estou vendo é que começa um movimento de percepção entre aqueles que ou aceitaram ou concordaram não só com o impeachment, mas com o programa. É uma ilusão achar que o impeachment ia recompor a confiança. Como disse, é primário. Tirando alguns que estão começando a manifestar uma inquietação agora, o mercado, os que falavam muito, estão se escondendo. Tenho lido artigos que dizem que o desemprego seria menor se houvesse um ajuste pelo lado do emprego informal. É outra ilusão. É ilusão dizer que, se o salário real caísse mais rapidamente, o combate à inflação seria mais rápido e a recessão seria menor. Francamente, isso não encontra guarida na lógica, porque se a massa de salários cai muito rapidamente, isso vai alimentar a recessão.
 
RBA – A política econômica do governo Temer não parece um arremedo de neoliberalismo, algo mais antigo, ou uma colcha de retalhos, com medidas de supressão de direitos, PEC do Fim do Mundo etc.? Como define essa política?

 
Belluzzo – É difícil lidar com nomes, com siglas. Acho que é uma política, mais do que conservadora, retrógrada. Ela tenta fazer um ajuste que não tem nenhum fundamento no funcionamento real da economia, movido por ideias muito conservadoras e precárias. É um desrespeito com os neoliberais mais atilados chamar essa política de neoliberal (risos).
 
Há uma crise muito profunda da teoria econômica, que está sendo avaliada e contestada por muita gente fora do Brasil. Aqui esse debate ainda não ganhou corpo, porque os economistas brasileiros ainda estão muito resistentes a abrir mão do aparato teórico que adquiriram fora do Brasil, e que não tem mais validade ou vale muito pouco e até os economistas mais atilados deles já estão começando a reconsiderar algumas questões. Quando a economia estava desacelerando, adotar aquele programa de ajustamento (com Dilma) é simplesmente inacreditável. Inacreditável que pudesse passar pela cabeça de alguém uma ideia que só se pode justificar por concepções equivocadas e mesmo ridículas.
 
RBA – No atual processo, estamos vendo acontecer com a Petrobras o que nem a ditadura militar – que tinha setores nacionalistas –, nem Fernando Henrique conseguiram…

 
Belluzzo – Isso nasce de uma situação peculiar, que foi a investigação da Lava Jato. Porém, se você examinar os episódios de crimes financeiros nos Estados Unidos, por exemplo, eles procuraram preservar as empresas. Aqui, conseguimos fazer uma coisa muito grave: prejudicar uma cadeia produtiva muito importante, talvez a mais importante num momento de recuperação. Tem algumas coisas que só podem ser explicadas pela indigência mental dessa gente.
 
RBA – Ou estão certas as teorias da conspiração segundo as quais isso tudo foi orquestrado a partir de interesses externos?

 
Belluzzo – Acho que o Sérgio Moro, por exemplo, nem sabe o que está fazendo. Isso é o pior nessa sociedade em que nós vivemos. Tanto ele (Moro) quanto os que deflagraram o ajuste não têm consciência exata do que estão fazendo. Há estudos agora sobre o caráter da informação, da língua, da linguística, dos falsos conceitos, o que tem a ver com a mídia brasileira, escancaradamente de quinta categoria.
 
O Moro é o que nos anos 1920 ainda se chamava idiot savant, uma expressão psiquiátrica, para falar do sábio idiota, aquele que só conhece a área dele e não consegue fazer uma relação entre a área dele e as demais. Então não acho que o Moro seja um conspirador. Ele está encharcado dessas convicções, foi ensinado assim, estudou lá, percebe-se claramente que não tem uma cultura mais ampla. Aliás, isso faz falta entre operadores de direito e de economia. A gente sempre precisa achar que a gente sabe menos do que acha que sabe.
 
RBA – O Brasil passa por uma conjuntura em que não se sabe se o governo vai cair, se vai haver parlamentarismo ou o que vai acontecer. É possível prever um cenário?

