sexta-feira, 10 de maio de 2019

O Machado de Assis negro


O Machado de Assis negro, por Urariano Mota

Antes mesmo que se veja o movimento Machado de Assis Real como uma criação esquerdista, de autêntico mimimi, é bom saber que a discussão do embranquecimento de personalidades vai além de Machado de Assis.

O Machado de Assis negro

por Urariano Mota

A Faculdade Zumbi dos Palmares começou nestes dias o movimento Machado de Assis Real, que procura repor a cor natural do maior escritor brasileiro. No site http://machadodeassisreal.com.br/ está publicado:     
“O racismo no Brasil escondeu por séculos quem ele era. Sua foto oficial, reproduzida até hoje, muda a cor da sua pele, distorce seus traços e rejeita sua verdadeira origem. Machado de Assis foi embranquecido para ser reconhecido. Infelizmente, um absurdo que mancha a história do país. Uma injustiça que fere a comunidade negra”.
Isso merece duas ou três considerações. Antes mesmo que se veja o movimento Machado de Assis Real como uma criação esquerdista, de autêntico mimimi, é bom saber que a discussão do embranquecimento de personalidades vai além de Machado de Assis. Até onde a memória sem auxílio do google alcança, lembro que poucos pessoas  sabem que o maior nome da literatura russa, o poeta Puschkin, era descendente de negros. O seu bisavô, o africano Abram Petrovic Gannibal, chegou à Rússia como escravo e ascendeu à nobreza sob o czar Pedro, o Grande. Excepcionais méritos deveria ter esse bisavô, sem dúvida.
Em literatura mais clássica, perto da nossa formação, o que dizer do imenso Padre Antônio Vieira, a quem Fernando Pessoa respeitava como o Imperador da Língua Portuguesa? Pelas imagens, de escuro Vieira só possuía as vestes de religioso.  Era um gênio branco, do nariz afilado à cor de todos os traços até os lábios finos. Pois sim. O Padre Vieira descendia de africanos, que em algumas fontes se dá como descendente de bisavó negra ou mulata. O que quer dizer, de certa forma o mundo da sua criação começou pela mulata. Sentido total, pois Lamartine Babo bem cantou  no século XX que a mulata era a tal.
Mais perto de nós, temos o mulato Castro Alves, que em todas imagens de livros didáticos aparece como um galã de larga cabeleira, de traços claros de quem veio de países de neve. A lista seria extensa. Mas a pergunta que sobra é: Machado de Assis, quando nas fotos sai de branco para quase branco, daí para mulato, e finalmente para negro, negro, negro na cor, nas linhas do rosto nada caucasianas, será um exagero? Pior, acusar as fotos tradicionais do seu rosto como uma falsificação seria um absurdo?
Não, quando lembramos que os fotógrafos, desde o Império, branqueavam as pessoas no estúdio conforme a posição social do freguês. Não, quando sabemos que a mudança de tonalidade de mestiços, ou até mesmo a mágica de os tornar brancos, é uma força da formação nacional. A maioria, se não todas crianças brasileiras ouvem dos pais, dos vizinhos e das ruas, que negros devem se casar com brancas para “clarear a raça”. Na própria história de Machado de Assis, ele já consagrado na literatura, já presidente da Academia Brasileira de Letras, quando falece vem o reparo indignado de Joaquim Nabuco. Então embaixador nos Estados Unidos, Nabuco se revoltou ao saber que os jornais noticiaram o falecimento do mulato Machado de Assis:
O Machado para mim era um branco e creio que por tal se tornava; quando houvesse sangue estranho isso nada alterava a sua perfeita caracterização caucásica. Eu pelo menos só via nele o grego” .   
Ao que poderia responder hoje a Faculdade Zumbi: “Sim, Machado de Assis era um grego, mas um tanto queimadinho de sol, pois não?”. Pois sim. Creio que em boa hora começou a discussão. Ela é mais que uma mudança de tom.
Urariano Mota – Escritor e jornalista. Autor dos romances “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus” e “A mais longa duração da juventude” 

