sexta-feira, 21 de julho de 2017

REVISTA ÉPOCA ENTREVISTA JOESLEY BATISTA

REVISTA ÉPOCA ENTREVISTA JOESLEY BATISTA


ÉPOCA – Embora o presidente admita o encontro e discorde somente da interpretação do que foi dito nele, há questionamentos sobre o áudio dessa conversa. Ele foi editado ou adulterado de alguma forma?

Joesley – De modo algum. Zero. Zero. Gravamos e entregamos. Podem fazer todas as perícias do mundo. Tentam desqualificar o áudio por desespero. Agora, tenho plena consciência de quão agressivo são os áudios para a cultura do brasileiro – gravei também o Aécio e o Rocha Loures, não nos esqueçamos. Gravar uma pessoa não é algo trivial.  É duro, doído, forte. Nunca havia gravado ninguém na minha vida. Esse processo deixa a gente impactado. Mas a única coisa que me conforta nessa história de ter gravado é que eu registrei o que eles falaram. Não botei palavra na boca de ninguém. É diferente de dar um depoimento. Se mesmo com toda a robustez das provas nós já estamos sendo perseguidos, imagine se fosse só o meu testemunho. Se isso fica só da minha boca?
ÉPOCA – Muitos se perguntam por que o senhor também não gravou o Lula. Não seria importante para o país?

Joesley – Porque eu nunca tive conversa não republicana com o Lula. Zero. Eu tinha com o Guido. Conheci o Lula no fim de 2013.

ÉPOCA – O senhor não era próximo do Lula quando ele era presidente?

Joesley – Estive uma vez com o presidente Lula quando assumi o comando da empresa, em 2006. Pedi audiência oficial. Deve estar nos registros. Fui com meu pai apresentar a empresa. Achei que seria importante me apresentar. Nunca mais vi o Lula até o fim de 2013. Não precisou ter conversa. Meu contato era o Guido.

ÉPOCA – E ele sempre resolvia?

Joesley – Resolvia. Então pronto. Para que ter outro? Não estou protegendo ninguém, mas só posso falar do que fiz e do que posso provar. Não estou entregando pessoas. Entreguei provas aos procuradores. E o PT tinha o maior saldo de propina. O que posso fazer se a interlocução era com o Guido? Aí inventam que a Blessed, aquela empresa que temos nos Estados Unidos, seria do Lula, do Lulinha, de político. É uma lenda urbana. Esse negócio de Lula ou filho de Lula é fruto de um imaginário de alguém que quis nos prejudicar. E toda essa documentação da Blessed está à disposição das autoridades. Encaminhamos. E vamos entregar mais material. Estamos levantando mais fatos. Tivemos pouco tempo.


VENEZUELA: A MESMA ESTRATÉGIA GOLPISTA USADA NO CHILE, LÍBIA E UCRÂNIA

VENEZUELA: A mesma estratégia golpista usada no Chile, Líbia e Ucrânia
A escalada de agressões diplomáticas, econômicas e midiáticas contra a Revolução Bolivariana são as mesmas promovidas contra a Líbia, Ucrânia e, nos anos 70, contra o Chile.

A guerra narrativa impulsionada pelas transnacionais midiáticas, nos exemplos citados e agora contra o país latino-americano, é construída sobre a tese de um Estado falido e pária como desculpa para legitimar uma intervenção armada e mudança de governo.

Financiadas e planejadas no exterior, as ações de desestabilização em cada país foram colocadas em prática por partidos políticos, setores acadêmicos e eclesiásticos pró-imperialistas, opositores aos governos locais.

A exigência de Richard Nixon a seu secretário de Estado, Henry Kissinger, de “fazer a economia chilena gritar”, para submeter o governo socialista de Salvador Allende, parece se manter atualmente.

O presidente Donald Trump ameaçou na última segunda-feira 17 aplicar “medidas econômicas fortes e rápidas” contra a Venezuela se a Assembleia Nacional Constituinte for realizada, o que deve acontecer em menos de duas semanas.

