segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






A farsa de um julgamento.
Para quem conhece os meandros da nossa “justiça” fica claro o açodamento em marcar logo o julgamento de Luiz Inácio Lula da Silva. Em tempo inacreditavelmente recorde, mesmo que passando por cima de ritos processuais, no dia 12 de dezembro o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) marcou o julgamento em segunda instância de Lula sobre o chamado “caso do tríplex” para 24 de janeiro.
Até mesmo os golpistas mais ferrenhos se impressionaram com a pressa em marcar o julgamento. A conhecida Folha de São Paulo, que orquestrou toda a campanha contra Lula e o PT, escreveu que “este foi o caso que mais rápido subiu de instância. João Pedro Gebran Neto [o relator do processo] concluiu o seu voto em 100 dias contra uma média de 275 dias para outros votos em outros processos da Lava-Jato”. Ou seja, a “justiça” resolveu ser célere!
A revista Carta Capital destaca essa façanha: “o caso tramita em tempo recorde no TRF4. Foram 42 dias entre a condenação por Moro e o início da tramitação do processo na segunda instância. Relator do processo, o desembargador João Pedro Gebran Neto, levou 36 dias para concluir seu voto. Revisor da ação, Leandro Paulsen finalizou seu voto em apenas seis dias úteis”. Será que alguém ainda tem dúvidas sobre o que está escondido em toda essa correria? Alguém ainda tem dúvidas de que toda essa ação vai se tornando cada vez mais urgente, na exata medida em que a candidatura de Lula vai crescendo nas pesquisas?
Vale lembrar a campanha de 1989. Na mesma medida em que as pesquisas mostravam o crescimento de Lula as bolsas de valores despencavam e o dólar disparava em uma campanha para amedrontar a população. Apenas agora usam outras artimanhas, mas o processo é muito parecido. E podemos esperar novas e mais violentas irregularidades nessa “fome de justiça” da elite brasileira.
Exército e Força Nacional vão garantir a farsa? O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), solicitou ao governo federal a convocação da Força Nacional e do Exército para “garantir a segurança da população e a preservação do patrimônio público” durante o julgamento de Lula da Silva, no dia 24 de janeiro. Para garantir a violência contra qualquer mobilização popular, solicitou ao governador José Ivo Sartori (PMDB) a mobilização da Brigada Militar e da Polícia Civil.
Em ofício encaminhado ao ilegítimo Temer, diz Marchezan: “Diante das articulações explícitas para ocupação dos espaços públicos por milhares de integrantes de movimentos políticos e sociais, é nosso dever requerer a atuação das forças de segurança para preservar a integridade dos cidadãos e do patrimônio coletivo. A cidade precisa ter garantido seu funcionamento regular nesse período”.
O jornal golpista, Folha de São Paulo, diz em matéria que “o pedido será analisado pelo governo federal”. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que “pessoalmente” não vê a “possibilidade de emprego das Forças Armadas [nesse caso]”.
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, usou sua conta pessoal no Twitter para falar sobre o caso e considerou o pedido como “inacreditável”. “É muito medo do povo”, escreveu.
O Partido dos Trabalhadores (PT) organiza uma série de mobilizações para o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá decidir seu destino político. Os atos de protesto começarão em 13 de janeiro, batizado de Dia Nacional de Mobilização, revelou a direção do PT na quinta-feira 28 em nota oficial.
A presença de Lula não é prevista no julgamento do próximo dia 24. Nesses casos, é permitida a presença do réu, mas usualmente apenas a defesa comparece.
Repressão e intimidação. O repórter fotográfico Guilherme Santos, do portal de notícias Sul21, teve uma pistola apontada para a cabeça, na tarde de terça-feira (02), por um integrante da Brigada Militar, durante uma abordagem realizada nas imediações do prédio do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre (RS). Guilherme foi abordado por quatro policiais em uma viatura da Brigada Militar, na avenida Augusto de Carvalho, cerca de 10 minutos depois de fazer algumas fotos externas do prédio do TRF4, onde será realizado o julgamento em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 24 de janeiro.
Na abordagem, segundo relata o repórter, um dos policiais apontou uma pistola para ele, pela janela da viatura, e ordenou que colocasse as mãos na cabeça. Guilherme Santos, que portava o crachá do Sul21 no momento da abordagem, se identificou como jornalista e explicou que estava trabalhando. Os policiais pediram o documento de identidade do repórter e passaram os seus dados pelo rádio. Após a identificação, ele foi liberado. Questionados sobre o motivo da abordagem, os policiais disseram que receberam um chamado para averiguar o que ele estava fazendo nas proximidades do prédio do tribunal.
