domingo, 25 de junho de 2017

Temer lesa Pátria

21/06/2017 10:29 - Copyleft

Temer lesa Pátria

Ao esticar uma permanência indesejada por todos, o governo de Michel Temer aumenta ainda mais os obstáculos para a superação da crise em futuro próximo


Paulo Kliass *
Evaristo Sá/AFP
A verdadeira obstinação com que Michel Temer e sua turma se agarram ao poder a qualquer custo tem causado um profundo e extenso conjunto de maldades ao nosso país. No início, tudo parecia caminhar às mil maravilhas. A unificação dos grupos mais expressivos das classes dominantes em torno do projeto do golpeachment oferecia o sedutor ingresso para adentrar as portas do paraíso. Pouco importava, à época, se o casuísmo implicava destituir sem nenhuma base legal ou constitucional uma presidenta eleita democraticamente pela maioria da população. Afinal, tudo valia para colocar em prática o programa que havia sido derrotado nas urnas.

O financismo costurou muito bem costurado o discurso de que bastava tirar Dilma e substituir a equipe econômica por gente com o suposto perfil técnico e competente. Para tanto, nada parecia mais adequado do que chamar dois banqueiros para comandar a economia: Meirelles do Bank of Boston e Goldfajn do Itaú. Nessa trajetória, Temer era apenas visto tão somente como o instrumento para que as reformas sugeridas pelo sistema financeiro há muito tempo fossem finalmente implementava como política pública oficial. Nada mais adequado para cumprir com a tarefa de mudanças institucionais impopulares do que um governo que não precisa de voto popular.

Os propagandistas dos grandes meios de comunicação ofereceram sua valorosa e desinteressada colaboração para consolidar essa visão junto à opinião pública. As expectativas sugeridas pelos formadores de opinião foram marteladas insistentemente na base do “agora vai” e na certeza de que o Brasil iria finalmente superar a crise e encontrar o caminho do crescimento. Afinal, todos os males haveriam de ser extirpados com destituição de Dilma e com a chegada do povo genuíno do sistema financeiro no centro do governo.

No entanto, a maioria deles se esqueceu de alguns pequenos detalhes. Não é por mero acaso que Michel Temer é conhecido nos meios brasilienses por alcunhas que o identificam com seres vampirescos ou da mordomia subterrânea. Como disse certa vez Antonio Carlos Magalhães, caso abandonasse a política, o peemedebista paulista teria sua sobrevivência plenamente assegurada como “mordomo de filme de horror”. Essa falta de empatia na relação com a população em geral pode até parecer contraditória para alguém que tem vencido sucessivas eleições ao longo das últimas décadas. Só que não.

O fato é que o presidente ilegítimo apresenta profunda dificuldade no trato direto com seus representados, na imagem de chefe do Executivo com o povo. Uma coisa é sua habilidade em negociar nos bastidores. Outra, muito diferente, a (in)capacidade de elevar à frente um governo sem nem mesmo ter disputado tal eleição na frente de batalha. E aqui entra o sério problema de sua impopularidade elevada e sua taxa de rejeição crescente. Seu governo não consegue angariar a mínima empatia junto ao imaginário popular para obter o apoio necessário em sua caminhada neste momento tão difícil.

A ponte para o futuro que o PMDB vendeu aos empresários e aos sonhadores do golpe não mal passou da etapa de anteprojeto de engenharia. Até mesmo aliados de primeira hora, como o ex-presidente Fernando Henrique, assumiram a imagem da pinguela para bem caracterizar a travessia perigosa e arriscada proposta por Temer. A manutenção e o aprofundamento da política do austericídio contribuíram para reduzir ainda mais a sua já baixíssima popularidade. Além da pouca empatia no trato popular, seu governo viu os níveis de desemprego se elevarem drasticamente, com todas as consequências do ponto de vista da piora das condições de vida da maioria de nossas famílias. O manual de botequim da ortodoxia conservadora recomendava a recessão como estratégia de solução para a crise, uma vez que os principais problemas a serem combatidos seriam o risco da inflação e o descontrole dos gastos públicos. Equívoco ou enganação? Você decide.

