quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares

 

O desespero do demente!

Ele voltou a criticar a “Carta aos Brasileiros e Brasileiras em Defesa do Estado Democrático de Direito”, que já reúne cerca 700 mil assinaturas e pode virar uma marcha pela democracia, chamou o documento de “cartinha” e afirmou “pedir a Deus que o povo não sinta as dores do comunismo". As declarações do insano foram feitas na quarta-feira (3) em um culto promovido pela bancada evangélica do Congresso, uma de suas bases de apoio.

“Nenhum de vocês que assinaram cartinhas por aí se manifestaram naquele momento”, disse em referência às medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos para conter o avanço da pandemia de Covid-19 no Brasil. “Vocês todos sentiram um pouco do que é ditadura”, completou, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo.

No evento, deixou claro seu medo de perder a eleição para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao afirmar que tem a “missão” de evitar o “comunismo” no Brasil. “Tenho o hábito de todo dia, quando me levanto, me concentro, agradeço pela missão, mas peço a Deus que meu povo, nosso povo, não sinta as dores do comunismo”.

O verdadeiro motivo do desespero. Em segundo lugar em todas as pesquisas de intenções de voto, mesmo após a aprovação da PEC do Desespero, que autorizou aumentos nos valores do Auxílio Brasil e do vale-gás, além da criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas, o ex-capitão está com medo de ser preso se perder as eleições, como indicam as pesquisas que revelam até a possibilidade do ex-presidente Lula (PT) vencer no primeiro turno.

De acordo com a colunista Monica Bergamo, da Folha de S Paulo, ele está cada vez mais inquieto e vem repetindo a interlocutores, inclusive de seu próprio governo, que tem certeza de que será alvo de inquéritos que teriam como objetivo levá-lo à prisão caso perca as eleições, em outubro. O insano também acredita que seus filhos podem se tornar alvos mais fáceis caso deixe a Presidência da República.

Ainda segundo esses interlocutores, ele tem demonstrado nervosismo e repetido o discurso que fez no dia 7 de setembro do ano passado, na avenida Paulista, em São Paulo. No ato antidemocrático, em que atacou as instituições, também afirmou que sairia do Palácio do Planalto “preso, morto ou com vitória”.

Segundo um dos auxiliares, o desvairado disse que não seria “ingênuo” como seus antecessores que foram presos. Uma referência aos ex-presidentes Lula (PT), preso sem crime e sem provas, e a Michel Temer (MDB), preso duas vezes as pela força-tarefa da Lava Jato do Rio de Janeiro. Lula ficou 580 dias e depois o processo foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o ex-juiz Sérgio Moro suspeito. Temer foi solto em menos de 10 dias.

O golpe que não vai dar certo. Senadores do Centrão, aliado$$$$$$ do irresponsável, já apresentaram uma proposta para salvar a sua pele: criar uma Lei considerando “Senador Perpétuo” um ex-presidente da República. Com isso ele ficaria livre de qualquer processo, pois ganharia “imunidade parlamentar”.

Acontece que se esse “projeto de lei” for apresentado vai dar o mesmo cargo a vários outros ex-presidentes (FHC, Temer, Dilma e até Lula)!

Mas a proposta já nasceu morta. A avaliação é da jurista e mestre em Direito Penal Jacqueline Valles. A advogada conta que a ideia é tão absurda quanto inconstitucional. “É uma aberração que viola o Artigo 1º, que é a base da democracia brasileira e estabelece que os representantes do Executivo e Legislativo são escolhidos, obrigatoriamente, pelo povo e por meio do voto”, diz.

Jacqueline explica que a iniciativa ainda esbarra em outra cláusula pétrea: o princípio da separação dos Poderes.

“A Presidência é um cargo do Executivo e o Senado é uma função do Legislativo. O Artigo 2º da Constituição estabelece a separação e independência dos Poderes, logo, não permite esse golpe em que o eleitor votaria para presidente e ganharia um senador depois do fim desse mandato. A única forma de qualquer brasileiro conquistar uma cadeira no Senado ou na Câmara é por meio de uma eleição”, reforça.

A jurista acredita que, mesmo que o Senado aprove a proposta, a medida deve cair no Supremo Tribunal Federal. “Qualquer entidade legítima (partidos políticos; entidades representativas, como sindicatos e a OAB, e órgão do Judiciário, como o Ministério Público) pode entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) junto ao STF pleiteando a anulação de uma lei claramente anticonstitucional”, avalia.

E a situação vai piorando. A desigualdade social no Brasil tem nas questões de remuneração um de seus principais responsáveis pela má distribuição de renda no país, que hoje tem mais de 33 milhões de pessoas passando fome.

Enquanto 52% dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424), 90 CEO´s (sigla para Chief Executive Officer ou diretor executivo, geral ou presidente) de empresas com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo, ganham mais de R$ 1 milhão por mês.

O levantamento, feito a partir de uma documentação pública sobre remuneração total que empresas têm de entregar à Comissão Mobilizaria de Valores (CVM), foi publicado pelo jornal o Estado de S Paulo. Segundo a reportagem, somente no ano passado os 10 executivos mais bem pagos do Brasil receberam R$ 400 milhões de reais, valor 30% maior que em 2020. Ou seja, a pandemia fez bem a esses executivos ao mesmo tempo em que deteriorou o mercado de trabalho para os menos escolarizados.