A assessoria de comunicação social do TRF4 disse que a ligação não partiu do tribunal e assegurou que não há nenhuma orientação para esse tipo de abordagem. Segundo Analice Bolzan, coordenadora de Comunicação do tribunal, os profissionais da imprensa poderão acompanhar o julgamento do dia 24 de janeiro segundo regras de credenciamento que deverão ser definidas na próxima semana.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS) repudiou em nota oficial a agressão sofrida pelo repórter fotográfico Guilherme Santos. Para a entidade, este tipo de ação fere a liberdade de imprensa e lembra piores momentos da ditadura no Brasil. Cercear o trabalho de um profissional não é próprio do momento dito democrático vivido pelo país. (Matéria no Portal da CUT)
Entidades internacionais estarão em Porto Alegre. Delegações de sindicalistas de vários países vão se somar aos milhares de manifestantes brasileiros na vigília em apoio ao ex-presidente Lula no próximo dia 24 em Porto Alegre (RS).
Organizações mundiais de trabalhadores, como a Confederação Sindical Internacional (CSI) e a IndustriALL Global Union (sindicato mundial dos trabalhadores na indústria), estão intensificando a mobilização de suas entidades filiadas para a atividade, particularmente as da América Latina. E, segundo sindicalistas que estarão presentes, as entidades internacionais acompanham com apreensão os desdobramentos do golpe no Brasil e da investida neoliberal na América Latina, com seus ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários.
Um ministério “muito íntegro”. O “manequim de funerária” Temer realmente coleciona uma verdadeira quadrilha entre os seus ministros. Alguns ficaram pouco tempo, outros continuam resguardados da “justiça” por ocuparem os atuais cargos, mas é uma verdadeira chusma de meliantes. A começar pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, réu em uma ação civil de improbidade administrativa na qual é acusado de ordenar o pagamento superfaturado de R$ 2 milhões a uma empresa, quando foi ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso (1997-2001). Moreira Franco, José Serra, Gilberto Kassab, Blairo Maggi, Sarney Filho, Helder Barbalho, Leonardo Picciani, Ricardo Barros e mais um bando. Todos réus e investigados pela “justiça” que, nesses casos, é muito lenta.
Mas a quadrilha agora ganhou nova participante: a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi indicada para comandar a pasta do Trabalho. O ministério estava sem titular desde o dia 27 de dezembro, data em que o então ministro Ronaldo Nogueira pediu exoneração. Só para lembrar, ela é filha do ex-deputado federal e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
Ela votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma e esteve ausente na votação que cassou o mandato do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)!
Segundo o jornal O Dia, “menos de um dia depois do anúncio de que Cristiane Brasil iria para o Ministério do Trabalho, o nome dela veio à tona como ré em pelo menos duas ações trabalhistas”.
Pois é, a nova ministra do Trabalho é ré no processo nº 0101817-52.2016.5.01.0048, movido por um motorista particular que não teve a Carteira de Trabalho assinada por ela. Em sua defesa, Cristiane negou qualquer relação, no entanto, aceitou fazer um acordo.
Em outro processo, o de nº 0010538-31.2015.5.01.0044, com um outro motorista, também sem Carteira de Trabalho assinada, Cristiane não teve tanta sorte. Foi condenada. Foi feito um acordo para que pagasse o valor de R$52.200,00 em 18 parcelas de R$ 2.900,00. A atual ministra do Trabalho teria atrasado o pagamento e teve a conta bloqueada, com penhora de R$ 30.000,00 (e ofereceu acordo em parcela de R$ 2.900,00). Nos últimos meses de 2017, ela sofreu novas penhoras, porém, por incrível que pareça, Cristiane, que como deputada federal ganha R$33.763, só tinha R$ 700,00 em conta. Esse é um ministério muito íntegro, não é?
E o salário mínimo... O golpe de 2016 contra Dilma e o PT tinha vários objetivos: entregar o pré-sal, fazer a reforma trabalhista, impor a reforma da previdência, repor o Brasil nos trilhos do neoliberalismo e sob o domínio de Washington, etc.
Mas tinha outro objetivo que pouco está sendo analisado pelos nossos companheiros: acabar com o aumento real do salário mínimo!
O salário mínimo anunciado pelo próprio governo era, inicialmente, de R$ 979,00. Depois Temer anunciou uma redução para R$ 969,00. Hoje, primeiro dia de janeiro de 2018, entrou em vigor o novo salário mínimo no valor de R$ 954,00!
Claro que alguns mais bem pagos e que recebem muito vão dizer: “mas é apenas uma diferença de R$ 25,00 e isso não significa muito”. E nós dizemos: então, tente viver com um salário mínimo e veja o que significa perder os vinte e cinco reais.
 
