domingo, 22 de abril de 2018

Marcia Tiburi lança livro no acampamento Lula Livre e celebra luta pela verdade


RESISTÊNCIA

Marcia Tiburi lança livro no acampamento Lula Livre e celebra luta pela verdade

Em feriado de sol, céu azul e muitos encontros, famílias e amigos aproveitam o dia para conhecer ou retornar à vigília democrática. "É uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez", diz escritora
por Cláudia Motta, para a RBA publicado 22/04/2018 10h09, última modificação 22/04/2018 11h54
VANGLI FIGUEIREDO
Marcia Tiburi
Filósofa Marcia Tiburi conseguiu lançar em Curitiba a obra que há duas semanas não conseguiu
Curitiba – Há pouco mais de duas semanas, a artista plástica e professora de Filosofia Marcia Tiburi foi impedida de lançar seu livro Feminismo em Comum em Curitiba. Ameaças virtuais à escritora levaram ao cancelamento do evento que seria realizado no dia 5.
Mas neste sábado (21), feriado de Tiradentes, Marcia fez o lançamento para um público ainda maior, no Acampamento Lula Livre. Em dia de sol forte e céu azul, mais de 300 volumes foram vendidos e uma imensa fila foi formada para os autógrafos.
Ela permaneceu por cerca de três horas na vigília e conduziu o “boa tarde” ao ex-presidente, diante da sede da Polícia Federal da capital paranaense, que o aprisiona desde o dia 7. “A gente deve vir pra cá com nossos esforços, porque nossos esforços pessoais, hoje, representam nosso desejo de política e democracia no Brasil. Isso é uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez, amor ao conhecimento.”
Como professora de Filosofia, Marcia Tiburi diz sentir-se muito próxima do presidente Lula. “Quando ele diz que precisamos restituir a verdade no Brasil, sinto-me tomada por essa ideia. É disso que se trata desde que a filosofia existe na história: a gente precisa lutar pela verdade, bancar a verdade, se comprometer com a verdade. Eu estou buscando a verdade.”

Gente que chega, que volta, que fica

No dia em que o lema Liberdade ainda que tardia (Libertas quae sera tamen, da bandeira mineira) é tão lembrado, milhares de pessoas circularam pela Praça Olga Benário – nome dado ao entroncamento de ruas do bairro Santa Cândida, onde se concentram atos pela liberdade de Lula e em defesa da democracia. Algumas vindas de longe, outras, ali de Curitiba mesmo, retornando ao acampamento.
A professora Lirani Maria Franco foi umas das manifestantes atingidas pelas balas de borracha da polícia, na noite da chegada de Lula a Curitiba. “A primeira sensação de reencontrar todo esse movimento aqui, todas essas pessoas, é muito interessante. Há 15 dias estivemos aqui também nessa reunião, de muitas pessoas se encontrando, na defesa dos direitos, da democracia, num espaço aberto, de unidade, de amor”, diz, lembrando a violência desmedida contra quem estava “acolhendo o ex-presidente para dizer que ele não estava só”.
“Todos nós sem armas e, sem esperar, de repente sinto uma bala na minha perna, o sangue, a dor, e nem sequer sabia o que estava acontecendo. Então, voltar hoje e ver que o acampamento, a vigília se manteve, e o que eles tentaram fazer não teve sucesso. Pelo contrário, deu mais força, demonstrou que nós temos de ter coragem, resistência. Porque essa é a nossa luta.”
Também professor de Filosofia, Sebastião Rodrigues Gonçalves viajou por 12 horas, desde Foz do Iguaçu (PR), para prestar sua homenagem. “A história do povo que está do lado do Lula neste momento coincide com minha história. Um sujeito que saiu da roça, fui operário da construção civil, sofri pra estudar, chegar no ensino superior”, afirma o professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). “Sou um comunista científico, não um comunista filiado a esse ou aquele partido. Quem quer o bem comum é o comunista: é o sujeito solidário, que sofre.” 
Assista ao vídeo de Felipe Kfouri:

https://youtu.be/moer0q8Nn7o

Recarga num lugar bacana de se viver

O cozinheiro Paulo Pena, 62 anos, e a professora aposentada Joana Amélia Santana, 67, já foram casados. Hoje seguem grandes amigos e estavam juntos no acampamento no sábado (21).
“Todo dia que a gente vem aqui, seja feriado ou não, é uma recarga”, afirma Paulo. “É o lugar mais alegre, mais seguro, mais bacana de se viver, porque é a realização de sonhos. As pessoas são todas iguais, disponíveis. Todo mundo fala com todo mundo, ninguém tem medo de ninguém. É a vivência da utopia.”
Joana concorda e acrescenta: é a prática do coletivo. “Saber que o coletivo pode ser real e vai contra toda essa ideia do individualismo, do neoliberalismo que afoga, sufoca as pessoas. No coletivo, segundo ela, é a vida do amor, como a Marcia falou aqui hoje. A vida do afeto. As pessoas dependem, sim, umas das outras, são necessárias umas às outras. "E isso a gente aprende cada vez mais aqui no acampamento”, diz, destacando o “pessoal do MST”. “Eles lutam muito mais do que nós que moramos nas nossas casas, nossos apartamentos. Eles lutam ferozmente por essa verdade, por essa necessidade de acesso a que todos têm direito, a justiça.”
Muita gente aproveitou o dia inspirador para também escrever cartas a Lula, como professora Ediandra de Borba, 28 anos, filha de assentados em Lindoeste (PR). “é um momento histórico da nossa política, não devemos ficar de fora. Não é possível que nesse momento, com tantas injustiças acontecendo, a gente não se manifeste, não atue como cidadão”, disse.
Mosaico de personagens
De cima pra baixo e da esquerda para a direita. 1. Grande público acompanha fala de Marcia Tiburi | 2. Joana Amélia Santana, 67 anos, professora aposentada | 3. Professor de Filosofia da Unioeste Foz do Iguaçu, Sebastião Gonçalves | 4. Lirani Maria Franco, professora aposentada, ferida no dia 7, quando da chegada de Lula | 5. Professora Ediandra de Borba, 28, professora, filha de assentados de Lindoeste (PR) e o professor professor Paulino Pereira da Luz, 60 anos, Cascavel | 6. Ediandra aproveita para escrever para Lula... | 7. Como centenas de outros participantes | 8. Professor de Filosofia da rede pública do PR Marcílio Mileski | 9. Lara Callegari, 27 anos, professora de inglês | 10. Varal poético acolhe versos escritos pelo público

Formatura de diplomatas celebra Marielle. E constrange o governo e o golpe


HOMENAGENS

Formatura de diplomatas celebra Marielle. E constrange o governo e o golpe

Na presença de Temer e Aloysio Nunes, e em tempos de crimes e prisões políticas, orador cita Luther King e manifesta indignação de todas as forças políticas amantes da democracia
por Paulo Donzietti de Souza, da RBA publicado 21/04/2018 18h31, última modificação 21/04/2018 18h37
INSTAGRAM | FLICKR ITAMARATY | REPRODUÇÃO
Marielle e Luther King

São Paulo – A formatura da turma 2016-2018 de diplomatas do Instituto Rio Branco, celebrada nesta sexta-feira (20), Dia do Diplomata, prestou contundente homenagem a Marielle Franco. A turma foi batizada com o nome da vereadora do Psol do Rio de Janeiro, executada a tiros em 14 de março, junto com o motorista Anderson Gomes, que a acompanhava.
A lembrança de um crime político contra uma liderança feminista negra, que comoveu o mundo e ainda não foi esclarecido pelas autoridades, constrangeu alguns presentes "ilustres" à cerimômia realizada no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores: o presidente Michel Temer, responsável por uma intervenção militar tido como desastrosa no Rio de Janeiro, e o ministro titular da pasta, Aloysio Nunes Ferreira.
O orador da turma, Meinardo Cabral de Vasconcelos Neto, conseguiu discreta e indiretamente provocar constrangimento, ao citar em seu discurso de sete minutos o líder da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, Marthin Luther King, na abertura de sua intervenção.
“É sempre o tempo certo de fazer o que é certo. Essas foram palavras de Martin Luther King, preso, em Birmingham, Alabama, após organizar passeatas de resistência contra a discriminação racial. A turma Marielle Franco – e Marielle lutou também contra variadas formas de segregação – escolheu prestar esta homenagem porque entendeu que era certo. E havia de ser também o tempo certo. Nós tivemos de escolher prestá-la, é verdade, quando quase nada estava esclarecido – e muito resta, infelizmente, por esclarecer", declarou Vasconcelos Neto.
"Com a convicção de que o tempo, por si, não curará nossos males nem nos conduzirá inevitavelmente à justiça, escolhemos não nos omitir", acrescentou, assinalando que a indignação com morte de Marielle deve inspirar a carreira diplomática a atuar, como ela, "como instrumentos da luta por uma sociedade mais justa e igualitária".
O momento em que a liderança política mais popular do país, e uma das mais importantes do mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra também na condição de preso político, pode representar o segundo constrangimento da festa.
"Na mesma ocasião (em que foi preso), Martin Luther King nos lembrava: uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares. Não é por outro motivo que se unem hoje, com a mesma indignação, Senhor Presidente, todas as forças políticas amantes da democracia, pois todas elas manifestaram ao mesmo tempo consternação e solidariedade. Aqui estamos para expressar nosso repúdio a toda forma de violência e para reforçar nossa crença nas instituições democráticas", acentuou o diplomata.

