23 de janeiro de 2014 -
OUTRAS
PALAVRAS.net -
Por Altamiro Borges, em seu
blog [ http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/01/aecio-e-prisao-do-jornalista-em-mg.html
]
Juíza fala em “intimidação” e
“formação de quadrilha”, mas não apresenta provas.
Site
atingido faz denúncias constantes contra governo mineiro e Aécio
Neves
Numa operação no mínimo
suspeita, a polícia de Minas Gerais prendeu nesta segunda-feira (20) o
jornalista Marco Aurélio Flores Carone (na foto), diretor de redação do sítio
Novo Jornal [ http://www.novojornal.com/ ]. Ele foi
detido em Belo Horizonte por solicitação da juíza Maria Isabel Fleck, da 1ª Vara
Criminal. Em novembro passado, o Ministério Público do Estado o denunciou por
formação de quadrilha, falsificação de documentos, falsidade ideológica,
denunciação caluniosa e fraude processual. Todas as acusações tiveram como base
os contatos estabelecidos pelo jornalista com o lobista Nilton Monteiro, que
tornou pública a explosiva “Lista de Furnas” [ http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/lista-de-furnas-o-caso-de-corrupcao-que-a-midia-mais-esconde/
] sobre o esquema de desvio de dinheiro da estatal nos governos tucanos de Minas
Gerais.
De forma arbitrária, a juíza
argumentou que ambos fazem parte de uma quadrilha com o objetivo de “difamar,
caluniar e intimidar” adversários políticos e autorizou a prisão preventiva do
jornalista para impedir novas edições do site. Ela também afirmou, sem provas,
que o Novo Jornal é financiado com dinheiro de origem ilegal. O
jornalista nega todas as acusações. “Eu sou um preso político. Estou sendo preso
por questões políticas. Quem me conhece sabe do meu trabalho, tenho 30 anos de
profissão. Estou tranquilo e vou provar que isso não corresponde à verdade.
Fiquei conhecendo o promotor hoje aqui, ele chegou me agredindo verbalmente. Meu
passado me defende”, afirmou ao Portal R7.
De imediato, o bloco
parlamentar “Minas Sem Censura”, que reúne deputados estaduais do PT, PMDB e
PCdoB, acusou os aliados do senador Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do
PSDB, de orquestrar a prisão como forma de censura. “Se você estabelece a prisão
para evitar a publicação de material jornalístico, está oficializada a censura
prévia”, reagiu o deputado Rogério Correia (PT), vice-líder do
bloco.
“Assim que voltarmos do
recesso, vamos convocar o Carone para prestar depoimento na Comissão de Direitos
Humanos da Assembleia. Nesse caso, ele pode vir mesmo estando preso para
denunciar a perseguição promovida pelo PSDB de Minas contra seus adversários
políticos”, afirma o parlamentar, que já foi alvo de ação similar. “Quando do
surgimento da Lista de Furnas, encaminhei o relatório à Polícia Federal e, por
isso, o vice-presidente nacional do PSDB tentou a cassação do meu mandato. É a
mesma situação. A censura tem agentes no Ministério Público e no Judiciário,
mas, quando é com a imprensa, quem organiza a perseguição é a própria irmã do
senador, Andréa Neves”.
Como relembra a Rede
Brasil Atual, “a Lista de Furnas é um documento que revela as quantias
pagas a políticos do PSDB, PFL (hoje DEM) e PTB em esquema de desvio de verbas
intermediado pelo publicitário Marcos Valério em 2000, com o objetivo de
abastecer o caixa dois de campanha desses partidos nas eleições de 2002. O caso
ficou conhecido como ‘mensalão tucano’ por envolver os mesmos personagens
denunciados contra o PT em 2005. O PSDB nega a existência do esquema, que pode
ter movimentado mais de R$ 40 milhões, e a autenticidade da Lista de Furnas,
embora a Polícia Federal tenha comprovado, em perícia, que a lista tem a
caligrafia de Dimas Toledo, então presidente da estatal de
energia”.
O caso ainda aguarda
julgamento no Supremo Tribunal Federal. “Em entrevista realizada em agosto do
ano passado e divulgada pelo Youtube [ http://www.youtube.com/watch?v=8tP3YNG1OKQ ], o
ex-advogado de Nilton Monteiro afirmou que o caso de Furnas envolveria até o
assassinato da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, em agosto de 2000. Segundo
ele, além de trabalhar como garota de programa para os envolvidos no esquema,
ela era ainda responsável por transportar o dinheiro desviado da estatal em
malas. O assassinato, registrado como suicídio até a revelação de sinais de
asfixiamento da modelo, seria queima de arquivo, uma vez que a modelo queria
abandonar a quadrilha”, conclui a reportagem da Rede Brasil
Atual.
Reproduzo abaixo a nota divulgada na tarde desta
segunda-feira pelo bloco Minas Sem Censura:
*****
Prisão de
jornalista em MG: A face cruel do Estado de
Exceção
A prisão do jornalista Marco
Aurélio Carone, diretor proprietário do Novo Jornal, ocorrida hoje revela a face
mais cruel do “Estado de Exceção” implantado em Minas Gerais desde
2003.
A prisão realizada estaria “amparada no
requisito da conveniência da instrução criminal, já que em liberdade poderá
forjar provas, ameaçar e intimidar testemunhas, além de continuar a utilizar o
seu jornal virtual para lançar informações inverídicas”, segundo trecho do
despacho da juíza Maria Isabel Fleck.
Ora, afirma-se que um dos motivos da
prisão seria evitar que ele utilizasse de seu jornal virtual para veicular
supostas informações inverídicas. Se isso não for censura prévia, o que mais
será? E o que é pior: a arma para se efetivar essa ação preventiva seria a
prisão do acusado? Logo, todo e qualquer profissional de imprensa que ousar
veicular informações previamente consideradas inverídicas pela Justiça ou pelo
Ministério Público estão sob ameaça concreta em Minas
Gerais.
Não há trânsito em julgado de qualquer
ação incriminando o diretor proprietário do referido jornal virtual ou mesmo
daquele que seria seu suposto aliado nas ditas “acusações inverídicas”: Nilton
Monteiro, conhecido por divulgar a Lista de Furnas, que – por sua vez – já foi
considerada autêntica pela PF e, inclusive, já instruiu processos sobre o
rumoroso caso envolvendo lideranças do alto tucanato.
O bloco parlamentar Minas Sem Censura
[ http://minassemcensura.com.br/index.php ] registra
aqui duas preocupações essenciais: uma é a prática de cerceamento da liberdade
de imprensa, agora – de forma inédita – corroborada pelo MP e pelo Judiciário;
outra é o claro foco político envolvendo personagens que criticam, denunciam e
envolvem agentes políticos diversos.
O Minas Sem Censura
apresentará requerimento à Comissão de Direitos Humanos da ALMG para a discussão
e apuração, nesta Casa Legislativa, do grave fato que representa essa prisão.
Serão convocados os representantes do MP, da autoridade policial que efetivou as
prisões, do Novo Jornal e Sindicato dos Jornalistas.
Belo Horizonte,
20/01/2014
Sávio Souza Cruz
Rogério
Correia