Não há no Brasil hoje nenhuma iniciativa que proponha acabar com esse fosso. No entanto, Marilane Teixeira explica que uma regulação garantiria um maior equilíbrio social, já que os salários - as remunerações - são indicadores essenciais da desigualdade.

O rendimento mensal do trabalhador, no trimestre encerrado em junho deste ano, foi R$ 2.652, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Será que ele come isso? Pré-candidato à reeleição, com o apoio do insano, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil) acusou a imprensa de ter agido com “desvirtuação” ao noticiar a formação de filas para receber doações de ossos de um açougue em Cuiabá, segundo reportagem da Carta Capital. De acordo com o governador, o açougue distribuiu ossos de “qualidade” aos moradores.

“Gente, com todo o respeito aos senhores da imprensa. Isso foi e é uma grande desvirtuação da verdade e da realidade. Eu vou explicar o porquê. Porque o mesmo ossinho que aquele açougue lá… Ele dá aquilo, faz a doação do chamado ossinho… A gente fala ossinho, pelo amor de Deus. Vou até convidar, se vocês quiserem, para a gente ir lá ver qual que é a qualidade desse ossinho.”

Mauro Mendes disse que “os ossos distribuídos pelo açougue dão um “prato delicioso” e que são consumidos em restaurantes como “ossobuco”, corte de carne em rodelas que inclui ossos, tradicional na Itália.

O papel da agricultura familiar. A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) lançou a primeira edição de um anuário estatístico do setor, elaborado em parceria com o Dieese. O objetivo é mostrar a importância dessa atividade para a economia e a população.

“A agricultura familiar brasileira é a principal responsável pelo abastecimento do mercado interno com alimentos saudáveis e sustentáveis, que busca a preservação dos recursos ambientais, a cultura rural, gera ocupações rurais e promove o desenvolvimento sustentável do país”, afirma a Contag.

“A sua importância é estratégica para o Brasil e para o mundo, pois é a oitava maior produtora de alimentos do planeta. (…) Os empreendimentos familiares produzem a diversidade de culturas, o que gera um impacto positivo na qualidade dos produtos e na relação com o meio ambiente.”

O país tem 3,9 milhões de estabelecimentos familiares voltados à agricultura, que ocupam apenas 23% das terras, mas são responsáveis por 10,1 milhões de empregos (67%). Segundo a Contag, esses estabelecimentos “respondem por 23% do valor bruto da produção agropecuária brasileira e pela dinamização econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes (68% do total)”. Além disso, é a oitava maior produtora mundial de alimentos: “Na América Latina e Caribe, as agricultoras familiares, camponesas e as mulheres indígenas produzem 45% dos alimentos consumidos”.

Sim, é roubo! O caso do ouro venezuelano em Londres remonta a maio de 2020, quando o BCV entrou com uma ação contra o Banco da Inglaterra por sua recusa em dar acesso às reservas de ouro.

Em uma decisão inusitada da Justiça britânica contra a Venezuela, consistente com a história “pirata” da antiga potência colonial, negou ao país o acesso às reservas de ouro de 31 toneladas do país, avaliadas em cerca de 1,9 bilhão de dólares, nas mãos do Banco da Inglaterra.

A corte britânica reconhece como legal o inexistente governo da oposição Juan Guaidó, apoiado (com cada vez menos força) pelos EUA e alguns países europeus.

Essa parte do processo se concentrou em saber se a justiça britânica considera legítima a diretoria do Banco Central da Venezuela (BCV) nomeada por Guaidó após se proclamar presidente interino. Os diretores indicados pela oposição – que não têm interferência no BCV – ordenaram ao Banco da Inglaterra que não entregasse o ouro ao conselho de administração do partido no poder.

A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, classificou a decisão como terrível, desastrosa, incomum e intempestiva, e pediu ao governo britânico que retifique e não continue com a palhaçada de fingir que Juan Guaidó é presidente de um país “que não é e não será nunca porque o povo conhece sua história como chefe de um grupo criminoso que, entre outras coisas, causou muitos danos ao convocar invasões, crimes e bloqueios econômicos”, disse Rodríguez.

Francis Drake de volta? Quase todos conhecem a história do famoso corsário inglês, “Sir” Francis Drake, que se tornou o mais conhecido, homenageado e condecorado “herói” da Inglaterra. Pois a história de Drake está se repetindo.

O governo do Reino Unido insiste em reconhecer o opositor Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela como uma desculpa para se apropriar do ouro venezuelano que o país tem depositado no Banco da Inglaterra.

O Tribunal Superior de Londres, Reino Unido, negou na sexta-feira (29) o pedido de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, de recuperar o acesso às reservas de ouro guardadas no Banco da Inglaterra. Torres considerou que a decisão do tribunal britânico é uma ação colonialista.

Nos cofres do Banco de Inglaterra se encontram guardadas 31 toneladas de ouro que pertencem à Venezuela, avaliadas em U$ 1 bilhão (R$ 5,18 bilhões).

O perigo não acabou. Sim, em breve a Colômbia terá um novo governo, democrata e de esquerda, que pretende se aproximar da Venezuela e tomar as relações rompidas. Mas a ameaça ainda é uma realidade, porque grupos financiados por Washington ainda operam na Colômbia.

