quarta-feira, 7 de abril de 2021

Bolsonaro diz que consultou Forças Armadas sobre efetivo para conter distúrbios sociais

 

Bolsonaro diz que consultou Forças Armadas sobre efetivo para conter distúrbios sociais

Presidente Jair Bolsonaro
Lisandra Paraguassu

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que discutiu com as Forças Armadas se existe hoje contingente no país para conter distúrbios sociais no caso de um agravamento da crise causada pela epidemia de Covid-19 e voltou a dizer que teme problemas "gravíssimos" causados pelas restrições de circulação.

"Eu tenho dito publicamente: eu temo por problemas sociais gravíssimos no Brasil. Converso com as nossas Forças Armadas, se eclodir isso pelo Brasil, o que nós vamos fazer? Temos efetivo para conter? A quantidade de problemas que podemos ter pela frente... E outra: é uma explosão por maldade ou necessidade? O que podemos fazer para evitar isso daí, como nos preparar", disse.

Bolsonaro tem insistido na ideia de que pode haver saques e revoltas causadas pela falta de emprego e renda da população.

Em Chapecó, onde foi conhecer medidas tomadas pela prefeito da cidade, João Rodrigues, que supostamente teriam reduzido a necessidade de interação de pacientes --na verdade, de acordo com boletim da própria prefeitura hoje as UTIs estão com mais de 93% de ocupação-- Bolsonaro voltou a dizer que o Exército não será usado para obrigar as pessoas a ficarem em casa.

Dessa vez, no entanto, o presidente não usou a expressão "meu Exército", que foi muito criticada nas últimas semanas, mas "nosso Exército".

Na sequência, voltou a dizer que não decretará lockdown ou medidas de restrição como já foi pedido por governadores, prefeitos e até empresários.

"Seria muito mais fácil ficar quieto, se acomodar, não tocar nesse assunto. Ou atender como alguns querem de mim, para ter um lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional", disse.

O presidente lembrou que nunca foi favorável a medidas de restrição de circulação e reclamou de "apanhar" por ser contrário a elas.

"Eu acho que sou o único líder mundial que apanha isoladamente. O mais fácil é ficar do lado da massa, da grande maioria, se evita problemas, não é acusado de genocida, não sofre ataques por parte de gente que pensa diferente de mim. O nosso inimigo é o vírus, não o presidente, a governadora ou o prefeito", afirmou.

Especialistas têm repetido inúmeras vezes que medidas de restrição de circulação são necessários para conter a disseminação do vírus entre a população, como têm feito vários países ao longo da pandemia.

Por outro lado, Bolsonaro seguiu defendendo nesta quarta o chamado tratamento precoce, que prega desde o início da pandemia, com uso de medicamentos que não têm eficiência comprovada no tratamento da Covid-19, elogiando o prefeito de Chapecó, que disse, em um vídeo compartilhado por Bolsonaro, ter dado liberdade aos médicos da cidade para fazer o "tratamento precoce".

"Por que essa campanha mundial contra métodos, médicos e quem fala pelo tratamento imediato? Vamos buscar alternativas, não vamos aceitar a política do fique em casa, feche tudo lockdown. O vírus não vai embora. Esse vírus como outros vieram para ficar e vão ficar a vida toda, é praticamente impossível erradicar. Vamos ver nosso país empobrecer?", disse.

O presidente elogiou a ação do prefeito como um exemplo de controle da epidemia sem ter apelado a medidas de restrição. Rodrigues, no entanto, impôs sim medidas que proibiram eventos, fechou bares e restaurantes, reduziu horários do comércio, a partir da metade de fevereiro.

Isso porque os números de contaminados pela Covid-19 na cidade dispararam em janeiro, depois das festas de final de ano. Desde a adoção das medidas de restrição, a contaminação na cidade caiu, de acordo com dados da prefeitura.

No vídeo compartilhado por Bolsonaro, Rodrigues aparece comemorando que não havia mais internados no chamado Centro Avançado de Atendimento da cidade. Na verdade, os doentes do local foram distribuídos para outros hospitais, em Chapecó e em outras cidades do oeste catarinense. Nesta quarta-feira, de acordo com dados do site da prefeitura, o município ainda tem 100% de lotação das UTIs privadas e 93% de lotação nas UTIs públicas, uma média acima do considerado seguro pela Fundação Oswaldo Cruz.

Chapecó já teve, ainda segundo a prefeitura, 541 mortes por Covid-19, 409 delas acontecendo desde janeiro. Com uma população de 224 mil pessoas, isso significa que a taxa de mortes por Covid-19 no município, de 241 mortes por 100 mil habitantes, está bem acima da média nacional, de 160 por 100 mil habitantes.

Homens invadem estúdio e ameaçam agredir radialista por críticas a Bolsonaro

 

Homens invadem estúdio e ameaçam agredir radialista por críticas a Bolsonaro

Redação Notícias
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Radialista foi ameaçado por seguidores de Bolsonaro em Pernambuco - Foto: Reprodução/YouTube
Radialista foi ameaçado por seguidores de Bolsonaro em Pernambuco - Foto: Reprodução/YouTube
  • Apoiadores do presidente questionaram o posicionamento de Júnior Albuquerque

  • Radialista havia criticado a condução da crise da Covid-19 por Bolsonaro

  • Após o episódio, ele registrou queixa à Polícia Civil

Uma rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco, foi invadida na última terça-feira por apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido). Eles ameaçaram agredir um radialista por críticas à condução da crise da Covid-19 pelo presidente.

Já era noite quando o radialista Júnior Albuquerque foi surpreendido com a entrada de quatro homens na Rádio Comunidade. “Não é tudo genocida? Fala agora”, disse um dos apoiadores do presidente, revoltado com a opinião do profissional.