Segundo a versão da mídia sobre a “Revolução Laranja” na Ucrânia, foi a pressão dos “jovens universitários e estudantes secundaristas” que derrubaram o presidente Vikctor Yanukovich, por sua oposição ao Acordo de Associação e Livre Comércio com a União Europeia. Os governos mais influentes acusaram Kiev de atentar contra os manifestantes.

Matérias da época diziam que “nas manifestações se observava o uso cada vez mais generalizado de meios de proteção improvisados e profissionais como capacetes, coletes e inclusive escudos”. Nas últimas semanas todos os protestos terminavam em distúrbios.

Na Venezuela, o chamado “exército templário” está formado no imaginário construído nas redes sociais, principalmente, por jovens que lutam contra a “ditadura” que os oprime. Os assédios às instalações militares e os crimes de ódio são desculpados e naturalizados como “defesa própria”.

Os símbolos e a aplicação do manual do golpe suave de Gene Sharp, na Ucrânia e Venezuela, são escandalosamente similares.

O ponto decisivo do conflito na Líbia, que terminou no assassinato de Muammar Al Gadafi, foi a criação do Conselho Nacional de Transição (CNT) formado por políticos opositores servis a Washington e ex-funcionários de alto nível do governo derrubado. Antes disso, a crise foi intensificada por uma revolta violenta de vários dias em Bengasi, uma zona de opositores, e a denúncia de que as forças armadas atacaram os manifestantes pacíficos.

A coligação antichavista reunida na “Mesa da Unidade Democrática (MUD)” anunciou a formação de um governo paralelo após organizar uma consulta interna tipo plebiscito, no qual simbolicamente “o povo” desconhece o governo democrático de Nicolás Maduro e suas instituições.

Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional (AN) e coordenador do partido Vontade Popular assegurou na terça-feira (18) através de seu twitter que não são o Estado paralelo”, mas “somos o Estado Constitucional”.

O próprio presidente da AN, Julio Borges, já havia anunciado o chamado a “juramentar” os novos integrantes do Tribunal Supremo de Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral.

A oposição venezuelana ainda não decidiu que nome vai dar ao “novo governo” paralelo que tentam instalar. Até o momento seus porta-vozes se referem ao governo de unidade nacional ou governo de transição.

O presidente Nicolás Maduro semanas atrás advertiu que “o imperialismo havia proposto gerar uma comoção e em meio a isso, derrubar o governo legítimo para impor uma junta de transição”.


Cinema e Realidade em Casa 3








Cinema e Realidade em Casa 3

Dando continuidade ao nosso projeto Cinema e Realidade com o objetivo de entretenimento e estimular a reflexão sobsobre a realidade no Brasil e no mundo


Tatiana Carlotti

Arte - Carta Maior
Dando continuidade ao nosso projeto Cinema e Realidade, de ampla repercussão, com o objetivo não apenas de entretenimento, mas  de estimular a reflexão sobre a realidade no Brasil e no mundo, neste fim de semana sugerimos um outro Costa-Gavras, O capital;  o mais recente documentário de Michael Moore, O invasor americano; e também um capítulo do conhecido filme Zeitgeist Addedum, do ativista, escritor e compositor americano Peter Joseph, inspirado no best seller de John Perkins, ex-agente da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (a NSA) cuja atualidade, para nós, brasileiros, é de dolorosa atualidade: Confissões de um assassino econômico. 
 
Filmes que mostram a atuação e as consequências do domínio das corporações e do sistema financeiro em vários países do globo. Uma ingerência que, no Brasil, conta com a mídia enquanto aparato político na imposição do mais brutal neoliberalismo. Com poucos recursos, a Mídia Alternativa vem lutando pela democratização da comunicação. Carta Maior está nesta trincheira há mais de 16 anos e hoje depende, integralmente, da colaboração de seus leitores. Para que possamos continuar nesta luta precisamos que você se torne parceiro da Carta Maior (saiba como aqui).
 
Confira abaixo os três excelentes filmes desta semana. Não deixe de chamar seus amigos e parentes para debatê-los e, se quiser, envie um texto para nós resumindo essa discussão.
 