No plano das demais políticas públicas, o governo optou pela entrega das riquezas brasileiras para o capital internacional. Apoiado no discurso doutrinário contra o Estado e clamando contra as ineficiências do empresariado nacional beneficiado por generosidades estatais, os tucanos chamados por Temer foram lapidando com esmero as políticas da privatização da Petrobrás e sua entrega para as grandes petroleiras do mundo capitalista. Além disso, foram promovendo concessões e privatizações à mancheia na área de infraestrutura, em contexto que só atraía os fundos financeiros internacionais para se interessar pelos empreendimentos.

Além disso, em um dos poucos setores que ainda se mantinham operantes, o governo avançou na entreguismo exacerbado, autorizando a venda de terras para proprietários estrangeiros sem limite de tamanho. O extenso ramo do agronegócio brasileiro passa a ser incorporado à lista de interesses dos grandes fundos especulativos mundo afora em um departamento antes proibido a eles: a própria produção agropecuária. O mesmo ocorre em área sensível e estratégica, inclusive do ponto de vista da segurança nacional e da diplomacia. O governo Temer pretende privatizar as fontes de água de nosso território, quando todos os cenários prospectivos apontam para esse bem finito se transformando em objeto de disputa entre países no médio prazo. Não são poucos os especialistas que consideram a disputa por fontes de água como um dos principais fatores dos próximos conflitos no mundo.

Some-se a esse quadro o conhecimento público dos sucessivos escândalos envolvendo o próprio ocupante do Palácio do Planalto e seus assessores mais próximos. A baixa popularidade vem combinada a medidas impopulares e - ambas somadas às denúncias de corrupção inquestionáveis - reduzem cada vez mais a margem de ação e de manobra do governo. Acuado e na defensiva, Temer vem perdendo as poucas reservas para exercer o protagonismo que se esperava de um líder que prometia conduzir a travessia.

Sua bala de prata reside na chantagem relativa aos projetos do desmonte trabalhista e previdenciária. O argumento de que seria o único capaz de entregar a promessa tão desejada pelo empresariado e pelo financismo não mais se sustenta. A própria base aliada no Congresso Nacional se desfaz a cada dia que passa e a cada novo escândalo que ganha as manchetes dos jornais. Tanto que as próprias empresas de comunicação já começam a rifar o governo em que tanto apostaram até alguns meses atrás. Oh, santa traição! Por incrível que pareça, agora ensaiam um freio de arrumação em seu entusiasmo inicial. Com isso, somam-se ao clamor popular do #ForaTemer e alguns de seus expoentes ousam mesmo anunciar suas simpatias ao movimento das #DiretasJá.

No campo da própria política econômica, os efeitos da opção recessiva apresentam a fatura e impedem a retomada do crescimento tão almejado. Ao que tudo indica os ilustrados do Ministério da Fazenda esqueceram-se de avisar ao constitucionalista algumas das lições básicas de qualquer manual de macroeconomia. A redução no ritmo das atividades econômicas de forma generalizada como a atual retorna como um tiro no pé no governante que contava com recursos tributários para superar momentos de dificuldade fiscal.






A recessão provoca queda nas receitas de impostos e o governo fica com menos recurso ainda para ancorar qualquer estratégia de saída para a crise – por mais conservador ou liberal que seja seu desenho. Ao perceber que não podem mais contar com recursos públicos para seus projetos, os políticos da própria base aliada se esquivam e os empresários escondem seu antigo entusiasmo para com os golpistas. Todos pressionam por benesses e o rigor purista da ortodoxia empoderada avisa que não tem como atender.

