segunda-feira, 21 de maio de 2018

Fórum Nacional 'Um Projeto para as Cidades do Brasil'

Cidades

Fórum Nacional 'Um Projeto para as Cidades do Brasil'

O Movimento BRCidades realiza, no período de 22 a 24 de maio em São Paulo, o Fórum Nacional 'Um Projeto para as Cidades do Brasil'. O evento contará com nomes como Luciana Tatagiba, José Júlio Lima, João Sette Whitaker, João Pedro Stedile, Marcio Pochmann, entre outros




20/05/2018 09:53
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O Movimento BRCidades realiza, no período de 22 a 24 de maio em São Paulo, o Fórum Nacional “Um Projeto para as Cidades do Brasil”. O evento é uma segunda etapa do Projeto BrCidades e tem como propósito uma dupla tarefa: avançar no diagnóstico sobre as contradições urbanas recentes, mas também apontar possibilidades, abrir pautas para um novo ciclo de democratização das cidades e retomar o protagonismo dessas na cena política brasileira.
O evento contará com nomes como de Ermínia Maricato, Luciana Tatagiba, José Júlio Lima, Karina Leitão, Benedito Barbosa, Mariana Fix, João Sette Whitaker, João Pedro Stedile, Marcio Pochmann, entre outros.


Carta do México: Obrador contra o poder financeiro e a intolerância

Cartas do Mundo

Carta do México: Obrador contra o poder financeiro e a intolerância

 

 
21/05/2018 14:33
 
 
O candidato presidencial nacionalista e de centro-esquerda Andrés Manuel López Obrador (conhecido em seu país pela sigla do seu nome completo: AMLO), é o inimigo a se vencer nas eleições presidenciais mexicanas de 1º de julho. Não só os concorrentes apontaram sobre ele toda a sua artilharia, também o aparato institucional midiático nacional e internacional.

Em poucas campanhas se falou tanto de história como na atual. López Obrador promete uma transformação histórica caso obtenha o triunfo, e disse não duvidar em se apresentar como herdeiro de grandes próceres mexicanos, como Benito Juárez, Francisco Madero e Lázaro Cárdenas. Por sua parte, os dois grandes partidos da direita, o Partido Revolucionário Institucional (PRI, de direita liberal) e o Partido da Ação Nacional (PAN, extrema direita conservadora), parecem condenados, pela primeira vez, a um papel secundário nos destinos do país.

Há um fator que explica a força atual do nacionalismo mexicano, e ele se chama “Estados Unidos”. A primeira guerra internacional imperialista dos estadunidenses foi contra o México, para roubar mais da metade do seu território – 15 anos depois se produziu outra intervenção, por parte da França. O nacionalismo mexicano começou a ser forjado no Século XIX, e logo foi assumido como um dos valores essenciais da Revolução Mexicana.

Talvez, em nosso colonialismo cultural, esquecemos que as sociedades latino-americanas, no momento em que conseguiram suas independências, eram realmente as primeiras sociedades multiétnicas do mundo contemporâneo, assumindo a necessidade de integrar os deserdados, as etnias e os diferentes povos. Por isso AMLO usa um discurso voltado a um público de cidadãos, não de súditos.

Sua tenaz intolerância à crítica – uma das características de sua idiossincrasia segundo seus detratores – é reproduzida com ênfase, para tentar colar nele uma imagem de violento e vulgar. Através das redes sociais, e especialmente usando notícias falsas, são difundidas as típicas campanhas trumpianas desta era da pós-verdade, tentando sabotar a candidatura que, apesar de tudo se mantém como favorita segundo as pesquisas.

Por exemplo, AMLO chamou a jornalista Carmen Aristegui de “espiã profissional”, o colunista de extrema direita José Cárdenas de “caluniador a serviço da máfia do poder”, e o acadêmico Jesús Silva-Herzog Márquez de “articulista conservador com aparência de liberal”. Ademais, se referiu ao diário Reforma como “jornalismo fifí” (fofoqueiro).

Candidato da coalizão Juntos Faremos História e do partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional), Obrador tem uma verdadeira possibilidade de ganhar a eleição, dentre de pouco mais de cinco semanas. Seu maior temor, como já aconteceu em outros pleitos no qual ele concorreu, é que seja impedido novamente por uma fraude eleitoral descomunal – sem contar alguns fatores profundamente marcados da sociedade e da institucionalidade mexicanas, como a corrução e a violência.

Mas AMLO também está sendo avaliado pelo establishment capitalista. Shelly Shetty, a principal analista de risco soberano para a América Latina da qualificadora Fitch Ratings, é consciente de que seu triunfo representaria um risco para a continuidade da atual política macroeconômica neoliberal e entreguista do México.

Nos últimos meses, o candidato tem conseguido aumentar seu favoritismo entre uma parte significativa da população, por saber aproveitar a insatisfação social que prevalece no país, graças ao seu discurso, que às vezes parece radical, embora a experiência dos centros financeiros é de que candidatos que abraçaram posições protecionistas e nacionalistas acabam se tornando mais pragmáticos uma vez que chegam à presidência.

Para o capital financeiro, não se pode descartar os riscos relativos a uma marcha mais lenta das reformas iniciadas pelo atual presidente, Enrique Peña Nieto, em especial no setor de energia. Ou a reorientação das políticas econômicas para uma maior intervenção do Estado, assim como um aumento do gasto fiscal para favorecer o 90% da população que vive abaixo da linha da pobreza.

