sexta-feira, 6 de julho de 2018

LULA CHAMARÁ CONSTITUINTE SE FOR ELEITO EM 2018

PAÍS FRACO Para Lula, ingerência de empresas norte-americanas no Brasil cresce com Trump


PAÍS FRACO

Para Lula, ingerência de empresas norte-americanas no Brasil cresce com Trump

Ex-presidente recebeu, no cárcere em Curitiba, o líder do MST João Pedro Stédile e o ex-presidente do PT Rui Falcão. Mostrou-se preocupado com a política externa brasileira e reafirmou sua candidatura
por Redação RBA publicado 05/07/2018 19h50, última modificação 05/07/2018 19h53
EDUARDO MATYSIAK
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Stédile e Falcão após visita a Lula na PF, em Curitiba: segundo eles, ex-presidente continua 'animado' para disputar eleições
São Paulo – Ao receber na tarde desta quinta-feira (5) a visita do ex-presidente do PT Rui Falcão e do líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) João Pedro Stédile, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou apreensão com a política externa brasileira. Lula está preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná desde 7 de abril, por condenação do âmbito da Operação Lava Jato no caso do triplex de Guarujá. “Apesar da terrível injustiça praticada contra o presidente, Lula está muito preocupado com o país”, disse Falcão.
Entre os comentários de Lula, segundo Falcão e Stédile, está a questão da condução da política externa brasileira. Em recente visita do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o ex-presidente já havia demonstrado atenção ao tema. “Ele acredita que há uma ingerência cada vez maior dos interesses das empresas norte-americanas na manipulação do governo golpista e também dos empresários brasileiros”, disse o líder do MST. “Para Lula, a política do Trump (presidente Donald Trump, dos Estados Unidos) tem sido mais agressiva na América Latina”, acrescentou.
Lula também voltou a criticar a postura do Judiciário em relação a sua condenação, que classifica como sem provas e uma prisão política. Stédile abriu aspas para uma fala direta do ex-presidente sobre o tema: “Comportando-se desse jeito, esse poder Judiciário não merece mais o respeito de ninguém. Ele tem que recuperar sua postura de um poder que respeitava a Constituição, que garantia o direito das pessoas”. Para o líder do MST, o ex-presidente “desafiou os juízes para que garantam seu direito de defesa. Também desafiou Sérgio Moro (juiz de primeira instância de Curitiba responsável pela Lava Jato no Paraná) a apresentar uma prova sequer sobre o apartamento”.
Ambos reafirmaram a boa disposição de Lula para ser candidato à Presidência. “Em vez de nós confortarmos ele, ele quem nos conforta. Está muito animado e disposto (…) Em primeiro lugar, ele disse que é candidato. Não apenas pela disposição, mas porque o povo quer isso. Também, centenas de juristas estão garantindo que ele pode ser”, disse Falcão, que relatou ter entregue ao ex-presidente um livro do político norte-americano Henry Kissinger. Já Stédile entregou uma biografia de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal atuante contra a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).

Manifestações pelo país

Lula tomou conhecimento de uma agenda de mobilizações – entre as ações, um abaixo-assinado para ser concretizado até 15 de agosto, dia da inscrição dos pré-candidatos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), endereçado à presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia. “Para que ela crie vergonha, respeite a Constituição e coloque em votação a ação direta de constitucionalidade que deve julgar o mérito de se uma pessoa deve ficar presa mesmo não tendo sido julgada em todas as instâncias, como é o caso do Lula”, afirmou o líder sem-terra.
“Faremos mobilizações em Brasília e em todo o Brasil perto do dia 25 de julho. Estaremos nos fóruns para protestar contra as manipulações do Judiciário. Então, conclamo a militância, também nos municípios, PT, Via Campesina, MST, movimentos populares, para que coletem assinaturas e compareçam aos fóruns. No dia 28 de julho, está em curso a preparação de um grande festival por Lula livre no Rio de Janeiro”, acrescentou Stédile.
Outro ponto de destaque nas mobilizações é uma greve de fome programada para 31 de julho. “Vamos começar essa greve em Brasília em protesto contra os abusos do Judiciário, em especial da Cármen Lúcia, do Edson Fachin (ministro do STF relator da Lava Jato) e também dos juízes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) que até agora não respeitaram o rito do Judiciário.” O tribunal foi responsável pela condenação de Lula na segunda instância.
“No dia 26 de julho, sairá uma caravana de Pernambuco, do povo do semiárido em defesa do Lula. Virão até Curitiba, devem chegar por volta do dia 1º a 7 de agosto. No dia 7 de agosto faremos um grande ato inter-religioso com todas as pessoas que se manifestam por sua fé em Brasília, na frente do STF, com a presença do Adolfo Pérez Esquivel (argentino, ganhador do Prêmio Nobel da Paz). Vamos fazer uma marcha a Brasília do dia 10 ao dia 15 até o TSE. Participaremos de um ato nacional para registrar a candidatura do Lula com milhares de pessoas”, completou Stédile.