Ora, esse quadro para lá de desesperador não se sustenta no tempo. Tanto que a maior parte dos integrantes “esclarecidos” de nossa elite oferecem seu conselho de forma unânime ao residente do Palácio do Jaburu: renuncie! Esse governo não tem mais como continuar e esse é o desejo manifesto da maioria da população. O problema é que sua teimosia em permanecer destrói a cada instante a capacidade econômica e desagrega ainda mais o tecido social. O receio de perder o foro privilegiado fala mais alto e Temer não aceita as sugestões de se retirar em suposto gesto de grandeza.

Esse é verdadeiro crime de lesa Pátria cometido diuturnamente por Temer. Ao esticar uma permanência indesejada por quase todos, seu governo aumenta ainda mais os obstáculos para a superação da crise em futuro próximo. Ele resiste enquanto todos sabem que não consegue chegar ao fim. Mas ele acaba com o Brasil nessa tresloucada irresponsabilidade. As finanças públicas ficam ainda mais destroçadas. A riqueza nacional tende a ser entregue aos grupos estrangeiros. Os efeitos prolongados da recessão comprometem a capacidade de recuperação da produção de bens e serviços. O desemprego galopante oferece um quadro devastador nas relações sociais, familiares e pessoais. A estrutura pública de oferta de serviços como saúde, educação, previdência e outros sofre o grave risco de seu comprometimento futuro.

Desmonte é destruição. E Temer é o principal responsável por essa pulverização de nosso futuro como Nação soberana.



 * Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
Créditos da foto: Evaristo Sá/AFP

Dicas do Dowbor

19/06/2017 11:10 - Copyleft

Dicas do Dowbor

A Europa está se cobrindo de muros e cercas de arame. Discute-se erguer um gigantesco muro de mais de mil quilómetros entre o México e os Estados Unidos.


Ladislau Dowbor
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Caros,


Nos últimos tempos têm aparecido trabalhos de fundo repensando o sistema. Queria aqui fazer um tipo de comentário de leitura sobre textos que têm em comum a convicção de que não se trata mais apenas do problema de Trump nos EUA, de Temer no Brasil, de Macri na Argentina, de Erdogan na Turquia, do Brexit na Inglaterra, do fato dos dois grandes partidos (socialista e republicano) que repartiram o poder na França não terem chegado, nem um nem outro, sequer ao segundo turno.
 
A Europa está se cobrindo de muros e cercas de arame farpado. Discute-se seriamente erguer um gigantesco muro de mais de mil quilómetros entre o México e os Estados Unidos. Os países mais poderosos estão se dotando de instrumentos sofisticados de invasão de privacidade e de controle das populações que assustam tanto pela amplitude da invasão como pela indiferença das populações. 
 
E naturalmente o caos que se avoluma não diz respeito apenas à política e aos governos: os gigantes financeiros planetários geram um nível de desigualdade e de desmandos ambientais que tornam o mundo cada vez mais inseguro e o universo corporativo cada vez mais irresponsável.
 
A realidade é que o mundo está mudando de forma muito acelerada. Os mecanismos de mercado já não servem como instrumento de restabelecimento de equilíbrios nesta era de oligopólios, e os governos já não são capazes de responder efetivamente aos anseios das populações, presos que estão nas pressões das dívidas públicas e dos desequilíbrios financeiros. As mudanças são sistêmicas.
 
Neste contexto aparece como muito importante acompanhar estudos sobre as alternativas, que surgem em diversas partes do mundo. Ponto importante: já não se trata de tecnicalidades econômicas, e sim de propostas que cruzam economia, política, cultura, o futuro dos sindicatos e da participação social e assim por diante. Porque os desafios são justamente sistêmicos, aqui como em outros países.
 