O que preocupa os mercados é que uma vitória de Obrador poderia significar com respeito à autonomia do Banco do México, ao orçamento de 2019, às metas fiscais a serem estabelecidas a médio prazo, à nomeação do futuro diretor da estatal PEMEX (Petróleos Mexicanos), à anunciada revisão dos contratos do atual governo com relação à reforma energética e às futuras rodadas de licitação de campos petroleiros.

Ao visitar todos os municípios do país em sua campanha, Obrador conseguiu roubar do PRI, o partido governista, grande parte do que os analistas chamam de “voto duro” – e que muitas vezes é comprado, lembrado que em muitos casos se trata das zonas de menor renda do país –, criando uma base sólida de votantes, com a promessa, justamente, de tirá-los da pobreza, uma oferta política e moralmente necessária.

O candidato governista José Antonio Meade carrega em sua campanha a rejeição ao presidente Peña Nieto – que o nomeou como seu sucessor, mas tampouco tem feito grandes gestos de apoio. Enquanto Ricardo Anaya, a aposta da ultradireita (do partido PAN), se mantém em segundo, mas vê sua diferença com Obrador crescer a cada pesquisa.

Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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Chegou o novo Marx Selvagem, (quase) cinco anos depois


Chegou o novo Marx Selvagem, (quase) cinco anos depois

'Marx Selvagem', de Jean Tible, ganha nova edição pela Autonomia Literária. O Brasil em que o Marx Selvagem retorna, no entanto, é outro, mais sombrio e perigoso, mas talvez por isso a obra faça cada vez mais sentido

 
21/05/2018 14:43
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Como bem lembrado por Jean Tible, na sua nota à nova edição do Marx Selvagem, a obra retorna neste ano em que comemoramos os 200 anos de nascimento de Karl Marx, mas também o centenário da revolução alemã e os 50 anos da revolução mundial de 1968 — não haveria ano melhor, ou mais cabalístico, para apresentarmos uma nova edição do livro, para o fazer retornar em uma concepção virtuosa do que dizia Nietzsche, uma eterna (re)volta.

Produto da tese de doutorado de Tible concluído em 2012, Marx Selvagem, é uma obra luminosa e vibrante, lançada como livro pouco depois de junho de 2013, sendo um rebento de um evento que, em grande medida, ele anteviu. Filho de uma época na qual a Nova República já dava sinais de esgotamento, o Marx Selvagem não só predisse essa tendência como, também, anteviu as novas tendências, sons, cores e composições que poderiam escapar ao encerramento desse ciclo e desenhar um novo, propondo conceitos, decifrando enigmas.

O experimento de Jean Tible já ali acusava os desafios e risco desse processo sem, no entanto, se submeter à negatividade obsessiva nem a um otimismo naîf. Em vez de negar as mudanças, mesmo aquelas mais assustadoras, construir um novo mundo e estar aberto para encontrar novos mundos e novas possibilidades, fiel ao espírito do bicentenário de Marx.



Clique aqui: nova edição de Marx Selvagem acaba de chegar no ano do bicentenário de Marx e no cinquentenário de 1968.

Se o Marx Selvagem expressou esse momento, igualmente realizando sua potência e virtude daqueles tempos, por outro lado, ele se materializa também como “aposta política” — como bem aponta Peter Pal Pelbart — e já ali acenava para certas tensões cuja resolução eram inadiáveis e incontornáveis: os problemas do modelo econômico “desenvolvimentista” em variadas dimensões, não só da qualidade da nossa modernização, mas suspendendo a ideia da modernidade como qualidade em si mesma.

Estendendo um fio vermelho entre dois mundos, o dos antropólogos, etnólogos e indigenistas que experimentam, prática e teoricamente, a possibilidade de alternativas ao nosso modo de vida, e o outro, dos revolucionários, militantes e pensadores radicais que dão seus corpos em testemunho para mudar a sorte triste deste nosso mundo.

Na sua obra, Tible em vez de uma exclusão, ou buscar novos mundos ou mudar o nosso mundo ao estilo do velho “ou isso ou aquilo”, vemos um traçado outro, esquizo ao estilo de Deleuze e Guattari, pelo qual a disjunção é inclusiva: buscar criar ou encontrar novos mundos e/ou mudar este nosso mundo — sem exclusões.

Se a noção de feitiço/fetiche serve tanto a crítica radical de Marx quanto para a reflexão imanentista de Kopenawa e de seu povo sobre a infernal máquina capitalista, não é impossível haver uma alternativa comum entre essas perspectivas para não apenas se derrotar isso como, ainda, se constituir algo novo.

Igualmente, quando coteja os problemas, impasses e divergências entre os variados ramos do movimento socialista — de onde irão vir cismas que darão origem a clivagens como “social-democratas”, “comunistas” e “anarquistas” –, Tible acena para um comum que não é a unificação, mas a possibilidade de haver um locus, à la Negri, no qual as diferenças possam coexistir enquanto diferenças, gerando o novo, inclusive e sobretudo no plano das lutas.

Tible não se contentou em conduzir um experimento teórico de lutas que quisesse transformar — radicalmente — o nosso mundo ou constituir novos mundos, ele resolveu apostar nos dois, que é preciso fazer as duas coisas, sem exclusão entre elas, posto que isso não é nem necessário nem é possível.