Segundo estatísticas oficiais, 44,5 milhões de brasileiros recebiam menos do que um salário mínimo em 2016. Cerca de 104 milhões de brasileiros recebem o salário mínimo (incluindo aposentados e pensionistas).
Mas não era essa a nossa intenção ao iniciar esse comentário. Em três momentos na história do Brasil o salário mínimo, aquele salário que mantém uma grande parcela da nossa população, teve ganho real e começou a reduzir a diferença de renda no país: 1) No Governo Getúlio Vargas – e a direita criou uma crise que o levou ao suicídio; 2) No Governo de João Goulart – e acabou no golpe de 1964 e mais 20 anos de ditadura militar; 3) Nos Governos do PT – que levou ao golpe contra Dilma Rousseff.
Com o governo do ilegítimo, cerca de 45 milhões de pessoas em todo o Brasil terão seu poder de compra reduzido após decreto que reduziu o aumento do mínimo este ano. O reajuste de 1,81% no valor do salário mínimo para o ano de 2018, de R$ 937 para R$ 954, é o menor em 24 anos, de acordo com os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Andando para trás. Por quase duas décadas, a América Latina e o Caribe começaram a vencer o estado de pobreza em que foram jogados com as políticas atreladas aos interesses de Washington e do grande capital. Governos progressistas e nacionalistas surgiram em nossa região e começaram a mudar o quadro, mas o sistema não iria permitir essa virada por muito tempo e os golpes se sucederam em nossa região que agora parece “andar para trás”.
Segundo pesquisas de organismos internacionais, quatro em cada dez lares na América Latina e Caribe já voltaram a ser “economicamente vulneráveis” e 30,7 % dos habitantes vivem em condições de miséria.
Os avanços sociais em anos recentes, registrados por todas as pesquisas, estão sendo desmontados e existe uma ameaça real sobre milhões de pessoas que podem voltar ao estado de pobreza que se conhecia até a década de 1990 e primeiros anos no novo século. E esta não é uma afirmativa de partidos ou organizações de esquerda, mas um alerta feito pelo Banco Mundial, organismo do próprio sistema!
Os dados demonstram que, em 2014 tínhamos 168 milhões de pessoas (28,5% da população da região) vivendo em estado de pobreza. Os números atingiram 178 milhões de pessoas em 2015 (29,8% da população) e chegaram a 186 milhões de pessoas (30,7% da população) em 2016.
A pobreza extrema da região saltou de 8,2% da população, em 2014 (48 milhões de pessoas) para 10% em 2016 (61 milhões de pessoas).
Macri impõe novos castigos aos argentinos... O que mais esperar de um “presidente” que tem contas secretas em paraísos fiscais, é amigo pessoal de Aécio Neves e foi “eleito” sob a batuta de Washington para acabar com os avanços argentinos?
O governo de Mauricio Macri anunciou na quarta-feira (03) um novo "tarifaço" nas passagens de ônibus, trens e metrô da cidade de Buenos Aires. Segundo o ministro do Transporte, Guilhermo Dietrich, os preços serão reajustados em até 90%!
A passagem de ônibus, que atualmente custa 6 pesos (R$ 1,06), passará a custar 8 pesos (R$ 1,42) em fevereiro, 9 pesos (R$ 1,60) em abril e 10 (R$ 1,77) em junho, registrando um aumento total de 66%. Já a tarifa dos trens subirá de 2 pesos (R$ 0,35) a 3,25 (R$ 0,58). O metrô, por sua vez, terá o maior aumento, indo de 6,50 pesos (R$ 1,15) para 12,50 (R$ 2,22), em um aumento total de 92%. Beneficiados pela tarifa social também serão impactados pelas mudanças, mas com menor percentual de aumento.
...mas argentinos resistem! A Associação dos Trabalhadores do Estado da Argentina liderou uma greve nacional de 24 horas, na quinta-feira (04), contra as demissões no setor público de todo o país. Segundo nota da ATE, isso vem ocorrendo há dois anos e a entidade exige que Macri “pare imediatamente de reduzir o patrimônio do Estado Nacional”.
A realidade é que a sociedade argentina está em permanente protesto e os movimentos vão se sucedendo em oposição às políticas neoliberais impostas pelo desgoverno. Em 2017 foram registrados vários movimentos de grande importância contra Macri: a) em 13 de março foi realizada a grande greve de professores para exigir uma reunião paritária que discutisse o reajuste de 35% nos salários para repor as perdas de 2016; b) no dia 6 de abril foi realizada a greve geral de trabalhadores envolvendo professores, bancários e trabalhadores em transporte durante 24 horas, com adesão nacional; c) em 14 de junho foi realizada nova greve geral que envolveu trabalhadores do Estado, médicos e trabalhadores da justiça para exigir aumentos salariais e a judicialização dos protestos sociais; 18 de dezembro foi realizada uma greve convocada pela CGT contra a reforma da previdência.
E, certamente, teremos mais lutas e protestos em 2018! Solidariedade aos companheiros argentinos.
Paraguai: triste realidade. Segundo pesquisas feitas pela CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) o Paraguai está entre os três primeiros países que menos investem no campo social.
Entre 2003 e 2004 o Paraguai destinou ao setor público 129 dólares “per capita”. Em 2013 chegou a 305 dólares por habitante.
Isto representa uma enorme diferença para outros países da região onde os investimentos sociais passaram de 374 para 969 dólares no mesmo período de tempo.
Papa vai liberar documentos sobre a ditadura no Uruguai. O novo embaixador uruguaio no Vaticano, Mario Cayota, informou nesta sexta-feira (05) que o Papa Francisco assumiu um compromisso de desclassificar todos os arquivos da Santa Sé sobre a ditadura militar no Uruguai, entre 1973 e 1985.
O Papa já havia desclassificado os documentos sobre a ditadura na Argentina e, talvez, possamos ter alguma esperança de que ele faça o mesmo com relação ao Brasil e ao Chile. Vamos aguardar.
Por que o sistema teme o Oriente? O que está escondido nas constantes agressões de Washington contra a Moscou ou Beijing? Por que alimentam uma agressão permanente contra a Coreia do Norte ou contra outras nações orientais que fogem ao controle da “hegemonia neoliberal”?
A verdade é vem crescendo muito rapidamente a capacidade dos países asiáticos e da Europa Oriental para disputar a supremacia econômica no planeta, posição que durante séculos foi praticamente exclusividade das nações ocidentais. Um desenvolvimento espantoso nos últimos anos e uma economia estável colocam China, Índia, Vietnam, Coreias, Singapura e Indonésia, além da Rússia, como principais motores do crescimento econômico mundial atualmente.
E a alternativa para o chamado “império” é não permitir a união entre essas nações, o que significaria o “dobre de finados” do sistema neoliberal e talvez do próprio capitalismo internacional como o conhecemos hoje.