MEMÓRIAS DO CHUMBO' Documentário mostra como futebol foi usado pela ditadura para propaganda política

'MEMÓRIAS DO CHUMBO'

Documentário mostra como futebol foi usado pela ditadura para propaganda política

Jornalistas contam que, historicamente, os grandes eventos esportivos sempre estiveram atrelados às estruturas de poder constituído, seja a Copa ou mesmo os Jogos Olímpicos
por Redação RBA publicado 06/07/2018 10h49, última modificação 06/07/2018 11h54
ACERVO/FOLHA DE S.PAULO
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Em Brasília, Pelé levanta a taça da Copa de 1970 ao lado de Médici
São Paulo – O futebol e sua relação com as ditaduras na América do Sul foi tema de debate realizado no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (4), com a exibição do documentário Memórias do chumbo – o futebol nos tempos do Condor, do jornalista Lúcio de Castro. O filme lançado em 2010 ganhou o prêmio Gabriel García Márquez de jornalismo e foi selecionado por festivais internacionais, trazendo imagens de Pelé e outros encantando o mundo com seu talento. No entanto, a atuação do escrete canarinho também serviu como cortina de fumaça para esconder os crimes de Estado cometidos à época.
A utilização do desempenho da seleção brasileira na Copa de 1970 como propaganda política, no período mais duro da ditadura, não foi uma estratégia exclusiva do Brasil e governos militares de outros países sul-americanos fizeram o mesmo com suas equipes na época, como a Argentina, Uruguai e Chile. 
"Andam dizendo por aí que o futebol e política não se misturam, mas a história mostra que não. Existe uma mistura até hoje. Os regimes democráticos também se valem muitas vezes do esporte, do futebol, para a propaganda, mas é claro que na ditadura isso se acentua profundamente", afirma Lúcio de Castro, em entrevista à repórter Viviane Nascimento, da TVT.
Historicamente, os grandes eventos esportivos sempre estiveram atrelados às estruturas de poder constituído. "Para você ter uma ideia, o passeio da tocha olímpica, que mobilizou o Brasil, em 2015, foi criada pelos nazistas para Olimpíadas de 1936, em Berlim. Hitler não realizou os Jogos à revelia do Comitê Olímpico Internacional, eles fizeram juntos. A estrutura de poder do esporte naquele momento se aliou ao regime nazista da Alemanha para fazer o seu evento", relata o jornalista Aydano André Motta.
Para o jornalista Agostinho Vieira, se o discurso de vitória e superação fosse transposto para o contexto político, seria possível ampliar a conscientização social e ainda ganhar a Copa do Mundo. 
"Acho que a gente tem que equilibrar as duas coisas. O futebol faz parte da vida do brasileiro e a gente não pode abrir mão disso, mas não se pode esquecer do resto. A gente tem que entender que é possível ter um país mais justo, menos desigual e, ao mesmo tempo, torcer pelo futebol. Essas coisas não são incompatíveis", explica.
Lúcio lembra que torcer sem dor na consciência também é um direito do cidadão. "Os caras tiraram muita coisa da gente, não vão poder tirar meu prazer pelo futebol", brinca.
Assista à reportagem do 

Seleção da CBF tem duas torcidas: uma contra, outra a favor

PÁTRIA EM CHUTEIRAS

Seleção da CBF tem duas torcidas: uma contra, outra a favor

Para muitos torcedores, se tornou inevitável a associação entre a camisa amarela e os "coxinhas" e a Copa tira país do foco. Para cientista político Vitor Marchetti, gostar de futebol e torcer pela seleção não é incompatível com debate político
por Eduardo Maretti publicado 06/07/2018 10h32
ISMAEL ARROYO/BRAZIL PHOTO PRESS/FOLHAPRESS
Neymar
Craque de futebol e personalidade polêmica, Neymar angaria antipatias crescentes e decide partidas
São Paulo – Embora ainda não haja dados sobre o tema, provavelmente nunca aconteceu de tantos amantes do futebol, no Brasil, torcerem contra a seleção de seu país numa Copa do Mundo como em 2018. Após o golpe que derrubou Dilma Rousseff, as políticas antissociais do governo Michel Temer, a venda do pré-sal e do petróleo brasileiros às multinacionais, entre outras mazelas, para muita gente se tornou inevitável a associação entre a camisa amarela e os “coxinhas”.
Esse é o caso da jornalista e palmeirense Erika Mazon. "Eu não torço para o Brasil na Copa porque acredito que o evento tira os brasileiros do foco naquilo que é realmente importante: a grave crise política, econômica, moral e ética que atravessamos. Como nos versos de Chico Buarque: 'Dormia/ A nossa pátria mãe/ Tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações'”, diz.
Para Erika, “enquanto os brasileiros estão gritando e soprando vuvuzelas, foram anunciados novos aumentos nos preços da gasolina e do gás de cozinha e o Congresso Nacional aprova o projeto que libera agrotóxicos nos alimentos. Não temos o que comemorar, mas sim muito pelo que lutar”.
O cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), discorda da torcida contra. “Gostar de futebol e torcer pela seleção não é incompatível com acompanhar o debate político”, avalia. “Não creio que uma vitória da seleção brasileira na Copa vá favorecer Temer. Em 2002, o Brasil foi campeão do mundo e o Fernando Henrique perdeu as eleições.”
Corintiano e habituado a ver seu time no estádio, Marchetti acredita que o campo da esquerda ficou muito marcado pelo uso que a ditadura (1964-1985) fez do futebol. “Nós transportamos isso, que vem dos anos 70, de maneira meio automática, aos dias de hoje. Uma coisa é criticar a CBF, a política da gestão do futebol no Brasil. Outra é acompanhar os jogos como torcedor, como quem gosta de futebol. Torcer pela seleção não tem a ver com uma apatia em relação à política. Se as pessoas estão adormecidas em relação ao debate público, estariam da mesma maneira se não estivéssemos numa Copa do Mundo. O governo estaria votando sua agenda a toque de caixa e a população com pouca possibilidade de intervenção.”
Embora torça pela seleção brasileira, o professor da UFABC faz uma ressalva: “também estou com dificuldade de vestir a camisa verde e amarela. O símbolo da CBF não vai no meu peito”.
Sobre as críticas dirigidas ao principal jogador do Brasil, Neymar, Marchetti acredita que, em um aspecto, o craque brasileiro não pode ser comparado, por exemplo, ao astro Edinson Cavani, do Uruguai comandado por El Maestro Óscar Tabárez. “Os uruguaios têm muita consciência das questões sociais e políticas. Mas, apesar de concordar com as críticas que se fazem sobre Neymar, símbolo máximo de um consumismo vazio, o fato é que ele é diferenciado para jogar bola. Não é qualquer hora que aparece um igual.”
Na opinião de Erika, “os heróis de chuteira não ganhavam 36 milhões de euros por ano na época da ditadura”. “É indecente um brasileiro receber essa bolada e conseguir dormir bem, vindo de um país que acaba de voltar para o mapa da fome."
Apesar do inegável talento, Neymar angaria antipatias crescentes. Na segunda-feira (2), o jornal norte-americano USA Today fez duras críticas ao jogador, por suas simulações e tentativas de cavar faltas e pênaltis. "Neymar é um dos melhores jogadores do mundo, um herói nacional, um ícone cultural, um potencial campeão da Copa do Mundo e um absoluto constrangimento", escreveu o jornalista Martin Rogers. "Ele é um farsante, um mergulhador, um simulador, um ator de teatro ou qualquer outra palavra que o futebol usa para encobrir o fato de que alguém está tentando descaradamente trapacear ao convencer o árbitro a punir um oponente."
Boa parte da torcida contra o time brasileiro é consequência da Copa de 2014, quando havia o mote “não vai ter Copa” e a presidenta Dilma Rousseff foi hostilizada e ofendida com palavrões na abertura da competição, em 12 de junho daquele ano, em São Paulo.
“Apesar do mote ‘não vai ter Copa’, teve Copa. E tanto a esquerda como a direita fizeram críticas contundentes à Copa do Mundo no Brasil, seja por conta das desapropriações e intervenções urbanas (como no caso da Aldeia Maracanã), pela esquerda, seja porque a direita não queria reforçar o sucesso do governo Dilma”, lembra Marchetti.
Em sua opinião, há ainda outro fator a se considerar, além da herança do regime militar na relação torcida-seleção. “Pesquisa do Datafolha sobre preferências dos brasileiros mostrou que a maior torcida no Brasil é a que declara que não torce por time nenhum.”
Segundo levantamento do instituto, divulgado em abril de 2018, Flamengo (18%) e Corinthians (14%) são torcidas mais numerosas do país. Entretanto, os que declaram não torcer para nenhum clube de futebol somam mais de um quinto dos brasileiros: 22%. “Existe uma massa muito grande que não se envolve com futebol. Acredito que essa massa é a que fica mais crítica numa Copa do Mundo.”