quarta-feira, 25 de julho de 2018

Absurdo: Justiça rejeita atrelar acordo Embraer-Boeing a manutenção de empregos ​ ​ ​ inShare ​ Publicado em 25 julho, 2018 9:24 pm

Absurdo: Justiça rejeita atrelar acordo Embraer-Boeing a manutenção de empregos





Publicado em 25 julho, 2018 9:24 pm
Reportagem de Bruno Bocchini na Agência Brasil.
A Justiça do Trabalho em São José dos Campos negou, em caráter liminar, o pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) para que a União condicione a autorização do acordo entre as companhias Embraer e Boeing à garantia da manutenção de empregos no país. A ação civil pública agora segue para julgamento em caráter definitivo.
“Por maior que seja a densidade normativa do conjunto de relevantes princípios e normas invocadas pelo MPT, não é juridicamente viável dele extrair a conclusão de que a União tem a obrigação jurídica de vetar a transferência do controle acionário ou outro negócio qualquer, como a formação de joint venture, caso não sejam oferecidas as salvaguardas”, diz a decisão provisória do juiz do trabalho Bernardo Moré Frigeri, publicada ontem (24).
As empresas anunciaram, no início do mês, um acordo pelo qual a Boeing ficará com 80% do setor de aviação comercial da Embraer. A União, que mantém na empresa brasileira privatizada em 1994 uma ação de tipo especial, conhecida como golden share, detém poder para barrar a operação.
O MPT, na ação, afirma que há o risco de a Boeing, ao assumir o segmento de aviação comercial da Embraer, remeter ao exterior a área de produção da empresa brasileira, ameaçando 26,6 mil postos de trabalho. O MPT argumenta ainda que o acordo poderá comprometer a capacidade brasileira de produzir tecnologia de ponta em um setor estratégico ao desenvolvimento nacional.
“O segmento de aviação comercial da Embraer, justamente o que mais lhe proporciona receita e lucro, será vendido à Boeing, sendo constituída uma nova empresa – fala-se em ‘joint venture’ ou parceria, mas, como se verá, esses não são os reais contornos da operação – com capital fechado, controlada diretamente pelo presidente mundial (CEO) da Boeing”, destaca a ação do MPT remetida a Justiça.
“A Embraer continuaria com participação minoritária, de 20%, nessa nova empresa, mas em dez anos poderia vender tal participação, consolidando 100% de controle pela Boeing (integral desnacionalização da companhia brasileira). Em síntese, o segmento de avião comercial da Embraer, empresa brasileira, irá se tornar um braço da multinacional norte-americana”, acrescenta o MPT.