Sugiro que vejam:

 1. Gar Alperovitz – 
The Next System, como quem diz, vamos pensar no próximo sistema, porque este que aí está já era. Os diversos capítulos envolvem a governança em termos gerais, e também o dinheiro, os investimentos, a desigualdade, o meio ambiente, o necessário pluralismo e assim por diante. E Gar Alperovitz é um pensador de primeira linha. Confira a íntegra em: http://www.thenextsystem.org/principles/?mc_cid=f152d4ca54&mc_eid=bfa40f009
 2. Joseph Stiglitz – Rewriting the Rules of the American Economy: an agenda for shared prosperity (Reescrever as regras da economia americana: uma agenda para uma prosperidade compartilhada). Joseph Stiglitz organizou um documento muito forte que representa uma agenda para os Estados Unidos, hoje presos numa armadilha de elites que insistem em combater políticas sociais, promover mais desigualdade e atacar políticas ambientais. Invertendo radicalmente as velhas visões, o amplo grupo de economistas que participam deste relatório rejeita "os velhos modelos econômicos". Confira a íntegra em: http://dowbor.org/2016/09/stiglitz-rewriting-the-rules-of-the-american-economy-an-agenda-for-shared-prosperity-new-york-london-w-w-norton-company-2015-237-p-isbn-978-0-393-25405-1.html/
 3. Joseph E. Stiglitz e Mark Pieth – Superando a Economia Paralela – Friedrich Ebert Stiftung – Fev. de 2017 – 36 p. Um artigo demolidor e muito bem documentado sobre os paraísos fiscais, por parte de dois especialistas, tanto Mark Pieth por seus estudos, como Joseph E. Stiglitz que começou a luta com os fluxos ilegais quando era economista-chefe no Banco Mundial. A desorganização é compreensível: “A globalização resultou em uma economia global, mas não em um governo global. ” O estudo mostra que não se trata de dinheiro que escapa do sistema e se esconde, e sim de um mecanismo que deforma o conjunto do sistema que passa a trabalhar na opacidade. Lembremos que o Brasil tem em paraísos fiscais mais de 500 bilhões de dólares. Acesse o artigo em: http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2017/04/17-Stiglitz-Pieth-Paraisos-fiscais-33p.pdf





 4. Oxfam – Uma economia para os 99%. Estamos na era da acumulação improdutiva de patrimônio, descapitalização da sociedade. É uma desorganização sistêmica. A reforma do sistema financeiro global (e nacional no Brasil) constitui o desafio central. Enriquecimento sem a contrapartida produtiva, “unearned income” na terminologia inglesa, gera rentistas ricos e economias travadas. Este estudo da Oxfam, com as propostas correspondentes, é um excelente instrumento de trabalho, um choque de realismo. http://dowbor.org/2017/01/oxfam-uma-economia-para-os-99-2016-relatorio-10p.html/
 5. Labour Party Manifesto 2017 – For the many, not the few (Para os muitos, não os poucos) faz um desenho que certa maneira inverte o conjunto das orientações e desconstrução do setor público promovido pela Margareth Thatcher, revaloriza a regulação pelo Estado, resgata o papel gratuito e universal das políticas sociais e assim por diante. Centrado no conceito de que a economia tem de funcionar para todos, a análise lembra muito os argumentos do Bernie Sanders nos Estados Unidos, e constitui um documento compacto e claro. Veja a íntegra em: http://www.labour.org.uk/page/-/Images/manifesto-2017/Labour%20Manifesto%202017.pdf 

Nesta linha de repensar o sistema, vamos encontrar também Ellen Brown com os seus estudos sobre os sistemas financeiros, Lester Brown sobre as alternativas em termos de sustentabilidade (o seu estudo Plano B implica que o plano “A” atual já não responde), e temos evidentemente os estudos da New Economics Foundation (NEF) na Inglaterra, do Alternatives Economiques na França e assim por diante. 
 
A verdade é que estão se multiplicando pelo planeta afora núcleos de pesquisa que buscam novos paradigmas de desenvolvimento. Muitos desses estudos já estão resenhados no nosso blog, em Dicas de Leitura. Constituem um complemento importante aos numerosos estudos que estão sendo desenvolvidos no Brasil: a crise está nos obrigando de certa maneira a ultrapassar as simplificações e repensar os nossos paradigmas.  
 