Ainda, Tible não precisou vergar Marx a uma espécie de personagem conceitual, mas seguiu caminho oposto, fazendo uma rigorosa leitura do pensador para apontar que o Marx sisudo, da modernidade e do Estado, nunca, em verdade existiu: e se houve algum engano, certamente foi dos ortodoxos que, como tais, sempre tentarão ser mais realistas do que a que realidade — porque, no fundo, para eles a realidade precisa ser sempre menos do que ela realmente é.

No Brasil de 2012-2013, a ideia de um Marx selvagem apontava para um curiosa junção de ideias, uma doce quimera que se faria possível no horizonte de um certo (sur)realismo mágico latino-americano, porém no Brasil de 2018, o contraste que ele gera é outro e ainda mais radical: é o efeito cromático de um vermelho rompendo com as molduras do detestável quadro cinza do pós-golpe, na qual o globo terrestre se vê cheio de Trumps e Temers — para não dizer dos Dutertes ou de eventuais Bolsonaros.

O fato é que hoje, mais do que há cinco anos, o Marx Selvagem se faz mais urgente, e merece ser mais lido (ou relido) hoje: porque seu texto, já ali, sem abrir mão de um incorrigível otimismo e uma inegável luminosidade, não deixava de encarar itens centrais para a luta, desde a questão da organização e dos seus desafios práticos dos mais complexos, e dos mais duros.

É por essas razões que a Autonomia Literária traz às livrarias esta nova edição repaginada e revista da obra de Tible, um jovem intelectual, militante, professor, autor-ator como nas sábias palavras de Zé Celso em seu magnífico (novo) prefácio à esta edição.

A Igreja e o anúncio messiânico do papa Francisco


A Igreja e o anúncio messiânico do papa Francisco

Condição para a continuidade não só da Igreja, mas da própria religião

 
21/05/2018 15:07
IHU
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Em agosto de 2017, durante uma conferência em Assis, o jornalista e político italiano Raniero La Valle definiu o pontificado de Francisco como uma verdadeira “virada profética”. Hoje, ele reconhece que essa é uma interpretação possível, mas sugere ir além. “Se fosse apenas profética, não haveria nada de realmente extraordinário”, reavalia, lembrando que a Igreja é cheia de profetas. “Acredito que seja possível dar outra interpretação, não apenas de um papado profético, mas de um pontificado messiânico”, completa. Tendo em Jesus a figura do messias, La Valle destaca que o próprio cristianismo é messiânico. “Quando se fala de um pontificado messiânico, fala-se da verdadeira missão (embora raramente cumprida) de um papa cristão”, explica. “Isso comporta necessariamente uma descontinuidade, uma ‘virada’, porém não de coisas secundárias, mas da própria direção da história, descontinuidades da qual já podem ser percebidos os sinais (os ‘sinais do tempo’).”

Na entrevista a seguir, concedia por e-mail à IHU On-Line, o italiano ainda reflete sobre os desafios de “ser Igreja” na atualidade. “Ser Igreja no século XXI significa dizer, não só aos movimentos populares, mas para o mundo todo, que a história não termina aqui, não termina nesse sistema que descarta e nessa economia que mata, não termina com o dinheiro no poder e os pobres nos guetos, não termina com o mundialismo das guerras e globalização da indiferença”, destaca. Além disso, pontua que Francisco tem, ainda, o entendimento de que a Igreja Católica não é a única voz da razão no nosso tempo. “O Papa disse que o papel da Igrejanão é o de reivindicar a sua primazia na Europa, mas de ‘lavar os pés’, lavar os pés de todo o mundo, ser seu ‘hospital de campanha’.”



Raniero La Valle é jornalista, intelectual e político italiano. Formou-se em Direito, mas imediatamente se dedicou ao Jornalismo. Atuou em jornais como Il Popolo, L'Avvenire d'Italia, entre outros. Continua sua atividade jornalística produzindo documentários e investigações para RAI [Radiotelevisione Italiana Spa]. Em 1976 tornou-se membro da Esquerda Independente. Também foi senador pelo Partido Comunista por três legislaturas. Atualmente é diretor da Vasti – Scuola di critica delle antropologie, é presidente do Comitato per la Democrazia Internazionale e, ainda, escreve para a revista Rocca. Em 2015, publicou um livro sobre o papa Francisco intitulado Chi sono io, Francesco? Cronache di cose mai viste (Milano: Ponte alle Grazie). Entre outras publicações mais recentes, destacamos Se questo è un Dio (Milano: Ponte alle Grazie, 2008), Paradiso e libertà. L'uomo, quel Dio peccatore (Milano: Ponte alle Grazie, 2010) e Quel nostro Novecento (Ponte alle Grazie, Milano 2011).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – No que consiste a chamada “virada profética” [1] de Francisco?

Raniero La Valle – Todo mundo está falando sobre a "virada profética" do pontificado de Francisco. É certamente uma interpretação correta, que não pode ser desmentida nem pela oposição que o pontificado está sofrendo, porque, aliás, é próprio da profecia ser combatida. Porém, se fosse apenas profética, não haveria nada de realmente extraordinário, porque a história da Igreja, tanto pelo aspecto da sucessão apostólica como das tradições dos discípulos, está cheia de profetas, incluído os papas: basta pensar em Leão Magno [2], que com seu Tomo a Flaviano[3] doa para a Igreja a fé em Calcedônia, ou em Gregório Magno [4] que, através da figura de São Bento [5] é o verdadeiro pai da Europa.