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Entre provocações, tapas na mesa e amaças, o homem precisou ser contido pelos colegas de Júnior Albuquerque. O próprio radialista explicou o motivo da revolta.

Há algumas semanas, entrou em pauta as quase 300 mil mortes por Covid-19 no Brasil e eu fiz um comentário opinativo, onde expus que no meu ponto de vista Hitler não era o único culpado do genocídio que aconteceu na Alemanha, pois quem apoiou e quem se calou também teve sua parcela de culpa. Assim como no Brasil, em relação à Covid-19, os eleitores de Bolsonaro que concordam com a política sanitária que ele vinha fazendo, também teriam culpa”, declarou ao portal JC.

Radialista criticou medidas do governo Bolsonaro na pandemia (AP Photo/Eraldo Peres)
Radialista criticou medidas do governo Bolsonaro na pandemia (AP Photo/Eraldo Peres)

Júnior relatou que o comentário gerou diversas ameaças pelas redes sociais e que chegou a propor no programa uma conversa com algum apoiador do presidente. O grupo responsável pela invasão, no entanto, em momento algum mostrou-se disposto a um diálogo amistoso.

Eu disse que queria que esse pessoal fosse até a rádio para gente debater, para me explicar o motivo de tanta raiva e também me mostrar o que foi que o presidente deles fez de bom. Quando foi ontem, eles invadiram o estúdio da rádio e me ameaçaram”, comentou.

Radialista presta queixa

Após o programa, Júnior registrou queixa na Polícia Civil da cidade. A Associação de Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) saiu em defesa do radialista.

A Asserpe defende de forma intransigente a liberdade de imprensa conquistada pelos veículos de comunicação e condena todo ataque a esse direito fundamental”, afirmou em nota.

Celso de Mello elogia lockdown em Araraquara e detona Bolsonaro: “repulsivo e horrendo grito necrófilo”

 

Celso de Mello elogia lockdown em Araraquara e detona Bolsonaro: “repulsivo e horrendo grito necrófilo”

Ex-ministro do STF enviou texto a amigos via WhatsApp chamando o presidente de "despreparado" e "insensato"

 
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O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, teceu duras críticas a Jair Bolsonaro e à maneira como o presidente conduz o enfrentamento à pandemia no Brasil através de texto enviado a amigos no WhatsApp. As informações são da CNN Brasil e do Conjur.

Mello elogiou o lockdown decretado em Araraquara (SP) pelo prefeito Edinho Silva (PT), que reduziu consideravelmente os casos de Covid-19 e praticamente zerou as mortes relacionadas à doença, ao mesmo tempo em que subiu o tom contra Bolsonaro pelo fato do presidente ter se recusado a decretar um lockdown nacional.

De acordo com o ex-ministro, ao se recusar a apoiar medidas restritivas, Bolsonaro encampa um “gesto insensato” que configuraria um “repulsivo e horrendo ‘grito necrófilo”. Entre outros adjetivos, Mello classificou o presidente como “despreparado” e usou expressões como “Sumo Sacerdote que desconhece tanto o valor e a primazia da vida quanto o seu dever ético de celebrá-la incondicionalmente” e “monarca presidencial”.

“O gesto insensato do Presidente, opondo-se ao ‘lockdown’ nacional, em clara demonstração própria de quem não possui o atributo virtuoso do ‘statesmanship’ [estadista]. De outro lado, essa conduta negacionista torna imputável ao Chefe de Estado, em face de seu inegável despreparo político e pessoal para o exercício das altas funções em que investido, a nota constrangedora e negativa, reveladora daquela ‘obtusidade córnea’ de que falava Eça de Queirós, em 1880, no prefácio da 3ª edição de sua obra ‘O Crime do Padre Amaro’, no contexto da célebre polêmica que manteve com o nosso Machado de Assis”, diz um trecho do texto.

Sobre Araraquara, Mello escreveu: “Seguiu as recomendações sensatas e apoiadas em relevantíssima orientação fundada em respeitável conhecimento científico emanadas da OMS (ONU), da Opas, dos EUA, da Itália, da França, da Alemanha, do Reino Unido e de outros países governados por políticos responsáveis que repudiam as insensatas (e destrutivas) teses negacionistas”.

Celso de Mello se aposentou do cargo de ministro do STF em outubro de 2020 e foi sucedido por Nunes Marques, indicado por Bolsonaro.

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Ivan Longo

Jornalista e repórter especial da Revista Fórum.

"Em qualquer lugar morre gente", diz Bolsonaro, após mais um dia com 4 mil mortes

 

"Em qualquer lugar morre gente", diz Bolsonaro, após mais um dia com 4 mil mortes

247 - Um dia após o Brasil registrar novo recorde de mortes diárias, com mais de 4 mil óbitos pela Covid-19, Jair Bolsonaro afirmou que “em qualquer lugar morre gente”, ignorando que, atualmente, morre muito mais gente no Brasil do que em outros lugares do mundo.

“Estamos passando ainda por uma pandemia que, em parte, é usada politicamente. Não para derrotar o vírus, mas para tentar derrubar um presidente. Todos nós somos responsáveis pelo que acontece no Brasil. Qual país do mundo não morre gente? Infelizmente morre em tudo o que é lugar. Queremos é minimizar esse problema“, afirmou.

O número de mortes de brasileiros na terça-feira, 6 - 4.195 (segundo o Conass) - foi maior do que 133 países tiveram em um ano de pandemia. Da mesma forma, mesmo tendo apenas 2,7% da população mundial, o país concentra 37% dos óbitos de todo o planeta.