Fórum Onze e Meia | O desgoverno de Bolsonaro e a falência do Brasil


10 DE MAIO DE 2019, 12H09

Fórum Onze e Meia | O desgoverno de Bolsonaro e a falência do Brasil

Decreto de Bolsonaro também pode armar o MST, dizem juristas

Por Esmael Morais

Decreto de Bolsonaro também pode armar o MST, dizem juristas

Publicado em 10/05/2019
O decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que facilita porte de armas de fogo também pode amar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Segundo juristas ouvidos pelo o Jornal O Estado de S. Paulo, a inclusão da categoria “residente em área rural” enquadra pessoas do movimento que moram em terras regularizadas e podem comprovar residência. O MST, no entanto, é contrário ao armamento.
Segundo a matéria, cerca de 400 mil famílias ligadas ao MST vivem hoje em assentamentos da reforma agrária – ou seja, donos de propriedades rurais. Outras 120 mil famílias vivem em acampamentos do MST e ainda não possuem a propriedade da terra.
Para juristas, só os acampados do movimento não seriam beneficiados pelo decreto.
“Para requerer, aqueles de propriedade rural têm de estar em ordem com suas obrigações legais”, diz o professor Claudio Langroiva, de Direito Processual Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Em tese, se ele estiver com o título da terra, preenche o requisito.”
Langroiva afirma, ainda, que participar do MST não é motivo legal para ser excluído do decreto. “Esses integrantes, se individualmente processados, ficariam, aí sim, limitados de seus direitos. De forma genérica, não”, afirma. “Para a lei, seria o mesmo que proibir o católico só porque é católico.”
A advogada constitucionalista Vera Chemim tem a mesma visão. “Para ter o porte, não pode morar em um terreno invadido, que seja de outro proprietário, mas se tiver o registro do terreno em cartório, não há problema”, afirma.
Oposição
Para o MST, o decreto de Bolsonaro é um incentivo à violência. O movimento descarta completamente a possibilidade de armar os seus integrantes.
“Não queremos nem sonhar com essa possibilidade (de armar os sem-terra)”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do movimento. “O MST tem 2 milhões de pessoas em sua base. Seria um contingente cinco vezes maior do que o Exército brasileiro”, completa.
O MST destaca que a maioria dos donos de fazendas com mais de 500 hectares mora nas cidades, e não em suas propriedades rurais. Nesses locais, as armas ficariam nas mãos de funcionários das fazendas.
“Não acreditamos na guerra como alternativa porque quem morre sempre são os filhos da classe trabalhadora”, afirma Gilmar Mauro, da coordenação estadual do MST em São Paulo.
Com informações do Estadão

Placa em telhado no complexo da Maré, no Rio, diz: “Escola. Não atire!”

10 DE MAIO DE 2019, 11H18

Placa em telhado no complexo da Maré, no Rio, diz: “Escola. Não atire!”

"Por essas e outras que coloquei no teto e na fachada do Uerê para ver se não nos matam em dias de confronto. Uma vez um helicóptero metralhou a escola. A que ponto chegamos!", publicou no Facebook a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, responsável pelo projeto Uerê
Placa no telhado do projeto Uerê, no complexo da Maré
Uma placa colocada no telhado do projeto Uerê, no complexo da Maré, na periferia do Rio de Janeiro, alerta aos snipers da polícia do governador Wilson Witzel (PSC) que o local é uma escola, para que não seja alvejada por tiros que partem dos atiradores que sobrevoam a região em helicópteros.
“Por essas e outras que coloquei no teto e na fachada do Uerê para ver se não nos matam em dias de confronto. Uma vez um helicóptero metralhou a escola. A que ponto chegamos!”, publicou no Facebook a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, responsável pelo Uerê.
Na última segunda-feira (6), uma operação da Polícia Civil na Maré deixou oito mortos. Durante a ação, tiros foram disparados por agentes de dentro de um helicóptero.
Durante o fim de semana, uma rajada de 10 tiros em apenas um segundo, que partiu do helicóptero onde estava o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), acompanhando snipers atingiu um um ponto de apoio para peregrinação de evangélicos, que foi confundido com uma casamata do tráfico.
Por sorte, segundo a reportagem, não havia ninguém no local, algo incomum numa manhã de sábado, quando ocorreu a operação na trilha do Monte do Campo Belo, em Angra dos Reis, no último dia 4.

