sexta-feira, 27 de março de 2020

Isolamento vertical se mostrou ineficaz e arriscado em outros países, diz médica da Fiocruz

Acabamos de publicar a entrevista exclusiva que fizemos com a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo – que foi escolhida por vocês para a Entrevista dos Aliados especial coronavírus.

A médica respondeu várias das perguntas que vocês nos enviaram. Obrigada por participarem! :)

Na entrevista, Dalcolmo alertou que o isolamento social é a única arma que temos contra o coronavírus e que quebrá-lo agora, como propôs Bolsonaro, pode levar a mortes que poderiam ser evitadas.

Leia a entrevista completa!

Isolamento vertical se mostrou ineficaz e arriscado em outros países, diz médica da Fiocruz
por Giulia Afiune

Em entrevista exclusiva para a Agência Pública, a médica pneumologista, pesquisadora e docente da Fundação Oswaldo Cruz Margareth Dalcolmo afirma que se fizermos um esforço coletivo para um isolamento mais intenso agora, enquanto o número de casos de Covid-19 está crescendo, é possível que possamos começar a sair do isolamento, gradualmente, dentro de 2 ou 3 semanas.

“Neste momento, que é o momento muito agudo dessa epidemia, não há nenhuma outra maneira de impedir a transmissão. Não há nenhuma outra arma”, explica, reiterando que ainda não há nem remédios nem vacinas de eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Ela alerta que quebrar o isolamento agora, como propõe o presidente Jair Bolsonaro, pode levar a um colapso do sistema de saúde e provocar mortes que seriam evitadas.

Margareth explicou ainda que manter em casa apenas idosos, o “isolamento vertical” que sugeriu Bolsonaro, foi considerada uma medida ineficaz e perigosa para combater o coronavírus em outros países. “O maior exemplo é a Inglaterra que voltou atrás, verificando que [o isolamento vertical] não ia resolver. Eles voltaram atrás pelo risco que isso incorreria diante de uma doença nova de alta transmissibilidade, cujos riscos não estão completamente determinados. Agora, dada a progressão da epidemia, a Inglaterra está propondo o isolamento mais radical.”

Confira trechos da entrevista:

Pública: Durante algumas semanas, o Ministério da Saúde deu recomendações a favor do distanciamento social e isolamento domiciliar. Agora, teve uma mudança de tom. O presidente está dizendo que “o Brasil não pode parar” e planejando a flexibilização da quarentena a partir do dia 7 de abril. Quais são os riscos do “isolamento vertical” proposto pelo Bolsonaro?

Margareth Dalcolmo: São coisas diferentes. O que o nosso presidente propôs foi uma quebra no isolamento social.

O risco que isso traz é que a doença que já chegou a essas áreas mais vulneráveis e pobres vai se disseminar com uma velocidade fora de controle. Ela vai lotar os serviços de saúde. O SUS, que é quem tem que dar resposta para 80% da população brasileira nessa grande epidemia atual, não tem condições de arcar e nós vamos ver um colapso generalizado, aumentando mais ainda a mortalidade que poderia ser evitada.

Nós estamos falando de um patógeno que é altamente transmissível e transmite com uma velocidade e uma intensidade maior do que a gripe comum. É considerado que uma pessoa pode transmitir para três ou quatro.

Realisticamente, vacina é uma coisa para se pensar para, no mínimo, daqui a dois anos. E da mesma maneira, não temos tratamento. Então assim, a única coisa a fazer, a meu juízo, é manter o isolamento social. Neste momento, que é o momento muito agudo dessa epidemia, não há nenhuma outra maneira de impedir a transmissão.

Então é preciso que nós separemos e isolemos as pessoas para interceptarmos essa cadeia de transmissão. Não há nenhuma outra arma.

Pública: Quebrar o isolamento domiciliar agora significa que haverá mortes que poderiam ser evitadas e não serão?

Margareth Dalcolmo: Sim. Mas isso não vai acontecer porque [a voz do presidente] foi uma voz que me pareceu muito isolada. Não é aquilo que foi secundado nem pelo Ministério da Saúde. Nosso Ministro ouviu a comunidade acadêmica, está trabalhando muito próximo de nós, e o Ministério da Saúde, formalmente, continua recomendando isolamento social.

Pública: E o que é o isolamento vertical?

Margareth Dalcolmo: Ele [Bolsonaro] está propondo que deixem apenas as pessoas idosas isoladas. Nós não concordamos com isso como medida de saúde pública porque outros países que pensaram em fazê-lo já voltaram atrás – é o que está ocorrendo agora no estado de Nova York.

Estou falando do ponto de vista técnico. Tecnicamente, nós vamos seguir a experiência dos países que nos antecederam e que, inclusive, pensaram em fazer isolamento vertical. E o maior exemplo disso é a Inglaterra que voltou atrás, verificando que [o isolamento vertical] não ia resolver. Eles voltaram atrás pelo risco que isso incorreria diante de uma doença nova de alta transmissibilidade, cujos riscos não estão completamente determinados. Agora, dada a progressão da epidemia, a Inglaterra está propondo o isolamento mais radical.

A economia terá que ter soluções alternativas, obviamente, como todo mundo está buscando, para resolver o problema durante esse período.

O isolamento vertical é muito eficaz quando se trata de uma epidemia menor. Mas numa doença com uma transmissibilidade tão alta quanto essa, é impossível.


Leia a entrevista completa.
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Para além de Bolsonaro

Sexta-feira, 27 de março de 2020
Para além de Bolsonaro

Olá, 

Na editoria Vozes do Intercept você encontra sempre textos em primeira pessoa que contam histórias surpreendentes, inspiradoras e relevantes para o conjunto da sociedade. 

Durante a cobertura especial do coronavírus você poderá ler relatos imperdíveis e histórias que precisam ser contadas por pessoas que estão enfrentando a pandemia nas mais diversas frentes. Ontem e hoje publicamos dois artigos que valem a leitura e por isso mando aqui para você. 
 
Ontem publicamos o relato do Bruno Sousa, estagiário aqui do TIB. Ele conta como o pronunciamento de Bolsonaro foi recebido na zona norte do Rio. "Aparentemente, o presidente conseguiu o que queria: com desinformação, manipulação e meia dúzia de clichês, ele colocou a população da periferia contra as medidas de contenção que são necessárias para frear a propagação do novo coronavírus."
Hoje, a Carolina Acosta, universitária de 23 anos, conta como está enfrentando o coronavírus. Ela pegou a doença após participar de uma reunião com estrangeiros no trabalho. O depoimento da jovem é importante já que ela, em teoria, não faz parte dos grupos de risco. "A covid-19 não é uma simples gripe. Você fica muito mal. Parece que caí de um prédio de 100 andares, com a sensação que a cabeça vai explodir."
No nosso site, os relatos de Vozes estão reunidos aqui. Você pode ler muito mais. A nossa cobertura especial do coronavírus está concentrada neste link

Se você tiver alguma história surpreendente para contar ou souber de alguém que precisamos conhecer, pode escrever para: silvia.lisboa@theintercept.com Quem sabe a próxima história é sua.

Um abraço,
Silvia Lisboa
Editora de Vozes
 

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