sábado, 2 de janeiro de 2021

Mais de 40 países começaram a imunizar contra a Covid e o Brasil patina com Bolsonaro

 

Mais de 40 países começaram a imunizar contra a Covid e o Brasil patina com Bolsonaro

Kamala Harris

247 - Enquanto o Brasil, sob o comando de Jair Bolsonaro, patina no planejamento e efetivação da imunização da população, mais de 40 países já começaram a imunizar contra a Covid-19. 

O primeiro a iniciar a vacinação foi o Reino Unido, utilizando a produção da Pfizer/BioNTech, seguido de Estados Unidos, Canadá, Arábia Saudita, Israel e os 27 países da União Europeia.

De acordo com reportagem do G1, o número de vacinados está próximo de 11 milhões, sendo que a China já administrou mais de 4,5 milhões de doses, seguida pelos EUA, com 3,4 milhões.

A vacina Sputnik V, do Instituto Gamaleya da Rússia, já vacinou mais de 200 mil pessoas. A China usa doses das candidatas da Sinovac e Sinopharm (as duas são fabricadas no país).

Veja a lista de países que já começaram a vacinar a população:

Alemanha

Áustria

Bélgica

Bulgária

Chipre

Croácia

Dinamarca

Eslováquia

Eslovênia

Espanha

Estônia

Finlândia

França

Grécia

Hungria

Irlanda

Itália

Letônia

Lituânia

Luxemburgo

Malta

Polônia

Portugal

República Checa

Romênia

Suécia

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La Charte de Munich pour les oublieux

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La Charte de Munich pour les oublieux

Déclaration des devoirs et des droits des journalistes (Munich, 1971)

Comment séparer le bon grain de l’ivraie, comment distinguer le « journaliste digne de ce nom  » du pseudo-journaliste embarqué, stipendié ? Il suffit d’appliquer la grille que constitue la Charte de Munich, «  signée le 24 novembre 1971 par plusieurs syndicats européens et adoptée par la Fédération européenne des journalistes au début des années 1990 ».
Il semblerait que cette charte soit ignorée des milieux médiatiques (*) : ceci expliquant cela. Ceci expliquant le silence sur l’extradition en cours, ou plutôt sur l’enlèvement en cours... Comme si le processus d’effacement de l’existence même du journaliste Julian Assange avait commencé.

 Préambule

Le droit à l’information, à la libre expression et à la critique est une des libertés fondamentales de tout être humain.

Ce droit du public de connaître les faits et les opinions procède l’ensemble des devoirs et des droits des journalistes.

La responsabilité des journalistes vis-à-vis du public prime toute autre responsabilité, en particulier à l’égard de leurs employeurs et des pouvoirs publics.

La mission d’information comporte nécessairement des limites que les journalistes eux-mêmes s’imposent spontanément. Tel est l’objet de la déclaration des devoirs formulés ici.

Mais ces devoirs ne peuvent être effectivement respectés dans l’exercice de la profession de journaliste que si les conditions concrètes de l’indépendance et de la dignité professionnelle sont réalisées. Tel est l’objet de la déclaration des droits qui suit.

Déclaration des devoirs

Les devoirs essentiels du journaliste, dans la recherche, la rédaction et le commentaire des événements, sont :

1) Respecter la vérité, quelles qu’en puissent être les conséquences pour lui-même, et ce, en raison du droit que le public a de connaître la vérité.

2) Défendre la liberté de l’information, du commentaire et de la critique.

3) Publier seulement les informations dont l’origine est connue ou les accompagner, si c’est nécessaire, des réserves qui s’imposent ; ne pas supprimer les informations essentielles et ne pas altérer les textes et les documents.

4) Ne pas user de méthodes déloyales pour obtenir des informations, des photographies et des documents.

5) S’obliger à respecter la vie privée des personnes.

6) Rectifier toute information publiée qui se révèle inexacte.

7) Garder le secret professionnel et ne pas divulguer la source des informations obtenues confidentiellement.

8) S’interdire le plagiat, la calomnie, la diffamation, les accusations sans fondement ainsi que de recevoir un quelconque avantage en raison de la publication ou de la suppression d’une information.

9) Ne jamais confondre le métier de journaliste avec celui du publicitaire ou du propagandiste ; n’accepter aucune consigne, directe ou indirecte, des annonceurs.

10) Refuser toute pression et n’accepter de directives rédactionnelles que des responsables de la rédaction.

Tout journaliste digne de ce nom se fait un devoir d’observer strictement les principes énoncés ci-dessus ; reconnaissant le droit en vigueur dans chaque pays, le journaliste n’accepte, en matière d’honneur professionnel, que la juridiction de ses pairs, à l’exclusion de toute ingérence gouvernementale ou autre.

Déclaration des droits

1) Les journalistes revendiquent le libre accès à toutes les sources d’information et le droit d’enquêter librement sur tous les faits qui conditionnent la vie publique. Le secret des affaires publiques ou privées ne peut en ce cas être opposé au journaliste que par exception en vertu de motifs clairement exprimés.

