domingo, 22 de março de 2020

Em carta ao presidente da China, Lula diz que Bolsonaro envergonha o país


Em carta ao presidente da China, Lula diz que Bolsonaro envergonha o país

Redação
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta ao presidente da China, Xi Jinping, para repudiar a declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido) ao acusar o país asiático como culpado pelo novo coronavírus.
O fato do presidente Jair Bolsonaro, pai de Eduardo, não ter se manifestado aos chineses gerou revolta ao petista.
“Lamento que o atual governo brasileiro não tenha feito ainda esse gesto [de desculpas] pelos canais diplomáticos e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude. Seu silêncio envergonha o Brasil”, escreveu Lula.
Pelo Twitter, o filho do presidente Jair Bolsonaro disse que o governo chinês omitiu informações da doença. O comentário criou desconforto e preocupação em diversas autoridade do país, como o presidente da Câmara Rodrigo Maia, por causa da boa relação comercial entre Brasil e a China. A Embaixada chinesa rebateu Eduardo, dizendo que ele contraiu ‘vírus mental’.
Na carta, recebida hoje (22) pelo presidente chinês, o petista também acrescentou que a atitude de Eduardo Bolsonaro é mais uma amostra que o atual governo federal adotou uma postura na política externa de submissão aos Estados Unidos.
“Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump”, completou o ex-presidente. Leia a carta completa aqui.

EDUARDO BOLSONARO REBATEU CRÍTICAS

Também pelo Twitter, Eduardo Bolsonaro disse que foi mal interpretado e jamais ofendeu o povo chinês, dizendo que a interpretação é “descabida”.
“Esclareço que compartilhei a postagem critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia. Esclareço ainda que meu comportamento não tem o mínimo traço de xenofobia ou algo similar”, disse ele, em uma série de publicações.
Contudo, o novo posicionamento (veja abaixo) causou nova reação da Embaixada da China: “São absurdas e preconceituosas as suas palavras, além de ser irresponsáveis. Não vale a pena refutá-las. Aconselhamos que busque informações científicas e confiáveis nas fontes sérias como a OMS, úteis para ampliar a sua visão”, finalizou.

Em carta a Xi Jinping, Lula pede desculpas em nome do povo brasileiro pelas agressões da família Bolsonaro à China

Em carta a Xi Jinping, Lula pede desculpas em nome do povo brasileiro pelas agressões da família Bolsonaro à China

22 de março de 2020
Lula com o presidente Hu Jintao em visita à China - Foto: Ricardo Stuckert
Ex-presidente repudiou atitude de filho de Bolsonaro e condenou o pai por se portar como “reles bajulador de Donald Trump”
Em carta enviada ao presidente da República Popular da China, Xi Jinping, o ex-presidente Lula pediu desculpas ao governo e ao povo chinês pela “inaceitável agressão” do deputado Eduardo Bolsonaro àquele país. Lula lamentou que Jair Bolsonaro não tenha sido o primeiro a tomar tal atitude, depois que seu filho acusou a China de ter espalhado o coronavírus.
“Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia”, escreveu Lula, em referência a Jair Bolsonaro. Nem o presidente do Brasil nem o Itamaraty se desculparam pelo episódio que, além de demonstrar ignorância, afeta as relações do Brasil como nosso maior parceiro comercial.
“Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo”, acrescentou Lula. “Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump.”
A carta de Lula foi entregue sexta-feira (20) à embaixada China em Brasília e chegou ao presidente Xi Jinping neste domingo. Lula cumprimentou o governo e o povo chinês pelas vitórias alcançadas no combate ao coronavírus. “Esta é a verdadeira imagem da China que nós, brasileiros e brasileiras, aprendemos a admirar, numa convivência de mútuo respeito.”
Leia aqui a íntegra carta de Lula a Xi Jinping:
São Bernardo, Brasil,
20 de março de 2020
“Caro presidente Xi Jinping,
Em nome da amizade entre os povos do Brasil e da China, cultivada por sucessivos governos dos dois países ao longo de quase cinco décadas, venho repudiar a inaceitável agressão feita a seu grande país por um deputado que vem a ser filho do atual presidente da República do Brasil.
Tal atitude, ofensiva e leviana, contraria frontalmente os sentimentos de respeito e admiração do povo brasileiro pela China. Creio expressar o sentimento de uma Nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao governo da China pelo comportamento deplorável daquele deputado.
Como é de seu conhecimento, setores expressivos da sociedade brasileira condenaram aquela agressão, incluindo os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal do Brasil.
Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito ainda esse gesto pelos canais diplomáticos e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude. Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia.
Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo. Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump.
Este governo passará, sem ter estado à altura do Brasil, mas nada poderá apagar os laços de amizade e cooperação que vimos construindo desde 1974, quando o então presidente Ernesto Geisel restabeleceu as relações entre o Brasil e a República Popular da China.
Praticamente todos os presidentes brasileiros, desde então, fortaleceram nossa relação nos mais diversos campos. Recordo que, ainda em 1988, o presidente José Sarney assinou os acordos para a construção do satélite sino-brasileiro, que viria a ser lançado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 1994, os presidentes Itamar Franco e Jiang Zemin estabeleceram a Parceria Estratégica Brasil e China, que tem frutificado em benefício mútuo. Desde 2009 a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em meu governo, o Brasil reconheceu a China como economia de mercado e construímos juntos os BRICS, inaugurando um novo capítulo na ordem mundial.
Recentemente, expressei minha solidariedade ao povo e ao governo da China no enfrentamento ao coronavírus. Recebo agora a notícia de que os esforços admiráveis nesse combate resultaram na interrupção, pelo segundo dia consecutivo, da transmissão do vírus em seu país. Parabéns por esta vitória e sigam lutando.
Esta é a verdadeira imagem da China que nós, brasileiros e brasileiras, aprendemos a admirar, numa convivência de mútuo respeito. Um país com o qual desejamos manter e aprofundar as melhores relações de amizade e cooperação, inclusive no combate à grave pandemia que também nos atinge.
Receba minha saudação respeitosa e fraterna, que se estende a todo o povo chinês,
Luiz Inácio Lula da Silva

Rachaduras comprometem barragem 60 vezes maior que a de Brumadinho

RISCO

Rachaduras comprometem barragem 60 vezes maior que a de Brumadinho

Ministério Público investiga problemas detectados pela Polícia Ambiental na barragem de rejeitos de mina de ouro da canadense Kinross, em Paracatu (MG)
Reprodução
Barragem recebe rejeitos contaminados com substâncias tóxicas usadas no processamento do minério na maior mina de ouro a céu aberto do Brasil
São Paulo – As comunidades que vivem a menos de um quilômetro da mina Morro do Ouro, da mineradora canadense Kinross, em Paracatu, nordeste de Minas Gerais, há muito perderam o sossego. Diariamente, às três e meia da tarde, há a detonação de bombas cada vez mais potentes, já que a mineração chega às rochas mais duras. Trincadas, as casas parecem que vão cair. Dormir tornou-se difícil porque as máquinas trabalham ininterruptamente. Sem contar a contaminação do sangue por causa do arsênio usado na mineração do ouro, como contaram moradores em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Da semana passada para cá, porém, estão apavorados. Uma das barragens de rejeitos, a barragem de Eustáquio, com capacidade de armazenamento 60 vezes maior que a da Vale que se rompeu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, passou a ser investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Segundo reportagem do Observatório da Mineração publicada nesta quinta-feira (12), o MPMG instaurou um Inquérito Civil Público para investigar o comprometimento do aterro compactado da barragem de Eustáquio a partir de uma denúncia da Polícia Militar Ambiental, que detectou fissuras, início de processos erosivos e prováveis comprometimentos geotécnicos da estrutura.
Em operação desde 1987, a mina Morro do Ouro é a maior extração a céu aberto do metal precioso do Brasil, responsável por 22% da produção nacional. A Kinross extrai 17 toneladas por ano em Paracatu. Em 2019, a mineradora anunciou como receita total das suas operações globais US$ 3,4 bilhões, cerca de R$ 17 bilhões pela cotação atual. De lá saiu boa parte dos 700 kg de ouro roubado em agosto de 2019, no aeroporto de Guarulhos.
Em dez anos, chegará ao fim a vida útil da mina. O município perderá a arrecadação anual do imposto pago pela empresa, os 1,8 mil empregos diretos e 3 mil terceirizados. Restará apenas o passivo ambiental, que inclui a degradação do solo, da cobertura vegetal original e a contaminação das águas. Sem contar a saúde das pessoas.
Clique aqui para ler a reportagem na íntegra.
Confira imagens aéreas da barragem:
Após a publicação, a Kinross entrou em contato com a RBA por meio de sua assessoria de imprensa.
Em nota enviada à redação, afirma que a barragem “encontra-se estabilizada e sem qualquer comprometimento em sua estrutura”, “que a segurança da barragem é atestada por especialistas nacionais e internacionais, que adotam procedimentos de engenharia realizados de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o ICOLD (Comitê Internacional de Grandes Barragens)”, e que. há “laudos técnicos que atestam sua estabilidade e são fiscalizadas por instituições públicas federais, como Agência Nacional de Mineração (ANM), e estaduais (IGAM, FEAM e SUPRAM).”
A Kinross esclarece ainda que possui plano de emergência “sempre atualizado”, que “realiza, em parceria com a Defesa Civil Municipal, o Corpo de Bombeiros e das Polícias Civil, Militar, Ambiental e Rodoviária Estadual e Federal, treinamentos com comunidades vizinhas à barragem sobre como proceder em situações de emergência”.
·E que as alterações denunciadas resultam “de um processo erosivo superficial e pontual causado pelas chuvas recentes na região. Este fato é esperado durante o período chuvoso e não altera a estabilidade e a segurança das barragens”. Além disso, as erosões já haviam sido identificadas pelas equipes de monitoramento de barragens, “que atuam 24 horas por dia, e as ações corretivas já foram realizadas’.
·Segundo a empresa, há equipes treinadas para monitorar as estruturas, “que realizam inspeções visuais quinzenais”, “leitura e análise dos instrumentos instalados nas barragens. Além disso, a empresa trabalha com uma Sala de Controle, que possibilita um monitoramento 24 horas de suas estruturas por meio dos instrumentos e câmeras instaladas. É importante ressaltar que não há nenhuma indicação de alteração nos instrumentos instalados nas barragens”.
·E que mantém programa de visitas às suas barragens, “viabilizando condições para que informações sobre as estruturas sejam repassadas à comunidade e autoridades, da forma mais transparente possível. Em 2019, foram recebidos, para ver de perto a segurança das barragens, 1200 visitantes e o programa de visitas de 2020 já se iniciou.”

Pepe Escobar — A China está em guerra híbrida com os EUA


QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020

Pepe Escobar — A China está em guerra híbrida com os EUA

O Presidente chinês Xi Jinping tornou a sua posição clara. Foto: AFP
17/3/2020, Pepe Escobar, Asia Times (ensaio)

Dentre os inumeráveis e efeitos geopolíticos tectônicos do coronavírus, que são impressionantes, um já é claramente evidente. A China reposicionou-se. Pela primeira vez desde o início das reformas de Deng Xiaoping em 1978, Pequim considera abertamente os EUA como ameaça, declarou há um mês o ministro de Relações Exteriores Wang Yi na Conferência de Segurança de Munique, no pico da luta contra o coronavírus.
Pequim está modelando passo a passo, com todo o cuidado, a narrativa segundo a qual, desde os primeiros casos de doentes infectados pelo coronavírus, a liderança já sabia que estava sob ataque de guerra híbrida. A terminologia de que se serviu o presidente chinês é eloquente. Xi disse abertamente que se tratava de guerra. E que foi necessário iniciar uma “guerra do povo”, como contra-ataque. E descreveu o vírus como “um diabo”.

Xi é por formação, confuciano. E, diferente de outros pensadores chineses antigos, Confúcio não admitia discussões sobre forças sobrenaturais e julgamentos depois da morte. Contudo, no contexto cultural chinês, “diabo” designa os “diabos brancos” ou “diabos estrangeiros”: guailo em mandarim, gweilo em cantonês. Xi, aí, fez forte denúncia, em código.

Quando Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, expressou num tuíto incandescente que “é possível que “o Exército dos EUA tenha trazido a epidemia a Wuhan” – primeiro tiro nessa direção, vindo de alto funcionário – Pequim lançava um balão de ensaio, sinalizando que a luva havia sido jogada. Zhao Lijian fez a conexão direta com os Jogos Militares em Wuhan em outubro de 2019, que incluiu uma delegação de 300 militares dos EUA.

Lijian citou diretamente o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (ing. CDC) dos EUA, Robert Redfield, o qual, quando perguntado na semana passada se foram descobertas postumamente mortes por coronavírus nos EUA, respondeu que “alguns casos foram realmente diagnosticados desse modo, hoje, nos EUA”.

A explosiva conclusão de Zhao é que o Covid-19 já estava ativo nos EUA, antes de ser identificado em Wuhan – devido à incapacidade dos EUA, hoje já completamente documentada, para testar e verificar as diferenças que houvesse, na comparação com a gripe.

Acrescentando tudo isso ao fato de que os genomas dos coronavírus recolhidos no Irã e na Itália já foram sequenciados, e já se sabe que não são a mesma cepa de vírus que infectou Wuhan, a mídia chinesa já fez e já pergunta abertamente por uma conexão com o fechamento em agosto do ano passado, de um laboratório militar de armas biológicas declarado “inseguro” em Fort Detrick, com os Jogos Militares e com a epidemia de Wuhan. Algumas dessas perguntas tem sido feitas – e continuam sem resposta – dentro dos próprios EUA.

Perguntas extras permanecem, sobre o nada transparente Event 201 em Nova York, dia 18 de outubro de 2019: um ensaio-simulação para uma pandemia mundial causada por vírus mortal – precisamente o coronavírus. Essa magnífica coincidência aconteceu um mês antes do surto em Wuhan.

O Evento 201 foi patrocinado por Fundação Bill & Melinda Gates, Fórum Econômico Mundial (WEF), CIA, Bloomberg, Fundação John Hopkins e ONU. Os Jogos Militares Mundiais começaram em Wuhan, no mesmo dia.

Independentemente de sua origem, que ainda não está conclusivamente estabelecida, tanto quanto os tuítos de Trump sobre o “vírus chinês”, o Covid-19 já impõe questões imensamente sérias sobre biopolítica (onde está Foucault quando se precisa dele?) e bioterrorismo.

A hipótese de trabalho, de o coronavírus ser arma biológica muito poderosa, mas não provocadora do Armagedom, revela essa arma como veículo perfeito para controle social generalizado – em escala global.

Cuba ascende como potência biotecnológica

Xi com o rosto coberto por uma máscara cirúrgica, em visita à linha de frente de Wuhan semana passada, foi demonstração gráfica para todo o planeta de que a China, com imenso sacrifício, está vencendo a “guerra do povo” contra Covid-19. Assim também, o movimento dos russos, de Sun Tzu, contra Riad, cujo resultado final foi o barril de petróleo muito mais barato, ajudou, para todos os fins práticos, a iniciar a inevitável recuperação da economia chinesa. Eis como opera uma boa parceria estratégica.

O tabuleiro de xadrez muda a uma velocidade vertiginosa. Depois que Pequim identificou o coronavírus como ataque por armas biológicas, a “guerra do povo” disparou, com toda a potência do estado. Metodicamente. Em base de “tudo que for necessário”. Agora estamos entrando em nova etapa, que será usada por Pequim para recalibrar substancialmente a interação com o Ocidente, e sob padrões muito diferentes no que tenham a ver com EUA e União Europeia.

O poder brando (soft power) é essencial. Pequim mandou para a Itália um avião da Air China com 2.300 grandes caixas de máscaras cirúrgicas. Nas caixas lia-se: “Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim”. A China também enviou um grande pacote humanitário ao Irã, a bordo de oito aviões da Mahan Air – companhia aérea que está sob sanções ilegais e unilaterais do governo Trump.

O presidente sérvio Aleksandar Vucic não poderia ter sido mais explícito: “O único país que pode nos ajudar é a China. Até agora, todos vocês entenderam que a solidariedade europeia não existe. Nunca passou de conto de fadas no papel.”

Sob duras sanções e demonizada desde sempre, Cuba ainda é capaz de realizar avanços gigantes – até em biotecnologia. O antiviral Heberon– ou Interferon Alfa 2b – medicamento, não vacina, tem sido utilizado com grande sucesso no tratamento de pacientes contaminados por coronavírus. Uma joint venture na China está produzindo versão inalável do medicamento e pelo menos 15 nações já estão interessadas em importá-lo.

Agora comparem tudo isso, e o governo Trump, que oferece US$1 bilhão para subornar cientistas alemães que trabalham na empresa de biotecnologia Curevac, com sede na Turíngia, em uma vacina experimental contra o Covid-19, contando com ‘reservar’ a vacina para ser usada “apenas nos Estados Unidos”.

Operação psicológica (psy-op) para engenharia social?

Sandro Mezzadra, coautor, com Brett Neilson, do seminal The Politics of Operations: Excavating Contemporary Capitalism , já está tentando determinar conceitualmente em que ponto estamos atualmente em termos de combate ao Covid-19.

Estamos diante de uma escolha entre uma vertente malthusiana – inspirada no darwinismo social – “liderada pelo eixo Johnson-Trump-Bolsonaro” e, por outro lado, uma vertente que aponta para a “requalificação da saúde pública como ferramenta fundamental”, exemplificada pelo que fazem China, Coréia do Sul e Itália. Há lições importantes a serem aprendidas de Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura.

A opção forte, observa Mezzadra, é entre admitir uma “seleção natural da população”, com milhares de mortos, e “defender a sociedade”, empregando “graus variáveis de autoritarismo e controle social”. Fácil imaginar quem pode beneficiar-se dessa reengenharia social, remix, para o século 21, de “A Máscara Rubra da Morte”, de Allan Poe, de 1842 (Consortium News) (1).

Em meio a tanta desgraça e tristeza, conte com a Itália para nos oferecer tons de luz, à Tiepolo. A Itália escolheu a opção Wuhan, com consequências imensamente graves para sua economia já frágil. Os italianos em quarentena reagiram notavelmente cantando das varandas: um verdadeiro ato de revolta metafísica.

Sem mencionar a justiça poética de a verdadeira Santa Corona (“coroa” em latim) estar enterrada na cidade de Anzu desde o século 9º. Santa Corona foi morta no governo de Marcus Aurelius em 165 dC, e já há séculos é um dos santos padroeiros das vítimas de pandemias.

Nem mesmo trilhões de dólares chovendo do céu por um ato de misericórdia divina do Fed foram capazes de curar doentes do Covid-19. Os “líderes” do G-7 tiveram que recorrer a uma videoconferência para perceber o quanto não têm noção de o que fazer – mesmo quando a luta da China contra o coronavírus garantiu ao Ocidente uma vantagem inicial de várias semanas.

O Dr. Zhang Wenhong, que trabalha em Xangai, um dos principais especialistas da China em doenças infecciosas, cujas análises foram até aqui certeiras, diz que a China emergiu dos dias mais sombrios da “guerra do povo” contra o Covid-19. Mas o Dr. Wenhong não acha que a coisa acabe no verão. Agora, a mesma ideia, para o mundo ocidental.

Ainda nem é primavera, e já sabemos que basta um vírus para destruir sem piedade a Deusa do Mercado. 6ª-feira passada, Goldman Sachs disse a nada menos que 1.500 empresas que não havia risco sistêmico. Falso.

Fontes bancárias de Nova York contaram-me a verdade: o risco sistêmico tornou-se muito mais grave em 2020, que em 1979, 1987 ou 2008, devido ao risco mais alto de colapso do mercado de derivativos, de US $ 1,5 bilhão.

Como dizem as fontes, a história jamais viu coisa semelhante à intervenção do Fed via a eliminação, ainda pouco compreendida, das exigências de reservas bancárias nos bancos comerciais, desencadeando uma expansão potencialmente ilimitada de crédito, para evitar uma implosão dos derivativos, decorrente de um colapso total de bolsas de mercadorias e ações em todo o mundo.

Aqueles banqueiros pensaram que funcionaria, mas, como sabemos agora, nem todo aquele som e fúria jamais significou coisa alguma. E permanece aí o fantasma de uma implosão dos derivativos – nesse caso não causada pelo que antes se temia (que o Estreito de Ormuz fosse fechado).

Apenas começamos a compreender as consequências do Covid-19 para o futuro do turbo-capitalismo neoliberal. Certo é que toda a economia global foi atingida por interruptor de circuitos insidioso, literalmente invisível. Pode ser só “coincidência”. Ou pode ser, como alguns estão argumentando corajosamente, parte de uma maciça operação psicológica, que crie o ambiente geopolítico e de engenharia social perfeito para a dominação de pleno espectro.

Além disso, ao longo da árdua caminhada, com imenso sacrifício humano e econômico, com ou sem um reboot do sistema mundial, permanece uma pergunta mais premente: as elites imperiais continuarão insistindo em fazer guerra híbrida contra a China, pela dominação de pleno espectro?

NOTA dos Tradutores:
(1) Em port. trad. José Paulo Paes, in A causa secreta: e outros contos de horror (VVAA). São Paulo: Boa Companhia, 2013, transcrito na íntegra em Revista Prosa e Verso).

INFORMATIVO SEMANAL DO PROF. ERNESTO GERMANO PARES






Mudanças no Informativo Semanal?
(Ernesto Germano)
Como fazer para continuar mantendo o Informativo Semanal em tempos de pandemia, quando todos se voltam para acompanhar a progressão da doença e de sua possível cura?
Nos últimos dias, pensamos no assunto. Há companheiros que recebem nosso Informativo e continuam precisando das notícias políticas e econômicas, mas há leitores que desejam mais informes sobre o coronavírus e seu avanço. E decidimos atender, dentro do possível, aos dois lados. Faremos uma parte com o mesmo formato de sempre para as notícias e outra parte, em cada módulo, para comentários e notícias sobre esse problema bem atual.
Em 2020, teremos recessão. O Comitê de Política Monetária (Copom), optou por mais um corte de 0,5% na taxa básica de juros, a Selic, levando-a aos 3,75%. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a Selic abaixo da inflação denota juros reais negativos no país. Com isso, o dólar chegou a ser cotado a R$ 5,19. Só neste ano, a Bolsa de Valores teve queda de 42%, acionando, pelo menos, seis circuit breakers (paralisações temporárias) no mês de março. Especialistas do mercado financeiro indicam que mesmo com a tentativa de estímulo através do corte, 2020 é um ano perdido do ponto de vista econômico, o que pode perdurar até 2021, já que o país deve demorar para se recuperar dos impactos causados pela pandemia do novo coronavírus.
Fernando Bergallo, diretor de Câmbio da FB Capital, diz que a medida foi uma tentativa de driblar os impactos desta recessão global, já que o Banco Central pontuou anteriormente que não faria novos cortes. "Não tenho dúvidas que o Brasil deve fechar o ano em recessão e o investidor não está olhando isso, ele está olhando o risco, então o corte não deve impactar o fluxo cambial", finaliza.
Até tu, Guedes? Na entrevista em que mesclava pressão pelas reformas com reconhecimento da incapacidade do governo em reagir à crise econômica mundial que se desenha, o ministro Paulo Guedes admitiu que será difícil a economia do Brasil crescer este ano. O “todo poderoso” ministro do ex-capitão já admite um crescimento abaixo de 0,5%.
O economista José Carlos de Assis contesta. “Sem saber o que fazer, Guedes apela para as ‘reformas’. Não há nenhuma contribuição possível que a reforma tributária e a reforma administrativa venham a dar no sentido de reverter a crise. Tudo é pura empulhação. Mesmo que fosse possível aplicar as reformas para reduzir a crise, isso não seria possível porque não há tempo em termos de tramitação das medidas no Congresso, aonde os projetos sequer chegaram”, analisa.
O fato que temos nas mãos é que os setores financeiros e alguns analistas já estão falando em crescimento negativo da economia, algo em torno de 4%.
E o dinheiro apareceu? Depois de tentar um golpe de Estado e pensar em agredir o Congresso Nacional, pelo menos uma parcela do governo do demente descobriu que a crise é muito mais grave do que o “mito” dizia. E o coronavírus acelerou um pouco esse processo, fazendo o Planalto, finalmente, liberar alguma verba para a saúde pública. E, pressionado pelos parlamentares que precisam de verbas para elegerem seus aliados nas disputas municipais deste ano, o ex-militar não tinha alternativas senão enviar ao Congresso um pedido para declaração de “estado de calamidade pública”, única maneira de vencer a barreira criada pelo “tão amado” teto dos gastos públicos, aprovado pelo “manequim de funerária” que o precedeu.
O dono da Economia nacional, Guedes, confirmou que o governo distribuirá cupons, no valor médio de R$ 191, a pessoas sem assistência social e à população que desistiu de procurar emprego. O pagamento será feito por três meses e totalizará uma despesa de R$ 15 bilhões.
Até aí, tudo bem. O insano se rende à lógica de que é preciso diminuir um pouco a pressão do laço da forca no nosso pescoço. Mas a maior maldade de todas vem logo a seguir, pois ele resolveu aproveitar a “treta” e dar uma ajudinha aos seus amigos banqueiros e grandes financistas. Liberou 15 bilhões de reais para ajudar a população? Mas liberou também 161 bilhões para salvar o sistema bancário! Na quarta-feira (18), o Banco Central (BC) anunciou que passará a comprar títulos soberanos do Brasil denominados em dólar (global bonds) das instituições financeiras nacionais. A operação é com compromisso de revenda (repo). O estoque desses títulos é de US$ 31 bilhões (R$ 161 bilhões).
Mas “ele” não abre mão das maldades contra o trabalhador. Em tempos de pandemia, quando todos temem pela própria saúde e pelas famílias, o demente não desistiu de uma só de suas medidas contra a classe trabalhadora, e fez os aliados no Congresso aprovarem com mais rapidez o projeto de maldades que retira direitos históricos e leva trabalhadores à miséria.
Vamos recordar tudo o que ele já fez e/ou propôs contra a classe trabalhadora? 1) Imposto para desempregados – o governo vai cobrar 7,5% sobre o seguro-desemprego; 2) Bolsa Patrão – os trabalhadores serão taxados no seguro-desemprego e terão redução no FGTS, mas os patrões deixarão de pagar 34% em impostos. Ficarão isentos de contribuir para o INSS, não precisarão pagar salário educação, tampouco contribuir para o Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Senar, Senat, Sescoop e Sebrae) e para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); 3) Ataque ao FGTS do trabalhador – o percentual de FGTS destinado ao trabalhador da carteira verde e amarela será de 2% - o dos trabalhadores de carteira azul é de 8%; 4) Final de semana - Sábados, domingos e feriados serão dias normais de trabalho, sem pagamento de adicionais, o que também significa reduzir os ganhos do trabalhador. O domingo deixa de ser o dia semanal de descanso remunerado e as folgas só precisarão cair em um domingo a cada sete semanas; 5) Negociado sobre o legislado - O princípio do negociado sobre o legislado vai se sobrepor sobre súmulas trabalhistas e decisões judiciais, ou seja, vai estar acima até mesmo da interpretação das leis trabalhistas e da Justiça do Trabalho.
Continuem a trabalhar! Mesmo que já tenham perdido todos os direitos, o governo do ex-capitão chama os trabalhadores para manterem-se submissos e felizes pela situação em que se encontram.
Em meio a uma crise econômica e social, causada pelo novo coronavírus, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, afirmou na segunda-feira (16) que a questão mais importante para o trabalhador informal é a continuidade de oportunidades para trabalhar.
Segundo os dados mais recentes, a taxa de informalidade atinge 40,7% da população ocupada, o que representa um contingente de 38,3 milhões de trabalhadores informais no país.
Mais um problema para nossa economia. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) fez o Brasil entrar em uma crise diplomática com a China, o principal parceiro comercial do país. O filho 03 do presidente resolveu seguir a linha de Donaldo Trump e culpou o país asiático pelo coronavírus.
“Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”, disse o parlamentar ao compartilhar uma publicação que falava sobre a “culpa” do partido comunista chinês pela pandemia. Eduardo é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
O que o demente júnior desconhece é que a China responde por 18% do PIB do planeta (dados de 2018) e é o destino de 30% das nossas exportações. E nos fornece 20% dos insumos industrias de que necessitamos para manter a economia funcionando.
Embaixada chinesa protesta! Mais uma vez a família de milicianos se envolveu em uma briga diplomática por meio das redes sociais. Desta vez, o filho do ex-militar, candidato desprezado a ser embaixador do Brasil nos EUA, usou uma teoria da conspiração para atribuir ao Partido Comunista Chinês a pandemia causada pelo coronavírus, na quarta-feira (18).
Em seu Twitter, ele afirmou que “quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa”. E também replicou de um outro perfil a seguinte mensagem: “A culpa pela pandemia de Coronavírus no mundo tem nome e sobrenome. É do Partido Comunista Chinês”.
Em resposta, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, repudiou “veementemente” a atitude do deputado e exigiu desculpas ao povo chinês. Ele também afirmou que manifestaria indignação junto ao Ministério das Relações Exteriores e à Câmara dos Deputados, além de frisar que a atitude de Eduardo Bolsonaro terá impactos na relação entre os dois países.
Somente em fevereiro de 2020, o Brasil exportou para 4,724 bilhões para a China. O valor representa um aumento 20,9% em comparação com o mesmo mês em 2019. No ano passado, o Brasil teve um superávit de US$ 27,6 bilhões no comércio com a China, quando exportou US$ 62,7 bilhões ao país, que é o maior comprador de soja e minério de ferro.
ONU prevê recessão global! O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou que uma recessão global é “praticamente certa” em razão da pandemia do coronavírus. Ele disse que a atual crise global de saúde é “diferente de qualquer outra num período de 75 anos na história das Nações Unidas”.
E conclamou a realização de uma “resposta global coordenada” para ajudar os países em desenvolvimento a conterem o alastramento do vírus".
Guterres acolheu com agrado a decisão tomada pelos líderes do G20 de realizar uma cúpula de emergência por meio de vídeo, na próxima semana, para discutir a questão da pandemia.
Ele conclamou os líderes a coordenarem uma resposta em uma amplitude que deve combinar com a escala da crise.
Coronavírus pode destruir até 25 milhões de empregos. A pandemia de coronavírus pode desencadear uma crise econômica global, destruindo até 25 milhões de empregos em todo o mundo se os governos não agirem rapidamente para proteger os trabalhadores do impacto, informou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na quarta-feira (18).
“No entanto, se virmos uma resposta coordenada internacionalmente, como aconteceu na crise financeira global de 2008/9, o impacto no desemprego global poderá ser significativamente menor”, afirmou a OIT.
As medidas devem incluir a extensão da proteção social e apoio à retenção de empregos por meio de jornada reduzida ou licença remunerada, além de benefícios financeiros e fiscais, inclusive para micro, pequenas e médias empresas, acrescentou a OIT.
Com base em diferentes cenários para o impacto da pandemia sobre o crescimento econômico global, o desemprego global estimado pela OIT aumentaria entre 5,3 milhões (cenário “baixo”) e 24,7 milhões (cenário “alto”). Em comparação, a crise financeira global de 2008/2009 aumentou o desemprego global em 22 milhões de pessoas.
Na terça-feira (17), Donald Trump minimizou os avisos de que a taxa de desemprego no país poderá subir para 20% devido à nova pandemia de coronavírus, garantindo que isso seria apenas “no pior cenário”.
Segundo relatos da imprensa, o secretário do Tesouro Steven Mnuchin alertou os senadores republicanos que, sem um programa de estímulo governamental, a taxa de desemprego poderá chegar a 20%, o dobro do pico de 10% durante a recessão econômica em 2008. (Reuters)
Estatizar é uma saída! O governo da Itália anunciou na terça-feira (17) que prevê, como parte das medidas para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, a nacionalização da companhia aérea Alitalia, que enfrenta grandes dificuldades financeiras há vários anos.
O conselho de ministros “prevê a constituição de uma nova empresa totalmente controlada pelo ministério da Economia e das Finanças, ou controlada por uma empresa com participação pública majoritária.
Seguindo a mesma linha, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou, também na terça-feira, que o governo está disposto a recorrer a todos os meios, inclusive nacionalizações, para “proteger” as empresas ameaçadas pela pandemia de coronavírus. “Não hesitarei em utilizar todos os meios a meu alcance para proteger as grandes empresas francesas”, afirmou Le Maire em uma entrevista coletiva por telefone. “Isto pode ser feito por meio da capitalização ou compra de participações. Inclusive posso usar o termo nacionalização se for necessário”, completou. (AFP)
Espanha estatiza hospitais privados. O governo da Espanha deu permissão para que as autoridades de saúde estatais do país assumam o controle de hospitais privados para atender e hospitalizar casos de coronavírus. A decisão, divulgada na tarde de segunda-feira (16), vem após a Espanha se tornar o segundo país europeu mais afetado pela pandemia do Covid-19, atrás apenas da Itália.
Segundo disposição do Ministério da Saúde espanhol comunicada no Diário Oficial, “as autoridades sanitárias competentes [...] poderão habilitar espaços para uso sanitário em locais públicos ou privados, que reúnam as condições necessárias para prestar atendimento”.
O ministro da Saúde da Espanha, Salvador Illa, justificou a medida afirmando que o país precisa ter “todos os meios para proteger a saúde e o interesse público”.
O governo do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez ainda determinou que estudantes do quarto ano de medicina e residentes nas áreas de tratamento intensivo e geriatria tenham seus contratos prorrogados para serem colocados à disposição do Estado no combate ao coronavírus.
Ainda segundo o Ministério da Saúde espanhol, as empresas e laboratórios particulares que façam diagnósticos ou produzam máscaras e outros produtos que possam ser empregados no combate ao coronavírus têm 48 horas para informar o governo da sua existência e da sua capacidade produtiva.
Madri ainda determinou que todos os aposentados do sistema de saúde com menos de 70 anos “deverão estar disponíveis” caso sejam requisitados a prestar serviços no combate à pandemia.
A China criou o coronavírus? Não é apenas o filho do demente brasileiro que fica espalhando essa bobagem e já ouvimos coisa semelhante até de pessoas comuns no mercado ou no jornaleiro. Mas é preciso esclarecer, de uma vez por todas, que espalhar essa mentira não ajuda a resolver o problema.
O novo coronavírus não foi desenvolvido artificialmente em laboratório, mas surgiu a partir de processos naturais em seres vivos. A constatação foi feita por pesquisadores da Austrália, Escócia e EUA em um estudo conjunto publicado pela revista Nature Medicine na última terça-feira (17).
Os pesquisadores utilizaram o genoma já sequenciado do novo coronavírus e o compararam com os genomas de outros vírus da mesma família. Logo após o início da epidemia, pesquisadores chineses conseguiram sequenciar o genoma do covid-19 e disponibilizaram os dados para cientistas de todo o mundo.
O estudo refuta diversas notícias falsas que circularam nos últimos dias e acusações feitas por personalidades políticas de que o governo da China teria criado o novo coronavírus em laboratório.
Os coronavírus são uma grande família de vírus que podem causar doenças de menor ou maior gravidade, tendo a primeira doença grave conhecida causada por um coronavírus provocado a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) de 2003 na China.
O segundo surto de uma doença grave começou em 2012 na Arábia Saudita e a infecção foi denominada de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). (Matéria em Sputnik)
Soldados levaram a cólera ao Haiti! Apenas para lembrar, em um momento de crise como o atual, é bom recontar uma história pouco conhecida e muito escondida. Em 2010, uma epidemia de cólera no Haiti deixou oficialmente 10 mil pessoas mortas e contaminou mais de 700 mil. O surto colérico foi causado por uma disseminação do vibrião no rio Artibonite após a chegada de uma tropa de soldados da ONU ao país.
A contaminação aconteceu quando os soldados da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah), que vinham de um acampamento em Annapurna, no Nepal, para o Haiti, realizavam uma limpeza em alguns equipamentos e também em fossas sépticas. No entanto, um vazamento nas latrinas do acampamento da tropa disseminou o vibrião nas águas haitianas.
Ricardo Seitenfus, ex-representante especial do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, afirmou que a ação dos soldados da tropa mostra uma “relação de causa e efeito”, entre a lavagem das fossas, o vazamento das latrinas e contaminação no Haiti.
“Essa é uma história muito triste e que ninguém conta, ou poucos contam. É uma história que mancha a reputação das Nações Unidas, que mancha as operações de paz”, disse. Ele afirma que se a ONU tivesse assumido a responsabilidade, muitas vidas poderiam ter sido salvas. As medidas preventivas das Nações Unidas deveriam ter sido de emissão de comunicados aos moradores e controle no manejo das águas que estavam contaminadas. (Matéria em Opera Mundi)
A história se repete? Ao menos, aparentemente, aqueles soldados da ONU estavam em uma missão de paz e a propagação da doença foi um acidente inesperado. Mas, e agora? E os milhares de soldados estadunidenses que continuam se espalhando pelo mundo podem causar sabendo que aquele país tem mais de 4 mil pessoas infectadas?
Mais uma vez Washington está “se lixando” para o resto do mundo. Apesar da situação de crise pela qual a Europa está passando após a expansão do coronavírus, os EUA mobilizaram 20.000 militares para sua participação, juntamente com outros 13.000 soldados estadunidenses residentes na Europa e outros 7.000 militares europeus, no exercício militar transnacional chamado “Defender Europe 20”. No total, cerca de 40.000 militares - junto com numerosos civis - eles pretendem fazer manobras entre abril e maio no ponto mais contagioso do mundo hoje.
Vejamos o absurdo da situação: os 7.000 militares europeus que participarão dos exercícios são da Itália, da Espanha e da Alemanha, os três países mais afetados pelo coronavírus na Europa. De fato, foi o próprio ministro da Defesa alemão, Joachim Herrmann, que, um a um, recebeu os primeiros militares dos EUA no dia 3 de março, em Nuremberg.
Destaque-se que Europa, diferentemente da China, se mostrou incapaz de controlar a pandemia!
Nem Trump nega o perigo interno! Parece que o nosso ex-militar aposentado por problemas mentais é o único dirigente mundial que continua negando a gravidade da situação e dizendo que o coronavírus não passa de uma “gripezinha”.
Donald Trump, presidente estadunidense, afirmou na segunda-feira (16) que a pandemia do coronavírus pode durar meses e que o país pode caminhar para uma recessão. “[A pandemia do coronavírus] pode durar até julho, agosto ou talvez até mais tarde”, disse em coletiva de imprensa na Casa Branca.
Ele afirmou ainda que a economia dos EUA Unidos pode estar caminhando para uma recessão devido à pandemia do coronavírus. Durante a coletiva, ele descartou, por enquanto, medidas como uma quarentena nacional para restringir a circulação das pessoas em todas as cidades do país. O republicano, no entanto, pediu para todos os cidadãos evitarem sair de casa e se reunir com mais de 10 pessoas.
“Meu governo recomenda que todos os estadunidenses, incluindo os mais jovens e os mais saudáveis, evitem se reunir em grupos de mais de 10 pessoas", explicou.
O mais recente balanço dos EUA sobre o número de casos aponta que 4 mil pessoas estão infectadas e 70 mortes. (Agência Ansa).
Perversidade sem limites! Atílio Boron é um sociólogo argentino muito atual e que acompanha atentamente o desenvolvimento e as ações do neoliberalismo contra as populações mundiais. Em matéria recente, publicada no site “Rebelión”, ele fala da política estadunidense diante da crise no planeta causada pelo vírus que se espalha. Escreve ele, em no início do artigo:
“A situação dos últimos dias nos oferece um exemplo de perversidade raramente vista: em meio a uma pandemia global, a maior superpotência do planeta persiste na aplicação de uma política de bloqueio e sanções econômicas contra países e impede ou dificulta muito, acessar os medicamentos necessários para se defender da ameaça mortal do coronavírus”.
Em uma brilhante reflexão ele lembra que “Ao longo dos séculos e milênios, abundam exemplos em todas as latitudes. Nenhuma sociedade foi poupada do mal e do sofrimento que causa”.
Ao fim do artigo, uma verdade crua e dolorosa: “Ninguém, absolutamente ninguém, jogou bombas atômicas em duas cidades indefesas do Japão. Ninguém submeteu outro povo a um bloqueio de sessenta anos ou a sanções econômicas destinadas a infligir o mal a uma comunidade. No contexto de uma pandemia como a atual, um mínimo de sentimento humanitário deveria ter levado a liderança dos EUA - e não apenas Trump - a declarar a suspensão temporária do bloqueio e das sanções contra Cuba e Venezuela”. E conclui: “Oscar Wilde estava certo quando, há pouco mais de um século, disse que ‘os Estados Unidos são o único país que passou da barbárie à decadência sem passar pela civilização’”.
Quando os problemas vão se somando... Para os que gostam de fazer previsões sobre o fim dos tempos, o prato está quase completo. Conheço algumas pessoas que se dizem de esquerda e que passaram os a vida prevendo a crise final do capitalismo “para a semana que vem”. Bem, para esses, creio as parcelas da operação matemática estão quase completas e já podem ser somadas. Mas sempre procuramos, aqui no Informativo, ser um pouco mais ponderados, ou, como gostamos de dizer, um pouco mais dialéticos!
Mas os fatos estão aí, diante de nós. O fenômeno do coronavírus + a guerra comercial entre os EUA e a China + o aumento da produção de petróleo dos EUA (revolução do xisto) pode ter como resultado algo de inesperado.
Só para lembrar, porque já tratamos disso no Informativo anterior, na semana passada houve uma reunião entre países membros da OPEP e aliados não membros, liderados pela Rússia, para reduzir a produção e manter os preços. O encontro terminou sem acordo e o resultado foi uma queda no preço do petróleo.
Para piorar, tentando fazer frente à Rússia, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos propõem aumentar a produção de petróleo em 3,5%, o que diminui ainda mais o preço e agrava a crise no setor. Por outro lado, a revolução do xisto com altos níveis de endividamento, como no caso dos EUA, coloca esse país em desvantagem em comparação à estratégia da Arábia Saudita.
O prato está na mesa e os ingredientes estão à disposição. Mas, e a crise final do capitalismo?
Uma avaliação pessoal. “Há pessoas que teimam em não levar em consideração a realidade. Mas, em compensação, a realidade também não as leva em consideração” escreveu o grande filósofo alemão, Karl Marx, durante um dos seus muitos debates. 
No presente número do Informativo tentamos mostrar a situação e a crise em nosso país, o confronto entre o Executivo e o Legislativo, o caos econômico provocado não só pelo coronavírus, mas, principalmente, pelas trágicas políticas impostas pelo insano e seu “guru” econômico. Sim, beiramos o risco de um “golpe de Estado” comandado por um ex-capitão.
Por outro lado, vemos a América Latina e a Europa afundando em uma crise político-econômica sem saberem o que fazer com o vírus que se espalha e a chamada “bolha econômica” que se amplia. Mesmo o todo poderoso Trump se assustou e mandou o seu Banco Central fazer uma ajuda urgente ao setor financeiro. E o petróleo, que sempre tirou o sono de muita gente, volta a assustar o planeta.
Durante a semana li um interessante artigo em um site espanhol perguntando se o coronavírus tinha chegado para “enterrar” o capitalismo ou se apenas “abria as portas”. Acredito que nem uma coisa e nem outra. Mas que devemos refletir sobre isso.