Abraços,

Ladislau Dowbor


Lembrem-se que todas as dicas enviadas nos meses anteriores podem ser conferidas no Mural do nosso site, clicando em: http://dowbor.org/mural/ . Meus livros e artigos estão disponíveis na íntegra no site dowbor.org 

A falsa saída do Príncipe falido

19/06/2017 11:56 - Copyleft

A falsa saída do Príncipe falido

O ódio despertado foi tão grande e o movimento foi tão esfuziantemente celebrado, que o processo fugiu dos objetivos previstos pela elite dirigente


Tarso Genro
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Nos estudos que realizou sobre a obra de Maquiavel, Gramsci identificou no partido político moderno a “consciência que opera a necessidade histórica, como protagonista de um drama histórico real e efetivo”. Ele é um organismo, não um “herói pessoal”. Não depreciou, porém, da figura do líder, do dirigente, “uma força que não pode ser destruída”, na qual o organismo vivo do partido  encontra -às  vezes- uma expressão “mítica”. Assim, para Gramsci – por diferentes motivos e através das formas diversas destes “organismos” – Lenin, De Gaulle, Churchill, Getúlio, Perón encarnariam -como figuras míticas – a expressão política do “Príncipe” moderno (o organismo): os condutores de massas que foram, no seu tempo histórico, extraídos das tragédias e brilhos dos turbilhões sociais.
 
Por este raciocínio não é difícil concluir porque o grande movimento liberal-reformista (na verdade liberal-rentista), centrou sua força destruidora na figura de Lula que, com seus governos, alterou modestamente a hierarquia das desigualdades no país e através da força normativa e política do Estado, distribuiu renda e colocou na mesa da democracia, os que não tinham voz nem vez. Nas grandes negociações políticas de Estado, que geram políticas públicas de coesão social e dignidade mínima, apareceram as classes populares com a sua presença incômoda.
 
Mas o ódio despertado foi tão grande e o movimento foi tão esfuziantemente celebrado, pelos moralistas bem intencionados e pelos que se escondem no moralismo para se corromperem mais tranquilamente, que o processo fugiu dos objetivos previstos pela elite dirigente. Na verdade, a inércia da burocracia do Estado, tornada força política sem controle, substituiu o “Príncipe” moderno e capturou a classe média que forma suas idéias sobre o mundo no Jornal Nacional. Os partidos fragmentados, as lideranças sem projetos, os militantes sem causa unitária era tudo que o país precisava para morrer por mais cinquenta anos.
 
Lembrei-me do Príncipe, de Maquiavel, por dois motivos, Primeiro, porque os nossos “Príncipes” modernos, os partidos, foram substituídos por Promotores, Juízes, Policiais, que incensados ou combatidos – conforme o caso – pelo oligopólio da mídia que comanda, compõem a pauta política da nação. Prendem e arrebentam, justa ou injustamente, mas preenchem a crise do Estado com a revelação de mediocridades fascistas que se sucedem e logo são substituídos – como celebridades – pelo próximo corrupto ou pelo próximo delator.
 
Segundo, lembrei-me do “Príncipe”,  porque o “príncipe dos sociólogos” (FHC), abandonou o seu antigo feudo e se lançou na campanha das diretas, esvaziando a seriedade unitária da proposta. Todos sabemos que o que ele quer, efetivamente – ao lançar a isca da soberania popular – é fazer uma transição do golpismo corrupto e corruptor, que ele promoveu, para uma tutoria menos indecente do Estado, tentando tentar blindar, no crepúsculo, a sua biografia de enganos. A proposta de FHC, na verdade, visa promover um acordo do golpismo político, que lhe cooptou, com os que promovem as reformas liberais. e assim formar qualquer Governo que cumpra esta tarefa. O que ele menos quer é eleições diretas e soberania popular.
 
O grande problema desta grande estratégia, na conjuntura atual,  é que sequer existem interlocutores legitimados para acordarem, seja um novo contrato social, seja um pacto político de transição para um futuro, ainda que incerto, porém mais democrático. E quando não existem interlocutores legitimados que representem forças organizadas e operem protagonismos “reais e efetivos”, os aventureiros tomam conta dos “dramas históricos”. E os protagonistas, de quem nos falava Gramsci, não se tornam nem farsantes nem apenas trágicos. São os medíocres que não aguentam o primeiro tranco do mercado.
 