Segundo o presidente, Nicolás Maduro, a “narcoligarquia” da Colômbia de estar por trás dos grupos armados e terroristas que entram na Venezuela e cabe às Forças Armadas repreenderem e exterminarem qualquer indício de sabotagem.

As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) desativaram 11 artefatos explosivos improvisados ​​pertencentes a grupos armados colombianos no estado fronteiriço de Apure, informou o chefe do Comando Operacional Estratégico da Venezuela (Ceofanb), Domingo Hernández Lárez.

Desde 2012, as autoridades venezuelanas destruíram um total de 300 aeronaves ligadas ao tráfico de drogas. Além disso, a FANB destruiu mais de 250 acampamentos de grupos armados colombianos em Apure e 46 pistas de pouso clandestinas entre os estados de Zulia (oeste) e Falcón (norte).

Condenados por tentativa de assassinato contra Maduro. A Justiça da Venezuela condenou na quinta-feira (04) 17 pessoas pela participação na tentativa de assassinato contra o presidente Nicolás Maduro que ocorreu em 2018.

Na ocasião, em 4 de agosto, Maduro discursava em Caracas quando dois drones carregando explosivos detonaram no ar, próximo ao palanque do mandatário. Horas depois, o governo classificou o ato como “um atentado contra a figura do presidente constitucional”.

Entre os condenados pelo Tribunal Especial da Venezuela, que julga casos “vinculados ao terrorismo e ao crime organizado”, estão um ex-deputado, três militares e 13 civis. As penas variam entre 5 e 30 anos.

Em relação à pena, 12 dos 17 sentenciados deverão cumprir 30 anos de prisão. Entre eles figuram um ex-general da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), um ex-coronel da GNB e um sargento do Exército, imputados pelos delitos de “tentativa de homicídio intencional qualificado, lançamento de explosivos em reuniões públicas, traição à pátria, terrorismo e formação de quadrilha”.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, expôs detalhes do processo e afirmou que “esses tipos de fatos não podem ficar impunes, sejam contra o chefe de Estado ou contra um cidadão comum”.

Um grande significado para nós! A posse presidencial de Gustavo Petro neste domingo (07) na Casa de Nariño contará com a presença de mais de uma dezena de chefes de estado, delegações de diferentes nações e grupos musicais e shows durante todo o domingo.

A transferência de comando será “uma nova forma de governar onde o respeito pela vida em todas as suas expressões será uma prioridade e trabalhará por um país inclusivo de e com os territórios, um governo verdadeiramente comprometido e próximo dos cidadãos”. “A posse presidencial de Gustavo Petro marca uma nova história para a Colômbia porque não é a posse de um presidente, é posse de colombianos”, disse a coordenadora de comunicação do evento, Marisol Rojas.

Em uma de suas últimas provocações, o ex-presidente de extrema-direita Iván Duque afirmou que não reconhece Nicolás Maduro como o presidente legítimo da Venezuela. “Isso significa que enquanto eu for o presidente da República, Nicolás Maduro não entrará em território colombiano”,  disse um comunicado oficial do presidente cessante.

Entre os presidentes que estarão presentes estão os do Chile, Gabriel Boric; Argentina, Alberto Fernández; Peru, Pedro Castillo; Equador, Guillermo Lasso; Paraguai, Mario Abdo Benitez; Bolívia, Luis Arce; República Dominicana, Luis Abinader; Panamá, Laurentino Cortizo; Costa Rica, Rodrigo Chaves, e Honduras, Xiomara Castro. O rei Felipe VI da Espanha também estará presente como chefe de Estado.

Também em Bogotá estará o chefe do Governo de Curaçao, Bernard Whiteman; o vice-presidente de El Salvador, Félix Ulloa, e Beatriz Gutiérrez, esposa do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador.

Pedro Castillo faz grave denúncia. O presidente do Peru, Pedro Castillo, declarou no domingo (31) que apresentará uma denúncia por falsas acusações contra o programa de televisão local Panorama, que acusou o presidente de receber uma “recompensa” de 30.000 soles (cerca de 7.630 dólares).

O governante escreveu na sua conta de Twitter: “Rejeito veementemente as falsas acusações emitidas pelo programa Panorama, apontando que teria recebido uma 'recompensa' de 30 mil soles”.

Acrescentou que, “no exercício do meu direito de cidadão e de Presidente da República, procederei à denúncia da indicada produção jornalística de divulgação de notícias falsas, cujo único objetivo é enganar e manipular os cidadãos”.

O programa Panorama noticiou que o ex-secretário presidencial, Bruno Pacheco, detido acusado de suposta corrupção, declarou perante o Ministério Público que o presidente Castillo recebeu dinheiro ilícito no Palácio do Governo.

O SUS no Chile! O governo do presidente Gabriel Boric anunciou, na quinta-feira (28), que o Chile passará a ter um sistema de saúde pública e gratuita para toda a população. O “SUS chileno” – uma das promessas de campanha de Boric nas eleições presidenciais de 2021 – nascerá, oficialmente, em 1º de setembro. O sistema atenderá a 15 milhões de pessoas, em um país de 19 milhões de habitantes.