O Capital é baseado na novela do francês Stéphane Osmont, um economista egresso dos altos quadros da banca européia. Ele e Costa-Gavras trabalham em temas que tratam dos mercados desregulados, os bastidores das corporações, as consequências nefastas da globalização, o massacre das demissões em massa, desemprego, o abismo entre ricos e pobres e os produtos tóxicos oferecidos pelos bancos.  Num determinado momento, o protagonista do filme, um banqueiro francês, proclama, durante reunião com seus ávidos acionistas: “Continuaremos tirando dos pobres para dar aos ricos neste jogo, meus senhores. Até que tudo isto exploda!”
Confira a resenha do filme aqui:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Em-O-Capital-2012-adaptacao-de-novela-francesa-Costa-Gavras-acerta-mais-uma-vez/39/29422
 
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O Invasor Americano é outra produção de grande atualidade neste momento de caos institucional e econômico no Brasil, com pressões que vêm de fora, e brutais investidas contra direitos adquiridos. Moore aponta para sérias feridas americanas, matrizes da tentativa de desconstrução, ou seja, da demolição das políticas sociais existentes aqui, cujo prejuízo pode perdurar durante algumas gerações. O diretor se detém em outros lugares – Itália, Portugal, França, Alemanha, Finlândia, Tunísia, Islândia, Noruega – e mostra como são as experiências e vivências em educação, saúde, políticas públicas, alimentação, direitos humanos e direitos sociais nesses países. E conclui, com ironia: “O sonho americano está vivo em várias partes do mundo; menos na América.”
Confira a resenha do filme aqui:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/A-morte-do-sonho-americano-nos-Estados-Unidos/39/38308
 
Reprodução
Assassinos econômicos é narrado pelo ex-agente Perkins que trabalhou travestido de consultor econômico da mega empresa americana Chas T.Main (área de energia; hoje Parsons Main) em países da América Central e da América do Sul. Ele relata sua história e delata o que viu e o que fez. Corromper políticos, custear manifestações ‘’espontâneas’’ de rua, falsear estudos econômicos, ultra dimensionar relatórios de orçamentos públicos e convencer governos a contraírem dívidas impagáveis com o FMI e Banco Mundial para assim viverem tutelados por países e corporações credores. Nada que seja  ficção, no caso do Brasil atual. Confira esse doc: é a História se repetindo e não é como uma farsa, não.
Confira a resenha do filme aqui:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/A-Historia-se-repete-Panama-Guatemala-Equador-Ira-Iraque-E-Brasil-/39/38476
 
Bons filmes e um excelente fim de semana,





 
Carta Maior
 
*Estas produções estão disponíveis em DVD, no Now, Netflix e/ou youtube.

POR QUE LULA?

Por que Lula?

Roberto Amaral*

A identificação de Lula como alvo da reação não é gratuita. Se dá pelo que ele simboliza


Sem surpresa, o País recebeu a anunciada condenação de Lula, sentença que já estava pronta antes mesmo da mal articulada denúncia do Ministério Público Federal, antes mesmo do julgamento na ‘República de Curitiba’, pois, antes de tudo, estava lavrada pelas classes dominantes – os rentistas da Avenida Paulista, as “elites” alienadas, a burguesia preconceituosa, um empresariado sem vínculos com os destinos do povo e de seu país. Uma “elite” movida pelo ódio e pela inveja que alimenta a vendeta.

Denúncia, julgamento, condenação constituem uma só operação política, cujo objetivo é avançar mais um passo na consolidação do golpe em progresso iniciado com a deposição da presidenta Dilma Rousseff.

Tomado de assalto o poder, cumpriria agora destruir eleitoralmente a esquerda, numa ofensiva que lembra a ditadura instalada em 1964.

Para destruir a esquerda é preciso destruir seu principal símbolo, assim como para destruir o trabalhismo caberia destruir o melhor legado de Getúlio Vargas. Não por mera coincidência, o senhor Sérgio Moro decidiu dar à luz a sentença a ele encomendada no dia seguinte em que o Senado Federal violentava a Consolidação das Leis do Trabalho.

Desinformando e formando opinião, exaltando seus apaniguados e difamando aqueles que considera seus inimigos, inimigos de classe, a grande imprensa brasileira promove o cerco político, e tece as base da ofensiva ideológica unilateral, porque produto de um monólogo.