2) Le journaliste a le droit de refuser toute subordination qui serait contraire à la ligne générale de son entreprise, telle qu’elle est déterminée par écrit dans son contrat d’engagement, de même que toute subordination qui ne serait pas clairement impliquée par cette ligne générale.

3) Le journaliste ne peut être contraint à accomplir un acte professionnel ou à exprimer une opinion qui serait contraire à sa conviction ou sa conscience.

4) L’équipe rédactionnelle doit être obligatoirement informée de toute décision importante de nature à affecter la vie de l’entreprise.

Elle doit être au moins consultée, avant décision définitive, sur toute mesure intéressant la composition de la rédaction : embauche, licenciement, mutation et promotion de journaliste.

5) En considération de sa fonction et de ses responsabilités, le journaliste a droit non seulement au bénéfice des conventions collectives, mais aussi à un contrat personnel assurant sa sécurité matérielle et morale ainsi qu’une rémunération correspondant au rôle social qui est le sien et suffisante pour garantir son indépendance économique.

(*) Sur la méconnaissance de la charte

URL de cet article 36785

A Carta de Munique para os esquecidos

 

Pesquisa


A Carta de Munique para os esquecidos

Declaração de Deveres e Direitos dos Jornalistas (Munique, 1971)

Como separar o joio do trigo, como distinguir o "  jornalista digno desse nome   " do pseudo-jornalista de bordo, pago? Basta aplicar a grade constituída pela Carta de Munique, "   assinada em 24 de novembro de 1971 por vários sindicatos europeus e adotada pela Federação Europeia de Jornalistas no início dos anos 1990  ".
Parece que esta carta é ignorada pelos círculos da mídia (*): isso explica isso. Daí o silêncio sobre a atual extradição, ou melhor, sobre o atual sequestro ... Como se o processo de apagamento da própria existência do jornalista Julian Assange tivesse começado.

 Preâmbulo

O direito à informação, à liberdade de expressão e à crítica é uma das liberdades fundamentais de todo ser humano.

Este direito do público de saber fatos e opiniões decorre de todos os deveres e direitos dos jornalistas.

A responsabilidade dos jornalistas para com o público prevalece sobre todas as outras responsabilidades, em particular para com os seus empregadores e as autoridades públicas.

A missão de apuração de fatos envolve necessariamente limites que os próprios jornalistas se impõem espontaneamente. Este é o objetivo da declaração de deveres aqui formulada.

Mas esses deveres só podem ser efetivamente respeitados no exercício da profissão jornalística se forem cumpridas as condições concretas de independência e dignidade profissional. Este é o propósito da declaração de direitos que se segue.

Declaração de deveres

Os deveres essenciais de um jornalista ao pesquisar, escrever e comentar sobre eventos são:

1) Respeitar a verdade, quaisquer que sejam as consequências para si mesma, e isso, pelo direito do público de saber a verdade.

2) Defender a liberdade de informação, comentário e crítica.

3) Publicar apenas informação cuja origem seja conhecida ou acompanhá-la, se necessário, com as devidas ressalvas; não apague informações essenciais e não altere textos e documentos.

4) Não usar métodos desleais para obter informações, fotografias e documentos.

5) Obrigar a respeitar a vida privada das pessoas.

6) Corrija qualquer informação publicada que se prove imprecisa.

7) Manter sigilo profissional e não divulgar a fonte de informações obtidas em sigilo.

8) Abster-se de plágio, calúnia, difamação, acusações infundadas, bem como receber qualquer benefício com a publicação ou supressão de informações.

9) Nunca confunda a profissão de jornalista com a de anunciante ou propagandista; não aceitar quaisquer instruções, diretas ou indiretas, dos anunciantes.

10) Recusar qualquer pressão e aceitar instruções editoriais apenas dos responsáveis ​​pela equipe editorial.

Qualquer jornalista digno desse nome faz questão de observar estritamente os princípios acima expostos; reconhecendo a legislação em vigor em cada país, o jornalista aceita, em matéria de honra profissional, apenas a jurisdição dos seus pares, com exclusão de qualquer interferência governamental ou outra.

Declaração de Direitos

1) Os jornalistas reivindicam o livre acesso a todas as fontes de informação e o direito de investigar livremente todos os fatos que condicionam a vida pública. O sigilo dos assuntos públicos ou privados só pode, neste caso, ser oposto ao jornalista excepcionalmente e por motivos claramente expressos.

2) O jornalista tem o direito de recusar qualquer subordinação que seja contrária à linha geral de sua empresa, tal como está determinada por escrito em seu contrato de trabalho, bem como qualquer subordinação que não esteja claramente implícita neste linha geral.

3) Os jornalistas não podem ser obrigados a praticar um ato profissional ou a expressar uma opinião que seja contrária à sua convicção ou consciência.

4) A equipe editorial deve ser informada de qualquer decisão importante que possa afetar a vida da empresa.

Deve ser pelo menos consultado, antes da decisão final, sobre qualquer medida que afete a composição do corpo editorial: contratação, demissão, transferência e promoção de jornalista.