A nova Constituição chilena inclui a criação do Sistema Nacional de Saúde com financiamento público. O texto será submetido a referendo no próximo dia 4 de setembro. Atualmente, o Chile conta com o Fundo Nacional de Saúde (Fonasa), em que a população paga para ser atendida. Apenas pessoas com mais de 60 anos ou com renda inferior a US$ 420 mensais estão isentas de cobrança.

“Muitas gerações de chilenos e chilenas sonharam com o que hoje estamos caminhando para tornar realidade, que é um sistema de saúde público, gratuito para todos os usuários do Fonasa”, disse o presidente após comemorar o anúncio na capital.

Estimativas do governo chileno apontam que, com a garantia de saúde pública e gratuita, cada família deve economizar cerca de US$ 300 por ano. Atualmente, de cada dez chilenos, oito precisam recorrer ao sistema de copagamento do Fonasa. Os trabalhadores contribuem com 7% de seu salário para a rede pública ou a rede privada.

A medida foi elogiada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “Parabenizamos a decisão do Governo do Chile de cobrir todos os gastos de saúde a 6 milhões de chilenos. É um grande passo em direção ao seu compromisso com o #SaúdeParaTodos”, tuitou o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Crise no Reino Unido. Em meio à crise econômica que aflige a Europa, o Banco da Inglaterra elevou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual em resposta a um aumento na inflação, que atingirá 13% em outubro, em um cenário de recessão prolongada.

Na pior perspectiva para a economia desde o colapso bancário de 2008, o Banco Central disse que o Reino Unido entraria em recessão no último trimestre deste ano, mas elevou as taxas de juros para 1,75% na tentativa de combater a inflação crescente. Foi o maior salto nos custos de empréstimos em 27 anos.

A principal razão, disseram funcionários do banco consultados pelo jornal The Guardian, é o aumento no teto do preço da energia, que pode chegar a £ 3.500 (R$ 22.225,72) em outubro.

O teto do preço da energia permanecerá nesse valor, pago anualmente, durante a maior parte de 2023, de acordo com a última previsão para contas domésticas.

As previsões foram baseadas em tendências de mercado que levaram em conta temores de a Rússia fechar as torneiras para a Alemanha do gasoduto Nord Stream 1 (Corrente do Norte 1) em retaliação às sanções ocidentais contra Moscou.

Alemanha volta a poluir. A Alemanha retomou as operações da usina de energia Mehrum devido à atual crise de fornecimento de gás. É a primeira usina de carvão no país a voltar às atividades. A planta, anteriormente em modo de espera, está funcionando desde o meio-dia de domingo (31), disse à agência de notícias Xinhua o diretor-gerente da usina, Armin Fieber. A capacidade é de cerca de 270 megawatts.

A Alemanha é o único país industrializado que está eliminando gradualmente a geração de eletricidade a partir do carvão e da energia nuclear. Mas com os fluxos de gás da Rússia reduzidos para 20%, o governo alemão está considerando interromper a eliminação da energia nuclear e preparando mais legislação para trazer usinas a linhite (uma espécie de carvão) de volta ao mercado de eletricidade.

Vamos pensar melhor? Diante da crise energética, os países ocidentais reduziram os esforços para frear o comércio do petróleo russo, adiando inclusive a proibição de seguros para transporte marítimo do petróleo russo.

Há dois meses, a União Europeia anunciou a proibição total dos serviços de seguros marítimos aos navios com petróleo russo, informou o Financial Times.

Além disso, a UE esperava que o Reino Unido adotasse uma medida semelhante, contudo, as últimas sanções britânicas contra Moscou impedem apenas a prestação de serviços para embarcações que transportam petróleo russo ao Reino Unido, enquanto os que transportam hidrocarbonetos russos a países terceiros podem ser segurados.

Por sua vez, recentemente Bruxelas aplicou suas próprias sanções contra a Rússia, para permitir que as empresas europeias pudessem firmar acordos com algumas companhias estatais russas e segurar o transporte dos recursos energéticos aos países que não fazem parte da UE.

Não vão competir com a Rússia. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo não tem por objetivo competir com a Rússia, afirmou em uma entrevista ao jornal jordaniano Alrai o novo secretário-geral da OPEP, Haitham al-Ghais.

“A OPEP não compete com a Rússia, que é a maior, a mais importante e a mais influente jogadora no mercado energético mundial”, disse Haitham al-Ghais.

Segundo o secretário-geral da organização petrolífera, o recente aumento de preços do petróleo não está relacionado apenas à crise nas relações entre a Rússia e a Ucrânia.

“Todos os dados confirmam que os preços do petróleo começaram a subir de forma gradual e cumulativa ainda antes do agravamento das relações russo-ucranianas, devido à dominância nos mercados da ideia sobre a falta das capacidades produtivas livres, que começaram a ser limitados por certos países”, salientou.

Não é suficiente. Os EUA pressionam os países da OPEP para aumentarem a produção de petróleo e fazer frente à Rússia, mas não vai acontecer.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus aliados, um grupo conhecido como OPEP Plus (OPEP+), anunciaram na quarta-feira um ligeiro aumento na produção para setembro, apesar dos pedidos para acelerar os aumentos a fim de conter os altos preços do petróleo bruto.

A aliança petrolífera decidiu aumentar a produção em 100.000 barris por dia (bpd) até setembro, de acordo com um comunicado da OPEP divulgado após a 31ª Reunião Ministerial de membros e não membros.