A verdade é que a região representou, em 2017, 60% de todo o Produto Interno Bruto mundial (22,48 bilhões de dólares) e mais de 50% de todo o comércio internacional! Ampliando as preocupações do Ocidente, na região vamos encontrar 4 bilhões e 462 milhões de habitantes, ou seja, a maior população do planeta!
França cria lei contra “fake news”. Comentamos, no Informativo anterior, o problema que está em gestação com a avalancha de notícias falsas através da Internet e das redes sociais. Pois a França parece ter sido o primeiro país a levar a questão a sério e pensa em apresentar, ainda em 2018, um Projeto de Lei dirigido a lutar contra as notícias falsas ou “fake news”.
O anúncio foi feito pelo presidente Macron em seu discurso de “ano novo” diante da imprensa e destacou que o projeto dará prioridade às informações durante o período eleitoral. Segundo ele, “as plataformas ‘online’ deverão arcar com maiores obrigações de transparência sobre os conteúdos patrocinados e tornar pública a identidade dos anunciantes e dos que os controlam”. Ele convidou os jornalistas para ajudarem a definir regras comuns através de um amplo debate, tendo em consideração os princípios e o código de ética da profissão.
Aliás, essa medida seria muito bem-vinda ao Brasil, onde, para não contrariar os donos dos veículos de mídia, os jornalistas são obrigados a atropelar o código de ética.
Liberdade para Ahed al-Tamimi (1). Ahed al-Tamimi é uma jovem palestina de apenas 16 anos, mas já conhecida pelos seus protestos contra as tropas invasoras de Israel e por suas denúncias de agressões contra crianças palestinas.
No dia 15 de dezembro de 2017 (um sábado), um franco-atirador israelense atirou em um jovem palestino de apenas 14 anos (Mohammed), durante um protesto do povo de Nabi Saleh contra o roubo de suas terras ancestrais e dos poucos recursos hídricos da região pelas tropas de Israel.
Mohammed ficou gravemente ferido e a bala se alojou em seu cérebro. Está em coma induzido e os médicos não sabem se poderão salvá-lo.
A agressão provocou mais revolta entre o povo da Cisjordânia e as pessoas começaram a atirar pedras em direção aos soldados, que responderam atirando.
A notícia chegou ao conhecimento de Ahed al-Tamimi, conhecida por sua resistência contra a invasão de terras. Saiu de casa exigindo que os soldados israelenses se retirassem das terras de sua família, mas eles se recusaram a deixar o terreno. E a menina, de apenas 16 anos, lançou-se contra os soldados tentando dar socos e pontapés.
Às quatro horas da madrugada do dia 16 de dezembro os soldados israelenses invadiram a casa da família Tamimi, tiram Ahed da cama e a levaram para a prisão. Levaram todos os aparelhos celulares da família como “compensação pela agressão da menina”.
A prisão de Ahed não é novidade. Soldados de Israel prendem crianças palestinas sem motivo e sem acusação desde a declaração de Trump sobre Jerusalém, como mostramos no Informativo anterior.
Liberdade para Ahed al-Tamimi (2). A covardia do Estado de Israel, como dizíamos no Informativo passado, não tem limites. Ahed al-Tamimi, com apenas 16 anos, está em um calabouço em Israel e com as mãos e pés amarrados, segundo informes de organismos de direitos humanos israelenses. E a covardia não se limita à prisão de Ahed pois o exército de Israel prendeu também sua mãe, Narimam, e sua prima, uma criança chamada Nur. As três respondem por acusações de “incitação ao terrorismo”!
Segundo informações das organizações sociais que defendem Ahed, há destacados políticos e militares israelenses que defendem vinte anos de prisão para a jovem e uma corrente que defende prisão perpétua.
O povoado onde vive tem pouco mais de seiscentos habitantes e foi totalmente ocupado por Israel há cinquenta anos!
Enquanto isso (1)... Sem levar em consideração ou mesmo dar algum tipo de explicações à ONU, o governo de Israel continua a implementar sua política de ocupar o território palestino e expulsar a população originária da região de suas terras.
No domingo (31), enquanto muitos celebravam a passagem de ano no calendário, o Likud (partido de direita a que pertence o primeiro-ministro Benjamín Netanyahu) solicitou aos legisladores israelenses uma nova “lei” para regularizar imediatamente a anexação dos novos assentamentos feitos na Cisjordânia. 
Se o projeto for votado e aprovado significará “carta branca” para novas invasões e construção de novas colônias israelenses em terras palestinas.
O mais impressionante é que a ONU e outras organizações internacionais, além de países que se dizem “democráticos”, continuem calados diante do terrorismo e genocídio de Israel.
Enquanto isso (2)... Com 52 votos a favor e 49 contrários, o parlamento de Israel (Knesset) aprovou na quarta-feira (03), em sessão preliminar, um projeto de lei que permitirá aplicar a pena de morte para condenados por terrorismo. A emenda ao Código Penal, apresentada pelo partido do ministro da Defesa, o ultraconservador Avigdor Lieberman, e apoiada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda deve passar por mais três votações para ser adotada.
A nova proposta permite que tanto tribunais civis quanto militares possam decretar por maioria simples a pena de morte para os “crimes terroristas”. Atualmente, Israel prevê a pena em situações de exceção e só em caso de unanimidade entre os juízes que avaliam o caso. O projeto também bane qualquer possibilidade de leniência após a sentença ter sido dada.
O projeto de lei é defendido por Netanyahu. Em junho, o premier pediu a pena de morte para um palestino de 20 anos que matou três pessoas de uma família de judeus na Cisjordânia. "Digo que há casos extremos, como quando as pessoas fazem ataques terríveis. Elas não merecem viver", disse o primeiro-ministro, durante a leitura da proposta.
Por sua vez, a delegação da União Europeia em Israel questionou a medida e ressaltou que há uma tendência para a abolição da pena de morte em todo o mundo. (matéria em Ansa)
Irã é o novo alvo dos EUA? A mídia internacional comandada pelos EUA começou a divulgar uma série de notícias sobre a existência de uma “revolução democrática” no Irã, a mesma conversa fiada que já vimos quando se trata da Venezuela e outros países onde Washington tem interesse em alimentar um golpe. Os nossos jornais deram grande destaque ao “número de mortos” nas manifestações, mas nenhum deles esclareceu como ou quando se deram tais mortes, de que lado eram as vítimas.
A verdade é que os dois “grandes” líderes da atualidade, os dois maiores fascistas genocidas do mundo atual, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, não cansam de fazer declarações alimentando os protestos violentos na República Islâmica do Irã. E isso tem uma certa lógica: o Irã é uma pedra no sapato de Israel e uma grande preocupação para Washington desde o acordo de Teerã quando a política independente do Brasil e da Turquia contrariaram a vontade estadunidense.