Contudo, em minha opinião, acredito que seja possível dar outra interpretação, não apenas de um papado profético, mas de um pontificado messiânico. O próprio cristianismo, aliás, é messiânico, e Cristo significa justamente Messias. Portanto, quando se fala de um pontificado messiânico, fala-se da verdadeira missão (embora raramente cumprida) de um papa cristão. Como existem várias figuras de messianismo, entretanto, devemos dizer que não se trata nem de um messianismo apocalíptico (o bem virá, mas só depois de uma catástrofe) nem de messianismo que posterga o bem prometido a um futuro que virá, de forma que, como disse Gershom Scholem [6] sobre os judeus, transformaria a vida do crente em uma vida vivida em diferimento. Francisco, ao contrário, anuncia o “hoje” de Deus, a irrupção do tempo de Deus no tempo histórico, no tempo de agora, na nossa história. Isso comporta necessariamente uma descontinuidade, uma “virada”, porém não de coisas secundárias, mas da própria direção da história, descontinuidades da qual já podem ser percebidos os sinais (os “sinais do tempo”).

Época do descarte

A primeira descontinuidade é que está se encerrando a época do descarte. Está se encerrando todo um ciclo da história que foi fundado e se desenvolveu na esteira do pensamento da desigualdade entre os homens, um ciclo que vai desde Aristóteles [7] até os racismos e os genocídios do século XX. O papa Francisco anuncia que hoje, e não amanhã, ninguém deve ser descartado, ninguém deve ser excluído, não existem tantas humanidades quantos são os Estados, as línguas ou as religiões, existe uma única e só humanidade, e é o próprio Deus quem atesta isso, porque ele se fez humanidade no Filho, cobriu-se de humanidade como de uma túnica que, de modo algum, pode ser rasgada e dividida.

É nessa guinada, nessa descontinuidade messiânica que reside o paradoxo de uma teologia missionária, que rejeita o proselitismo, de um papa que “está em Roma, mas sabe que os índios são seus membros”, como já recordava o Concílio, citando São João Crisóstomo [8] e, portanto, considera um absurdo integrá-los, porque eles já estão, de fato, na unidade de Deus. É o ecumenismo de Deus, além do ecumenismo das Igrejas.

IHU On-Line – De que Deus fala o Papa? Em que medida esse Deus dialoga com o Deus que a humanidade moderna demanda?

Raniero La Valle – Esta pergunta leva-nos à segunda descontinuidade messiânica. Trata-se da saída da ideologia do contrapasso. O contrapasso é a justiça de igual medida, como a chamava Isaac de Nínive [9]: você fez algo a mim, eu farei algo a você. É a lei de talião, é a balança da justiça que em um dos pratos coloca o crime e, no outro, a vingança, que a civilidade jurídica acabou atribuindo ao Estado. Deus também está incluído nesse círculo do inferno. Se não condenar, não é justo. Se for ressarcido, se for agradado, se lhe for oferecida reparação, sacrifício, então pode perdoar. É a ideologia de Dante [10], não há necessidade de ler o catecismo, é suficiente a Divina Comédia. O imaginário é aquele mesmo, inferno, purgatório e paraíso, contrapasso e ranger de dentes.

novidade messiânica encontra-se em anunciar a misericórdia, como a totalidade de Deus. Não é a alquimia da retribuição, não há um do ut desdivino. A divina comédia acabou. Deus é o pai que não só espera por você, mas reduz o tempo da espera, elimina o diferimento, a procrastinação, chega primeiro, “primerea”, como diz o Papa com seu neologismo argentino. E assim devem fazer os homens, de acordo com o Evangelho: setenta vezes sete, ou seja, sempre. Adiar isso para amanhã é o apocalipse, fazê-lo hoje é messianismo.

IHU On-Line – O que significa ser Igreja no século XXI e qual é o seu papel na busca de soluções para os dilemas comuns no mundo, como as questões ambientais, financeiras, sociais e políticas?

Raniero La Valle – Ser Igreja no século XXI significa dizer, não só aos movimentos populares, mas para o mundo todo, que a história não termina aqui, não termina nesse sistema que descarta e nessa economia que mata, não termina com o dinheiro no poder e os pobres nos guetos, não termina com o mundialismo das guerras e globalização da indiferença. O novo pode acontecer e acontece.

E acontece porque é reativada a fé messiânica no fato que Jesus realmente retorna, e retorna hoje. O coração do messianismo cristãoreside na confiança de que o Senhor retorna. Os cristãos aguardam o retorno de Jesus. Mas ele não pode voltar se tudo já está escrito, se a revelação está encerrada, e tudo o que resta a fazer é levar a bom termo o que a Tradição já nos entregou.

Terceira descontinuidade

A terceira descontinuidade messiânica está em demitir o Grande Inquisidor [11] de Dostoiévski [12], que fala a Jesus, que retorna em Sevilha, para não perturbar o trabalho das Cúrias.

messianismo desse pontificado está em mostrar que Jesus continua a falar, não só explicando melhor e fazendo-nos entender melhor o que já foi dito, mas justamente dizendo coisas novas, inéditas, que eram desconhecidas até para ele. O Papa sabe que nem tudo foi escrito no Evangelho, porque, aliás, como afirma João no final, se fossem escritas todas as coisas feitas por Jesus, “o próprio mundo não bastaria para conter os livros que seria preciso escrever”; e há coisas que Pedro não entendeu nem mesmo quando Jesus estava diante dele e lavava os seus pés, e só iria entendê-las mais tarde: não amanhã, porque, inclusive, amanhã o estaria traindo, mas nos séculos futuros; por exemplo, Pedro só entendeu agora que a pena de morte não tem lugar no Catecismo, e pediu aos seus para excluí-la, porque “é necessário... que a Igreja possa expressar as novidades do Evangelho de Cristo, que, embora encerradas dentro da Palavra de Deus, ainda não vieram à luz; tal Palavra não pode ser guardada na naftalina... O Espírito Santo continua a falar à Igreja” (discurso de 11 de outubro de 2017).