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Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.

Confira as dicas da Livraria Antonio Gramsci!

Confira as dicas da Livraria Antonio Gramsci! 

A data 14 de junho marca o nascimento de dois grandes revolucionários e pensadores marxistas latino-americanos: 
José Carlos Mariátegui (1894) e Ernesto "Che" Guevara (1928).
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O Negro no Brasil - Júlio José Chiavenato

Por um socialismo indo-americano

José Carlos Mariátegui
Editora UFRJ
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Embora seja um dos mais brilhantes pensadores marxistas latino-americanos, o peruano José Carlos Mariátegui é insuficientemente conhecido no Brasil. Esta antologia, selecionada e prefaciada pelo cientista social Michael Löwy, contribui para preencher essa lacuna. A obra mostra que, como todo autêntico marxista, Mariátegui não restringe sua reflexão aos estreitos limites de uma ciência social particular. Ao contrário, se ocupou de política, filosofia, arte, pedagogia, história e economia. Mas, foi certamente à análise do Peru e da América Latina que dedicou o melhor dos seus esforços.

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Getúlio: 1882 - 1930, dos anos de formação à conquista do poder - Lira Neto

Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana

José Carlos Mariátegui 
Expressão Popular
R$ 35,00
Publicado pela primeira vez em 1928, em Lima, no Peru, “Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana” trata-se de um livro fundamental, escrito por um autodidata brilhante, que morreu em 1930 quando tinha apenas 35 anos e era a melhor esperança do socialismo peruano e latino-americano. Sua linha interpretativa baseia-se na tese de que a revolução da independência peruana, da qual derivou a república, não liquidou o feudalismo, herança da colônia. Nesse caminho, Mariátegui revela uma particularidade histórica da formação peruana: a articulação do comunismo agrário herdado do incário com o feudalismo da colônia, sobre determinados pelo “capitalismo retardado”. 

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Lobotomia e Comunicação - André Lobão

O pensamento de Che Guevara

Michael Löwy 
Expressão Popular
R$ 18,00
Escrito em 1969, dois anos após a morte de Che Guevara numa emboscada na Bolívia, este livro chegou ao Brasil em meados de 1970 e foi impedido de circular pela ditadura. A obra contém  a síntese da contribuição teórica do médico, guerrilheiro, estrategista e companheiro argentino-cubano. E destaca textos e temas que tratam dos desafios enfrentados por Che na revolução cubana. Ao concluí-la o autor fala sobre o significado do guevarismo nos dias atuais.

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O Evangelho segundo Jesus Cristo - José Saramago

Che Guevara - uma chama que continua ardendo

Olivier Besancenot e Michael Löwy 
Unesp
R$ 30,00
Médico argentino que se tornou ministro da Indústria em Cuba, Ernesto Guevara de La Serna caiu combatendo a ditadura militar na Bolívia, em 9 de outubro de 1967. Mas, antes mesmo da morte trágica, já suscitava as paixões e imagens provocadas pelos mitos. Esta obra mostra que Che era um homem como todos os outros, com suas forças e fraquezas, mas tinha a rara qualidade de apresentar coerência entre palavras e atos, idéias e prática, pensamentos e ação. O texto aborda também as ideias, valores, análises, propostas e sonhos do homem.