Estará em andamento um novo “golpe brando” comandado por Washington? No próximo informativo vamos fazer uma matéria especial sobre o Irã.

'O empregado tem carro e anda de avião. E eu estudei pra quê?'

Sociedade

Crônica

'O empregado tem carro e anda de avião. E eu estudei pra quê?'

por Matheus Pichonelli — publicado 07/02/2014 13h20, última modificação 15/02/2014 09h42
Se você, a exemplo dos professores que debocharam de passageiro "mal-vestido" no aeroporto, já se fez esta pergunta, parabéns: você não aprendeu nada
Reprodução
Preconceito
Professora universitária faz galhofa diante do rapaz que foi ao aeroporto sem roupa de gala. É o símbolo do país que vê a educação como fator de distinção, e não de transformação
O condômino é, antes de tudo, um especialista no tempo. Quando se encontra com seus pares, desanda a falar do calor, da seca, da chuva, do ano que passou voando e da semana que parece não ter fim. À primeira vista, é um sujeito civilizado e cordato em sua batalha contra os segundos insuportáveis de uma viagem sem assunto no elevador. Mas tente levantar qualquer questão que não seja a temperatura e você entende o que moveu todas as guerras de todas as sociedades em todos os períodos históricos. Experimente. Reúna dois ou mais condôminos diante de uma mesma questão e faça o teste. Pode ser sobre um vazamento. Uma goteira. Uma reforma inesperada. Uma festa. E sua reunião de condomínio será a prova de que a humanidade não deu certo.
Dia desses, um amigo voltou desolado de uma reunião do gênero e resolveu desabafar no Facebook: “Ontem, na assembleia de condomínio, tinha gente 'revoltada' porque a lavadeira comprou um carro. ‘Ganha muito’ e ‘pra quê eu fiz faculdade’ foram alguns dos comentários. Um dos condôminos queria proibir que ela estacionasse o carro dentro do prédio, mesmo informado que a funcionária paga aluguel da vaga a um dos proprietários”.
A cena parecia saída do filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, no qual a demissão de um veterano porteiro é discutida em uma espécie de "paredão" organizado pelos condôminos. No caso do prédio do meu amigo, a moça havia se transformado na peça central de um esforço fiscal. Seu carro-ostentação era a prova de que havia margem para cortar custos pela folha de pagamento, a começar por seu emprego. A ideia era baratear a taxa de condomínio em 20 reais por apartamento.
Sem que se perceba, reuniões como esta dizem mais sobre nossa tragédia humana do que se imagina. A do Brasil é enraizada, incolor e ofuscada por um senso comum segundo o qual tudo o que acontece de ruim no mundo está em Brasília, em seus políticos, em seus acordos e seus arranjos. Sentados neste discurso, de que a fonte do mal é sempre a figura distante, quase desmaterializada, reproduzimos uma indigência humana e moral da qual fazemos parte e nem nos damos conta.
Dias atrás, outro amigo, nascido na Colômbia, me contava um fato que lhe chamava a atenção ao chegar ao Brasil. Aqui, dizia ele, as pessoas fazem festa pelo fato de entrarem em uma faculdade. O que seria o começo da caminhada, em condições normais de pressão e temperatura, é tratado muitas vezes como fim da linha pela cultura local da distinção. O ritual de passagem, da festa dos bixos aos carros presenteados como prêmios aos filhos campeões, há uma mensagem quase cifrada: “você conseguiu: venceu a corrida principal, o funil social chamado vestibular, e não tem mais nada a provar para ninguém. Pode morrer em paz”.
Não importa se, muitas e tantas vezes, o curso é ruim. Se o professor é picareta. Se não há critério pedagógico. Se não é preciso ler duas linhas de texto para passar na prova. Ou se a prova é mera formalidade.
O sujeito tem motivos para comemorar quando entra em uma faculdade no Brasil porque, com um diploma debaixo do braço, passará automaticamente a pertencer a uma casta superior. Uma casta com privilégios inclusive se for preso. Por isso comemora, mesmo que saia do curso com a mesma bagagem que entrou e com a mesma condição que nasceu, a de indigente intelectual, insensível socialmente, sem uma visão minimamente crítica ou sofisticada sobre a sua realidade e seus conflitos. É por isso que existe tanto babeta com ensino superior e especialização. Tanto médico que não sabe operar. Tanto advogado que não sabe escrever. Tanto psicólogo que não conhece Freud. Tanto jornalista que não lê jornal.
Função social? Vocação? Autoconhecimento? Extensão? Responsabilidade sobre o meio? Conta outra. Com raras e honrosas exceções, o ensino superior no Brasil cumpre uma função social invisível: garantir um selo de distinção.
Por isso comemora-se também ao sair da faculdade. Já vi, por exemplo, coordenador de curso gritar, em dia de formatura, como líder de torcida em dia de jogo: “vocês, formandos, são privilegiados. Venceram na vida. Fazem parte de uma parcela minoritária e privilegiada da população”; em tempo: a formatura era de um curso de odontologia, e ninguém ali sequer levantou a possibilidade de que a batalha só seria vencida quando deixássemos de ser um país em que ter dente era (e é), por si, um privilégio.
Por trás desse discurso está uma lógica perversa de dominação. Uma lógica que permite colocar os trabalhadores braçais em seu devido lugar. Por aqui, não nos satisfazemos em contratar serviços que não queremos fazer, como lavar, passar, enxugar o chão, lavar a privada, pintar as unhas ou trocar a fralda e dar banho em nossos filhos: aproveitamos até a última ponta o gosto de dizer “estou te pagando e enquanto estou pagando eu mando e você obedece”. Para que chamar a atenção do garçom com discrição se eu posso fazer um escarcéu se pedi batata-fria e ele me entregou mandioca? Ao lembrá-lo de que é ele quem serve, me lembro, e lembro a todos, que estudei e trabalhei para sentar em uma mesa de restaurante e, portanto, MEREÇO ser servido. Não é só uma prestação de serviço: é um teatro sobre posições de domínio. Pobre o país cujo diploma serve, na maioria dos casos, para corroborar estas posições.
Por isso o discurso ouvido por meu amigo em seu condomínio é ainda uma praga: a praga da ignorância instruída. Por isso as pessoas se incomodam quando a lavadeira, ou o porteiro, ou o garçom, “invade” espaços antes cativos. Como uma vaga na garagem de prédio. Ou a universidade. Ou os aeroportos.
Neste caldo cultural, nada pode ser mais sintomático da nossa falência do que o episódio da professora que postou fotos de um “popular” no saguão do aeroporto e lançou no Facebook: “Viramos uma rodoviária? Cadê o glamour?”. (Sim, porque voar, no Brasil, também é, ou era, mais do que o ato de se deslocar ao ar de um local a outro: é lembrar os que rastejam por rodovias quem pode e quem não pode pagar para andar de avião).
Esses exemplos mostram que, por aqui, pobre pode até ocupar espaços cativos da elite (não sem nossos protestos), mas nosso diploma e nosso senso de distinção nos autorizam a galhofa: “lembre-se, você não é um de nós”. Triste que este discurso tenha sido absorvido por quem deveria ter como missão a detonação, pela base e pela educação, dos resquícios de uma tragédia histórica construída com o caldo da ignorância, do privilégio e da exclusão.
Fonte: Carta Capital