Isso afirma o Papa: a revelação não é algo fechado, e a melhor notícia é aquela que hoje ainda não é notícia, não pode ser divulgada, não pode estar nos telejornais porque é uma notícia que ainda não existe. E então Jesus pode retornar. Mas não para ser dispensado novamente com um beijo, como aquele insulso do Grande Inquisidor, mas para ser acolhido e poder falar e ser ouvido através das vozes da imensa multidão de homens, de mulheres, de pobres que ele ama e que são, depois dele, os segundos filhos de Deus na terra, aqueles que assumem para si a mensagem de Jesus e que, como diz São Gregório Magno, escrevem com sua própria carne o Segundo Livro inspirado ao lado do Primeiro Livroescrito no pergaminho, que são as Sagradas Escrituras.

IHU On-Line – Francisco pode ser considerado hoje um líder geopolítico mundial? E quais são os seus limites?

Raniero La Valle – Se Francisco é o único líder mundial, é porque nenhum outro mais pensa no bem comum e no destino histórico do mundo. Parecia que tínhamos começado a fazer isso em 1945, após a tragédia da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, quando foram fundadas as Nações Unidas, dando-lhes uma constituição democrática, e foi pensada a construção de uma comunidade internacional de direito, para repudiar a guerra e colocar no centro de todos os direitos, e de todos os Estados a dignidade e a igualdade de todas as pessoas. Mas depois foi acontecendo uma grande restauração, um retorno à idade da barbárie; a fome de milhões de pessoas é decidida com um clique e é possível matar à distância com os drones.

A maior operação de liderança exercida pelo Papa foi aquela de impedir que a guerra assumisse a aparência de uma guerra de civilizações, de guerras de religião, impedindo que o cristianismo fosse uma das partes em conflito, e anunciando enfaticamente que “o Deus da guerra não existe”. Aliás, não só manteve o cristianismo fora do conflito, mas proclamou que não existe um cristianismo entendido como uma unidade religiosa, política, institucional; o papel da Igreja do século XXI é justamente aquele de sair do regime de cristianismo, aquele iniciado com Constantino [13], Teodósio [14] e que terminou em Carlos Magno, mas também naqueles reis cristãos que escravizaram e devastaram a América Latina recém “descoberta”. Ao receber o chamado “Prêmio Carlos Magno”, o papa Francisco disse que o papel da Igreja não é de reivindicar a sua primazia na Europa, mas de “lavar os pés”, lavar os pés de todo o mundo, ser seu “hospital de campanha”, um pronto socorro e uma primeira ajuda para a sua recuperação.

E qual é o limite do papa Francisco? Aquele de que falava Stalin [15], quando perguntava: “Quantas divisões tem o Papa?”. Mas, seria isso um limite?

IHU On-Line – Que mensagem é possível apreender do magistério de Francisco num tempo de crescimento do conservadorismo, intolerância, nacionalismos e inabilidades para ouvir o outro?

Raniero La Valle – Que não somos galhos fustigados pela tempestade, o mundo é e será como esperamos que ele seja. Desde que o que nós esperemos seja apenas aquilo que contribuirmos para fazer acontecer através de nossa ação.

IHU On-Line – Como avalia as críticas e resistências ao pontificado? Que riscos trazem à virada profética de Francisco?

Raniero La Valle – Foi realizada em Roma, em 7 de abril, uma reunião antipapista que mostrou toda a pobreza da atual oposição ao Papa. Havia uma centena de pessoas em uma sala de um subúrbio romano, dois cardeais, dois bispos, um diácono e um ex-presidente do Senado italiano. A reunião produziu uma “declaratio” que, no entanto, contemplava apenas a bem conhecida controvérsia sobre a eucaristia para divorciadosnovamente casados para os quais a Amoris Laetitia [16] pós-sinodal abriu o caminho através do discernimento e do cuidado pastoral. No entanto, a substância teológica da iniciativa era muito grave, porque o cardeal Burke[17], que atuava como líder dos descontentes, chegou até a proposta de destituição do Papa através do recurso ao “direito natural”, aos Evangelhos e à tradição. Mas, embora essa iniciativa seja fraca, pode se tornar perigosa se a Igreja fiel não fizer a sua parte. Toda a Igreja, o clero e as pessoas, deveriam defender e acompanhar de perto o pastor, porque desta vez é ele quem teve o faro da estrada, que caminha na frente das ovelhas, e, ao contrário, grande parte dessa Igreja, bispos, clero e povo, nem ao menos faz a única coisa que ele sempre pede, que é de orar por ele.