Aeronave da Embraer. Foto: Paulo Rezende/Divulgação/Embraer

Os mais vulneráveis pagam a conta da austeridade

Os mais vulneráveis pagam a conta da austeridade

por Rodrigo Martins — publicado 24/07/2018 00h30, última modificação 23/07/2018 17h05
A mortalidade infantil volta a crescer após três décadas, a extrema pobreza avança e o País caminha célere para o mapa da fome
GERARD SIOEN/afp
050_ONLY_0337690.jpg
A conta é empurrada para a parcela mais vulnerável da sociedade
Há três anos, quando a economia dava os primeiros sinais de estagnação, o Brasil apostou todas as fichas na austeridade fiscal. Ainda na gestão petista, o então ministro da Fazenda Joaquim Levy não hesitou em operar a navalha nas despesas públicas, nem assim evitou a recessão que fez o PIB encolher 7,2% em 2015 e 2016.
Após a destituição de Dilma Rousseff, as peças na equipe econômica mudaram, mas o diagnóstico jamais foi revisto. Ao contrário, Henrique Meirelles, colaborador do governo ilegítimo, optou por uma superdosagem do “amargo remédio”. Por meio de uma emenda à Constituição, aprovada pelo Congresso, congelou os gastos da União por duas décadas.
O sacrifício, costumava repetir, seria recompensado pela retomada dos investimentos privados, o impulso que faltava para o País decolar. Ao cabo, teve de disfarçar o sorriso amarelo ao celebrar o pífio crescimento de 1% verificado no ano passado.
Para 2018, não há o mais pálido sinal da arrancada econômica propalada no fim do ano passado, após a aprovação da reforma trabalhista, que alterou mais de cem artigos da Consolidação das Leis do Trabalho. Dia após dia, a realidade impõe-se à propaganda.
Na segunda-feira 16, foi a vez de o Fundo Monetário Internacional revisar para baixo, de 2,3% para 1,8%, a sua previsão de crescimento do PIB brasileiro. No mesmo dia, os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central também reduziram as suas projeções. Segundo o último boletim Focus, agora eles esperam uma alta de 1,5%, praticamente a metade do que anteviam em janeiro. 
O sacrifício não é, porém, generalizado. Enquanto o Congresso e o governo garantem benesses para o alto funcionalismo e as empresas, a maioria da população, em especial as crianças, que não contam com lobistas poderosos em Brasília, paga a conta do ajuste.
Os indicadores apontam para um quadro de profunda regressão social. Na Saúde, as vítimas da austeridade se avolumam. Pela primeira em 26 anos houve um aumento da taxa de mortalidade infantil. Em 2016, foram 14 óbitos a cada 100 mil nascimentos, alta de 5% em relação ao ano anterior. Até então, o País apresentava redução anual média de 4,9% desde o início dos anos 1990.
Por desleixo no programa de imunização, ressurgem doenças há tempo consideradas extintas. Até a quarta-feira 18, eram 677 casos confirmados de sarampo em seis estados, além de outros 2.724 sob investigação.
Em 312 municípios, nem a metade das crianças com menos de 1 ano de idade foi vacinada contra a poliomielite. Erradicado desde 1989, o poliovírus, responsável pela moléstia que leva à paralisia, só precisa de uma brecha para voltar a se instalar em solo pátrio.
055_AGIF259856.jpg
Vale do Anhangabaú: um triste retrato do desemprego massivo (Sergio Lima/Folhapress)
Na verdade, boa parte das conquistas sociais encontra-se ameaçada. De 2003 a 2014, ao menos 29 milhões de cidadãos ascenderam socialmente e saíram da condição de miséria, segundo o Banco Mundial. Agora, o problema volta a assombrar os brasileiros.
No ano passado, a extrema pobreza cresceu 11% e atingiu 14,8 milhões de indivíduos, atesta um recente levantamento da LCA Consultores, a partir de microdados da Pnad Contínua do IBGE.. Com o resultado, o contingente de miseráveis representava 7,2% da população em 2017, acima dos 6,5% verificados no ano anterior. A consultoria adotou o critério do próprio Banco Mundial, que considera “extremamente pobre” quem sobrevive com menos de 1,90 dólar por dia.
A Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, divulgada em dezembro passado, já revelava um expressivo aumento da pobreza. O Brasil encerrou 2016 com 24,8 milhões de habitantes, 12,1% da população, vivendo com menos de um quarto de salário mínimo, o equivalente a 220 reais.
O resultado representa um crescimento superior a 50% em apenas dois anos. No fim de 2014, quando a crise esboçava os primeiros sinais, havia 16,2 milhões de brasileiros com essa faixa de renda, empregada pelo governo federal como critério para a concessão do Benefício de Prestação Continuada aos idosos em situação de miséria.
O cenário é ainda mais dramático diante do desmonte da rede de proteção social. Desde o ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) tem alertado para a existência de 7 milhões de pobres no País que não recebem nenhum tipo de assistência social.
“Se o Brasil não voltar a crescer de forma sustentada e não tiver um revigoramento do mercado de trabalho, simultaneamente a uma correção nos valores de transferência de renda, corremos o risco de voltar ao Mapa da Fome”, alertou, em dezembro passado, o brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO.
“Com o agravamento do desemprego, a queda na renda das famílias e o avanço da pobreza, deveria haver um aumento do número de beneficiários do Bolsa Família”, observa a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social.
RepCapaRodrigo01.jpg
 