Essa imprensa – um oligopólio empresarial, um monopólio político-partidário-ideológico e na verdade o principal partido da direita – que exigiu e obteve a condenação de Lula (e presentemente tenta justificá-la, embora carente de argumentos) recebeu com rojões juninos a sentença encomendada, mas logo se enfureceu, porque Lula recusou o cadafalso político e anunciou sua candidatura à presidência.

Ora, dizem os editoriais, os articulistas, os colaboradores, dizem os “cientistas” políticos do sistema, Lula não pode ser candidato, o que revela a motivação da sentença. Já há “cientistas” exigindo que o TRF-4, em Porto Alegre, confirme sem tardança a condenação, e “filósofos” anunciando que a candidatura Lula é um desserviço à democracia (ela que lidera todas as pesquisas de intenção de voto) porque “polarizaria” o debate e as eleições. Doria, não. Bolsonaro, não. Caiado, não. Alckmin tampouco polariza. Mas Lula, sim; por isso precisa ser defenestrado.

A “vênus de prata” já começou a campanha visando à condenação de Lula na segunda instância, e o Estadão (edição de 14 último) anuncia que o “Supremo deve manter condenação de Lula”.

Somos testemunhas da tentativa de revanche da direita brasileira. Impedir a candidatura Lula é a defesa prévia ante a ameaça de a população demolir o golpe com as eleições de 2018.

O fato de o libelo (e jamais sentença) de Moro ser obra conhecida, segredo de polichinelo, não releva seu caráter mesquinho e iníquo, ademais de sua inépcia jurídica, desnudada.

Do ponto de vista do direito, a “sentença” é um mostrengo e se fundamenta em ilações, presunções, talvez “convicções”, artifícios de raciocínio em conflito com a lógica.

Contrariando o direito, que só conhece propriedade e posse, o juiz inventa a figura do “proprietário de fato”. A propriedade, segundo nosso Código Civil, se prova mediante o registro em Cartório, mas para acusar Lula se aceita que uma simples delação do proprietário real seja recebida como transferência, e como esse proprietário supostamente doador, empreiteiro respondendo a processos, é usufrutuário de falcatruas, conclui o juiz açodado que o apartamento deve ter sido dado em retribuição a alguma facilidade propiciada pelo ex-presidente, trata-se, portanto, de uma propina. E se é propina, Lula é agente passivo de corrupção.

E por tais caminhos sinuosos, mediante tal exercício de lógica pedestre, condena à cadeia o ex-presidente, para puni-lo, evidentemente, mas para punir antes de tudo com a decretação de sua inelegibilidade.

É disto que se trata.

Não cabe, pois, discutir a gramática processualística, simples apoio formal de uma decisão eminentemente política, e, do ponto de vista político, um golpe preventivo em face das eleições de 2018, das quais previamente e precatadamente se elimina o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto.

É preciso abater esse candidato, pelo que ele simboliza.

E assim, e só assim, as eleições poderão realizar-se, disputada a presidência entre Francisco e Chico.

Como temos insistido, às forças do atraso não bastava o impeachment de Dilma Rousseff, pois, o projeto em andamento é a implantação de um regime de exceção jurídica voltado para a desmontagem de um projeto de Estado social, mal enunciado. E um regime com tais características e com tais propósitos jamais alçaria voo dependendo do apoio popular.

Daí o golpe.

À sua execução se entregou o Congresso, sem ouvidos para as vozes das ruas, surdo em face dos interesses do País e de seu povo, desapartado da representação popular, a serviço do mercado, como tonitrua, sem pejo, o atual presidente da Câmara.

A eliminação de Lula é, pois, a conditio sine qua non do novo sistema para manter o calendário eleitoral, pois as eleições, para serem realizadas, não poderão importar em risco. De uma forma ou de outra, trata-se de um golpe, afastando-se uma vez mais do povo o direito de escolher seus dirigentes.

A identificação de Lula como alvo da reação não é gratuita, nem fato isolado. Lula de há muito transcendeu os limites de eventual projeto pessoal, é mais do que um ex-presidente da República, e é muito mais que fundador e presidente do PT.