De qualquer forma, e encontro sedicioso de Roma, pelo menos, teve o mérito de mostrar porque os conservadores estão incomodados com o papa Francisco e qual a Igreja que eles gostariam e da qual sentem saudade. Eles gostariam de uma Igreja onde não fosse lícita a liberdade do cristão, onde fosse banido o discernimento, excluída a autoridade da consciência, e cada decisão ética fosse heterônoma em relação à pessoa, escrita em um prontuário para ser adotada com um clique: este é, de fato, o anátema lançado sobre Amoris Laetitia, contra a liberdade do cristão e do homem, muito além da questão dos divorciados.

Eles gostariam de uma Igreja onde não fosse lícito aos bispos perguntar a opinião dos fiéis, como foi feito antes do último Sínodo, restringindo a fé das pessoas a ser expressa apenas através de mobilizações específicas, como as marchas pela vida, as petições ou correntes humanas sobre os princípios não negociáveis: isso foi dito pelo cardeal Brandmüller [18]. Eles gostariam de uma Igreja em que os cônjuges vindos de um primeiro casamento desfeito ou fracassado, deveriam impostar a sua união de forma assexuada e viver na impaciente espera da morte do primeiro cônjuge, único evento capaz de dissolver o vínculo; assim seria a morte a “boa notícia” do Evangelho para eles: essa foi a substância da “declaratio” do cardeal Burke.

Salvação, mas não libertação

Eles gostariam de uma Igreja cuja mensagem fosse a salvação, que é uma coisa espiritual, mas não a libertação, que seria uma coisa mundana. E isso é a coisa mais anticristã que existe, que de forma muito ingênua e tosca foi proclamada pelo ex-presidente do Senado italiano Marcello Pera [19], como se não tivesse existido a encarnação, como se Jesus não tivesse anunciado a libertação dos prisioneiros e a redenção dos pobres, como se a crítica da modernidade ao cristianismo não tivesse sido, com Hegel [20], a de “desperdiçar os tesouros no céu”, e, com Marx [21], a de fazer da religião o ópio e a alienação do povo.

Pois é essa a proposta dos novos, velhíssimos campeões da ortodoxia: uma Igreja que não deve ser de todos, e muito menos dos pobres. Mais parece uma patética exumação do passado do que uma proposta para a atualidade, porque nem o cardeal Burke pode ser considerado um cardeal Caetani [22] que pode eliminar um papa, nem o papa Francisco se parece com um Celestino V [23], vindo do mais recôndito vilarejo com sua imensa compaixão, mas fácil presa para os poderes do mundo.

IHU On-Line – Em que medida as reformas da Cúria, da liturgia e do próprio catecismo são importantes para a efetivação dessa virada de Francisco? Como enfrentar esses desafios que as reformas impõem?

Raniero La Valle – Elas são, obviamente, importantes, mas o Papa disse que não é ele que quer a reforma da Igreja, que esta se seguirá, com a ajuda de Deus, se for realizada a verdadeira reforma, que é a dos corações. Eu acredito que a verdadeira reforma está na nova anunciação e na nova compreensão de Deus. Aqui existe um grave atraso por parte da Igreja. Até mesmo os católicos “progressistas” continuam a perseguir as reformas que sempre pensaram, certamente importantes, e não percebem que, enquanto isso, aconteceu um fato muito mais importante, mudou a pregação de Deus, desapareceu o deus Jano das duas faces, que salva e destrói, “fascinante e terrível” e ficou apenas o Deus que ama e perdoa. Eles continuam a olhar para o seu dedo, e não percebem que mudou a face da lua, porque reflete um novo sol.

Como recordaram Francisco e o Patriarca Bartolomeu [24], os antigos padres diziam que a Igreja é o "mysterium lunae" porque não reluz com luz própria, mas refrata a luz de Deus. Existe outra luz hoje na Igreja, uma luz que pressiona para irromper no mundo que, ainda embrenhado na antiga escuridão, corre para a guerra.

IHU On-Line – Qual é o futuro do pontificado? E como imagina a Igreja pós-Francisco?

Raniero La Valle – Acredito que o recebimento na Igreja do anúncio messiânico do papa Francisco seja a condição para a continuidade não só da Igreja, mas da própria religião.

Notas

[1] IHU, no seu sítio, publicou um artigo em que La Valle explica essa interpretação de “virada profética”. Acesse o texto aqui. (Nota da IHU On-Line)

[2] Papa Leão I (São Leão Magno ou Magno, o Grande): papa de 29 de setembro de 440 até 10 de novembro de 461. É um doutor da Igreja e um dos padres latinos. É conhecido por ter convencido Átila, o Huno em Roma, em 452, a voltar atrás de sua invasão da Europa Ocidental. (Nota da IHU On-Line)

[3] Flaviano: foi um arcebispo de Constantinopla de 446 até 449. Ele é venerado como um santo pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. Na Igreja Católica, São Flaviano é comemorado em 18 de fevereiro, a data atribuída a ele no Martirológio romano. (Nota da IHU On-Line)

[4] Papa Gregório I: conhecido como Gregório Magno ou Gregório, o Grande, foi papa entre 3 de setembro de 590 e sua morte, em 12 de março de 604. É conhecido principalmente por suas obras, mais numerosas que as de seus predecessores. Gregório é também conhecido como Gregório, o Dialogador na Ortodoxia por causa de seus "Diálogos" e é por isso que seu nome aparece em algumas obras listado como "Gregório Dialogus". Foi o primeiro papa a ter sido monge antes do pontificado. Gregório é reconhecido como um Doutor da Igreja e um dos Padres latinos. É também venerado como santo por católicos, ortodoxos, anglicanos e alguns luteranos. Foi canonizado assim que morreu, por aclamação popular, como era o costume. O reformador protestante João Calvino admirava Gregório e declarou em seus "Institutos" que ele teria sido o "último bom papa”. (Nota da IHU On-Line)

[5] São Bento de Núrsia, nascido Benedito da Nórcia (480-547): foi um monge, fundador da Ordem dos Beneditinos, uma das maiores ordens monásticas do mundo. Foi o criador da Regra de São Bento, um dos mais importantes e utilizados regulamentos de vida monástica, inspiração de muitas outras comunidades religiosas. (Nota da IHU On-Line)

[6] Gershom Scholem (1897-1982): pesquisador da mística judaica e se estabeleceu no estudo da Cabala em Jerusalém. É autor de Die jüdische Mystik in ihren Hauptströmungen (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000) e Zur Kabbala und ihrer Symbolik (Frankfurt am Main: Suhrkamp 1998). (Nota da IHU On-Line)

[7] Aristóteles de Estagira (384 a.C.-322 a.C.): filósofo nascido na Calcídica, Estagira. Suas reflexões filosóficas – por um lado, originais; por outro, reformuladoras da tradição grega – acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou significativas contribuições para o pensamento humano, destacando-se nos campos da ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia e história natural. É considerado, por muitos, o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. (Nota da IHU On-Line)

[8] São João Crisóstomo (347-407 d.C.): teólogo e escritor cristão, Patriarca de Constantinopla no fim do século IV e início do século V. Por sua retórica inflamada, ficou conhecido como Crisóstomo (que em grego significa “boca de ouro”). É considerado santo pelas Igrejas Ortodoxa e Católica. É um dos quatro grandes Padres da Igreja Oriental, e doutor da Igreja Católica. (Nota da IHU On-Line)

[9] Isaque de Nínive (ou Isaac de Nínive): também conhecido como Isaque, o Sírio, foi um bispo e teólogo do século VII d.C. Ele é considerado santo pela Igreja Ortodoxa e comemorado em 28 de janeiro. (Nota da IHU On-Line)

[10] Dante Alighieri (1265-1321): escritor italiano. Estudou Teologia e Filosofia, sendo profundo conhecedor dos clássicos latinos e dos filósofos escolásticos. Pertenceu ao Partido Guelfo, lutou na Batalha de Campaldino contra os Gibelinos e, por volta de 1300, iniciou a carreira diplomática. Em 1302, foi preso por causa das suas atividades políticas. Iniciou-se então a segunda etapa da sua vida: o exílio definitivo, pois não aceitou as anistias de 1311 e 1315. Afastado de Florença, viveu em Verona e em Lunigiana. Sua principal obra é A Divina Comédia. Sobre Dante, confira a entrevista Divina Comédia. A relação entre poesia e Deus. Edição 301, de 20-7-2009, concedida por Massimo Pampaloni à IHU On-Line. (Nota da IHU On-Line)

[11] Tomás de Torquemada (1420-1498): também conhecido como O Grande Inquisidor. Foi o inquisidor-geral de origem Sefardita dos reinos de Castela e Aragão no século 16 e confessor da rainha Isabel, apelidada de “a Católica”. O cronista espanhol Sebastián de Olmedo o descreveu como "o martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país, a honra do seu fim". Ficou conhecido por sua campanha contra os judeus e muçulmanos convertidos da Espanha. Há controvérsias acerca do número de autos-de-fé realizados durante o mandato de Torquemada como inquisidor, mas estima-se algo em torno de 2,2 mil. Ainda jovem, Torquemada tornou-se frade dominicano no Convento de São Paulo em Ávila, sua cidade natal. Em 1452, elegeu-se prior do Convento de Santa Cruz, em Segóvia. Era sobrinho do cardeal Juan de Torquemada, igualmente dominicano. (Nota da IHU On-Line)

[12] Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881): um dos maiores escritores russos e tido como um dos fundadores do existencialismo. De sua vasta obra, destaca-se Crime e castigo, O Idiota, Os Demônios e Os Irmãos Karamázov. Ao autor, a IHU On-Line edição 195, de 11-9-2006, dedicou a matéria de capa intitulada Dostoiévski. Pelos subterrâneos do ser humano. Confira, também, as seguintes entrevistas sobre o autor russo: Dostoiévski e Tolstoi: exacerbação e estranhamento, com Aurora Bernardini, na edição 384, de 12-12-2011; Polifonia atual: 130 anos de Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, na edição 288, de 6-4-2009; Dostoiévski chorou com Hegel, entrevista com Lázló Földényi, edição nº 226, de 2-7-2007.  (Nota da IHU On-Line)

[13] Constantino (também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande – em latim Flavius Valerius Constantinus Naísso (272-337): foi um imperador romano, proclamado Augusto, venerável, pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte. (Nota da IHU On-Line)

[14] Teodósio I (dito o Grande, nascido Flávio Teodósio): foi um imperador romano desde 379 até sua morte. Promovido à dignidade imperial após o Desastre de Adrianopolis, primeiro compartilhou o poder com Graciano e Valentiniano II. Em 392, Teodósio reuniu as porções oriental e ocidental do império, sendo o último imperador a governar todo o mundo romano. Após a sua morte, as duas partes do Império Romano cindiram-se, definitivamente, em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente. (Nota da IHU On-Line)