A Opep+ realizou uma reunião na quarta-feira para discutir os níveis de produção em meio a pedidos dos EUA para aumentar a produção para esfriar o mercado internacional de petróleo. Segundo especialistas, esse aumento não cobre nem 10% das necessidades para manter o embargo contra a Rússia.

Alemanha perto de uma crise. A agência Bloomberg indicou que a Alemanha tem apenas três meses para evitar a catástrofe que pode ser provocada pela escassez de gás no inverno europeu.

Segundo a mídia, apesar de a região estar passando pelo auge do verão, a Alemanha tem muito pouco tempo para evitar essa escassez, uma situação catastrófica provocada pela política indecisa do chanceler alemão Olaf Scholz e sua lentidão em reduzir a dependência da energia russa.

Além disso, a mídia informou que os municípios alemães estão preparando abrigos com aquecedores para proteger as pessoas do frio, sendo este apenas "o início de uma crise que devastará a Europa".

“Pedindo penico”? Essa era uma expressão usada na minha infância para dizer que alguém estava se rendendo. Parece que a história pode se repetir.

Os círculos empresariais na Bulgária pediram às autoridades do país que restabeleçam as compras de gás natural da Rússia para lidar com a crise de energia, informou a emissora BNR.

Os empregadores também exigiram mais uma vez que o Governo garantisse ao país o volume necessário de gás natural a preços razoáveis.

De acordo com a associação empresarial, a Bulgária deve receber três navios com gás natural liquefeito (GNL) dos EUA no restante do ano e outros quatro navios-tanque de metano podem chegar no próximo ano. Entretanto, a preocupação dos empresários é que o GNL dos EUA é insuficiente e tem um preço mais alto que o gás russo.

Sanções são um fracasso. O fracasso das sanções impostas contra a Rússia, devido à operação militar especial na Ucrânia, mostra a crise da hegemonia unipolar dos EUA, o que torna necessária a formação de uma nova ordem mundial, disse o deputado do partido do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) Saúl Ortega.

O Observatório da Universidade Autônoma de Madri sobre a Economia Mundial propôs uma revisão das sanções contra a Rússia por considerar que tanto os EUA quanto a União Europeia não teriam conseguido bloquear o sistema produtivo russo como esperavam quando os estabeleceram.

As medidas contra Moscou provocaram o aumento mundial dos preços do petróleo, gás e fertilizantes e têm um impacto negativo nas próprias economias dos EUA e dos países da União Europeia.

Comércio entre Rússia e Alemanha aumenta. O comércio entre a Alemanha e a Rússia segue aumentando, apesar do embargo do carvão, ouro, aço e vodca russos, comunica o colunista da edição alemã Die Welt, Olaf Gersemann.

Citando um artigo no Süddeutsche Zeitung, o autor afirma que o objetivo das sanções contra a Rússia foi “enviar uma mensagem a Putin”, mas que era pouco provável que o líder russo desse ouvidos a tais “sugestões”. E o jornalista salientou que, não obstante o embargo do carvão, aço, madeira, cimento e ouro russos, o comércio bilateral entre a Rússia e a Alemanha segue aumentando em valor – devido aos preços do gás, que têm subido.

Conforme Olaf Gersemann, em termos puramente matemáticos, as receitas das exportações russas para a Alemanha cobrem a maior parte das despesas militares de Moscou. O colunista admite que as importações da Rússia, em termos físicos, caíram 30%, embora salientando que o objetivo da Alemanha ainda não está alcançado.

China despreza ligações de Washington. À medida que a China continua seus exercícios militares em torno de Taiwan em resposta à visita da congressista estadunidense Nancy Pelosi à ilha nesta semana, autoridades militares chinesas se recusam a responder às chamadas telefônicas de seus homólogos do Pentágono.

De acordo com “três pessoas com conhecimento destas tentativas”, nos últimos dias, Pequim alegadamente rejeitou várias chamadas do secretário da Defesa Lloyd Austin e do o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, Mark Milley.

O último contato confirmado de Milley com o chefe do Estado-Maior da China, general Li Zuocheng, foi em 7 de julho, enquanto Austin se reuniu pessoalmente com o ministro da Defesa chinês, general Wei Fenghe, em junho.

Parece que há um atrito interno. Segundo a agência de notícias Bloomberg, a Casa Branca ficou “enfurecida” ao saber que a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, estava se preparando para visitar Taiwan, indicou a Bloomberg citando pessoas ligadas ao assunto.

A mídia também observa que Pelosi insistiu em “usar a viagem como um ponto culminante de sua carreira”. E, segundo as fontes, a Casa Branca enviou membros de alto escalão do Conselho de Segurança Nacional, bem como funcionários do Departamento de Estado, para que informassem Pelosi e sua equipe sobre os riscos geopolíticos da viagem.

Por sua vez, John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, instou Pequim a não reagir de forma exagerada em resposta à visita de Pelosi a Taiwan, bem como para não a utilizar como pretexto para elevar as tensões.

Golpe no dólar (1). Ancara e Moscou concordaram em negociar rublos, declarou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Em 5 de agosto, os presidentes da Rússia e da Turquia assinaram um memorando sobre o desenvolvimento de seu comércio e discutiram o uso de cartões russos Mir.