Independentemente de sua vontade e da vontade de seus inimigos, é, para além  de sua popularidade, o mais destacado ícone da esquerda e das forças populares brasileiras.

Lula é, hoje, e em que pesem suas contradições, um símbolo, um símbolo da capacidade de nosso povo fazer-se agente de sua História. É um símbolo das possibilidades de o ser humano vencer suas circunstâncias, romper com as contingências e fazer-se ator. Simboliza a potência do povão, do povo-massa, dos “de baixo”, dos filhos da Senzala como sujeitos históricos. Simboliza a possibilidade de o homem comum, um operário, romper com as amarras da sociedade de classes, racista e preconceituosa, e liderá-la num projeto de construção de uma sociedade em busca de menos desigualdade social.

Por isso é amado e odiado.
Símbolos assim constituem instrumentos de importância capital nos confrontos políticos por sua capacidade de emocionar e mobilizar multidões. Símbolos deste tipo não surgem como frutos do acaso nem se multiplicam facilmente, nem se constroem da noite para o dia. Emergem em circunstâncias especiais, atendendo a demandas concretas da sociedade. São construídos ao longo de certo tempo de provação, de testes dolorosos, como ocorre com os heróis clássicos, percebidos pela comunidade como portadores de virtudes.
O símbolo Lula não é produto do acaso, nem consequência de um projeto individual. Trata-se do fruto histórico resultante do encontro do movimento sindical com as lutas populares, construindo a primeira liderança política brasileira que emergiu do proletariado, do chão de fábrica, para a Presidência da República. Um feito de dificílima repetição, neste país aferrado ao autoritarismo conservador.

É contra esse instrumento da luta política de massa que se arma a prepotência das classes dominantes brasileiras, filhas do escravismo, incuravelmente reacionárias, incuravelmente atrasadas, presas à ideologia da Casa Grande, desapartadas dos interesses do povo e da nação, descomprometidas com o futuro do país.

Ao abater Lula, pretende a direita brasileira dizer que o povo – no caso um ex-imigrante do Nordeste profundo, sobrevivente da fome, um ex-metalúrgico, um brasileiro homem-comum, um dos nossos –, não pode ter acesso ao Olimpo reservado aos donos do poder. É um “chega prá-lá”, um “conheça o seu lugar”, um “não se atreva”, um “veja com quem está falando”.

A condenação de Lula tem o objetivo de barrar a emergência das massas, barrar os interesses da nação, barrar o avanço social, barrar o ideal de um Brasil desenvolvido e justo. Visa a barrar não o lulismo, mas todo o movimento popular brasileiro. Quer deter não apenas o PT, mas todas as organizações políticas do espectro popular (que não se enganem a esse respeito aqueles que sonham em crescer nos eventuais escombros do lulopetismo).

A defesa de Lula, a partir de agora, não é uma tarefa, apenas, de seu partido e dos seus seguidores. Ela representa, hoje, a defesa da democracia. É só a primeira batalha, pois muitas nos aguardam até 2018.

* Jornalista, cientista político, ex-ministro de Ciência e Tecnologia.