 
Belluzzo – O cenário é muito obscuro, muito difícil de fazer previsão. Acho que a recuperação da economia vai demorar muito, mas esse sistema político que está aí é um obstáculo, não oferece nenhuma possibilidade de solução. Eles se comprometeram muito. Essa “PEC do Fim do Mundo” é uma insensatez. Qualquer pessoa com inteligência acima de dois neurônios se dá conta de que isso é um desastre. É uma coisa de hospício.
 
RBA – No entanto, passou…

 
Belluzzo – Passou. Pois é. A gente tem que buscar a explicação numa região mais profunda da sociedade brasileira. Você está vendo o que está acontecendo com os presídios. Uma vez li no Norberto Bobbio que você pode avaliar o grau de civilidade de uma sociedade pela forma com que trata as crianças, os velhos e os prisioneiros. Quanto mais selvagem e mais bárbara a sociedade, pior o tratamento que dá a essas categorias de pessoas, que são as que estão à mercê do Estado, e deveriam estar sob a proteção do Estado. Você viu manifestações de deputados, secretários de Estado, dizendo que não tinha nenhum santo (nos presídios). Não se trata de santo ou não santo, trata-se de um sujeito que está investido da condição humana.
 
Há o atraso secular do Brasil, atraso social, moral e ideológico que vem lá do escravismo, e depois vem da desigualdade, e de todas as mazelas das quais esse país não se livrou. Isso tudo está cristalizado hoje em duas coisas: no mercado financeiro e na mídia de massas. Isso é que conforma o imaginário, a compreensão de muitos brasileiros entregues a isso sem nenhum poder de reação e nenhuma possibilidade de se informar alternativamente.
 
RBA – Depois de tanta luta pela redemocratização, o impeachment, como ocorreu, provocou em muitas pessoas um sentimento de total descrença no Brasil, os que acham que o país não tem mais jeito. Qual sua posição, está entre esses?

 
Belluzzo – Não, porque se eu tivesse essa visão eu teria me retirado de alguma forma. Acho que a gente pode juntar forças democráticas e acho que uma parte da esquerda tem que entender que a democracia é importante. A gente está aprendendo que é importante, que as instituições são importantes. A gente está voltando às origens do pensamento de esquerda que era liberal democrático. O liberalismo politico faz parte da construção dessa forma de ver o mundo, de organizar as instituições, junto com o controle da economia pelo Estado, sem que você se deixe iludir pela ideia de que o mercado se autorregule.
 
Não estou falando nada de novo, mas simplesmente voltando ao que disseram e praticaram os grandes estadistas do pós-guerra, como (Konrad) Adenauer, (Charles) De Gaulle, (Alcide) De Gasperi, gente que se deu conta de que a democracia só pode florescer enquanto houver segurança econômica do cidadão, senão você desencadeia um processo perverso, como o que a gente está vendo aqui. O que é assustador aqui é nosso atraso cultural, intelectual, sobretudo nas camadas dos que se consideram acima dos mais fracos e mais pobres. Seria bom que o Brasil tivesse uma elite, mas não tem. O Brasil tem ricos, mas não tem elite.
 
As camadas superiores não querem saber do Brasil. É como se estivéssemos voltando à época do pau brasil, isso aqui virou um campo de caça. Como se viessem fazer uma coisa extrativista: tirar e ir morar em Miami. Não têm solidariedade com o outro. E isso é fundamental, foi o que cimentou a construção do Estado do bem estar, que hoje está começando a se dissolver também na Europa. Isso é que é terrível. O capitalismo não consegue mais se proteger dele mesmo.
 
RBA – Mas, pelo menos no Brasil, a pouca civilidade que tinha está indo pelo ralo…

 
Belluzzo – Sim, aqui a coisa é mais grave, mas na Europa a situação da Grécia, por exemplo, é terrível. Aumentou o número de suicídios violentamente. O que a gente quer? A gente quer dar uma contribuição para a sociedade e ao mesmo tempo ter direito de viver melhor. O que está colocado aí na frente pelo avanço tecnológico etc. é que você vai poder trabalhar menos horas. Precisamos nos livrar dessas relações postas nas empresas com os trabalhadores e a população, para que as pessoas possam trabalhar menos, curtir mais a vida.

 



Créditos da foto: Agência Brasil