“É claro que esta visita a Sochi teve uma coisa boa: concordamos com o rublo com [Vladimir] Putin. Como vamos fazer essas trocas em rublos, isso certamente trará dinheiro para a Rússia e a Turquia como uma fonte separada entre Turquia e Rússia em um ponto financeiro”, considerou o presidente.

O chefe de Estado turco enfatizou, entre outras coisas, que o uso de cartões russos Mir na Turquia está consideravelmente avançado.

Golpe no dólar (2). O jornal alemão Deutsche Wirtschafts Nachrichten (DWN) indicou que os países do BRICS estão gradualmente criando seu próprio sistema financeiro, independente do ocidental.

A publicação também aponta que tanto o líder chinês, Xi Jinping, quanto o presidente russo, Vladimir Putin, defendem uma moeda de reserva internacional do BRICS, criando estruturas alternativas ao atual sistema financeiro global, focadas no mercado dos EUA e no dólar.

O DWN destaca que os países do BRICS estão tomando há tempos medidas para deixar a dependência do dólar.

O verdadeiro “risco nuclear”. O Ministério da Defesa russo informou que um ataque de artilharia das forças ucranianas contra o território da usina nuclear de Zaporizhia poderia causar um forte incêndio e um acidente radioativo.

“Felizmente, os projéteis ucranianos caíram longe de um depósito de lubrificante e de uma estação de oxigênio, caso contrário, causariam um grande incêndio e até um acidente radioativo na usina nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa”, disse o comunicado.

A nota sublinha que se tratou de uma provocação cínica ao regime de Kyiv, porque nessa altura se realizava em Nova Iorque uma conferência internacional sobre o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, sob a égide da ONU.

Cruz Vermelha vai investigar ataque ucraniano. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) está pronto para ajudar a investigar o recente bombardeio da prisão de Elénovka, no sudoeste de Donetsk, disse o porta-voz do CICV, Ewan Watson.

“Estamos prontos para enviar especialistas para Elenovka. Já temos equipes médicas, forenses e humanitárias trabalhando nas proximidades, pois estamos presentes em Donetsk desde 2014”, disse Watson.

Em 29 de julho, Donetsk acusou as forças ucranianas de atacarem uma prisão no assentamento de Elenovka com 193 prisioneiros de guerra, incluindo ex-combatentes do batalhão nacionalista Azov (proibido na Rússia).

Kyiv, por sua vez, negou a realização do ataque e acusou as forças russas de estarem por trás do atentado, sem apresentar nenhuma evidência.

É o Estado Terrorista e Genocida. As forças de ocupação israelenses atacaram vários pontos na Faixa de Gaza na sexta-feira, incluindo um apartamento residencial, onde pelo menos dez mortes e 55 feridos foram relatados.

De acordo com a mídia local, os bairros densamente povoados de Al-Rimal, Al-Fakhari em Khan Yunis, a cidade de Beit Lahia e Khan Yunis foram bombardeados.

Entre os mortos está uma menina de cinco anos. Vários meios de comunicação indicam que outra fatalidade foi um comandante da Jihad Islâmica Palestina (YIP), Tayseer al-Jaabari.

Irán condena. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, condenou fortemente na sexta-feira os ataques aéreos realizados por forças israelenses contra a Faixa de Gaza.

Em um comunicado oficial, o funcionário descreveu o ataque como brutal e afirmou que causou a morte tanto de “comandantes da resistência” quanto de civis palestinos indefesos.

Da mesma forma, ele ressaltou que a responsabilidade por esta ação e suas consequências recai sobre Israel, enquanto assegura que a Palestina tem o direito de se defender contra o que ele descreveu como um "ato terrorista".

EUA: uma ou várias crises? A primeira notícia que nos chamou a atenção foi ler o relatório do Federal Reserve divulgado nesta semana mostrando que a dívida das famílias nos EUA subiu para US$ 16,15 trilhões no segundo trimestre deste ano, aumento de US$ 312 bilhões (+2%) sobre o trimestre anterior. É a primeira vez que o débito passa da marca de US$ 16 trilhões.

O aumento foi impulsionado principalmente por um salto de US$ 207 bilhões nos saldos de hipotecas (alta de 1,9% sobre o primeiro trimestre de 2022 e de 9,1% sobre o ano passado). A dívida hipotecária subiu para US$ 11,39 trilhões no final de junho.

Débitos com cartão de crédito tiveram aumento de 13% sobre 2021; dívidas de empréstimos para automóveis também subiram.

Mas economistas estadunidenses e europeus dizem que não há apenas uma crise, mas são crises paralelas atingindo a “nação mais rica do mundo” (segundo alguns). Segundo alguns jornalistas, em meio à crise e entrando em recessão, Biden tenta fazer com que os estadunidenses não pensem em comer ou em seus direitos e desviar sua atenção para a Ucrânia e a China.

A possível queda em recessão técnica nos EUA foi confirmada com a publicação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), que caiu 0,2% no segundo trimestre em um contexto de inflação descontrolada e crise global derivada da guerra de Ucrânia.