“Houve, porém, uma mudança da orientação política. Antes, os municípios eram incentivados a fazer a busca ativa de habitantes em situação de vulnerabilidade para incluí-los no programa, até mesmo com incentivos financeiros da União. Agora, o governo federal sinaliza que prefeitura eficiente é aquela que reduz gastos na área. Além disso, há uma desarticulação dos serviços de proteção social. Faltam profissionais e muitas unidades fecharam ou reduziram o seu horário de atendimento.”
Triste retrato do desemprego que assola o País, o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, amanheceu na segunda-feira 16 com uma quilométrica e serpenteante fila de desocupados. A multidão começou a se aglomerar na região no dia anterior, em busca de uma das 1,8 mil vagas de empregos formais oferecidas por um mutirão organizado pelo Sindicato dos Comerciários. Pegos de surpresa, os organizadores tiveram de limitar o atendimento a 5 mil senhas distribuídas entre os candidatos.
Embora o governo se apresse em anunciar a reativação do mercado , a verdade é que Temer nem sequer conseguiu suprir as vagas perdidas durante a sua gestão. Em maio de 2016, quando foi alçado ao poder sem voto, a taxa de desocupação atingia 11,2% da população economicamente ativa, um total de 11,4 milhões de desempregados, segunda a Pnad Contínua, pesquisa oficial de emprego do IBGE. Dois anos depois, no trimestre encerrado em maio, o problema atingia 12,7% da força de trabalho, algo em torno de 13,2 milhões de brasileiros.
Para justificar o aumento da taxa de mortalidade infantil, após quase três décadas de melhora do indicador, o Ministério da Saúde atribuiu o problema ao surto de Zika e à crise econômica. Nenhuma palavra sobre os constantes cortes e contingenciamentos de recursos impostos à área nos últimos anos.
“Pode até ser que a Zika tenha contribuído para aumentar os óbitos de crianças, mas não há nenhum estudo que comprove essa relação. O mais provável é que esse fator teve um impacto meramente residual”, afirma Isabela Soares Santos, pesquisadora da Fiocruz e diretora consultiva do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde. “Mas há uma vasta literatura científica que comprova a correlação entre as medidas de austeridade e a piora dos indicadores de saúde.”
ny280418163213_fotoarena.jpg
Estes não contam com lobistas em Brasília (Meridith Kohut/The New York Times/Fotoarena)
Na crise econômica de 2008, vários países da União Europeia tiveram de promover cortes de gastos sociais e aprovar reformas impostas pelos credores. Pouco depois, demonstra um estudo coordenado pela especialista, aumentaram os casos de depressão, ansiedade e suicídio, além de crescer a demanda por tratamentos de doenças crônicas, com piora no acesso aos serviços de saúde, devido às barreiras econômicas.
“No mínimo, seremos tão afetados pela austeridade quanto os europeus. Mas, em razão da baixa escolaridade, da falta de saneamento básico, da deficiente rede de proteção social, é possível que o impacto seja muito pior.”
Não é difícil explicar a correlação entre o desmonte de políticas sociais e a piora dos indicadores de saúde. Em 2013, o epidemiologista Maurício Barreto, professor da Universidade Federal da Bahia, orientou um estudo publicado na prestigiada revista científica britânica The Lancet, a revelar que o Bolsa Família reduziu em 17% a mortalidade das crianças com menos de 5 anos nos munícipios com maior cobertura do programa.
“Se essas transferências de renda deixam de ocorrer por alguma razão, a tendência é aumentar o número de óbitos infantis, por conta da piora das condições de vida da população desassistida”, resume. “O desmonte da rede de proteção social traz inevitáveis reverberações para a saúde.”
De certa forma, uma pesquisa publicada em maio pela revista americana PLoS Medicineanteviu o problema. Com base em modelos de simulação matemática, previu que o Brasil poderá ter até 20 mil mortes a mais de crianças até 2030, caso os cortes persistam nos programas Saúde da Família e Bolsa Família.
“Partimos de estudos feitos ao longo dos últimos dez anos sobre os determinantes da mortalidade para menores de 5 anos e sobre os efeitos de políticas públicas que, de algum modo, contribuíram para mitigar o problema. Utilizamos também as projeções do Banco Mundial sobre o aumento da pobreza. Feito isso, verificamos os prováveis efeitos da Emenda nº 95 sobre a assistência social e sobre a saúde”, explica Davide Rasella, pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e do Imperial College London, que liderou o estudo feito em parceria com colegas de instituições no Brasil, nos EUA e no Reino Unido.
Segundo o especialista, mesmo que a economia volte a crescer e a pobreza recue nos próximos anos, o cenário inspira preocupação, pois o Brasil restringiu os gastos sociais por 20 anos. “Os planos de austeridade são elaborados a partir de complexos raciocínios macroeconômicos, mas nunca é feita uma avaliação dos custos sociais das medidas, inclusive em termos de morbidade e mortalidade da população”, lamenta Rasella.
RepCapaRodrigo02.jpg
No caso da baixa cobertura vacinal, também não é difícil encontrar os rastros da austeridade. O governo federal tem atribuído a responsabilidade quase que exclusivamente à população, que não se sentiria mais ameaçada pelas antigas moléstias ou teria passado a acreditar nas bobagens difundidas pelas redes sociais, sobre a suposta ineficácia da imunização.
Por meio de nota, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde contestou a exótica tese. Observou que o Ministério da Saúde tem, desde 2014, dificuldade para manter os estoques, além de lembrar que a ampliação do número de indivíduos vacinados depende da cobertura da rede de atenção básica, “que, no momento, se encontra estrangulada pelo contingenciamento de recursos, decorrente do Novo Regime Fiscal”, o congelamento estabelecido pela Emenda nº 95. “Não dá para o poder público se eximir da responsabilidade.
O governo é responsável pelas campanhas de conscientização, pela oferta e distribuição dos insumos, pela mobilização das equipes”, enumera Luiz Augusto Facchini, professor do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas e dirigente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva .
De 2014 a 2016, o gasto total com ações e serviços públicos de saúde caiu 3,6%, passando de 257 bilhões para 248 bilhões de reais. Nos últimos três anos, também se acentuou a redução do número de leitos de internação.
Se hoje a população padece das longas filas no Sistema Único de Saúde, o suplício tende a ser cada vez maior. Os gastos da União estão congelados e só podem ser reajustados pela inflação do ano anterior, mas a demanda pelos serviços não para de crescer.
Nos últimos três anos, 3 milhões de usuários deixaram os planos privados de saúde e tornaram-se dependentes da rede pública. Com o envelhecimento da população e o aumento da carga de doenças com tratamento mais longo e custoso, a exemplo do câncer, a pressão será cada vez maior.
problema, avaliam numerosos especialistas, não se resolve apenas com uma gestão eficiente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil aplicou 1.391 dólares por habitante em 2015, valor ajustado pela paridade do poder de compra.
Apenas 43% dessa soma, 595 dólares, provém de investimentos públicos. O gasto das três esferas de governo é inferior ao de vários vizinhos da América do Sul e assemelha-se aos dispêndios da Namíbia e da África do Sul.
RepCapaRodrigo03.jpg
Durante a vigência da Emenda nº 95, as perdas projetadas para o SUS variam de 168 bilhões a 738 bilhões de reais até 2036, a depender do ritmo anual de crescimento do PIB. Apesar do sacrifício imposto à maioria, o Brasil deverá abrir mão de mais de 283,4 bilhões de reais em renúncias fiscais em 2018.
Estimado pela Receita Federal, o valor é superior à soma dos orçamentos da Educação e da Saúde: 107,5 bilhões e 131,4 bilhões, respectivamente. Na disputa pelo Orçamento também prevalecem os interesses de “quem pode mais”. No texto recém-aprovado pelo Congresso estão liberados reajustes para os servidores federais em 2019.
E acabou excluído o item que obrigava o governo a reduzir as despesas de custeio administrativo, como combustíveis e diárias, em 5%. A austeridade, como se vê, é um mal necessário... Para os outros. 
Darwinismo sanitário
ex-ministro da Saúde Arthur Chioro demonstra preocupação com o recente aumento da mortalidade infantil, interrompendo uma trajetória de queda de quase três décadas. Segundo o professor do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, a aprovação da Emenda nº 95 tende a agravar o quadro.
O congelamento de gastos públicos por 20 anos, prevê, reforçará o “darwinismo social e sanitário” no País. A íntegra da entrevista está disponível em www.cartacapital.com.br.
CartaCapital: O Ministério da Saúde atribui o aumento da mortalidade infantil ao surto de Zika e à crise. O senhor concorda com o diagnóstico?
Arthur Chioro: Chega a ser bizarro o governo apresentar essa desculpa.. Na verdade, atribui-se o fenômeno à diminuição dos partos em decorrência da epidemia de zika, até porque não houve aumento significativo da mortalidade pelo vírus. Ou seja, como diminuiu o número de nascidos vivos porque as mulheres ficaram assustadas, isso supostamente alterou a taxa de mortalidade infantil. É um absurdo.. O que vemos hoje é resultado da política desastrosa do atual governo, que agravou o desemprego, reduziu a proteção trabalhista, diminuiu o poder de compra da população, além de fragilizar os programas sociais. 
RepCapaRodrigo04.jpg
CC: Quando o senhor deixou o Ministério da Saúde, no fim de 2015, qual era o cenário?
AC: Vínhamos reduzindo a mortalidade infantil, ano a ano, em uma média de 4,9%. Deixei a Pasta com uma taxa de 13,3 óbitos a cada 100 mil nascimentos (Em 2016, chegou a 14). Nos próximos anos, com a vigência da Emenda nº 95, que congela os gastos públicos por 20 anos, o problema tende a se agravar. Teremos um impacto muito forte sobre mortes e internações evitáveis de crianças e idosos.
CC: Com o envelhecimento da população e o aumento da carga de doenças que demandam longos tratamentos, como o câncer, há uma tendência de aumento da demanda. Qual é o sentido de congelar os investimentos públicos em saúde neste cenário?
AC: É desastroso. Publiquei um estudo a respeito. Em 2022, cerca de 70% dos gastos da saúde terão de ser arcados por estados e municípios. Hoje, eles bancam cerca de 48%. Precisam elevar as despesas para compensar a retração de investimentos do Ministério da Saúde, por conta da Emenda nº 95. Concretamente, em 2018, já temos uma diminuição dos recursos disponíveis. Conhecendo um pouco a situação econômica dos estados brasileiros, você realmente acha que eles aumentarão os gastos? Mantida essa situação, veremos a falência do sistema público de saúde. Não há como o mercado absorver a demanda, até porque 78% da população brasileira é “SUS-Dependente”.
CC: Alguns economistas atribuem o desequilíbrio das contas do governo aos “elevados gastos” com saúde e assistência social. Como conciliar responsabilidade fiscal com a necessidade de investir cada vez mais em serviços essenciais à população?
AC: Tem uma malandragem nessa história. Essa turma diz que o Brasil gasta muito com saúde, mas não diferencia o que é despesa pública ou privada. No fundo, todos os 208 milhões de brasileiros se beneficiam da saúde pública. Cobertura vacinal, SAMU, Vigilância Sanitária, transplantes, hemodiálises, medicamentos de alto custo... Tudo isso é custeado pelo SUS, e só por ele. Os planos se eximem da responsabilidade. E menos de um quarto da população se beneficia dos investimentos privados. É o que chamo de darwinismo social e sanitário. Só sobreviverão os mais fortes, aqueles que têm grana.
fonte: 