[15] Josef Stalin (1878-1953): ditador soviético, líder máximo da URSS de 1924 a 1953 e responsável pela condução de uma política nomeada como stalinismo. Chegou a estudar em um colégio religioso de Tbilisi, capital georgiana, para satisfazer os anseios de sua mãe, que queria vê-lo seminarista. Mas logo acabou enveredando pelas atividades revolucionárias contra o regime czarista. Passou anos na prisão e, quando libertado, aliou-se a Vladimir Lenin e outros camaradas, que planejavam a Revolução Russa. Stalin ocupou o posto de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética entre 1922 e 1953 e, por conseguinte, o de chefe de Estado da URSS durante cerca de um quarto de século. Sobre Stalin, confira a entrevista concedida pelo historiador brasileiro Ângelo Segrillo à edição 265 da IHU On-Line, Nazismo: a legitimação da irracionalidade e da barbárie, analisando a obra Prezado Sr. Stalin (Rio de Janeiro: Zahar, 2008), de autoria de Susan Butler. (Nota da IHU On-Line)

[16] Amoris laetitia (a "Alegria do Amor"): é uma exortação apostólica do papa Francisco, publicada em 8 de abril de 2016. Possui nove capítulos e tem como base os resultados de dois Sínodos dos Bispos sobre a Família ocorridos em 2014 e 2015. Para saber mais, leia a edição Amoris Laetitia e a ‘ética do possível’. Limites e possibilidades de um documento sobre ‘a família’, hoje. (Nota da IHU On-Line)

[17] Raymond Leo Cardeal Burke (1948): é um cardeal estadunidense, como título de Cardeal-diácono. Foi Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica no Vaticano (2008-2014) e é atualmente patrono da Ordem Soberana e Militar de Malta. Como Cardeal, sempre seguiu uma linha mais conservadora, conhecida como Catolicismo Tradicionalista, pelo fato de defender a Doutrina da Igreja Católica por meio da chamada "hermenêutica da continuidade", termo atribuído a teólogos que defendem que o Concílio Vaticano II só pode ser válido a partir do momento em que sua interpretação possui total coerência com a Doutrina que sempre foi ensinada pelos papas predecessores ao Concílio. (Nota da IHU On-Line)

[18] Walter Brandmüller (1929): cardeal alemão, presidente emérito do Pontifício Comitê das Ciências Históricas. Foi criado cardeal no Consistório Ordinário Público de 2010 pelo Papa Bento XVI, com o título de Cardeal-diácono de S. Giuliano dei Fiamminghi. (Nota da IHU On-Line)

[19] Marcello Pera (1943): filósofo e político italiano, senador pela Forza Italia e Popolo della Libertà de 1996 a 2013, e presidente do Senado na XIV Legislatura. (Nota da IHU On-Line)

[20] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, desenvolveu um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a edição 217 da IHU On-Line, de 30-4-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de (1807-2007), em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261, de 9-6-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler HegelHegel. A tradução da história pela razão, edição 430 e Hegel. Lógica e Metafísica, edição 482. (Nota da IHU On-Line)

[21] Karl Marx (1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século 20. A edição 41 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx. Também sobre o autor, a edição número 278 da revista IHU On-Line, de 20-10-2008, é intitulada A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. A entrevista Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcântara Figueira, foi publicada na edição 327 da IHU On-Line, de 3-5-2010. A IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central de O Capital, obra de Marx. (Nota da IHU On-Line).

[22] Papa Bonifácio VIII (1235-1303): foi papa de 1294 até sua morte. Nasceu com o nome Benedetto Gaetani. Atualmente, Bonifácio VIII é provavelmente lembrado por seus conflitos com Dante Alighieri, que o retratou no inferno em sua Divina Comédia, e a publicação da bula Unam Sanctam na disputa contra o rei Filipe IV de França. (Nota da IHU On-Line)

[23] Papa São Celestino V (1215-1296): proveniente da ordem beneditina, foi papa durante alguns meses do ano 1294. Ele nasceu com o nome Pietro Angeleri, conhecido também como Pietro da Morrone. Quando morreu o papa franciscano Nicolau IV, em 1292, assistiu-se a um demorado processo de escolha do seu sucessor, que levou cerca de dois anos, apesar de haver apenas doze votantes. Escolheu-se finalmente, em 5 de julho de 1294, Pietro Angeleri, conhecido como um frade beneditino radicalmente espiritualista e um asceta, que vivia em reclusão. De caráter fraco e submisso e desajustado para o cargo, deixou iludir pelo referido rei e mudou-se para esse seu reino de Nápoles, onde distribuiu privilégios e cargos aos amigos. Por pressões do cardeal Benedicto Caetani, foi forçado a abdicar em 13 de dezembro. No mesmo ano (em 24 de dezembro foi eleito o seu sucessor, precisamente da família Caetani, que tomaria o nome de Bonifácio VIII) que o manda para uma vida de reclusão, que ainda viveu dois anos. Supõe-se que tenha sido assassinado, talvez com veneno, por ordem do seu sucessor, embora a história não tenha registado provas conclusivas. (Nota da IHU On-Line)

[24] Bartolomeu I - Igreja Ortodoxa (1940): é um religioso grego (e um cidadão turco), o atual Patriarca de Constantinopla, principal bispo da Igreja Ortodoxa, desde o ano de 1991. (Nota da IHU On-Line)
Fonte: Carta Maior