Calcula-se uma taxa anual de queda de 0,9%, e como fator dessa queda está a alta inflação, que aumentou 8,2% no segundo trimestre, após crescer 8% no primeiro trimestre. Excluindo alimentos e energia, os preços aumentaram 6,6%. Outros motivos são a interrupção da cadeia de suprimentos global, afetada pela pandemia, pela guerra na Ucrânia e pelo aumento das taxas de juros.

O que Biden teme? Ao contrário do Brasil, onde as eleições para o executivo e o legislativo acontecem ao mesmo tempo, nos EUA as eleições legislativas acontecem dois anos depois da presidencial e são chamadas “eleições de meio de mandato”. Ou seja, um presidente pode perder todo o seu apoio parlamentar exatamente na metade do seu mandato, quando se prepara para a reeleição.

E estamos vendo isso no desespero, já citado acima, pela visita de Nancy Pelosi à Taiwan, inicialmente desautorizada pela Casa Branca. E o tabuleiro de xadrez se complica, porque, com a viagem Washington pode ter vencido uma etapa, embora do ponto de vista estratégico esteja perdendo a China para sempre, enquanto Pequim se aproxima ainda mais de Moscou.

Até Trump se manifestou! O ex-presidente Trump criticou na sua conta na rede social Truth Social a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi: “Será que a louca Nancy Pelosi está em Taiwan? Sempre tem causado problemas. Nada do que tem feito leva a coisas boas”, escreveu.

O ex-presidente já tinha avisado Pelosi contra uma possível visita a Taiwan, indicando que não devia se envolver em uma situação tensa em que se encontravam Pequim e Taipé, já que só a pioraria.

O movimento sindical avança. Após anos de declínio, o movimento sindical nos EUA está passando por um renascimento, com os sindicatos e outras organizações crescendo em popularidade.

Uma pesquisa Gallup de agosto de 2021 mostrou que o apoio aos sindicatos estava em seu ponto mais alto desde 1965. Com 68% de apoio, os sindicatos são a única instituição cuja aprovação popular não caiu no ano passado, de acordo com uma pesquisa em junho de confiança em 16 grandes instituições dos EUA.

Durante os primeiros nove meses do ano fiscal (que nos EUA vai de outubro a outubro), o National Labor Relations Board (NLRB) relatou um aumento nas petições para eleições sindicais de 58%, de 1.197 a 1892. O NLRB agora está pressionando por mais financiamento para lidar com o aumento da atividade. Mas a reforma da lei trabalhista não foi aprovada no Senado dos EUA, apesar de ter sido aprovada na Câmara dos Deputados.

Algumas das maiores empresas de lá viram seus trabalhadores se organizarem pela primeira vez na história. Depois que um Starbucks dos EUA aprovou um sindicato pela primeira vez em Buffalo em dezembro do ano passado, cerca de 200 lojas da franquia votaram para se sindicalizar, levando a um aumento nos pedidos de trabalhadores por eleições sindicais. As vitórias vieram apesar da oposição agressiva da Starbucks.

Trabalhadores de um armazém da Amazon em Staten Island, em Nova York, conseguiram criar o primeiro sindicato da empresa no país em abril deste ano. Após a vitória, outras iniciativas de sindicalização foram divulgadas em outros armazéns na Carolina do Norte, Kentucky e no norte do estado de Nova York.


O declínio do Ocidente, por Paulo Nogueira Batista Jr.

O declínio do Ocidente, por Paulo Nogueira Batista Jr.

O economista Paulo Nogueira Batista Jr. analisa a situação diplomática e econômica do Ocidente nos últimos anos

por Paulo Nogueira Batista Jr.*

Proponho, querido e paciente leitor, que conversemos hoje sobre um tema vasto e complexo que adquiriu urgência nos anos recentes, em especial em 2022. Refiro-me, como indica o título deste artigo, ao declínio do Ocidente. Trata-se de uma questão intrincada, que mobiliza afetos, preconceitos, interesses. E é por isso mesmo que ela se mostra fascinante.

O leitor, como eu, certamente gosta de desafios e não quer se restringir a assuntos batidos, onde reina certo consenso. Vamos em frente então.

 Primeira pergunta: é fato ou mito essa decadência ocidental? Note-se que ela já foi proclamada muitas vezes. O assunto não deixa de ser batido, portanto. A própria expressão “declínio do Ocidente” foi tema e título de um livro de Oswald Spengler, publicado há pouco mais de cem anos, em 1918.

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O século 20 não confirmou a previsão de Spengler. O Ocidente se deu até ao luxo de promover duas guerras civis, de escala mundial ou quase, conhecidas europocentricamente como Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Foram guerras sem precedentes, sangrentas e custosas. E nem por isso o Ocidente perdeu a hegemonia planetária. Sobrava poder. A verdade é que a resiliência ocidental foi maior do que imaginavam detratores e adversários. As formas de dominação se modificaram, mas o século 20 terminou sem que o domínio fosse de fato superado. O eixo do poder passou de um lado para o outro do Atlântico Norte, mas se manteve em mãos ocidentais. Até aumentou na reta final do século, com a surpreendente desintegração do bloco soviético e até mesmo da própria União Soviética.

Foram muitos os livros e ensaios publicados na esteira de Spengler ao longo do século passado. A frustração dessas previsões de decadência levou os ideólogos do Ocidente a se referir depreciativamente a uma suposta escola “declinista”, mais motivada por ideologias ou desejos do que por avaliações objetivas. E havia, claro, um elemento fortíssimo de desejo nessas previsões.