Por que morreu uma brasileira na Nicarágua?

De: Professor Thomas de Toledo

Por que morreu uma brasileira na Nicarágua? Porque lá ocorre um Golpe de Estado, no qual bandos armados patrocinados pelos EUA e pela oligarquia nicaraguense passaram a usar a violência como arma política. Isto, num país que na década de 1980 viveu a Revolução Sandinista, em meio a uma Guerra Civil. Hoje, ocorre um movimento golpista pela deposição de Daniel Ortega porque ele desafiou os EUA, ao iniciar as obras de um canal maior que o do Panamá, que ligará o Oceano Pacífico e o Oceano Atlântico, com investimento chinês. Assim como Obama declarou Guerra à Rússia na Síria e na Ucrância, Trump declarou Guerra à China na Nicarágua. Cenas da II Guerra Fria. Portanto, a bala que atingiu a brasileira tem uma origem: o Pentágono e as políticas de guerras imperialistas dos EUA.

Soberania Nacional Petróleo e Energia para o Desenvolvimento Soberano do Brasil

Soberania Nacional

Petróleo e Energia para o Desenvolvimento Soberano do Brasil

Propostas da AEPET aos candidatos de 2018

 
24/07/2018 13:59
 
por  Felipe Coutinho
programa setorial apresenta diagnóstico e propostas para o setor do petróleo, gás natural e energia
no sentido de assegurar a Soberania e promover o Desenvolvimento Nacional. Nossa Associação considera oportuno apresentar estas análises à sociedade e aos candidatos das Eleições Gerais de 2018, não se trata de uma revelação dogmática, ou de pontos de vista inflexíveis, representa a consolidação da nossa experiência e pontos de vista, que apresentamos para franco e aberto debate com os brasileiros.
 
Propomos: 1) reversão da privatização dos ativos estratégicos e geradores de receita da Petrobrás, 2) alteração da política de preços da Petrobrás, 3) desenvolvimento da política de conteúdo local, 4) contratação direta da Petrobrás para a produção do petróleo Excedente da Cessão Onerosa, 5) assegurar o direito da Petrobrás como operadora única do pré-sal, 6) revisão do planejamento estratégico e da política de distribuição de dividendos da Petrobrás, 7) controle e limitação da exportação de petróleo, 8) revisão dos subsídios concedidos às petroleiras e da legislação que impacta estatais brasileiras, 9) estabelecimento de políticas públicas para a distribuição da renda petroleira e 10) recompra das ações da Petrobrás negociadas na Bolsa de Nova Iorque.
 
No programa apresentamos o diagnóstico do setor e, para cada proposta, as justificativas que, ao nosso ver, demonstram porque estão alinhadas ao desenvolvimento nacional soberano. Estamos dispostos a debater cada item, além de outros que podem ser sugeridos pelas equipes dos candidatos. A seguir apresento as propostas resumidamente.
Reversão da privatização dos ativos estratégicos e geradores de receita da Petrobrás
 
O governo e a Petrobrás estão vendendo negócios, ou partes deles, sem a devida seletividade. Planejam privatizar US$ 35 bilhões entre 2015 e 2018. São negócios geradores de receitas, que mantem a empresa integrada e que são oferecidos ao mercado para pagar dívidas, fazer caixa ou pagar dividendos. Em verdade, estão apenas antecipando receitas, com elevado custo financeiro, sem considerar os prejuízos que tais mutilações trazem para a empresa e para o País.
 
Propomos que a dívida seja administrada sem privatizar ativos rentáveis e estratégicos. Desde 2016 temos afirmado que a magnitude dessas privatizações é desnecessária para administrar e reduzir a dívida da companhia. Por exemplo, aquiaqui e aqui. É preciso rever o Plano Estratégico para garantir a integração e a diversificação da companhia. Revisar as metas de alavancagem financeira e subordinar a venda de ativos a ajustes de estratégia e não aos interesses privados e antinacionais do mercado. Cancelar os negócios que não tenham sido concluídos, retirar outros da lista dos postos à venda, além de recuperar os ativos estratégicos e lucrativos privatizados.

Alteração da política de preços da Petrobrás
 
A política que alinha, e majora, os preços dos combustíveis no mercado interno em relação aos preços internacionais torna lucrativa e viável a importação de combustíveis por agentes privados estrangeiros, reduz o mercado e as receitas da Petrobrás e eleva, de forma significativa, a remessa de dólares ao exterior. Em 2017, mais de 20% do mercado brasileiro foi abastecido por produtos importados, enquanto o parque de refino nacional operou com ociosidade, da ordem de 25%. Perde a Petrobrás, perdem os consumidores e perde o Brasil.
 
Esta política de preços dos combustíveis deve ser modificada, de forma a reduzir a deletéria importação de gasolina e diesel e elevar o fator de utilização do parque de refino nacional. A Petrobrás deve adotar preços compatíveis com seus custos e recuperar o mercado perdido para a cadeia de importação. A redução dos preços pode ser compensada com o aumento do mercado. Deve se buscar preços que compensem a estatal, considerando seus custos operacionais, a necessidade de investimentos e administração da dívida, mas também a capacidade de compra dos brasileiros que não devem ser penalizados por preços superiores aos internacionais quando se dispõe do petróleo, refino, domínio tecnológico e temos companhia estatal para abastecer o país.
Desenvolvimento da política de conteúdo local
 
A política de conteúdo local, praticada pelo governo para desenvolver a indústria nacional, foi duramente atingida pelo corte substancial dos índices nas atividades de exploração e produção de petróleo e, pior, dando a entender que isto é bom para o Brasil. Na prática, esta decisão sinaliza o fim do conteúdo local.
 
Propomos que seja estabelecida uma política de conteúdo nacional que receba incentivos condizentes com os níveis de emprego e de renda criados localmente. O Brasil já teve até 90% de conteúdo nacional nas obras do setor petróleo promovidas pela Petrobrás e caminha para perder essa qualificação. O pré-sal oferece excelente oportunidade para o desenvolvimento da tecnologia, da engenharia e da indústria nacionais, a exemplo do que ocorreu em outros países.
Contratação direta da Petrobrás para a produção do petróleo Excedente da Cessão Onerosa
 
A Lei de Partilha prevê a possibilidade de contratação direta da Petrobrás nos casos de interesse estratégico nacional. Com base neste dispositivo, o CNPE aprovou, em 24/06/2014, a contratação da Petrobrás para a produção, em regime de partilha, do volume de petróleo excedente ao volume contratado sob o regime de Cessão Onerosa. Essa decisão vem sendo questionada pelo governo, interessado nos recursos que podem ser obtidos com o leilão de privatização daquele excedente, em benefício das petroleiras multinacionais.
 
A Petrobrás tem sido exitosa na exploração e produção dos 5 bilhões de barris de petróleo que adquiriu do governo sob o regime de Cessão Onerosa. A partir das descobertas da estatal, está previsto ali existirem até 20 bilhões de barris. Nada mais lógico, justo e adequado, para a empresa e para o País, que a Petrobrás unifique tais áreas para produção e partilha com a União com do óleo produzido. A decisão original do CNPE deve ser mantida, pois, permitirá repor a produção acumulada, assegurar um volume potencial com baixo risco exploratório e economizar custos de descoberta.
Assegurar o direito da Petrobrás como operadora única do pré-sal
 
Após uma longa, injusta e equivocada campanha midiática contra a Petrobrás, transformando-a, falsamente, em uma “empresa falida e incapaz de investir no pré-sal”, o governo retirou da empresa o direito de ser operadora única do pré-sal e de ter, no mínimo, uma participação de 30% de cada projeto licitado. Temos demonstrado que a dívida pode ser facilmente administrada sem as privatizações planejadas, uma vez que a Petrobrás tem reservas em caixa acima dos US$ 22 bilhões, geração de caixa crescente, acima dos US$ 27 bilhões por ano e elevado índice de liquidez corrente (1,9 em 2017). Sem reconhecer os benefícios operacionais e estratégicos que a operação única pela estatal pode trazer para o País, o governo preferiu atender aos reclamos do mercado e das petroleiras multinacionais estrangeiras.
 