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O PSDB ESTÁ SE DESINTEGRANDO

O PSDB está se desintegrando

Após a decisão de manter o apoio ao quadrilheiro Michel Temer para salvar a carreira de Aécio Neves, figuras históricas da legenda – como o jurista Miguel Reale Júnior e o empresário Ricardo Semler – pediram sua desfiliação.
Altamiro Borges*


   Deputados da chamada “ala jovem” também ameaçam debandar. O clima é tão depressivo que o grão-tucano FHC entrou em parafuso e até parece que está gagá – conforme já havia alertado o sumido José Serra. A cada dia, ele dá uma declaração. Até o início desta semana, ele defendia se manter na “pinguela” do covil golpista; agora, ele já prega a renúncia do Judas. Para piorar, novas denúncias infernizam a vida do PSDB. Nesta sexta-feira (16), a Folha noticiou que o vazamento de um grampo coloca sob suspeita o governador do Mato Grosso.

Segundo a reportagem de Pablo Rodrigo, “as suspeitas de que o governador Pedro Taques (PSDB) tenha se beneficiado de caixa dois na eleição de 2014 e de supostas interceptações telefônicas clandestinas para monitorar rivais colocam mais uma vez um ocupante do Palácio Paiaguás, sede do governo de Mato Grosso, nos holofotes de investigações... Taques foi eleito ainda no primeiro turno, ancorado na carreira de procurador da República. Em maio de 2016, viu o Gaeco (Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, deflagrar a Operação Rêmora contra fraudes em processos licitatórios na Secretaria da Educação. As investigações apontaram que o suposto esquema começou em 2015 e envolvia ao menos 23 obras em escolas, com valores totais que ultrapassam R$ 56 milhões”.

De acordo com o empresário Alan Malouf, preso em dezembro, o objetivo do esquema era quitar as dívidas não declaradas da campanha eleitoral de 2014. Além do caixa 2, o governador foi atingido pela revelação da existência de uma central clandestina de interceptações telefônicas no comando da Polícia Militar. Uma deputada da oposição – Janaina Riva (PMDB) –, jornalistas e servidores foram inseridos ilegalmente num pedido de quebra de sigilo para investigar traficantes. Caso as denúncias se confirmem, o governador tucano poderá sofrer processo de impeachment e ter o mesmo fim do seu antecessor – Silval Barbosa (PMDB) –, que foi preso em setembro de 2015. Blairo Maggi (PP), que também governou o Estado e hoje é ministro da Agricultura do covil golpista, também está enrolado em processos. Ele foi acusado de ter participado de esquema de compra de vagas no Tribunal de Contas e recentemente teve o seu nome citado na Operação Lava Jato.

Estes e outros fatos, que desmascaram os falsos moralistas do PSDB, explicam porque a situação da legenda é dramática. Em entrevista à revista Época nesta semana, um dos ideólogos da sigla, o “cientista político” Bolívar Lamounier, confirmou que “o eleitor tucano está indignado”. Para ele, a legenda deu um tiro no pé ao continuar no covil de Michel Temer. “O PSDB acabou se tornando fiador e avalista de um governo que já sofre acusações graves e que poderá sofrer outras mais ainda. Então ele fica adiando: ‘Vamos ver se aparece alguma outra coisa mais grave e aí então tomamos outra decisão’. Isso não é um comportamento partidário coerente no meu entender. Ao decidir ficar e examinar o assunto outra vez mais adiante, acabou reforçando esse aspecto antipático que atribuem ao partido, que é o Hamlet em cima do muro. O PSDB vira o PHB, o Partido Hamletiano do Brasil”.

“Tenho certeza de que isso vai comprometer o PSDB no futuro. Foi uma posição equivocada. O eleitor tucano está indignado, nas redes sociais, com essa atitude e essa participação neste governo. E eu iria até mais longe. Veja o que aconteceu na França na eleição legislativa. O voto antiestablishment foi arrasador. O Emmanuel Macron [presidente da França] praticamente destruiu o sistema partidário da França, porque ele captou esse sentimento da opinião pública que é contra a corrupção e é contra a política envelhecida. O PSDB já está sendo visto como política envelhecida. Essa decisão de agora reforçou a imagem. É provável que o voto antiestablishment também ocorra aqui no Brasil. Não sei se na escala da França, mas certamente vai ocorrer aqui também. E vai atingir o PSDB, o PMDB e outros partidos”.

*Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé