quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Vinte por quês que exigem resposta(antes que seja tarde)

Venício Lima

Vinte por quês que exigem resposta (antes que seja tarde)

Por que a maioria dos brasileiros acredita que um único partido político é responsável pela corrupção? Por que defendem a volta dos militares?



1. POR QUÊ?
Os principais jornais e revistas, as principais emissoras de rádio e de televisão, “contam”, todos, “a mesma estória” sobre o que ocorre hoje no Brasil como se houvesse um único supra editor a editar todas as notícias?

2. POR QUÊ?
O Congresso Nacional eleito em 2014, com apoio ostensivo da grande mídia, adotou uma inédita pauta conservadora que ameaça conquistas históricas de direitos humanos fundamentais e desafia o equilíbrio entre os Poderes da Republica?

3. POR QUÊ?
A Justiça brasileira, com o entusiasmado apoio da grande mídia, investiga, prende, processa e condena algumas pessoas, partidos e empresas enquanto outras pessoas, partidos e empresas suspeitas de cometerem os mesmos crimes, são blindados e não são investigados, presos, processados e nem condenados?

4. POR QUÊ?
A opinião de alguns poucos ministros do Supremo Tribunal Federal sobre questões jurídicas e políticas está sempre presente na grande mídia e a de outros ministros nunca está?

5. POR QUÊ?
Os “experts” econômicos e políticos entrevistados pela grande mídia são sempre os mesmos e suas opiniões são sempre as mesmas e são sempre opiniões de oposição política a alguns governos, independentemente de ser prefeituras, governadoria de estados ou a presidência da Republica?

6. POR QUÊ?
A maioria dos brasileiros acredita que um único partido político é responsável pela corrupção e/ou que apenas um partido político recebeu dinheiro de empreiteiras para financiar campanhas políticas?

7. POR QUÊ?
Ao contrário do que ocorre nas principais democracias do mundo, no Brasil, nada impede que empresas concessionárias do serviço público de rádio e televisão também sejam, nos mesmos mercados, proprietárias de jornais e revistas e produtoras de conteúdo audiovisual, constituindo monopólios e/ou oligopólios de informação e entretenimento?

8. POR QUÊ?
As normas e os princípios da Constituição de 1988 referentes à comunicação social não conseguem ser regulamentados no Congresso Nacional, apesar da legislação básica do setor ser uma lei caduca e desatualizada de 53 anos (1962)?

9. POR QUÊ?
Os nove estados e o Distrito Federal que incluíram nas suas Constituições e na sua Lei Orgânica a criação de conselhos estaduais de comunicação, a exceção da Bahia, não conseguem sequer debater o assunto?

10. POR QUÊ?
O Conselho de Comunicação Social, previsto no artigo 224 da Constituição Federal e regulado por Lei como órgão auxiliar do Congresso Nacional deixou de funcionar desde julho de 2014?

11. POR QUÊ?
Qualquer tentativa de se discutir um novo marco regulatório para a radiodifusão no Brasil é imediatamente interditada sob a acusação de censura e, mais recentemente, até mesmo comparada a propostas de Adolf Hitler?

12. POR QUÊ?
Apesar do potencial democrático da internet, no Brasil, ela está reproduzindo o predomínio das mesmas fontes oligopolistas de informação da grande mídia além de, paulatinamente, as redes sociais virtuais privadas começarem a controlar o acesso a portais e sites, até mesmo daqueles que tem por função “a crítica da mídia”?

13. POR QUÊ?
Chegamos à situação historicamente inédita de intolerância e ódio de brasileiros contra brasileiros pela simples razão de que alguns pensam politicamente diferente de outros, são de diferentes raças ou etnias, praticam diferentes opções sexuais ou frequentam diferentes cultos religiosos?

14. POR QUÊ?
Os que resistem e pensam diferente dos principais colunistas e analistas da grande mídia começam a ter medo de se expressar publicamente temendo represálias, até mesmo violentas, por parte daqueles dos quais discordam?

15. POR QUÊ?
Figuras públicas que ocuparam posições relevantes em funções de Estado estão perdendo seu direito de ir e vir ou de simplesmente frequentar um hospital ou um restaurante temendo hostilidades verbais e até físicas?

16. POR QUÊ?
Brasileiros saem a praça pública e defendem a volta dos militares ao poder ou a destituição de uma presidente legitimamente eleita pela maioria dos eleitores?

17. POR QUÊ?
Ao contrário do que ocorreu em relação à Copa do Mundo de Futebol (2014), agora não há um movimento apoiado pela grande mídia contra a realização das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro?

18. POR QUÊ?
Contrariamente a todas as evidências, ainda há gente acreditando que “o governo controla a mídia” e que jornalistas como Rachel Sheherazade foram “obrigadas a parar de falar mal de Dilma porque senão o governo cortaria as verbas de publicidade às quais o SBT tem o direito de receber”?

19. POR QUÊ?

Não há uma narrativa pública alternativa ao discurso dominante da grande mídia e assiste-se dia a dia à desintegração política de um governo que às vezes dá sinais de autismo e outras de total incapacidade de defesa e reação?

20. POR QUÊ?

Chegamos onde estamos e nos sentimos perplexos diante do poder desmesurado de oligopólios de mídia partidarizados, diante da cumplicidade de jornalistas profissionais enredados numa engrenagem da qual não conseguem (ou não querem) sair e diante da inércia de Poderes da República que deveriam ser os garantidores do processo democrático?


Venício A. Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Cultura do Silêncio e Democracia no Brasil – Ensaios em Defesa da Liberdade de Expressão (1980-2015), Editora Universidade de Brasília, 2015; entre outros livros.

Fonte: Carta Maior

É urgente defender o Brasil dos golpistas fascistas

Em mais uma atividade do Fórum21, Roberto Amaral* destacou que a sociedade brasileira está sendo preparada diariamente para a interrupção do governo Dilma.

Guilherme Santos

O Brasil está assistindo ao crescimento de uma onda conservadora e autoritária, de cunho fascista, que pode lançar o país em um grave retrocesso político, econômico e social nos próximos anos. Toda vez que o país se deixou dominar pelo pensamento de direita, acabou sendo tomado pelos valores do autoritarismo, que vem das raízes escravocratas das nossas chamadas elites, preguiçosas, incultas e profundamente perversas.

A advertência é do cientista político, escritor e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, que esteve em Porto Alegre na última sexta-feira (24) para lançar e debater seu mais recente livro, “A SERPENTE SEM CASCA. DA CRISE À FRENTE POPULAR” (Altadena Editorial). O lançamento ocorreu no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e região, reunindo lideranças políticas e sindicais, jornalistas, estudantes e professores universitários.

O fio condutor do livro de Roberto Amaral tem a forma de um alerta. A escolha do ovo da serpente como metáfora para falar da atualidade brasileira, enfatizou, é pela possibilidade de enxergamos a gestação de um embrião fascista no Brasil. “O fascismo não começa pela sua exasperação, ele começa lento, com ofensas verbais, e depois evolui para agressões físicas e coletivas. Esse conservadorismo é tão mais perigoso na medida em que ele está presente em todos os meios de comunicação e é destilado dia e noite junto à população”.

Para Amaral, a sociedade brasileira está sendo preparada diariamente para a interrupção do governo Dilma. “Já estamos vivendo uma série de golpes. Essa eleição vai se resolver em cinco ou seis turnos”. Neste contexto, ele defende a necessidade de formar uma frente popular, de caráter amplo e democrático, capaz de erguer uma barragem ao avanço do pensamento de direita no país.

Autor da apresentação do livro, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, destacou a existência hoje no Brasil de um conjunto de movimentos frentistas que partem de uma mesma constatação: a forma pela qual se estabeleceram as coalizões políticas no país nos últimos anos está esgotada, o que exige pensar uma nova forma de organização, mais programática e que tenha uma estrutura frentista clara. Na mesma linha, Raul Carrion, da direção estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), assinalou que o momento é para avançar na direção da construção de uma frente popular e democrática ampla no Brasil, em torno de objetivos programáticos e não meramente eleitorais.

A coisa mais importante dessa frente, disse a cientista política Céli Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é que ela precisa dar conteúdo à palavra “esquerda”. “Não podemos mais ficar dizendo que somos de esquerda porque estamos à esquerda da direita. Precisamos retomar algum conteúdo importante. Nós perdemos a nossa condição de esquerda e precisamos reconstruir isso”.

Ao final do encontro no Sindicato dos Bancários, Céli Pinto leu um manifesto em defesa da construção de uma frente dessa natureza e colocou-o aberto para receber assinaturas de apoio.

Roberto Amaral conversou com o Sul21 sobre o seu novo livro e sobre o atual momento político do país. A seguir, um resumo dessa conversa e de alguns dos principais pontos apresentados pelo autor durante sua fala no SindBancários:

O ovo da serpente e o embrião fascista

“O ovo da serpente tem uma característica especial: ele não tem casca, mas sim uma película muito fina e transparente que permita que se veja o embrião se desenvolvendo. O que quero dizer com essa metáfora é que nós estamos vendo o desenvolvimento de um embrião fascista no Brasil. Está em nossas mãos a decisão. Podemos deixar esse embrião crescer, sair desse ovo e amanhã picar o nosso calcanhar, ou podemos esmagá-lo agora. O ovo da serpente permite que vejamos à frente. Estou tentando chamar a atenção, não só da esquerda, mas das forças progressistas e democráticas em geral, para a ameaça de um grave retrocesso político e ideológico no país. Esse retrocesso não se mede apenas pela crise dos partidos, em particular pela crise dos partidos de esquerda e, de modo mais particular ainda, pela crise do PT. Tampouco se mede apenas pela crise do governo Dilma. Ele se mede, fundamentalmente, pela ascensão de uma opinião, que já está se tornando orgânica, de retrocesso conservador.”

“Já há um baluarte institucional perigosíssimo desse processo, que é a Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha não foi colocado ali pelo acaso, ele representa um núcleo pensante conservador brasileiro. Esse núcleo, na Câmara, está representado pela chamada bancada BBB, ou seja, os grupos do boi, do agronegócio atrasado, da bala e da Bíblia, que reúne os evangélicos primitivos e midiáticos. Isso tudo se juntou”.

Esquerda não levou a sério o tema da comunicação

“Mas é preciso dizer que a grande responsabilidade por isso é da esquerda e dos nossos governos de centro-esquerda. Há mais de 40 anos, eu e outras pessoas – aqui no Rio Grande do Sul havia uma pessoa que lutava muito por isso, o Daniel Herz – viemos alertando sobre o poder dos meios de comunicação de massa no Brasil, sobre o monopólio da informação e a cartelização das empresas. A esquerda nunca acreditou nisso.”

“A primeira eleição do Lula serviu para mascarar esse problema. Nós metemos na cabeça que essa gente não formava mais opinião. Nos descuidamos e ficamos assistindo à construção de um monopólio ideológico, destilando conservadorismo de manhã, de tarde e de noite. Aqui, não estou me referindo apenas à Rede Globo, ao Globo, Estadão e Folha de São Paulo. Pior do que isso talvez sejam as rádios evangélicas, as rádios AM e FM, despejando diariamente xenofobia, racismo, machismo, homofobia e tudo o que é atrasado. Paralelamente a isso, nós não construímos uma imprensa nossa. E nem estou falando de uma imprensa nossa para falar com a sociedade. Não construímos uma imprensa nossa sequer para falar conosco mesmo. Os militantes do movimento sindical e dos partidos se informam das teses de suas lideranças pela grande imprensa. Nem criamos uma imprensa de massa, nem criamos uma imprensa própria.”

“Nos anos 1950 e 1960, nós tínhamos O Semanário, que circulava no Brasil inteiro defendendo as teses do Petróleo é Nosso e da Petrobras, tínhamos Novos Rumos, do Partido Comunista, a imprensa sindical e circulava também a Última Hora. Havia, então, um esforço para garantir um mínimo de debate. Isso tudo desapareceu e nada foi colocado no seu lugar. Com a chegada de Lula ao governo, os principais quadros do PT foram transferidos da burocracia partidária para a burocracia estatal e o partido acabou se esfacelando. Os principais quadros do movimento sindical também foram transferidos para os gabinetes da Esplanada”.

“A grande dificuldade que temos hoje para promover a defesa do governo Dilma é que perdemos o diálogo com a massa. Eu conversava dias atrás com uma ex-presidente da UNE e ela me dizia: ‘Professor, como é que eu posso entrar em sala e chamar os estudantes para uma passeata quando o governo está reduzindo as verbas para as bolsas de estudo’. Há um paradoxo entre a nossa política e a nossa base social. A Dilma não foi eleita pela base com a qual está governando. Ela atende os interesses dessa base com a qual está governando e não tem o apoio dela. Por outro lado, ela contraria os interesses da base progressista, a qual nós temos dificuldade de mobilizar para defendê-la. Esse paradoxo precisa ser enfrentado.”

“Não devemos nos iludir com os compromissos democráticos da direita”

“Ninguém deve se iludir com os compromissos democráticos e legalistas da direita brasileira. É uma direita que sempre apelou para o golpe e para o desvio democrático. Está aí a história dos anos 1950 e 1960 repleta de exemplos disso. Ela não tem compromisso com a democracia. Seu único compromisso é com seus interesses de classe. E, lamentavelmente, parece que a burguesia no Brasil tem mais consciência de classe do que muitos setores proletários.”

“Há um segundo paradoxo, que é difícil explicar a não ser que você use aparelhos ideológicos. Nós já sofremos, de fato, dois golpes nos últimos meses. A direita perdeu as eleições, mas ganhou a política. Esta política econômica que está sendo aplicada é a política da direita. O segundo golpe foi a implantação de uma nova forma de parlamentarismo, que vive de subtrair poderes do Executivo. E há ainda um terceiro golpe em curso que consiste em refazer a Constituição sem ter poder originário para tanto, retirando da Carta de 1988 conquistas que levamos décadas para aprovar e consolidar”.

Sobre a construção de uma frente ampla, popular e democrática

“Diante deste cenário, precisamos articular a formação de uma frente ampla, de uma frente popular que reúna os setores progressistas e democráticos do país. Eu não estou falando de uma frente de esquerda, pois com isso estaríamos nos encerrando em um casulo, voltando a ser ostra. Precisamos retomar um discurso para a classe média, que perdemos em função dos desvios éticos do PT. Nós não estamos pagando o preço de erros de governo, mas sim dos desvios éticos. Precisamos retomar um discurso que fale para os trabalhadores, para os setores médios, para as forças progressistas, que não são necessariamente de esquerda, falar com a empresa nacional que, neste momento, está sendo destruída neste País. Há uma tentativa de acabar com as principais empresas brasileiras, detentoras de know how, não por uma questão moral, mas para colocar no lugar delas empresas espanholas, chinesas e americanas.”

“Não estou pensando a constituição desta frente com objetivos imediatos e de caráter eleitoral, mas sim na perspectiva da reconstituição das forças progressistas. O ponto de partida para essas forças é construir uma barragem para conter o avanço do pensamento e da ação da direita. Para isso, precisamos voltar às ruas e voltar a debater com a população. Na minha opinião, o modelo no qual devemos nos inspirar não é o da Frente Ampla uruguaia. Esta tem algo que nós temos, partidos. É uma frente de partidos. Nós temos que construir uma frente de movimentos, da sociedade, preparada para receber os partidos e oferecer a eles um novo discurso, uma nova alternativa. Mas não trabalho com a ideia de um modelo pronto e acabado. O que vai decidir isso, como sempre, é o processo histórico”.

A ameaça do impeachment

“Irrita-me o fato de nossas forças estarem acuadas por fantasmas. O nosso governo está acuado, enquanto ele tem o que dizer. Em face disso, como não há espaço vazio, a direita vem avançando e preparando ideologicamente a ideia do impeachment. Precisamos por isso a nu e exigir que a direita assuma publicamente se é golpista ou não. O senhor Fernando Henrique Cardoso tem que ser chamado às favas. O PSB e o PMDB têm que ser questionados a assumir se são golpistas ou não. Creio que a melhor forma de enfrentar a ameaça do impeachment, seja ela pequena ou grande, é dizer que ela existe. Dizer que ela não existe é perigoso. E o objetivo principal nem é mais a Dilma, é o Lula. Querem liquidar o Lula e o PT. Não se iludam. Se isso acontecer, não atingirá só o PT, mas toda a esquerda brasileira. Temos responsabilidades distintas pelo que está acontecendo, mas estamos todos no mesmo barco”.

* Roberto Amaral é escritor, cientista politico, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula e fundador do PSB.

Imagem

Foto de Carlos Pereira Primo.

Venício Lima: ‘Boa parte da mídia abdicou de fazer jornalismo para fazer oposição política’

Venício Lima: ‘Boa parte da mídia abdicou de fazer jornalismo para fazer oposição política’

Publicado em 31 de agosto de 2015 | 0 comentários
venicio
[Por Brasil de Fato – 30/08/2015]
Brasil de Fato – Temos visto uma cobertura cada vez mais parecida, especialmente da política, nos veículos da mídia hegemônica. Apesar de pequenas diferenças de linha editorial, parece haver uma homogeneização no tratamento de alguns temas, como na questão da crise e da operação Lava Jato. Como você avalia esse comportamento?
Venício Lima – Na verdade, não acho que constitui uma novidade. Há muitos anos, em livro que publiquei com o Kucinski [“Diálogos da perplexidade: reflexões críticas sobre a mídia”], comentamos essa questão da posição homogênea da grande mídia. É a ideia de que a grande mídia funciona como se tivesse um supraeditor, como se as principais notícias, a pauta, a narrativa, fossem cotidianamente editados por um super editor, que dá a elas o mesmo enquadramento. Isso é tão verdadeiro que às vezes as mesmas palavras aparecem reiteradamente, para os mesmos assuntos, para a mesma pauta, em diferentes veículos. Isso não é uma novidade, e expressa apenas o fato sabido e conhecido de que os oligopólios privados de mídia no Brasil têm interesses comuns e defendem basicamente as mesmas propostas e são contra as mesmas propostas, projetos e políticas.
A que você atribui essa recente inflexão em alguns veículos, como a Folha e o Globo, na questão do golpe ou impecheament contra a presidenta?
É uma questão delicada. Os grandes oligopólios no Brasil têm, sobretudo o grupo Globo, historicamente conseguido se adaptar às conjunturas e preservar seu interesse. E, correspondente a isso, o Estado brasileiro também historicamente não tem sido capaz de fazer prevalecer a natureza de serviço público, sobretudo na radiodifusão. Um observador como eu, sem acesso a fontes privilegiadas, sem vínculos com partidos ou nada do tipo, me valho da minha experiência e dos dados públicos. O que se sabe agora é que houve uma reunião do secretário de comunicação da presidência com os controladores do grupo Globo e, por ocasião de uma homenagem à Globo no Senado, uma reunião com executivo do grupo e nove senadores do PT. Depois desses encontros, de fato observa-se uma inflexão na cobertura política e um posicionamento diferente com relação ao impeachment da presidente. O que não se sabe é se houve – e muito provavelmente houve – algum tipo de entendimento, de acordo. Como foi feito no passado, com outros governos, em outras situações. O Estado brasileiro e qualquer grupo que temporariamente controlam sua máquina têm sido incapazes de fazer prevalecer políticas de interesse público e negociam com esses meios, que se tornam cada vez mais poderosos e mais capazes de fazer valer seus interesses. Depois saberemos melhor do que se trata. Vi especulações em relação à atribuição das frequências, utilização do chamado 4G, questões tecnológicas que o Estado tem poder, disputa entre os velhos grupos e operadoras… teremos que ver se se confirma a inflexão e saberemos o que foi negociado. Mas certamente alguma coisa foi negociada.
Na sua avaliação, por que os governos do PT não avançaram na questão da regulação do mercado de comunicação?
Essa pergunta tem que ser feita aos governos do PT. Eu não consigo compreender. Houve momentos em que se acreditava que os governos petistas iam pelo menos propor uma atualização da legislação, a regulação dos artigos que estão na Constituição, que fossem encaminhar projetos ao Congresso. Isso ocorreu em diversos países da América Latina em que projetos democráticos chegaram ao poder, mas nada disso aconteceu no Brasil. Tenho dito que esses governos caíram numa armadilha de acreditar que seria possível que os oligopólios de mídia apoiassem um projeto político, com repercussão na economia, que beneficiasse as classes populares, que promovesse a inclusão. Há informações seguras que durante muito tempo figuras importantes nos governos petistas acreditavam que era possível trazer o apoio desses oligopólios para a execução dessas políticas. Assim, a negociação com eles, as verbas publicitárias, empréstimos etc, deveriam ser a prioridade da política de comunicação do governo. Em detrimento da construção de um sistema público de comunicação, como, aliás, manda a Constituição. Ao cair nessa armadilha, perderam-se as oportunidades históricas de se fazer o que era necessário fazer e que não foi feito.
A partir da pressão da sociedade e também dada a virulência desses meios hegemônicos contra o governo do PT, você acredita que há possibilidade de avanço na regulação neste segundo mandato da Dilma?
De novo, quem tem que responder são os agentes públicos do governo, ou a própria presidente. Posso dar uma reposta de observador que tem décadas que acompanha essas questões. Sou pessimista. Não vejo no momento atual de crise política e de diluição completa da sustentação parlamentar do governo possibilidades de avanço. As condições são adversas para que se implemente algo nessa área. É interessante observar que o discurso de regulação econômica da mídia, que fez parte da campanha eleitoral, que foi vocalizado diversas vezes pelo ministro das comunicações, desapareceu. Não se fala mais nisso. Além disso, até mesmo medidas que poderiam e podem ser tomadas por diferentes setores do governo, que independem de aprovação parlamentar, não têm sido tomadas. Como, por exemplo, a revisão de critérios das verbas oficias de publicidade e a fiscalização de arrendamento de emissoras. Coisas que fazem parte do papel do Ministério das Comunicações, em alguns casos, ou podem ser de decisão política da presidência, medidas que poderiam ser tomadas independentes de aprovação do parlamento, que é sabida e declaradamente de oposição ao governo.
Você escreveu que não temos no país uma “narrativa pública alternativa”. Na sua avaliação, como os veículos comunitários, sindicais e populares poderiam avançar para pautar a pluralidade de vozes e visões de mundo?
Tem uma questão histórica, na mídia alternativa brasileira, incluindo as TVs e rádios comunitárias, a mídia sindical, o sistema público de um modo geral, que é a dificuldade de unificar sua narrativa. Há avanços, mas são ainda muito tímidos em relação ao que seria necessário. Eu considero absolutamente crítica a necessidade de apoio do governo ao sistema público de comunicação. A Empresa Brasil de Comunicação, EBC, tem, a duras penas, tentado produzir uma alternativa de qualidade à mídia comercial. Mas é muito difícil, porque a forma como a EBC está regulamentada depende de recursos não só do governo, mas de contribuição à radiodifusão pública, que inclusive vem sendo questionado na Justiça. É uma situação financeira difícil. E mesmo a empresa conseguindo, em seus diferentes veículos, produzir programas de boa qualidade, é difícil quebrar a inércia da audiência, que há décadas é dominada pela mídia comercial. A mídia pública não consegue ser divulgada fora dela própria e fica reduzida à sua pequena audiência. Acho que esta é das possibilidades que devem ser apoiadas. Inclusive uma coisa que esquecemos é que as pessoas que acreditam na necessidade de uma mídia alternativa à comercial devem apoiar a TV pública assistindo sua televisão e ouvindo suas emissoras de rádio.
Ao mesmo tempo em que assistimos ao fortalecimento da mídia comercial, aumenta o número de demissões e se discute o futuro do jornalismo. O que se desenha para o cenário da comunicação hoje?
Essa não é uma peculiaridade brasileira. É algo que está acontecendo na sociedade contemporânea e decorre de uma transição tecnológica, cujos resultados não sabemos ainda. Há uma nova geração surgindo que não terá os mesmos hábitos de consumo de mídia e isso já está claro, sobretudo no Brasil. E isso tem implicação para modelos de negócio. Mas sou daqueles que não compartilho o entusiasmo, muitas vezes acrítico, com relação ao acesso à informação que as novas tecnologias possibilitam. Os dados que temos no Brasil e no mundo confirmam que, apesar da transição e das mudanças de plataforma tecnológica, os grandes produtores de conteúdo continuam os velhos grupos da mídia tradicional. Pesquisas confirmam e isso é visto junto a segmentos que acessam a internet, blogs e sites: os mais citados são da velha mídia. Esse quadro se repete nas redes sociais, às quais 90% das pessoas que acessam a internet estão vinculadas. Importante destacar que essas redes não são produtoras de conteúdo, elas distribuem conteúdo e facilitam a interação. E o conteúdo distribuído vem em grande medida dessa velha mídia.
Do ponto de vista da força de trabalho, tenho defendido há anos que as novas tecnologias não implicam na desqualificação da mão de obra. Ao contrário, ela tem ter que ser mais qualificada para sobreviver no mercado de distribuição de conteúdo. Essa geração, embora embevecida com as redes, vai precisar de informação de qualidade. Eu não posso ser exemplo, já tenho meus 70 anos, mas sou seletivo no dinheiro que gasto para receber informação. Boa parte da mídia brasileira não me interessa porque abdicou de fazer jornalismo para fazer oposição política. Quero informação para compreender o mundo e me ajudar a tomar posições. Não quero generalizar minha posição, mas me parece que será preciso uma qualificação da força de trabalho para produzir informação de qualidade. Isso já está ficando claro em alguns países do mundo. Mas ninguém tem bola de cristal. Estamos claramente vivendo um momento de transição, que não é só no Brasil.
Como você vê iniciativas como o jornal Brasil de Fato, que chega aos dois anos em Minas Gerais?
Absolutamente fundamentais. Eu como indivíduo estou numa tentativa de lançamento de um jornal popular aqui em Brasília, como forma de furar o bloqueio da mídia comercial. É muito importante não esperar que a grande mídia venha a ser aliada para projetos que beneficiem classes subalternas, nem aqui, nem em lugar nenhum. O Brasil é exceção na América Latina porque não conseguiu ter, nem na mídia impressa, nem eletrônica, uma alternativa à mídia comercial. Outros países têm essa construção, como Argentina, México, Bolívia. Acho fundamental, apoio como posso e cumprimento grupos que conseguem, com todas as dificuldades, produzir de alguma forma uma imprensa alternativa.

Imagem

O impeachment e o Cinismo Tucano


 
O impeachment e o Cinismo Tucano
Sebastião Costa*
 
Image en ligne
As pedaladas fiscais nasceram e foram batizadas na pia da incompetência tucana.
Durante o reinado do príncipe, três crisezinhas regionais(México, Asiática, Russa) e o país em todas elas bateu às portas do FMI de cuia na mão.
 A missão do Fundo (mandava mais que o Ministro da Fazenda) durante o governo do sociólogo, já de saco cheio de tanta meta descumprida, meteu goela adentro a lei de Responsabilidade Fiscal. As famosas pedaladas vêm a ser um 'drible de corpo' nessa lei. O próprio FHC implantou a Lei e ele mesmo inaugurou essas pedaladas em 2001. Lula entrou no embalo e Dilma, que não é de ferro, pedalou também. Vale referir que os 'dribles de corpo' petistas ajudaram a marcar dois golaços: o Bolsa-família e o Minha Casa Minha Vida.
 Não existe um único peessedebista dentro do congresso mais útil ao projeto golpista tucano do que o peemedebista Eduardo Cunha.
Ocorre, que o homem além de 22 processos rolando no STF, foi denunciado pelo Ministério Público com US$ 5 milhões de propina, lavou dinheiro até na igreja e pode ser condenado a 180 anos de reclusão. Mesmo assim, o ex-presidente FHC, que pediu a renúncia da presidenta pelas 'pedaladas fiscais' não abriuo bico  nem pra censurar o evangélico. Aliás, todos os peessedebistas que andaram esbravejando no Congresso e nas ruas pedindo o impeachment de Dilma se recolheram num silêncio constrangedor.
Destaque para o superstar midiático Aécio Neves falando em respeito à Constituição para justificar a derrubada de Dilma. Mas cara-pálida, o seu partido além de praticar as ‘pedaladas fiscais'massacrou   a nossa pobre  carta magna comprando votos de 130 parlamentares   com o 'nobre' objetivo de garantir a reeleição do sociólogo.
 Na imprensa alternativa fala-se com insistência nos três mosqueteiros - o peemedebista Eduardo '5 mi' Cunha e os tucanos Aécio  'Aeroportos' Neves, Gilmar 'Dantas' Mendes - a comandarem todo o processo de incentivo à derrubada de Dilma.
 O peemedebista anda esperneando, mas todas as bússolas apontam para sua cassação. Aécio foi citado pelo doleiro Youssef e carrega nas costas a denúncia de comparecer à Lista de Furnas com 5 milhões e meio de reais.
Image en ligne Já o ministro, apesar de ter no currículo a propina de R$ 180.000 do mensalão mineiro (matéria da Carta Capital ) e de ter libertado corruptos e estupradores, não perde a pose,  nem a cara-de-pau. No portal UOL, ele pede que "a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal investiguem indícios de que recursos desviados da Petrobras ajudaram a financiar a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição".
Ora, o próprio TSE que ele integra, aprovou em 2014 as contas da presidenta por unanimidade. Sem falar que a campanha de Aécio foi alimentada com os recursos da mesma fonte.
 A Confederação Nacional da Indústria (CNI), e a Confederação Nacional do Transporte (CNT), (em conjunto com a OAB e CNS) divulgaram recentemente documento solicitando respeito à Constituição. Do presidente do Itaú-Unibanco Roberto Setúbal em entrevista na Folha: "Pelo que vi até agora, não tem cabimento". O banqueiro se referia ao impeachment e afirmava que não existem motivos para tirar a presidenta.
 Um simples olhar no currículo dos mosqueteiros, na leviandade dos argumentos e nas manifestações dos habitantes da Casa-Grande, vai-se concluir queo sonho tucano de  subir a rampa do planalto pela escada golpista vai se dissipando no nevoeiro da incoerência e do cinismo.
* Médico
Fonte: Contraponto

A bancarrota da República imperial americana

A bancarrota da República imperial americana
 
Sérgio Barroso
 
Image en ligne  “Repúblicas muitas vezes acabam por ruir de repente sob seu o próprio peso; outras são arruinadas pela violência dos inimigos no momento em que se julgam mais seguras; outras envelhecem lentamente e acabam por sucumbir às suas próprias doenças internas” (Jean Bodin, “Os seis Livros da República, Livro Quarto”). [1]
 
No final de 2014, Cristine Lagarde, diretora-gerente do FMI afirmou estarmos vivenciando “uma nova mediocridade”. Ora, diante desse vaticínio súbito saindo da boca de “oficiais” graduados do grande capital financeiro e da especulação implacável, só idiotas ou farsantes ainda acreditam que a economia dos EUA não está condenada – à prisão perpétua, digamos. Fenômeno real que em grande medida reflete as grandes transformações estruturais geoeconômicas e geopolíticas confrontando neoliberalismo versus a ascensão vertiginosa da China socialista e sua nucleação de um novo polo contra-hegemônico de desenvolvimento.
 
Ultimamente à vista, a decadência do imperialismo norte-americano não só é factual e multifacética, ademais aparenta expressar o declínio de uma civilização inserida no modo de produção capitalista e suas sociedades burguesas; particularmente das componentes do estágio imperialista. Nestas, são inúmeros seus impasses e crises frequentes, estruturais. Por óbvio, não há fatalismo histórico, mas são mais que evidentes as tendências plasmadas na posição dos EUA no sistema de relações internacionais, assentadas num declínio econômico cada vez mais acentuado.
 
Operação da plutocracia neoliberal
 
Evidente que nada de “natural” guiou as mudanças do regime econômico pós Bretton-Wodds. Para isso era decisivo despejar a crise da hegemonia norte-americana, dos anos 1970-80, nas costas dos trabalhadores, para ascensão neoliberal. Como desvelam exaustivamente as pesquisas de Charles Ferguson, [2] o alcance da operação neoliberal nos EUA, no sentido de legitimar a desregulamentação geral da economia. Na argamassa ideológica, forjaram justificativas para convencer incautos de seu país e no mundo inteiro que a “globalização” dava a todos, acesso a uma nova era de progresso. Para tal, penetraram em todas as esferas da sociedade.
 
Nessa sistemática trama - a articulação para elevar aos píncaros o status de poder da grande finança capitalista -, o establishment americano transformou num negócio multibilionário, inclusive, a “venda de conhecimento acadêmico” para influenciar políticas governamentais, os tribunais e a opinião pública. Consultorias jurídicas, regulatórias e políticas em economia, finanças e regulamentação passaram a constituir condomínios de meia dúzia de grandes firmas monopolizadas, a montar escritórios específicos para palestras e conferências, assim como grupos de lobbys que (agora mesmo) financiam e sustentam “redes de acadêmicos de aluguel” concentrados especificamente em defender os interesses do grande capital em debates sobre políticas de regulamentação.
 
Como argumenta longamente Ferguson, esses escritórios de “palestrantes” revelaram-se importantes canais de lavagem e disfarce de pagamentos a intelectuais lobbystas e defensores contumazes dessas políticas. Economistas e professores renomados dos EUA como Glenn Hubbard, Larry Summers (ex-economista chefe do Banco Mundial, ex-subsecretário de Tesouro de assuntos internacionais, ex-vice-secretário do Tesouro e secretário do Tesouro de Bill Clinton), FredericMishkin, Richards Portes, Laura D’Andrea Tyson, Martin Feldstein, Hall Scott, John Campbell etc., escreveram textos, livros sobre regulamentação e desregulamentação financeira, ganhando “fortunas de Wall Street defendendo seus interesses no Congresso, em litígios regulatórios, nos tribunais e na imprensa”(p. 263).
 
De outra parte, para o mesmo P. C. Roberts, a mídia hegemônica estadunidense ajuda o governo e os interesses capitalistas e privados que lucram influenciando fortemente o mesmo governo, exercendo o “controle da lavagem cerebral do público”. Assim, invadir o Afeganistão porque uma facção ali está a proteger Osama bin Laden, a quem os EUA acusam sem qualquer prova do ataque de 11 de Setembro; invadir o Iraque porque Saddam certamente tem armas de destruição em massa “apesar dos relatórios em contrário dos inspetores de armas”; derrubar Muamar Kadafi por causa de uma interminável “lista de mentiras”; derrubar Hafez Assad porque ele utilizou armas químicas, embora haja “toda a evidência em contrário”; porque a Rússia é responsável por problemas na Ucrânia, não porque os EUA derrubaram o governo democrático eleito mas porque a Rússia aceitou uma votação de 97,6% dos habitantes da Crimeia para se reunirem à Rússia, etc.[ver em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/25/freedom-america-europe-pcr/]
 
Uma decomposição essencial
 
Desde os anos 1990, estudos inovadores como os de CristopherLasch, de Richard Sennett, ou de Barbara Eirenrach, estão a capturar com rigor a rápida deterioração social que a infusão liberal promoveu nos EUA. Mais recentemente, várias pesquisas de Neill Ferguson observam uma história de “longa duração” da involução da sociedade norte-americana.
 
Lasch, em seu profícuo ensaio já identificara ali o declínio da manufatura e a perda de postos de trabalho do setor, a diminuição da classe média, o incremento do número de pobres, o crescente índice de criminalidade, o florescimento do tráfico de drogas, a decadência das cidades americanas, como sendo também expressão do caráter irreal, artificial que passou a isolar os interesses das elites da vida do povo, mas portadores de uma “secreta convicção de que os verdadeiros problemas são insolúveis”. E a “oportunidade da terra prometida” foi transformada na erosão do “ideal democrático”, onde a mobilidade de capital e a emergência do mercado mundial produziram, elites que não mais pleiteiam a “igualdade de situação, e agora o sim ao “ascenso seletivo dos que não pertencem as elites da classe profissional e executiva”. [3]
 
Sennett, [4] ao examinar a inflexão da “ética do trabalho” nos EUA como uma espécie de deformação das expectativas do trabalho (protestante) árduo e implacável, mas de todo modo voltado para o futuro, conclui que as alterações perpetradas pelo “trabalho flexível” e “em equipe”, estimula o correr riscos, e trata a dependência como motivo de vergonha. No moderno capitalismo americano não existe mais carreira, mas apenas projetos, de duração limitada; agora estou numa equipe e amanhã posso estar em outra, ou mesmo trabalhando como consultor autônomo. Este regime “que não oferece aos seres humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar a sua legitimidade por muito tempo” – parece ter advinhadoSennett (p. 176).
 
Antes, Sennettt citara o banqueiro de investimento e diplomata Felix Rohaty, sobre a ocorrência insofismável da enorme mudança na sociedade americana (neoliberal): “uma imensa transferência de riqueza dos trabalhadores americanos de qualificação inferior, classe média, para os donos dos bens de capital e uma nova tecnocracia tecnológica” (p. 105).
 
Talvez por isso mesmo o conservador Niall Ferguson tenha intitulado um seu estudo sugestivamente de “A grande degeneração. A decadência do mundo ocidental” (Planeta, 2013). Observando a evolução da crise que se originara nos EUA, sentencia: “A dívida pública – declarada e implícita – tornou-se uma forma de a geração mais velha viver à custa dos jovens e dos que ainda estão por nascer”, o que tornou disfuncional a ponto de aumentar a fragilidade do sistema”. Ademais, “é remota” – diz ele - a perspectiva de que um avanço tecnológico comparável às “ferrovias poderia tirar os Estados Unidos da situação em que se encontra”. Taxativamente, para Ferguson a chamada “Grande recessão é meramente um sintoma de uma – mais profunda – Grande Degeneração”.
 
Retratos da decadência
 
Em 2005 Eric Hobsbawm chamava a atenção para um fenômeno característico da “globalização”: o mercado livre trouxera consigo um aumento espetacular e potencialmente explosivo das desigualdades sociais e econômicas, dentro e internacionalmente entre os países. Ao tempo em que alertara para a ideia de um império ser a própria ideia de ordem: um “mito histórico”; uma “conversa mole”, asseverou. [5]
 
Aliás, uma resposta direta às expressões “mito histórico e “conversa mole” são dadas sem arrodeios por P.Craig Roberts: “Guerra, guerra, guerra, é tudo o que Washington quer. Ela enriquece o complexo militar e de segurança, o maior componente do PNB dos EUA e o maior contribuinte, juntamente com a Wall Street e o lobby de Israel, para campanhas políticas estadunidenses” (Ver em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/25/freedom-america-europe-pcr/print/).
 
Em maio deste 2015 o Fed (Banco Central dos EUA) divulgou que nas razões do marasmo econômico do país está a criação de um grande volume de empregos com baixos salários, característicos do comércio e dos serviços, os setores de maior crescimento. Segundo o economista Carlos Drummond (“Trancos e barrancos”, Carta Capital, maio/2015, nº849), a) no início da crise, em 2008, as ocupações com salários médios representavam 60% do total e cinco anos depois, somente 22%; b) o total de empregos com salários baixos passou, porém, de 21% para 58% no mesmo período; c) a parcela com salários altos manteve-se estável.
 
É que nos últimos anos – prossegue Drummond -, a baixa remuneração generalizou-se nos Estados Unidos. Cerca de 45 milhões de cidadãos, ou 14,5% da população, vivem abaixo da linha de pobreza, mostrou um relatório do Census Bureau em 2014. Antes da crise, em 2006, essa parcela somava 12,3%; no extremo oposto, os ganhos do segmento com renda proveniente de investimentos no mercado ou de patrimônios imobiliários são os maiores dos últimos 60 anos, segundo o economista Gary Burtless, da BrookingsInstitution. “É realmente um fenômeno quando advogados, financistas, estrelas dos esportes e do entretenimento aumentam mais e mais a distância em relação àqueles condenados a apenas sobreviver”, constata Burtless.
 
Piketty e expansão das desigualdades
 
De acordo com o economista francês Thomas Piketty, há mais de duas décadas a desigualdade vem crescendo rapidamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, especialmente – mas não só e se generaliza. No caso americano o processo começou – diz - com a liberalização econômica, noutras palavras com o sequestro fiscal para os ricos, milionários e bilionários a partir as reduções da progressividade dos impostos.
 
Nos Estados Unidos, cuja a alíquota máxima de imposto de renda alcançava acima de 90% (1944-1964), isto é, numa fase de desenvolvimento capitalista onde a desigualdade era baixa e o crescimento econômico, alto –, impuseram as elites burguesas às legislações alíquotas máximas para cerca de 40%. Do mesmo modo, deliberadamente, as políticas tributárias dos EUA passaram a baixar drasticamente os impostos sobre heranças e os tributos sobre patrimônio. Como compara Piketty – coautor do livro Pour une RévolutionFiscale -, em países que as mudanças não foram tão profundas, a desigualdade não evoluiu tão fulminantemente.
 
Num retrospecto, Piketty informa que “a fatia da renda apropriada pelos 10% mais ricos nos EUA em 2012 é igual a 50,4%, a mais elevada desde 1917, quando a série começa”. A concentração é maior na comparação entre os 99% na base e o 1% no topo da pirâmide, que fica com 22,5% — denúncia inclusive do movimento Ocupem Wall Street em seus protestos. De fato, de 1993 a 2012, a renda média real dos 99% cresceu 0,34% anual, enquanto a do 1% subiu 3,3% ao ano, dez vezes mais. Com isso, se apropriou de dois terços da riqueza gerada. [6]
 
O economista Guy Standing [7] é autor do mais conhecido livro sobre o tema do crescimento do trabalho precário. Em The Precariat: The new dangerousclass (2011), ele defende que as mudanças na economia mundial estão criando uma nova estrutura de classes, substituta da anterior fundeada pela burguesia e pelo proletariado. A nova estrutura, diz Standing, é composta de vários grupos: no topo encontra-se uma plutocracia internacional, a usar seu poder econômico para influenciar e moldar o poder político. Abaixo dela vicejam elites nacionais e compõe com a primeira uma classe hegemônica. Logo abaixo, vem o grupo assalariado, com rendimentos elevados e segurança no emprego; seus membros ocupariam o topo da pirâmide das grandes empresas e nichos privilegiados da máquina do Estado.
 
Compara ele esse grupo de assalariados a uma “confraria pressionada”, que perde integrantes para os grupos logo abaixo, frequentemente por causa de processos de terceirização. Parte desse contingente é constituída por consultores e pequenos empresários, que sonham em pertencer à elite. O precariado está abaixo do proletariado e constitui, segundo Standing, uma “classe em construção”. Seu trabalho é caracterizado “pela flexibilidade e incerteza”.
 
A manipulação oficial do desemprego nos EUA
 
Segundo relatório da OCDE de setembro de 2014 (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) a situação do desemprego crônico nos principais países capitalistas persistia dramática e em evolução. Para a organização, apesar de ter havido naqueles países um certo retrocesso do desemprego global, “o desemprego de longo prazo continua aumentando”. Ali, no primeiro trimestre, 16,3 milhões de pessoas estavam, desempregadas há mais de um ano, quase o dobro que em 2007, antes do início da crise financeira. Ocorre que, nos Estados Unidos esse percentual de desemprego de longa duração passou dos 10% em 2007 a 25,9% (!) em 2013. [8]
 
Mas, não é só. Para o estatístico e economista John Williams, o quadro do desemprego oficial nos EUA é francamente manipulado. Em julho passado, para o pesquisador e sua metodologia distinta da do governo, o desprego no país teria alcançado 23% da PEA (População Economicamente Ativa). No gráfico abaixo vê-se uma comparação (oposta) entre o descenso do desemprego na curva governamental e ao ascenso no levantamento de Williams. Sendo que, mesmo um apanhado geral médio (curva cinza) ainda indicaria taxas substancialmente maiores que a oficial, não obstante a curva registrar um declínio em maiores patamares.
 
The ShadowStats Alternate Unemployment Rate for July 2015 is 23.0%. [ver em: http://www.shadowstats.com/]
 
Num outro enfoque questionador dos números oficiais americanos do desemprego, o economista e marxista indiano PrabhatPatnaik, em esclarecedor exercício relata que pouco antes da crise a taxa de desemprego nos EUA era cerca de 5% e a razão entre emprego-população era de 63,3% (razão força de trabalho-população de 66,6%); supondo esses números, esta a razão emprego-população em julho de 2015 situava-se nos 59,2%; isto é, com a mesma razão, a força de trabalho-população que existia pouco antes da crise, isto significaria uma taxa de desemprego de 11%! “O fato de ao invés de uma taxa de desemprego de 11% termos uma de apenas 5,3% nos EUA, é porque um certo número de trabalhadores simplesmente abandonou a força de trabalho, por causa das perspectivas negras de obtenção de emprego”. Tudo isso apesar do fato de que o Federal Reserve dos EUA tem mantido suas taxas de juro básicas próximas do nível zero desde a cerca de sete anos. [9]
 
Bem-vindo ao Inferno liberal
 
“O nível de corrupção e manipulação que caracteriza a economia dos Estados Unidos e sua política externa atualmente eram impossíveis em outros tempos (...) A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta (Paul C. Roberts, janeiro 2015). [10]
 
Em matéria do ícone e porta-voz da liberalização financeira nos EUA, o W.S.Journal (“Cresce o consumo e as mortes por consumo de heroína nos EUA”, 05/02/2014), lê-se que, exatamente nos anos que seguiram à grande crise originária naquele país, o número de usuários de heroína nos EUA saltou quase 80%, entre 2007 e 2012, para estimados 669.000 (Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, a Samhsa, uma repartição do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA). E o número anual de mortes por overdose atribuídas à heroína chegou a 3.094 em 2010 (ano mais recente para o qual há dados disponíveis), um aumento de 55% em relação a 2000 (Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA).
Noutro ângulo, e citando estatísticas do FBI, o relatório chinês salienta que em 2013, registaram-se nos Estados Unidos mais de um milhão de crimes violentos (exatamente 1.163.146), entre os quais 14.196 homicídios, 79.770 violações e 345.031 assaltos. “Os Estados Unidos fazem comentários acerca dos direitos humanos em muitos países, mas não mostram o mínimo de remorso ou a intenção de melhorar a sua própria situação neste domínio, que é terrível”, acusa o governo chinês.
 
A China acusa novamente os Estados Unidos, e em particular a Central IntelligenceAgency (CIA), de “usarem indiscriminadamente torturas cruéis”. Segundo o governo da China, “os Estados Unidos são um país com graves problemas de discriminação racial e contínuas discriminações institucionais contra as minorias étnicas”.
 
“Milhões de crianças norte-americanas não têm casa" e “três crianças morrem em média por dia devido a abusos”, conclui o relatório chinês. [11]
 
Notas
[1] Ícone Editora, 2012, p. 12.
[2] Ver: “O sequestro da América. Como as corporações financeiras corromperam dos Estados Unidos”, C. Ferguson, Zahar, 2013.
 
[3] Ver: “La rebelión das elites e a traição da democracia”, C. Lasch, Paidós, 1996, pp. 13-15.
[4] “A corrosão do caráter. Consequências pessoais no trabalho no novo capitalismo”, Record, 1999, pp.
[5] “Porque a hegemonia dos Estados Unidos defere da do império britânico”, in “Globalização, democracia e terrorismo”, Companhia das letras, 2007, pp. 4-60.
[7] Ver, do articulista Thomaz Wood: “Os super-ricos e o resto”, em: Carta Capital, 10/05/2015.
[9] Ver: “A recessão mundial destina-se ao agravamento”, P. Patnaik, em: http://peoplesdemocracy.in/2015/0809_pd/world-recession-set-worsen
[11] Original em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/16/ruin-future-paul-craig-roberts/, InstituteofPoliticaleconomy, 16/01/2015. P. Craig Roberts, economista, foi secretário- assistente do Tesouro do governo Reagan.
 
*Médico e economista, membro do Comitê Central do PCdoB.
 

Imagem

Imagem

CONVITE

O dia em que um senhor de 80 anos reacendeu uma chama na esquerda

O dia em que um senhor de 80 anos reacendeu uma chama na esquerda

 
Lia Bianchini
 
 
As nuvens cinza que se aglomeravam no céu carioca previam a vinda de uma chuva das fortes, na tarde desta quinta (27). Apesar disso, desde as 14h, a Concha Acústica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), um local sem cobertura, começava a se encher de pessoas. Até o fim da tarde, o espaço, que comporta seis mil pessoas, já estava lotado.
 
Os desavisados poderiam apostar que todo aquele público estava ali para ver uma celebridade internacional da música ou do cinema, mas não imaginariam que o motivo era político: quem apareceria era o ex-presidente do Uruguai, José Mujica.
 
E o que nem mesmo as pessoas que estavam ali imaginavam era que, em pouco mais de uma hora, aquele senhor de 80 anos reacenderia uma chama na esquerda carioca.
 
Com jeito simples e olhar pacato, Mujica inflamava o público com suas falas, destoantes do clássico discurso político pré-moldado e decorado. Mujica falava de suas experiências de vida mais do que de práticas políticas. E falava de política, aplicada à vida.
 
O ex-guerrilheirotupamaro aplicava em seu discurso a verdadeira práxis revolucionária teorizada por Marx. “Nunca vamos ter um mundo melhor se não lutarmos para mudar a nós mesmos”, “temos que viver como pensamos, porque, se não, acabamos pensando que vivemos” dizia Mujica.
 
O público, formado majoritariamente por militantes de movimentos de esquerda, ouvia atentamente cada fala, preenchendo suas pausas com aplausos ou palavras de ordem. Ouviu-se seis mil vozes gritarem “não à redução”, “não vai ter golpe” e “se cuida imperialista, a América Latina vai ser toda socialista”.
 
Assim, em uma única noite, o ex-presidente de um país centenas de vezes menor que o Brasil conseguiu unir diversos movimentos e mostrar a força da esquerda quando unida e ciente de suas pautas. Todos ali presentes gritavam por pautas específicas e convergentes. Todos gritavam contra a redução da maioridade penal, a favor da democracia, pelo fim da guerra às drogas e, acima de tudo, por uma sociedade mais humana e menos materialista, por uma alternativa à selvageria que o capitalismo impõe.
 
A água da chuva, por fim, não veio. O que surgiu ali foi fogo. Pepe Mujica se despediu com um pedido: “eu não quero aplausos. Quero apenas manter a chama da luta acesa em todos vocês. Lutem, porque a vida é luta”.
 
Abaixo, algumas das falas de Mujica:
"O alimento para o desejo permanente de transformação da alma vem de dentro da gente".
 
"Queridos, a nossa crise é de valores e se queremos mudança precisamos mudar a cultura. Não há mudança sem que mudemos a cultura da ética e da economia".
 
"Não vale a pena viver para pagar contas. Vivam para que possam beijar e caminhar com os seus filhos".
 
“Não há homem imprescindível, há causa imprescindível. Sem a força coletiva não somos nada”.
 
“Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”.
 
“Meus queridos, ninguém é melhor do que ninguém. Tenho que agradecer a sua juventude pelas recordações de tantos e tantos estudantes que foram caindo pelos caminhos de nossa América Latina. Vocês têm que seguir levantando a bandeira. Na vida, temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem solidariedade não há civilização.”
 
"Não devemos deixar de nos ver brasileiros, mas temos de nos entender como latino-americanos".
 
“Temos que pensar como espécie não só como país. Os pobres da África não são da África, são também nossos.”
 
“Não temos que imitar a Europa ou ao Japão. Não podemos querer o desenvolvimento com dor e angústia, desenvolvimento com felicidade para todos. A generosidade é o melhor negócio para a humanidade e o pior dos negócios são os bancos.”
 
“Essa etapa da sociedade capitalista tem que ter uma cultura que permita o seu desenvolvimento. Não podemos confundir o consumo com felicidade.”
 
“Eu creio que estão em crise os valores da nossa civilização. Essa etapa do capitalismo não gera puritanos, mas gera corrupção. Não estamos numa idade de aventura, mas uma idade de sepultura.”
 
“Os únicos derrotados no mundo são os que deixam de lutar, de sonhar e de querer! Levantem suas bandeiras, mesmo quando não puderem levantar!”.
 
 
Lia Bianchini
 
 
As nuvens cinza que se aglomeravam no céu carioca previam a vinda de uma chuva das fortes, na tarde desta quinta (27). Apesar disso, desde as 14h, a Concha Acústica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), um local sem cobertura, começava a se encher de pessoas. Até o fim da tarde, o espaço, que comporta seis mil pessoas, já estava lotado.
 
Os desavisados poderiam apostar que todo aquele público estava ali para ver uma celebridade internacional da música ou do cinema, mas não imaginariam que o motivo era político: quem apareceria era o ex-presidente do Uruguai, José Mujica.
 
E o que nem mesmo as pessoas que estavam ali imaginavam era que, em pouco mais de uma hora, aquele senhor de 80 anos reacenderia uma chama na esquerda carioca.
 
Com jeito simples e olhar pacato, Mujica inflamava o público com suas falas, destoantes do clássico discurso político pré-moldado e decorado. Mujica falava de suas experiências de vida mais do que de práticas políticas. E falava de política, aplicada à vida.
 
O ex-guerrilheirotupamaro aplicava em seu discurso a verdadeira práxis revolucionária teorizada por Marx. “Nunca vamos ter um mundo melhor se não lutarmos para mudar a nós mesmos”, “temos que viver como pensamos, porque, se não, acabamos pensando que vivemos” dizia Mujica.
 
O público, formado majoritariamente por militantes de movimentos de esquerda, ouvia atentamente cada fala, preenchendo suas pausas com aplausos ou palavras de ordem. Ouviu-se seis mil vozes gritarem “não à redução”, “não vai ter golpe” e “se cuida imperialista, a América Latina vai ser toda socialista”.
 
Assim, em uma única noite, o ex-presidente de um país centenas de vezes menor que o Brasil conseguiu unir diversos movimentos e mostrar a força da esquerda quando unida e ciente de suas pautas. Todos ali presentes gritavam por pautas específicas e convergentes. Todos gritavam contra a redução da maioridade penal, a favor da democracia, pelo fim da guerra às drogas e, acima de tudo, por uma sociedade mais humana e menos materialista, por uma alternativa à selvageria que o capitalismo impõe.
 
A água da chuva, por fim, não veio. O que surgiu ali foi fogo. Pepe Mujica se despediu com um pedido: “eu não quero aplausos. Quero apenas manter a chama da luta acesa em todos vocês. Lutem, porque a vida é luta”.
 
Abaixo, algumas das falas de Mujica:
"O alimento para o desejo permanente de transformação da alma vem de dentro da gente".
 
"Queridos, a nossa crise é de valores e se queremos mudança precisamos mudar a cultura. Não há mudança sem que mudemos a cultura da ética e da economia".
 
"Não vale a pena viver para pagar contas. Vivam para que possam beijar e caminhar com os seus filhos".
 
“Não há homem imprescindível, há causa imprescindível. Sem a força coletiva não somos nada”.
 
“Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”.
 
“Meus queridos, ninguém é melhor do que ninguém. Tenho que agradecer a sua juventude pelas recordações de tantos e tantos estudantes que foram caindo pelos caminhos de nossa América Latina. Vocês têm que seguir levantando a bandeira. Na vida, temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem solidariedade não há civilização.”
 
"Não devemos deixar de nos ver brasileiros, mas temos de nos entender como latino-americanos".
 
“Temos que pensar como espécie não só como país. Os pobres da África não são da África, são também nossos.”
 
“Não temos que imitar a Europa ou ao Japão. Não podemos querer o desenvolvimento com dor e angústia, desenvolvimento com felicidade para todos. A generosidade é o melhor negócio para a humanidade e o pior dos negócios são os bancos.”
 
“Essa etapa da sociedade capitalista tem que ter uma cultura que permita o seu desenvolvimento. Não podemos confundir o consumo com felicidade.”
 
“Eu creio que estão em crise os valores da nossa civilização. Essa etapa do capitalismo não gera puritanos, mas gera corrupção. Não estamos numa idade de aventura, mas uma idade de sepultura.”
 
“Os únicos derrotados no mundo são os que deixam de lutar, de sonhar e de querer! Levantem suas bandeiras, mesmo quando não puderem levantar!”.
 

Mais de R$ 100 milhões de Furnas abasteceram campanhas de tucanos e aliados


Mais de R$ 100 milhões de Furnas abasteceram campanhas de tucanos e aliados
 
 
Image en ligne

 
Em valores corrigidos pelo IGP-M, o escândalo de corrupção conhecido como Lista de Furnas equivaleria hoje a R$ 108,2 milhões, que vazaram dos cofres públicos para o ninho tucano.
 
Todos os indícios apontam que o escândalo de Furnas foi um esquema de caixa 2 montado para financiar campanhas eleitorais do PSDB e de aliados tucanos nas eleições de 2002. Funcionava a partir de licitações superfaturadas da empresa Furnas Centrais Elétricas S.A., firmadas com empresas terceirizadas.
 
Na última terça-feira (25), a confirmação do doleiro Alberto Youssef, durante acareação na CPI da Petrobras, de que o Aécio Neves (PSDB-MG) – então candidato ao governo de Minas Gerais em 2002 – recebeu dinheiro de Furnas reforça a necessidade de o episódio ser devidamente investigado pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria Geral da República (PGR), e de seus beneficiários serem responsabilizados e punidos.
 
Em resposta ao deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) durante a acareação, Youssef confirmou que Aécio foi sim um dos beneficiários do esquema. “Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele”. O doleiro já havia apontado o tucano como recebedor da propina durante deleção premiada à Justiça.
 
Uma das provas mais contundentes do esquema é a própria Lista de Furnas, cuja autenticidade foi por muito tempo questionada pelo tucanato. Num total de cinco páginas, figuram lá os nomes de 156 políticos com os respectivos valores que teriam recebido dos desvios da companhia de geração e transmissão de energia. Além de Aécio Neves, estão na lista José Serra e Geraldo Alckmim, que também concorriam em 2002 a cargos majoritários.
 
A lista foi um dos documentos anexados à denuncia feita pela procuradora federal Andréa Bayão, que pediu em 2012 o indiciamento de 11 pessoas envolvidas no esquema. A procuradora se baseou em relatórios da Polícia Federal, que realizou perícias e concluiu não haver evidências de montagens. Na lista, consta a assinatura de Dimas Fabiano Toledo, que era diretor de Planejamento, Engenharia e Construção de Furnas. A PF evidenciou também existir “diversas convergências” entre a assinatura presente no documento e as que foram fornecidas para comparação.
 
À época da denúncia, o juiz federal Roberto Dantes de Paula declinou da competência para julgar o caso, sob o argumento de que a estatal Furnas é uma empresa de capital misto e que, por esse motivo, a denúncia deveria ser analisada pela Justiça estadual do Rio de Janeiro.
 
A partir das declarações do doleiro Youssef, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) reforça o argumento segundo o qual a Procuradoria-Geral da República precisa ser coerente na sua linha investigatória.
 
“A delação premiada não é prova, mas é indício que merece uma investigação. Portanto, as informações que o Youssef traz sobre o Aécio são do mesmo nível de consistência daquelas que serviram para que a Procuradoria Geral da República abrisse investigação sobre outros parlamentares citados. Então, é isso que nós exigimos”, argumenta o deputado.