Propomos restabelecer a Petrobrás como operadora única do pré-sal, de forma a modular a produção em benefício do País, estimular o desenvolvimento industrial com o uso de mais bens de produção local, garantir o progresso tecnológico nacional, evitar fraudes, repor reservas extraídas, diminuir custos de produção da estatal e garantir empregos para os brasileiros. Além de reconhecer o esforço da Petrobrás que, pioneiramente, vasculhou as profundezas da terra e do mar, descobrindo e viabilizando, em tempo recorde, a produção na área do pré-sal antes que qualquer outra empresa ali se aventurasse.
 
Revisão do planejamento estratégico e da política de distribuição de dividendos da Petrobrás
 
A principal meta do Plano de Negócios 2018-2022 não é adequada à companhia, uma empresa integrada de petróleo e energia. Acreditamos que tanto o indicador Dívida Líquida / EBTIDA, quanto sua meta (2,5) e prazo (2018) são inadequados para uma empresa como a Petrobrás que tem potencial de crescer em termos de produção e geração de caixa. A dívida existente é perfeitamente administrável e, em nosso entendimento, adotar este indicador e prazo serve apenas para justificar a privatização de ativos estratégicos e rentáveis, com prejuízo para a geração de caixa futura, assumindo riscos empresariais desnecessários e desintegrando a Petrobrás. Conforme demonstrado em nossos votos nas assembleias de acionistas, artigos e cartas enviadas pela AEPET à direção da Petrobrás. Por exemplo, aqui e aqui.
 
O plano atual prevê a venda de ativos de campos em produção, logística, refino e o abandono das áreas de petroquímica, fertilizantes e biocombustíveis. A ótica é unicamente financeira e não valoriza o posicionamento estratégico construído pela Petrobrás. A distribuição mínima de dividendos é de 25% do lucro líquido ajustado, sem limite superior, com a antecipação trimestral do pagamento.
 
Propomos rever o plano para investir na integração das atividades da companhia, na agregação de valor ao petróleo e gás e na recuperação do mercado interno. É preciso valorizar as sinergias do conjunto e a sua grandeza. Rever a política de distribuição de dividendos e o estatuto social para reduzir a distribuição mínima e estabelecer um limite máximo, além de eliminar a antecipação trimestral, para que a Petrobrás não seja submetida a interesses especulativos e de curto prazo.
Controle e limitação da exportação de petróleo
 
O atual governo não dispõe de uma política para o controle da produção e da exportação de petróleo. Não conhece todo o potencial de reservas do pré-sal, mas apressa leilões de áreas que podem conter dezenas de bilhões de barris de óleo, apenas para cobrir déficits fiscais. Esta política poderá levar ao esgotamento prematuro das reservas nacionais.
 
Propomos investir na delimitação de jazidas e na definição das reservas do pré-sal, como condição para definir a extensão das concessões. O óleo produzido deve ser direcionado, prioritariamente, para o uso interno e para a produção de derivados pelo parque de refino nacional. A exportação deve ser residual. O objetivo do planejamento da produção deve ser a segurança energética nacional e o abastecimento aos menores custos possíveis.
Revisão dos subsídios concedidos às petroleiras e da legislação que impacta estatais brasileiras
 
O governo Temer assumiu a agenda das multinacionais estrangeiras cuja prioridade é a apropriação do petróleo e operação nos consórcios para o pré-sal. A agenda demanda subsídios elevados e legislações facilitadoras com prejuízo para o País.
 
Propomos analisar com rigor todos os subsídios concedidos, revogando leis como a 13.586/2017 e revisando as legislações facilitadoras aprovadas. O pré-sal não demanda incentivos, pois, os riscos de investimento são baixos. As companhias viriam, como sempre vieram, para serem parceiras da Petrobrás que deve liderar a operação.
Estabelecimento de políticas públicas para a distribuição da renda petroleira
 
A legislação vigente estabelece o pagamento de bônus pelas empresas licitantes e de taxas, royalties, impostos e contribuições pelas produtoras de óleo e gás. Essas rendas são repassadas à União, Estados e Municípios, para fins específicos, mas, grande parte é desviada ou desperdiçada.
Propomos rever a legislação e estabelecer obrigações mais rigorosas para o uso dos repasses, orientando-os para suportar programas sociais, desenvolvimento de ciência e tecnologia, produção de biocombustíveis e energias renováveis. Incluir exigências de eliminação de desperdícios para elevar a eficácia no uso dos recursos.
Recompra das ações da Petrobrás negociadas na Bolsa de Nova Iorque
 
Ações da Petrobrás são negociadas em bolsas norte-americana, europeia e argentina. Essa condição submete a empresa à regulação exercida por leis e órgãos de fiscalização estrangeiros. É uma fragilidade desnecessária, agravada pela transferência de divisas para o exterior via remessa de dividendos. Colocar suas ações em bolsa estrangeira é sujeitá-la a outros propósitos, distintos de sua criação e de suas atividades, é amesquinhar os objetivos da companhia.
 