À sombra de Lula

Política

Eleições 2018

À sombra de Lula


Ricardo Stuckert
Lula
“Está certo, tudo se pode esperar deste bando empenhado em demolir o Brasil, mesmo assim a sombra de Lula tem o peso do chumbo”
Pergunto aos meus melancólicos botões que seriam capazes de excogitar os quadrilheiros ao pressentirem um confronto final das eleições deste ano entre o candidato de Lula, Roberto Requião, palpitemos, e Jair Bolsonaro. Respondem com a inevitável pergunta: mas haverá eleições? Baixa sobre nós um impenetrável silêncio.
Os assaltantes do poder há tempo esboçam soluções à vista da impossibilidade de emplacar um candidato viável. Notoriamente pobres de espírito e jejunos de saber, ao som das trombetas da mídia nativa cogitam alterar a Constituição que já cuidaram de rasgar para inaugurar uma temporada de semipresidencialismo, ou semiparlamentarismo à francesa, conforme a terminologia usada pelos propagandistas midiáticos.
Trata-se, de verdade, do semipresidencialismo, ou semiparlamentarismo jabuticaba, como diz André Barrocal, autor da reportagem de capa desta edição.
O semi-alguma-coisa francês nasceu para fortalecer o comando do general De Gaulle, grande personalidade do século passado, e perpetuou-se sem tropeçar em figuras do mesmo porte. Na versão jabuticaba, se bem entendemos, o presidente não manda mais que a rainha da Inglaterra, quem dá as cartas é o primeiro-ministro saído do Parlamento.
Será que os quadrilheiros sabem que na França hoje quem manda é o senhor Macron, como antes dele mandaram Hollande, Sarkozy, e assim por diante pelos caminhos do passado mais ou menos recente?
É com o parlamentarismo clássico, à italiana, ou à germânica, que o presidente, eleito pelo Parlamento, representa o Estado e quem manda é o premier, na qualidade de líder de um partido, ou de uma coligação que lhe garante a governabilidade.
Foi este, aliás, o parlamentarismo imposto para limitar os poderes de Jango Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, revogado tempos depois por um plebiscito para precipitar o golpe de 1964.
À procura de uma saída do impasse criado pela falta de um candidato potável, os pensadores mafiosos trafegam na névoa. No entanto, essa espessa cerração também impregna outras áreas. Uma falsa e inútil polêmica se estabelece, por exemplo, nas hostes ditas de esquerda, gerada por uma entrevista de Marcelo Freixo à Folha de S.Paulo.
Bem mais útil seria o exame de consciência de quantos se dizem de esquerda: com raras e honrosas exceções, não souberam levar a maioria à consciência da cidadania.
A questão seria a seguinte: têm as chamadas esquerdas de se unir na perspectiva eleitoral? Freixo responde não. Haveria de estar claro que é perfeitamente admissível a entrada em cena de mais de um candidato de esquerda a disputar o primeiro turno, mas a unidade é indispensável no combate contra o estado de exceção.
O repto é levar o povo brasileiro à compreensão das humilhações sofridas séculos adentro, e de 2016 para cá de forma acintosa. Se for possível alguma resistência, ou mesmo revolta, terá de ser a do povo sofrido, liderado por quem o conhece e sabe falar com ele. O esforço de Guilherme Boulos, provável candidato, é notável, ele sabe arregimentar seus liderados.
Nem por isso um pleito sem Lula deixa de ser fraude. O ex-presidente chegou a um ponto decisivo da sua vida e entende agora onde estão amigos e inimigos. Sua presença, a partir da inescapável condenação pelo tribunal de fancaria de Porto Alegre, alonga-se sobre 2018 e engole os quadrilheiros e a casa-grande.
E aos meus botões emudecidos digo: “Está certo, tudo se pode esperar deste bando empenhado em demolir o Brasil, mesmo assim a sombra de Lula tem o peso do chumbo”.
Fonte: Carta Capital

As incógnitas da política brasileira em 2018

Política

Eleições

As incógnitas da política brasileira em 2018

por Deutsche Welle — publicado 07/01/2018 00h04, última modificação 05/01/2018 11h45
Após quatro anos de polarização e crise, brasileiros voltam às urnas. Cenário eleitoral permanece embaralhado, mas atual classe política ainda deve se manter no poder
Fotos: Marcelo Camargo / ABr
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O Congresso deve ficar repleto de políticos em busca de foro privilegiado
Em dezembro de 2015, a então presidente Dilma Rousseff chegou ao fim do ano aparentemente fortalecida e capaz salvar o mandato. No Ano Novo de 2016, analistas questionavam se o impopular Michel Temer seria capaz de sobreviver até o próximo réveillon. No final, Dilma caiu e Temer sobreviveu a três episódios que por pouco não lhe custaram o mandato. Fazer qualquer exercício de previsão no Brasil tem sido um desafio considerável nos últimos anos.   
Uma das únicas certezas políticas para 2018 são as eleições. Embora postos de governador, senador e deputados federais e estaduais também estejam em disputa, as atenções devem se voltar para a corrida pela Presidência e a substituição de Temer. E assim como ocorreu com o cenário político, várias incógnitas embaralham as previsões. 
No início de 2014, outro ano de disputa presidencial, a Lava Jato não existia, a economia ainda não havia entrado em marcha ré, o senador Aécio Neves era uma figura popular, Dilma havia deixado claro que tentaria a reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era considerado um estadista de prestígio praticamente incontestável. O dinheiro sujo de empreiteiras e de grandes empresas ainda irrigava campanhas, e a polarização política ainda era concentrada na clássica rivalidade PSDB x PT. 
Já neste ano, a economia continua a passos lentos. A disputa que se avizinha tem seu líder nas pesquisas, Lula, em uma situação legal precária e um presidente impopular que terá dificuldades para influenciar diretamente na escolha do seu sucessor. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) tenta ocupar o espaço de Aécio Neves, mas o tucano paulista ainda patina nas pesquisas. O PT e o PSDB também sofreram com escândalos nos últimos anos. 
Ocupando o segundo lugar nas pesquisas, um radical de direita, Jair Bolsonaro, tenta dissipar dúvidas se a sua candidatura é realmente competitiva. Há ainda o risco de pulverização do cenário, repetindo o que aconteceu em 1989, quando duas dezenas de concorrentes se apresentaram. O dinheiro das empresas, por sua vez, foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e a polarização e guerras culturais se expandiram para outros aspectos da sociedade.
O fator Lula e a recomposição do establishment
"Nem mesmo o grid de largada da eleição está definido. A começar pelo primeiro colocado nas pesquisas. Ninguém á capaz de afirmar se Lula será candidato ou não. Nem mesmo, individualmente, cada um dos membros da Justiça, envolvidos com seu processo", afirmou o cientista política Carlos Melo, do Insper.
A candidatura de Lula, que aparece com mais de 30% das intenções de voto em algumas pesquisas, por enquanto parece depender do resultado de um julgamento. Marcado para o dia 24, o caso envolve o recurso do petista em relação a sua condenação pelo caso do tríplex no Guarujá. Ainda não se sabe se o petista será mesmo impedido de concorrer com uma eventual nova sentença desfavorável, mas sua candidatura pode ficar vulnerável.
Em um cenário com o petista enquadrado na Lei da Ficha Limpa, aumentam os temores de que o radical Bolsonaro assuma a liderança ou de que o espaço seja ocupado por aventureiros. Segundo o analista Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com Lula fora da disputa, pode ocorrer um cenário de pulverização, distribuindo os votos do petista em diversas candidaturas no primeiro turno, repetindo o que ocorreu em 1989.
No entanto, Stuenkel aponta, que o establishment político, mesmo acossado pela Lava Jato, ainda demonstra força para influenciar a disputa, e que nas eleições deste ano ainda não haverá vez para radicais como Bolsonaro e eventuais outsiders fora do universo político.
"Os partidos tradicionais ainda não implodiram como na França, o que abriu espaço para um Emmanuel Macron. Eles ainda contam com dinheiro, influência e a presença nos Estados e municípios que são fundamentais em uma disputa nacional. Não é a vez dos paraquedistas na política", disse.
Stuenkel aponta ainda que, mesmo com o cenário marcado pela imprevisibilidade e pelo radicalismo, um candidato que se promove como alternativa de centro e faz parte de uma velha máquina partidária, como Alckmin, deve terminar como vencedor por ter mais capacidade de aglutinar diferentes forças. Portanto, algo com que um Bolsonaro ou um novato não contam. 
"É mais provável um cenário chileno, em que parece não ter mudado nada e em que um político tradicional [Sebastián Piñera] venceu. No entanto, alguma renovação deve acontecer, como no Chile, em que surgiram novos movimentos na sociedade. No Brasil, devemos ver a mesma coisa, só não vai ser desta vez que eles vão assumir o protagonismo. Isso deve ficar para 2022", diz.
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Bolsonaro: o extremista aparece em segundo lugar nas pesquisas
Por fim, Stuenkel aponta que mesmo a possível vitória de um candidato de centro não será suficiente para frear a polarização da sociedade brasileira, que só se acentuou depois das eleições de 2014.
"Uma eleição não necessariamente acalma as coisas. Basta ver o que aconteceu nos EUA a partir de 2008. A vitória de Barack Obama, um candidato de centro, deu início à radicalização de grupos opositores, um fenômeno que culminou em 2016 com Donald Trump", conclui.
Carlos Melo, do Insper, concorda. "Há poucas esperanças de que a eleição, com o cardápio de candidaturas que se tem, venha a consertar o processo desses anos tortos."
Sem perspectiva de renovação do Congresso
Mesmo acossada pela Lava Jato, a classe política conseguiu se defender. As próximas eleições não vão contar oficialmente com o dinheiro das empresas, mas deputados e senadores conseguiram desenhar novas regras que devem ajudar a manter seus mandatos.
Entre elas estão a criação de um bilionário fundo eleitoral, que vai distribuir gordas fatias para os partidos que já possuem bancadas na Câmara, e a diminuição do tempo de campanha, que beneficia candidatos já conhecidos. As propagandas caras com imagem de cinema devem sair de cena, mas o tempo de TV ainda vai ser dominado por velhos rostos. 
Um estudo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) projetou um índice menor de renovação do Congresso nas próximas eleições, abaixo da média de 49% dos últimos cinco pleitos. O grupo ainda aponta que mais deputados e senadores devem tentar a reeleição do que em pleitos anteriores. O motivo: manter o foro privilegiado.
"O desgaste dos atuais detentores de mandato certamente irá diminuir suas votações individuais, mas não terá o condão de evitar a reeleição. E quem não conseguir se reeleger terá sua vaga ocupada, majoritariamente, por ex-prefeitos, ex-governadores, ex-deputados federais, estaduais ou distritais, ex-vereadores, ex-secretários, ex-ministros, por endinheirados, por parentes de caciques regionais e por celebridades, como os jogadores de futebol", afirmou Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Diap.
A saída de Temer
Temer chega ao seu último ano de mandato ainda mais distante da sua promessa de compor um ministério de "notáveis". Nos primeiros dias de 2018, ele nomeou Cristiane Brasil – notável apenas por ser filha do cacique partidário Roberto Jefferson, protagonista do escândalo do mensalão – para a pasta do Trabalho, acentuando o fenômeno de troca de tecnocratas ou políticos de expressão nacional por membros do baixo clero do Congresso.
O presidente também voltou a aumentar o número de ministérios, criando pastas sob medida para figuras como Moreira Franco, que garantiram a concessão de foro privilegiadopara aliados. A partir de abril, o governo deve registrar um novo número de baixas, quando uma dezena de ministros deve deixar os cargos para concorrer nas eleições.   
Desde que Temer assumiu, o governo aprovou duas grandes reformas importantes: o teto de gastos públicos e a reforma trabalhista. Mas as mudanças na Previdência ainda estão longe de serem concretizadas. A votação da emenda está marcada para 19 de fevereiro na Câmara. O Planalto já aceitou submeter uma versão mais leve do texto, mas consultorias internacionais apostam que é bastante improvável que o governo consiga aprovar qualquer versão. O assunto corre o risco de ficar para o sucessor de Temer.
Sem força para aprovar mais reformas conforme se aproxima o calendário eleitoral, que vai monopolizar as atenções do Congresso, o governo deve tentar capitalizar a melhora da economia. Segundo relatório da  Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Brasil deve crescer 2% em 2018. Para 2017, a comissão prevê que a economia brasileira avance 0,9%, pondo fim aos dois anos de recessão que marcaram 2015 e 2016. 
Os números na economia, no entanto, não têm sido suficientes para tirar o governo do fosso da impopularidade. Com expectativas baixas, o Planalto chegou ao ponto de celebrar, em dezembro, o fato de a aprovação de Temer ter subido de 3% para 6%. O índice é mais baixo que os 9% de José Sarney no final de 1989, quando o país era castigado pela hiperinflação.
Fonte: Carta Capital