Desigualdade 

A embaixadora Thereza Maria Machado Quintella, paraninfa da turma e primeira mulher formada pelo Instituto Rio Branco a se tornar embaixadora no Brasil, elogiou a escolha da turma. Eleitora de Marielle, Thereza lembrou sua luta para a equidade de gênero e criticou o governo pela pequena presença feminina no corpo diplomático e nos principais postos do Ministério das Relações Exteriores de Temer – nenhum dos 12 cargos mais importantes do ministério é ocupado por mulher –como destacou o blog Socialista Morena.
“O que mais preocupa atualmente é a ausência de mulheres na estrutura de comando do Itamaraty. Só espero que isso seja conjuntural, e não sinal de retrocesso”, criticou Thereza Quintella. A turma que se formou nesta sexta tem 30 diplomatas, dos quais nove são mulheres, como observa o blog.
Num país que tem Michel Temer e Aloysio Nunes Ferreira entre os articuladores do golpe de 2016, a formatura de uma nova safra de diplomatas acabou proporcionando uma alentador ato de desagravo à sua tão agredida democracia.
Afinal, o golpe teve como primeira etapa requintes de misoginia, ao oprimir e destituir por força de uma manobra jurídico., midiática e parlamentar a primeira presidenta eleita da República. E em sua etapa presente, emprega sua estrutura judiciária encarcerando o presidente que a antecedeu, o de maior taxa de popularidade da história da República e potencial futuro presidente se puder disputar a eleição de outubro. 
Tirar a vida de Marielle e a liberdade de Lula se encaixam cruelmente na condição dessas injustiças "que ameaçam a justiça em todos os lugares". 

No acampamento Lula Livre, educação, artes e futebol em destaque LULA LIVRE!