O prejuízo potencial da perda da soberania brasileira ao alienar parcela relevante das ações da Petrobrás na bolsa de valores dos EUA foi evidenciada recentemente, no acordo para pagamento antecipado da indenização de US$ 2,95 bilhões aos acionistas estrangeiros. Leia a nota da AEPET.
 
Também se verifica, um flagrante caso de extraterritorialidade legal que deriva dessa decisão, uma vez que a Petrobrás, bem como sua força de trabalho, se vê subordinada à Lei estadunidense Sarbanes-Oxley. Trata-se de mais uma manifestação inequívoca de que nossa soberania se vê ferida.
 
Propomos que as ações da Petrobrás devem ser retiradas de bolsas de valores estrangeiras, com o pedido de suspensão das transações e a negociação para sua compra.
Conclusão
 
Os combustíveis de origem fóssil – petróleo, gás natural e carvão - respondem por cerca de 90% da matriz energética mundial. Apesar do aumento da importância relativa dos renováveis, ainda são pouco relevantes na partilha total (5%). Os custos mais elevados para a produção do petróleo não convencional e dos renováveis, além da natureza intermitente da produção das energias eólica e solar, representam severa restrição ao aumento da produtividade e do crescimento econômico mundiais.
 
O petróleo é um bem público e estratégico. Petróleo e gás natural são fontes primárias de mais de 50% da energia consumida no planeta, a sua disponibilidade é essencial ao desenvolvimento social e econômico e à soberania das nações.
 
O petróleo é especial, na medida em que não tem substitutos em equivalente qualidade e quantidade. Sua elevada densidade energética e a riqueza de sua composição, em orgânicos dificilmente encontrados na natureza, conferem vantagem econômica e militar àqueles que o possuem. A sociedade que conhecemos, sua complexidade, sua organização espacial concentrada, sua produtividade industrial e agrícola, o tamanho da superestrutura financeira em relação as esferas industrial e comercial, foi erguida e depende do petróleo.
 
O esgotamento do petróleo convencional e barato de se produzir, com a redução do excedente energético e econômico da indústria petroleira está transformando, aceleradamente, a sociedade. É necessário garantir a propriedade do petróleo e ficar com seu valor de uso. Atender as necessidades dos brasileiros e erguer a infraestrutura dos renováveis para uma nova organização social.
 
Em face dessas características, os países industrializados não hesitam em utilizar todos os meios necessários para assegurar o seu suprimento. Guerras, revoluções induzidas, intervenções armadas, patrocínio de golpes de estado, cooptação da mídia e corrupção de agentes públicos e executivos locais têm sido, historicamente, instrumentos utilizados para garantir o acesso às reservas de petróleo e gás natural.
 
Até o início deste século, o Brasil foi importador líquido de petróleo e sofreu duramente os impactos das sucessivas crises ocorridas no mercado internacional. Para garantir o suprimento de combustíveis ao mercado interno e reduzir a remessa de divisas para o exterior, a Petrobrás optou, desde a sua criação, pela implantação de um parque de refino no país, modelado para processar petróleo nacional e importado. Na esteira da construção desse parque, floresceu uma indústria nacional que, em apenas duas décadas, tornou-se capaz de fornecer 80% dos bens e serviços requeridos pelos investimentos da Petrobrás.
 
Nos últimos 20 anos, a empresa investiu nos setores de gás natural e biocombustíveis e promoveu a diversificação de seus negócios no setor de energia, com usinas termelétricas, eólicas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Com a descoberta do pré-sal, a Petrobrás alcançou posicionamento estratégico de causar inveja às multinacionais, abaladas pela queda dos preços do petróleo e pela dificuldade de recuperar reservas esgotadas pela produção.
 
A natureza e o trabalho de gerações de brasileiros nos deram a grande oportunidade que é o petróleo do pré-sal. Precisamos ser capazes de empreender um projeto soberano para, desta vez, usar as riquezas naturais brasileiras em benefício da maioria da população. Para isso é essencial que o modelo de negócios da Petrobras seja diferente do fracassado modelo adotado pelas maiores multinacionais de capital privado e que os candidatos às eleições gerais de 2018 conheçam e debatam alternativas para o setor.
Acesse aqui para consultar o programa na íntegra.
 
Acesse aqui para assistir o vídeo sobre o programa.
* Felipe Coutinho é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)