Congresso quer retomar projeto que pune abuso de autoridade para esvaziar poder de Moro


Congresso quer retomar projeto que pune abuso de autoridade para esvaziar poder de Moro

Após impor série de derrotas ao ministro da Justiça, parlamentares querem impor travas ao pacote anticrime; movimento responde ataques via redes sociais
Ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Jornal GGN – Segundo informações da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, uma ala do Congresso, apoiada pelo presidente das duas Casas, quer aproveitar a desarticulação que o governo demonstrou nesta quinta-feira (9) para incluindo como pauta de discussão o projeto de lei sob relatoria do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) que pune o abuso de autoridade.
A estratégia é impor travas ao pacote anticrime do ministro da Justiça Sérgio Moro. A movimentação dos parlamentares, em sentido da base do governo, acontece como resposta a pressão que sofreram em redes sociais e grupos de WhatsApp contra a retirada do Coaf das mãos de Moro.
“Nesta quinta, o líder de um dos maiores partidos da Câmara contou que recebeu mensagens de mais de 600 números desconhecidos. Uma delas trazia texto que ele interpretou como ameaça. Dizia que, caso votasse pela saída do Coaf da pasta de Moro, o deputado “acabaria PRESO!”, com a palavra em caixa alta”, escreveu Daniela Lima que assina a coluna Painel.
Também nesta quinta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se irritou com a cobrança do deputado Diego Garcia (Pode-PR) que, na tentativa de ganhar tempo para evitar a saída do Coaf do Ministério da Justiça, entrou com uma questão de ordem pedindo para que Maia votasse, antes da Medida Provisória 870, outras cinco MPs que tinham entrado antes no Congresso.
“As medidas provisórias devem ser apreciadas seguindo a ordem de trancamento da pauta, e não pode o presidente se valer desse momento. Isso é desleal com o Parlamento e com os parlamentares desta Casa”, disse Garcia.
Em seguida, Maia rebateu: “Vossa excelência não tem o direito de me chamar de desleal, nunca fui desleal, e agora vossa excelência acabou de derrubar a MP 870. Vou ler todas as MPs e todas serão votadas antes da 870. Vossa excelência será responsável pela retirada do Coaf do Ministério da Justiça”, disse.
Se o Plenário da Câmara não votar a MP dos ministérios até dia 3 de junho, as mudanças realizadas pelo governo Bolsonaro não terão mais efeito e a estrutura do Planalto voltará a ter 29 pastas, como no governo Temer.
Segundo a coluna Painel, ao adiar a votação da MP 870, Maia expôs a desarticulação do governo ainda mais. Pouco antes, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse em nome do Planalto que as mudanças acertada na comissão especial que analisou a MP 870 tinham sido aprovadas, incluindo a migração do Coaf para o Ministério da Economia. Entretanto, Moro continuava brigando junto a parlamentares para recompor a base de simpatizantes que pudesse impedir a mudança.
“A atuação em direções opostas dos integrantes do governo provocou risos na oposição e certa surpresa entre líderes de partidos de centro, que se chocaram com a bateção de cabeça”, completou Daniela Lima. Para ler a coluna Painel na íntegra, clique aqui.

GRUPOS DE WHATSAPP DE BOLSONARO ORQUESTRAM ATAQUES CONTRA UNIVERSIDADES

GRUPOS DE WHATSAPP DE BOLSONARO ORQUESTRAM ATAQUES CONTRA UNIVERSIDADES

Governo prepara novos cortes.

Governo prepara novos cortes.

A manchete do Valor, hoje, e as notícias de que o governo prepara a liberação de outra parcela dos depósitos do PIS/Pasep para estimular o consumo são indicadores mais do que alarmantes da situação não só das contas públicas, mas do “embicamento” para baixo da atividade econômica.
Anunciar um novo corte orçamentário pouco depois de uma tosa cavalar nas despesas da União é um jato de água geladíssima nas expectativas econômicas. Vai além da confissão de que o item “despesas de Governo”, componente do PIB, puxará fortemente para baixo o indicador. É, neste nível, confirmar que o segundo semestre será marcado por crises administrativas, paralisações da máquina e agitação política nos setores “depenados”.
A liberação dos recursos do PIS, tal como no governo Michel Temer, quer funcionar como uma injeção de dinheiro no consumo. Mas os valores que se pretendem envolver, além de poucos (metade do que foi injetado no governo passado), tem efeito apenas imediato, sem alterar o panorama de renda e suas perspectivas,  que são péssimas e tendem a piorar.
Não há um sinal  no horizonte que não seja de aprofundamento da crise.