SOLIDARIEDADE

No acampamento Lula Livre, educação, artes e futebol em destaque

Oficina de mosaico para crianças, a diversidade musical da América Latina, a força das torcidas organizadas e um debate em defesa da educação e da democracia marcam o domingo em Curitiba
por Redação RBA, com reportagem de Cláudia Motta publicado 22/04/2018 19h11, última modificação 22/04/2018 19h41
ACAMPAMENTO LULA LIVRE
cartas para o presidente
Alunos de uma escola municipal de Porto Alegre enviaram cartas e desenhos em apoio ao ex-presidente Lula
São Paulo – Se a educação, a arte e o participação popular no futebol têm espaço cada vez mais reduzido no cenário nacional, o mesmo não acontece no acampamento Lula Livre, em Curitiba. Com a praça Olga Benário tomada por pessoas que vieram em caravanas de diversos estados, o domingo (22) foi marcado por atividades artísticas e culturais que inspiraram, divertiram e reafirmaram o apoio e solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Como acontece diariamente, o dia começou com o "bom dia" a Lula entoado por centenas de pessoas de todo o país que desde o último dia 7 se revezam na vigília em solidariedade. A reflexão política ficou por conta do lançamento do livro O Dezesseis – Os retirantes da Democracia, da advogada e jornalista paraibana Fabiana Agra. Na sequência, as crianças aprenderam a técnica do mosaico em EVA, uma espécie de plástico, em oficina ministrada pelo artista equatoriano Javier Guerrero Meza. Os pequenos aproveitaram o novo conhecimento para homenagear o ex-presidente.
JOKA MADRUGA/AGÊNCIA PTato acampamento mosaico
Crianças e adolescentes prestaram homenagem ao ex-presidente com a técnica que aprenderam na oficina de mosaico
A diversidade musical, com expressões de diversas partes do mundo, foi representada por músicos do Brasil, França e México que integram o grupo multiétnico Cao Laru, em turnê brasileira de abril a junho;  pela roda de samba com Maria Navalha & Sinducatis; a música latina do grupo D´America, que há 35 anos divulga a música dos povos originários, do folclore e da cultura popular latino americana e do Caribe.
JOKA MADRUGA/AGÊNCIA PTato acampamento música cao laru
Em turnê pelo país, o grupo multiétnico Cao Laru participou da programação cultural
JOKA MADRUGA/AGÊNCIA PTato acampamento roda de samba
À tarde, uma roda de samba alegrou pessoas que vieram em caravanas de diversos estados
A educação, na perspectiva de formação para a democracia, esteve no centro do debate realizado à tarde pela Comissão de Assuntos Educacionais do PT. Entre educadores presentes, a professora da rede municipal de Porto Alegre que não quis se identificar por medo de perseguição pelo prefeito Marchezan Jr. (PSDB). Ela trouxe uma caixa com cartas escritas por alunos do 5º ano. “Se eu fico visada, não posso continuar atuando em defesa da democracia”, disse.
JOKA MADRUGA/AGÊNCIA PTato pela educação acampamento lula livre
Educadores, estudantes, parlamentares e ativistas debateram educação e democracia
Com o lema “paz, democracia e liberdade”, representantes de torcidas organizadas de vários clubes – Corinthians, São Paulo, Atlético Paranaense, Coritiba, Paraná Clube, Bangu, Grêmio, Flamengo, Palmeiras e Tubarão, entre outros – se reuniram no acampamento para repudiar toda forma de violência envolvendo o futebol, clubes e a torcida.
No último dia 16, apoiadores de Lula foram agredidos por integrantes de uma torcida organizada do Coritiba.
Os torcedores criticaram as políticas que têm elitizado o esporte, tirando os torcedores pobres dos estádios e impedido a manifestação política durante as partidas contra o fascismo, a repressão policial, o racismo, a homofobia e o machismo dentro do futebol.
A jornada deste domingo terminou com ato religioso em celebração à vida ministrado pelo frei Ederson Queiroz.
REPRODUÇÃOato acampamento torcidas
Torcedores de diversos clubes defenderam o fim da elitização do esporte, que expulsa dos estádios os mais pobres, e proíbe a manifestação política

Lula, em video inédito: “inocente não corre, enfrenta”

Lula, em video inédito: “inocente não corre, enfrenta”

Em vídeo inédito, gravado por seu colaborador e amigo Ricardo Stuckert e exibido hoje em sua conta de Facebook, o ex-presidente Lula explica, de viva voz, que decidiu aceitar a ordem de prisão dada por Sérgio Moro para provar sua inocência:”Não quis fugir, porque quem é inocente não corre, enfrenta. Por isso vou a Curitiba”.
Cansado, depois de dois dias inteiros no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cercado de amigos e companheiros de lutas políticas, Lula conservava a serenidade; “se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender.”
Ele diz que só “as mentiras da Globo” legitimam os processos contra ele e pediu “disposição para lutar” do povo brasileiro.
Assista.

  •  
  •  

Prove que é inocente! ESTÁ INSTALADA A DITADURA NO BRASIL

Prove que é inocente!

O Judiciário brasileiro se tornou uma monstruosidade.
Há 15 dias, 159 pessoas foram presas numa festa apontada como sendo promovida por milicianos.
Pode ser, a milícia, há muitos anos, atua na periferia do Rio de Janeiro, controlando venda de gás, vans, “gato net” e extorquindo comerciantes.
Ocorre que, dos 159, 139 não tinham antecedentes criminais ou quaisquer investigações que os envolvessem.
Deveriam, portanto, ser liberados imediatamente.
Mas não foram.
Nas audiências de custódia, em “lotes” de 20 foram mantidos presos por terem ido a um lugar onde havia homens armados.
Só um deles, Pablo Martins, palhaço de circo, cuja imagem está na foto do post,  foi solto, e só hoje.
O próprio Ministro da Segurança, Raul Jungmann, diz que “essas pessoas têm que explicar o que estavam fazendo lá, em uma festa de milícia, numa festa de bandido”.
Mães, mulheres, filhos dos 139 presos por terem ido à “festa de bandido” pedem que eles sejam postos em liberdade, porque ir a uma festa, qualquer que seja, não é crime.
Ou melhor, não era.
No Brasil pós- Lava Jato, é preciso provar que você é inocente, não que provem que você é culpado.
Isso é o estado policial.
E estamos nele.

A PIOR DITADURA

"A pior ditadura é a do judiciário. Contra ela não há a quem recorrer"(Rui Barbosa)

________________________________________
Comentário deste blogueiro: é urgente a criação de um contrôle externo do judiciário( já que o CNJ não cumpre a função para a qual foi criado) e a aprovação do projeto de medidas contra o abuso de poder.

As manobras da juíza Carolina Lebbos para Esquivel e Boff não visitarem Lula.



As manobras da juíza Carolina Lebbos para Esquivel e Boff não visitarem Lula. Por Manoel Ramires

 
Publicado no Porém.net
POR MANOEL RAMIRES
As visitas aos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido controladas a mão de ferro pela justiça brasileira. A juíza Carolina Lebbos tem impedido visita de políticos, parentes e amigos ao líder das pesquisas eleitorais brasileiras, contrariando o que determina o artigo 41, da Lei de Execuções Penais. Esse artigo diz que constituem direitos do preso a “visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados”. O primeiro embate ocorreu com sete governadores, que não conseguiram falar com Lula. Em seguida, senadores quase foram impedidos de visitar o ex-presidente, mas se valeram da condição de membros da Comissão de Direitos Humanos para inspecionar as acomodações.
No entanto, o caso mais emblemático até aqui de rigidez da não tão rígida juíza Carolina Lebbos (veja artigo do Portal Vermelho) foi impedir a visita do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, e do teólogo Leonardo Boff ao ex-presidente, mesmo com a concordância do Ministério Público Federal (MPF). Uma imagem emblemática de Boff sentando em uma cadeira, embaixo do sol, enquanto Esquivel, que havia comunicado a presidente do STF, Cármen Lúcia, tentava a visita, rodou o Brasil. Ela revela uma justiça que tenta de toda forma constranger Lula, o que levou Esquivel a afirmar que sim, Lula é preso político.
A seguir, os leitores do Porém.net podem ler o passo a passo da tentativa jurídica do prêmio Nobel visitar Lula e se houve “má vontade” para que o encontro não acontecesse. Antes, importante afirmar que a denominação “evento” significa o número da movimentação processual, como se fosse uma página.
Evento 22 = 16/04/2018 13:16:51 | Protocolada petição de requerimento de habilitação para que Adolfo Pérez Esquivel realize visita na condição de amigo pessoal.
16/04/2018 15:51:34 | A juíza despacha relatando que “1. Aos eventos 12, 13, 14 e 15, José Carlos Becker de Oliveira e Silva, Gleisi Helena Hoffmann, Eduardo Matarazzo Suplicy, Carlos Lupi, André Figueiredo e Ciro Gomes peticionam solicitando autorização judicial de visita ao executado LUIZ INACIO LULA DA SILVA. A defesa apresentou manifestação no evento 21. A respeito, abra-se vista ao Ministério Público Federal”. “E que no evento 22 Adolfo Pérez Esquivel igualmente requer, em caráter de urgência, autorização de visita ao custodiado. Abra-se também vista às partes para manifestação” e mandando o MPF se manifestar.
Evento 28 = 16/04/2018 17:01:04 | Esquivel protocola comunicado de inspeção.
Evento 32 = 16/04/2018 19:07:30 | Representante do MPF junta parecer pelo deferimento do pedido de visita, desde que consultada previamente a defesa de Lula. Mas se posiciona contra o deferimento do pedido de inspeção, argumentando de que “não existe previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro para a realização da inspeção pleiteada, de modo que tal pedido deve ser indeferido.”
Evento 33 = 16/04/2018 20:48:12 | Os autos foram conclusos para decisão da juíza.
Evento 34 = 16/04/2018 21:29:39 | Esquivel peticiona, juntando cópia de protocolo do ofício da comunicação de inspeção para a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, Cármen Lúcia, contestando o parecer do Ministério Público, quanto à comunicação de inspeção: “Em relação ao parecer do ilustre representante do Ministério Público, juntado no evento 32, que, diferentemente da afirmação contida na cota ministerial, as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (Regras de Mandela), com a edição pelo CNJ, foram recepcionadas pelo Direito Brasileiro e vinculam a Execução das Penas, tanto em âmbito Federal quanto no Estadual”
Evento 35 = 17/04/2018 09:38:50 | A juíza Carolina Lebbos despacha salientando que, em relação ao Comunicado de Inspeção, “considerando o teor das petições de eventos 28 e 34, em especial a data indicada, a fim de que não pairem dúvidas, esclarece-se não haver, por parte deste Juízo, até o momento, deliberação e autorização para o ato, pendente ainda manifestação da defesa. Insta reiterar ser de competência do Juízo de Execução zelar pela regularidade do cumprimento da pena e do estabelecimento de custódia, inclusive no tocante ao acesso por terceiros.
Registre-se não se desprezar a relevância da Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (Regras de Mandela). Como se depreende de suas observações preliminares, não se cuidam, porém, de normas impositivas e absolutas, mas de recomendações a serem interpretadas, ponderadas e aplicadas de acordo com cada país, cada estabelecimento prisional e as especificidades de cada caso concreto. Em homenagem ao contraditório, aguarde-se a manifestação da defesa. Após, voltem conclusos para deliberação”.
Evento 41 = 17/04/2018 10:56:50 | O advogado de Lula, Cristiano Zanin peticiona rapidamente em concordância com a visita de Esquivel e afirma que Lula não só autoriza, como deseja a visita do amigo.
Evento 42 = 17/04/2018 11:20:27 | Os autos foram conclusos para decisão da juíza.
Evento 47 = 17/04/2018 15:48:12 | Parecer do MPF, após a manifestação da defesa de Lula, mantendo-se pelo indeferimento da Comunicação de Inspeção e “pelo deferimento do pedido observando-se a regra geral de visitas da carceragem da Polícia Federal”.
Evento 48 = 18/04/2018 14:32:23 | A juíza despacha apreciando somente a questão da Comunicação de Inspeção (eventos 28 e 34) afirmando que “não possuem cabimento pretensões de realização de inspeções sem prévia deliberação deste Juízo” (leia-se aqui quem manda sou eu!), reiterando a importância das Regras de Mandela, mas concluindo que não são absolutas e devem ser aplicadas de acordo com cada país e cada caso concreto e indeferindo o que chamou de “os pleitos” dos eventos 28 e 34.
Evento 57 = 18/04/2018 16:49:21 | Esquivel opõe embargos de declaração da decisão do evento 48, não para questionar o indeferimento da Comunicação de Inspeção!, mas para sanar a omissão em relação ao pedido de visitas em caráter de amigo pessoal, que fora protocolado antes e com pedido de urgência.
Evento 61 = 19/04/2018 12:27:55 | A juíza nega provimento aos embargos opostos por Esquivel nos seguinte e breves termos: 1. Ausente a omissão apontada no evento 57. Considerando o teor dos requerimentos de eventos 28 e 34 afigurou-se pertinente a pronta apreciação. No mais, conforme constante do item 5 da decisão de evento 51, determinou-se o retorno dos autos, justamente para análise das questões pendentes.
A urgência alegada, por sua vez, não resta caracterizada. Isso porque a prévia indicação de data pelo requerente, com curto lapso de antecedência, baseia-se apenas em critério de comodidade. Não há risco efetivo de perecimento de direito.
Desse modo, nego provimento aos embargos de declaração.
2. Intime-se.
3. Após, retornem conclusos.
19/04/2018, a tarde | Em contato telefônico realizado pela Revista Carta Capital, a secretaria da 12ª Vara Federal informou que o pedido de visitas já tinha sido negado. Ao tomar conhecimento disso, as advogadas entraram em contato com a secretaria da Vara, que reafirmou a informação equivocada. A advogada Tânia Mandarino apontou, então para os termos da decisão, insistindo que o pedido de visita ainda não fora apreciado e que não se deveria passar informação errada para a imprensa. A secretaria da Vara se comprometeu em fazer contato com a juíza, que estava em audiências, e retornou à advogada reconhecendo o erro e confirmando que o pedido de visitas ainda pendia de apreciação, mas que, como a juíza passaria aquela tarde em audiências, até a noite, talvez não despachasse naquele dia ainda.
A advogada informou que havia pedido alternativo, na petição de evento 22, de que, se a visita não pudesse ser na manhã do dia 19, poderia ser na manhã do dia 20, confirmando que Esquivel só retornaria a Argentina às 13 horas, então, se a juíza pudesse apreciar ainda daria tempo.
63 = 19/04/2018 13:05:00 | Os autos foram conclusos com a juíza para decisão e até o momento não retornaram.
20 de abril de 2018 | Às 13 horas, Esquivel embarca para Buenos Aires sem visitar o ex-presidente Lula. Boff, que queria passar uma mensagem espiritual, também não conseguiu visitar o amigo de 30 anos.
Manoel Ramires
Jornalista, atua como editor no Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba e é colunista do Brasil de Fato, Terra Sem Males e Jornalistas Livres. Já publicou Vozes da Consciência (Entrevistas) e Crônicas dos Excluídos. Atua em jornalismo político.