Um tributo a Marco Aurélio de Almeida Garcia

Memória

Um tributo a Marco Aurélio de Almeida Garcia

por Roberto Amaral — publicado 21/07/2017 09h45
A política externa brasileira ativa e altiva, que tanto orgulho nos rendia, tinha o seu dedo, sua palavra, seu texto e sua clarividência
Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas
Marco Aurélio Garcia
Simpático, afável, mas duro quando necessário; cultivava a ironia fina como estilo
Eu e Marco Aurélio Garcia éramos amigos desde 1961, quando, mal saídos da adolescência, fomos eleitos para a diretoria da União Nacional dos Estudantes, e onde atuamos juntos por mais de um ano.
Desde o primeiro momento se revelaram suas qualidades políticas e intelectuais. Nos debates, nos conflitos ideológicos, admirava sua capacidade de promover encontros e formular sínteses. Um orador seguro, expositor de primeiríssima qualidade. Simpático, afável, mas duro quando necessário; cultivava a ironia fina como estilo.
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Na UNE, logo se tornou um dos ideólogos do Centro Popular de Cultura, onde encontraria Oduvaldo Vianna Filho (grande ator, autor e animador) e Carlos Estevão (nosso formulador). Com Clemente Rosas, como nós, também vice-presidente da UNE, integramos a Seção Juvenil do PCB, onde brigávamos com a burocratizada direção partidária.
Sob o comando de Aldo Arantes, presidente da UNE em nossa gestão, organizamos a resistência estudantil à tentativa de golpe de agosto de 1961, quando os militares tentaram impedir a posse de Jango.
Rodamos o país inteiro na caravana da UNE-Volante, o primeiro grande esforço visando ao diálogo politizado com as bases estudantis, preparando-as para uma grande greve nacional em defesa da Reforma Universitária.
Aldo Arantes, Clemente Rosas, Marco Aurélio e eu fizemos nossa primeira viagem ao “mundo socialista”. No Brasil, a expectativa de construção de uma sociedade justa nos colocou frente à uma Ditadura Militar que passamos a combater até nos perdermos nos anos de chumbo.
Marco, no exílio (Chile e França); Aldo, na clandestinidade e a caminho da guerrilha; eu, jogando de esconde-esconde com a repressão.
Muitos e muitos anos passados, muita vida percorrida, nos reencontramos, para surpresa nossa, em seminário sobre Gramsci no curso de pós-graduação em Ciência Política na USP.
Marco Aurélio, já professor na Unicamp e eu na PUC-Rio, sempre priorizando a militância política. Antes, pensávamos estar contribuindo para a construção socialista; nos últimos anos da ditadura, nos concentraríamos na reconstrução democrática, ele participando da fundação do PT; eu, tentando a reorganização do Partido Socialista.
Caminhávamos por margens distintas do mesmo rio, fiéis àqueles ideais que haviam nutrido nossas juventudes. Acompanhei-o na construção do Foro São Paulo e, com Aldo Arantes, nas campanhas presidenciais de Lula e Dilma.
Juntos, integramos o primeiro ministério do governo Lula, do qual foi ele um dos principais ideólogos, como inteligente e corajoso assessor internacional, ao lado de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, outros dois grandes brasileiros.
política externa do presidente Lula, um dos pontos altos de nosso governo, que tanto orgulho nos rendia, tem o seu dedo, sua palavra, seu texto, sua clarividência.
Marco Aurélio entendia a necessidade de contraposição à hegemonia estadunidense; sabia que era chegada a hora da multipolaridade em benefício de todos, não apenas do Brasil; percebia a necessidade de sepultar a perigosa e perversa quimera da unipolaridade.
E tinha como evidente que a parte brasileira só faria sentido caminhando com nossos vizinhos da América do Sul e da África. Daí seu empenho no fortalecimento do Mercosul, da Unasul e do Conselho Sul-americano de Defesa; daí sua atenção à presença brasileira no continente africano.
A integração sul-americana e a aproximação com os africanos de língua portuguesa seriam os pontos de partida para o grande projeto Sul-Sul.
Paralelamente, caberia dar sentido aos entendimentos do BRICS e estabelecer diálogos políticos em áreas ainda não navegadas pela diplomacia brasileira. O porte e as perspectivas de nossa economia demandavam aproximação com a Ásia, destacadamente com a China.
Marco Aurélio foi um dos arquitetos dessa política ativa e altiva (no feliz resumo de Celso Amorim), que elegeu como azimute a prioridade dos interesses nacionais, a busca de seu próprio caminho, rompendo com o trajeto de submissão automática às grandes potências. Sua herança é o exemplo da politica externa mais bem sucedida desde a Independência.
A grandeza dessa política, revogada, se sobressai independentemente da mediocridade atual, que retira o país do proscênio e o relega, retroagindo aos governos Collor e FHC, à mais abjeta subserviência à potência hegemônica.
À visão estratégica da política externa de Lula, tivemos, como consequência do golpe que depôs Dilma Rousseff, a retomada da mediocridade, da sabujice, da renúncia a qualquer papel de relevância. De ator mundial, regredimos ao papel de figurantes .
Estivemos juntos, pela última vez, há cerca de dois meses. Marco Aurélio, alegre, nos apresentou seu novo apartamento paulistano, da qual destacava, como salões nobres, sua cozinha-copa-sala de estar “montada como um bistrô”, dizia ele, e o espaço reservado para sua imensa e rica biblioteca que ainda não conseguira pôr em ordem.
Eu lá estava, na companhia da cineasta e produtora Cláudia Furiati que desejava seus conselhos para um filme (que ainda pretende rodar) sobre a esquerda latino-americana.
A visita começou com um belíssimo jantar, elaborado por ele enquanto degustávamos um majestoso vinho sacado de sua adega. A noite não tinha pressa. Terminamos esse encontro, que eu jamais pensei ser o último, ouvindo-o dissertar sobre o plano de seu livro de memórias.
O infarto traiçoeiro nos proibiu dispor de uma peça literária de grande porte, e de um depoimento crucial sobre a política brasileira de nossos dias.

Brasil pós-reformas: é esse o País que queremos?

Economia

Brasil pós-reformas: é esse o País que queremos?

por Tiago Oliveira e Clóvis Scherer — publicado 20/07/2017 16h51
As mudanças propostas têm como fio condutor a redução do Estado e o posicionamento do País nos elos menos virtuosos das cadeias globais de valor
Tânia Rego/Agência Brasil/Fotos Públicas
Menino em comunidade no Brasil
Se o País crescer, vai ser um crescimento excludente. As reformas que estão sendo feitas devem contribuir para ampliar as desigualdades
[Este é o blog do Brasil Debate em CartaCapital. Aqui você acessa o site]
Reflexões e estatísticas recentes sobre desigualdades socioeconômicas demostram que padrões mais igualitários de distribuição de renda e de riqueza só foram atingidos nos países desenvolvidos, no período compreendido entre o imediato pós-guerra e a década de 1970, em resposta aos efeitos devastadores provocados pelas guerras mundiais e mediante um consenso social, forjado naquele contexto.
Esse consenso permitiu a implementação de políticas fiscais, sociais e regulatórias que alçaram o capitalismo a um novo patamar civilizatório.
Com o passar do tempo, porém, à medida que as lembranças dos horrores dos conflitos bélicos foram se esmaecendo, o aludido consenso social foi paulatinamente desmoronando e as políticas públicas distributivas enfraquecidas.
Como consequência, as desigualdades avançaram, ainda que em ritmos diversos a depender do país analisado, amparadas por um discurso que as elevam a um status de valor positivo, pois promoveriam o crescimento econômico ao libertar a paixão empreendedora capitalista dos grilhões representados pelas instituições do Estado de Bem-Estar Social.
No Brasil, os efeitos práticos e simbólicos das guerras pouco contribuíram para a superação das consequências socioeconômicas de seu passado colonial-escravista, dentre as quais destacam-se os obscenos níveis de desigualdade de renda e de riqueza.
A modernização conservadora da ditadura militar, porém, serviu como aglutinadora de movimentos sociais diversos que defendiam o retorno da democracia e um país socialmente mais justo e igualitário.
Constituição Federal de 1988, de certa forma, foi resultado do relativo consenso social que emergiu daquele processo e significou uma tentativa de enfrentar o enorme passivo social historicamente acumulado, numa espécie de esforço de mimetização do que ocorreu nos países desenvolvidos, porém numa etapa da história do capitalismo mundial amplamente desfavorável, de hegemonia do pensamento neoliberal.
A verdade é que parte dos avanços da Constituição foram tolhidos nas décadas seguintes, reduzindo substancialmente o seu alcance e o seu potencial reformista.
Entretanto, foram justamente os avanços da Constituição Federal de 1988 que lograram efetivar-se, acompanhados por decisões políticas e econômicas tomadas a partir de meados da década passada, com destaque para a valorização do salário mínimo e a expansão das políticas de transferência de renda, que permitiram que o ciclo de crescimento econômico iniciado naquele período fosse inclusivo.
Tal ciclo expansionista foi marcado por uma diminuição expressiva das taxas de desemprego, redução da informalidade, aumento do rendimento médio real dos trabalhadores, e redução das desigualdades (pessoal e funcional) de renda.
No entanto, a grave crise econômica que se instalou no país a partir de 2015, e a reorganização do bloco no poder por ela provocada, cimentou um ambiente por muito tempo ansiado pelas elites locais, propício a, finalmente, tornar a Constituição Federal de 1988 e sua vocação social uma lembrança de um passado remoto.
Crise, aliás, que, se não fosse alimentada por razões políticas muito pouco republicanas, não passaria de uma recessão econômica provocada pela desaceleração da economia mundial, pelo esgotamento de um ciclo de consumo e de endividamento, e por decisões de política econômica equivocadas.
As reformas encaminhadas desde o ano passado – a do “teto dos gastos públicos”, a trabalhista e a previdenciária – têm como fio condutor o objetivo de reduzir o tamanho do Estado brasileiro, viabilizando a promoção de uma estratégia de crescimento econômico orientada pelo mercado e mais integrada à globalização capitalista, efetivando o país como um polo de exportação de produtos agropecuários e manufaturados de baixo valor agregado, posicionado nos elos menos virtuosos das cadeias globais de valor.
O sucesso dessa estratégia, por suposto, exige que a competitividade nacional se apoie em uma carga tributária mínima, em baixos custos do trabalho e em um padrão amplamente flexível de contratação e demissão, uso e remuneração de mão de obra.
Mas, vale dizer, não é toda e qualquer intervenção do Estado que se mira nas reformas atualmente propostas.
O “novo regime fiscal” e a proibição de que os gastos públicos cresçam em termos reais – o que, na prática, significa uma diminuição do seu montante como percentual do PIB e per capita –, diz respeito somente aos gastos primários, ou seja, exclusive o pagamento dos juros da dívida pública.
O que está irremediavelmente comprometido são os gastos com saúde, educação e assistência social, por exemplo.
A reforma trabalhista visa, por um lado, a oferecer um “cardápio” mais diversificado de contratos de trabalhos precários – como o intermitente, o temporário e o autônomo – para que o lucro privado possa ser maximizado; por outro lado, expor os trabalhadores a negociações que se dão em âmbito cada vez mais individual, fragilizando os sindicatos e o seu poder de barganha, além de dificultar-lhes o acesso à Justiça do Trabalho.
A reforma previdenciária pretendida, por fim, tem como objetivo reduzir o alcance da Previdência pública, restringindo o acesso aos benefícios e cortando seu valor, sem preocupações substantivas com a recuperação ou elevação de receitas.
Insistir nesta estratégia de crescimento provocará um rebaixamento geral dos salários e uma ampliação da desigualdade e da pobreza, debilitando o mercado interno de consumo. O crescimento econômico, se vier, será sem dúvida alguma de caráter excludente.
O país precisa de uma estratégia de crescimento econômico que busque a sofisticação de sua estrutura produtiva e a consolidação de um amplo mercado interno de consumo, pela geração de emprego e renda, bases sem as quais não haverá suporte para uma estrutura de proteção social que atenda as necessidades da população.
Para tanto, reformas são necessárias sim. Mas, as mais urgentes certamente não são as que estão sendo encaminhadas recentemente, por um governo sem legitimidade democrática e um CBrongresso com baixa representatividade social.
Notando que a necessidade de mudanças estruturais é necessária não apenas na economia, pode-se destacar, por exemplo, a urgência de uma reforma da política econômica, que diminua drasticamente as taxas de juros praticadas pelo país, elimine a indexação da economia brasileira e evite a tendência à apreciação da taxa de câmbio.
Ou a necessidade de uma reforma tributária, que aumente a progressividade dos tributos – diminuindo o peso da tributação indireta (incidente sobre o consumo) e aumentando a parcela da tributação direta (que taxa renda e patrimônio) –e torne o sistema tributário brasileiro mais justo, capaz de suportar uma atuação estatal com maior potencial redistributivo e de estabilização da economia.
*Tiago Oliveira é graduado em economia pela UFBA, com mestrado e doutorado em Desenvolvimento Econômico na Unicamp.É técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE.  Clóvis Scherer  é economista, com graduação pela Universidade Federal de Santa Catarina e título de Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo InternationalInstituteof Social Studies da Universidade Erasmus de Rotterdam. Trabalha como economista no DIEESE.