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Afinal, leitor, a hegemonia de europeus e seus descendentes norte-americanos vinha sendo duradoura e nada benevolente, para dizer o mínimoc. Suscitou assim antipatia profunda e generalizada nos povos colonizados ou dominados, com ecos nos segmentos humanistas das próprias sociedades mais desenvolvidas. Humano, humano demais que os tropeços do Ocidente sejam recebidos com satisfação urbi et orbi.

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Nada é para sempre. E o domínio do Ocidente sobre o resto do mundo já leva mais de duzentos anos. Começou, como se sabe, com a revolução industrial iniciada na Inglaterra no final do século 18. Consolidou-se no século 19 e persistiu, como mencionei, ao longo do século 20. Teve seu Indian summer depois do colapso soviético.

Agora parece claro, entretanto, que o século 21 não será mais um século de domínio inconteste do Ocidente. Ao contrário, os sinais de declínio estão por toda parte. Em termos demográficos, econômicos, culturais, políticos. Os “declinistas” terão enfim razão? Há muitas indicações de que agora sim.

Cuidado, entretanto. De um modo geral, o declínio ocidental é relativo, não absoluto. Em algumas áreas, o declínio pode, sim, ser absoluto, por exemplo na cultural, onde o retrocesso parece acentuado. Mas o que ocorre de uma maneira geral é perda de peso relativo vis-à-vis do resto do mundo, em especial da Ásia emergente, a China à frente. O declínio é mais acentuado para a Europa, mas se sente também nos Estados Unidos.

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A perda relativa não deixa de ser sentida como real, dolorosamente real. Afinal, o ser humano é tão deficiente, constituído de tão pobre e imperfeita maneira que chega a ver na ascensão do outro uma ameaça, um prejuízo para si. A mera ascensão pacífica já desencadeia os piores sentimentos e receios. No caso dos europeus e norte-americanos esse lamentável traço humano se vê agravado pelo hábito arraigado de dois séculos de predomínio global. Os brancos dos dois lados do Atlântico Norte não se acostumam, simplesmente não se acostumam a ver povos antes dominados – asiáticos, latino-americanos, africanos – querendo emergir, ser ouvidos e participar das decisões internacionais. Ainda que essas pretensões dos emergentes sejam modestas, cautelosas, até tímidas às vezes. Habituados a ditar, ensinar, pregar, os brancos não conseguem dialogar e negociar com o que para eles é uma massa ignara e até repugnante.

Mas a emergência dos outros povos vem de qualquer maneira, quer se queira quer não. Vai acontecendo em termos populacionais, econômicos e políticos. Aos ocidentais resta conformar-se ou espernear. Até agora preferiram espernear. Mais do que espernear, infelizmente. Reagem com violência e provocações à inevitável formação de um mundo multipolar. Em última análise, são essas reações que explicam a guerra na Ucrânia e as tensões crescentes com a China. A mais recente provocação foi a visita de Nancy Pelosi a Taiwan.

A que dará lugar o fim da hegemonia do Ocidente? A julgar pelas tendências recentes, o que virá não é a substituição dos Estados Unidos pela China, ou do Atlântico Norte pela Ásia. A China dificilmente terá no mundo a hegemonia que a Europa e os Estados Unidos já tiveram um dia. Por motivos históricos e intrigas ocidentais, os chineses não comandam a confiança da maioria dos seus vizinhos. Japão, Índia, Vietnã, por exemplo, têm diferenças importantes com a China e não aceitam a sua hegemonia. Os chineses dificilmente conseguirão estabelecer uma zona de influência sólida, mesmo no Leste da Ásia, o que dizer em outras regiões. Uma observação semelhante pode se fazer sobre a Rússia e a Índia, que têm de qualquer maneira peso bem inferior ao da China.

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O cenário que vai se configurando desde o início deste século é de um mundo multipolar, fragmentado, sem governança e regras aceitas globalmente. As entidades globais existentes, ONU, FMI, Banco Mundial, OMC etc., continuarão a ter sua importância, mas com influência declinante, tanto mais que os ocidentais se recusam a reformá-las para refletir plenamente a realidade do século 21. No lugar de ou em substituição parcial a essas instituições multilaterais de alcance mundial ou quase mundial, surgiram e surgirão instituições novas, criadas por países emergentes em busca de mais espaço no plano internacional.

Essa multipolarização do mundo é interessante para os países em desenvolvimento, pois abre oportunidades e pode facilitar a consolidação da sua autonomia nacional. Por outro lado, a fragmentação do mundo multipolar também é muito perigosa, como estamos vendo. Com esses perigos seremos todos obrigados a lidar, sem nostalgias inúteis por situações de concentração de poder que não mais voltarão.

E o Brasil nisso tudo? Bem. Superadas nossas desventuras recentes, temos muito a fazer, por nós e por outros países. Ao nosso imenso Brasil cabe, acredito, um papel especial: trazer ao mundo uma palavra de solidariedade, cooperação, paz e amor.

Mas isso já é assunto para outras e mais ousadas divagações especulativas.

Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista “Carta Capital” em 5 de agosto de 2022.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br.

*Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguémbastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, começou a circular em março de 2021.

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Enviado por Partido dos Trabalhadores