5) Em consideração à sua função e responsabilidades, o jornalista tem direito não só ao benefício das convenções coletivas, mas também a um contrato pessoal que garanta a sua segurança material e moral, bem como a remuneração correspondente à função social que lhe compete e suficiente para garantir sua independência econômica.

(*) Na ignorância da carta

URL deste artigo 36785

Os destaques da noite no 247, em 01/01/2021

 

Juiz de Brasília tenta barrar acesso de Lula a mensagens de Moro e Dallagnol e desrespeita STF

Com governo federal sem iniciativa, novos prefeitos entram na corrida pela vacina contra Covid-19

Bolsonaro limita gastos para a vacina, mas preserva projetos de militares em orçamento

Na última maldade do ano, Bolsonaro edita MP que pode excluir 500 mil pessoas do BPC

Com fim do auxílio emergencial, mais de 11 milhões entrarão na pobreza

Satélite comprado por R$ 175 milhões sem licitação pelos militares é inútil

Mais notícias

Merval prevê suspeição de Moro em 2021, mas sem a devolução dos direitos políticos de Lula

Ex-secretário do governo Dilma morre eletrocutado em Florianópolis

Bruno Covas toma posse e faz menção indireta à derrota de Boulos: “SP disse sim ao equilíbrio e à moderação"

Após tomar posse como prefeito do Rio, Paes abre investigação contra Crivella e publica 74 decretos

SOB OS ESCOMBROS, as digitais de um responsável[1].

 

SOB OS ESCOMBROS,

as digitais de um responsável[1].

                                                                                                                                                

                                                                                                                                                                        

                                                                                                             JOSÉ LUÍS FIORI

 

 

Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?

Gal Eduardo Villa Boas, in Animus, Consultor Jurídico 11/11/2018, www.conjur.com.brdeclaração[2]

 

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A soma dos fatos e dos números não deixa lugar a dúvidas que a resposta do governo brasileiro à pandemia do coronavírus foi absolutamente desastrosa, quando não criminosa; e seu plano de vacinação massiva da população é um caos, quando não um engodo. Já são 7,5 milhões de brasileiros infectados e cerca de 200 mil morreram até agora, e as autoridades seguem batendo cabeça diariamente, como se fossem um bando de palhaços irresponsáveis e debochados. E apesar de tudo isso, o general Eduardo Pazuello segue ministro da Saúde, sem entender de pandemias, nem de planejamento, nem de logística. Simplesmente porque ele é apenas mais uma nulidade de um governo que não existe, que não tem nenhum objetivo nem estratégia, e que não é capaz de formular políticas públicas que tenham início, meio e fim.

Por isso, o fracasso frente à pandemia se repete monotonamente em todos os planos e áreas de ação de um governo que se contenta em assistir, com ar de galhofa, à desintegração física e moral da sociedade brasileira, enquanto estimula a divisão, o ódio e a violência entre os próprios cidadãos. É o mesmo descaso e omissão com a vida que este governo vem mantendo frente ao avanço da devastação ecológica da Floresta Amazônica, da Região do Cerrado e do Pantanal, com números que vêm provocando um levante mundial contra o Brasil.

Basta olhar os números para dimensionar o tamanho do desastre, começando pela economia, que já estava estagnada desde antes da pandemia. A previsão do PIB brasileiro para ao ano de 2020 é de uma queda de cerca de 5%, embora o PIB brasileiro já viesse caindo em 2018 e em 2019, quando cresceu apenas 1,1%. Mas o que é mais importante, a taxa de investimento da economia, que foi de 20,9% em 2013, caiu para 15,4% em 2019 e deve cair muito mais no ano de 2020, segundo todas previsões das principais agências financeiras nacionais e internacionais. Para piorar o quadro de desmonte, a saída de capitais do país, que havia sido de R$ 44,9 bilhões em 2019 a maior desde 2006 , quase dobrou em 2020, passando para R$ 87,5 bilhões de reais e sinalizando uma desconfiança e aversão crescente dos investidores internacionais com relação ao governo do senhor Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes, apesar de suas festejadas reformas trabalhista e previdenciária.

Por isso mesmo, em 2019 o Brasil foi simplesmente excluído do Índice Global de Confiança para Investimento Estrangeiro publicado pela A. T. Kearney, consultoria norte-americana que traz o nome dos 25 países mais atraentes do mundo para os investidores estrangeiros, o mesmo índice segundo o qual o Brasil ocupava a 3ª posição nos anos 2012/2013. Paralelamente, a participação da indústria no PIB nacional, que era de 17,8% em 2004, caiu para 11% em 2019, e deve cair ainda mais em 2020/2021; e o desemprego, que era de 4,7% em 2014, subiu para 14,3% em 2020, e deve seguir subindo no próximo ano.

A indústria brasileira está enfrentando escassez de matéria-prima e, segundo o DIEESE, o país já acumula, em 2020, uma taxa de inflação de 12,14% no preço dos alimentos que afetam mais diretamente o consumo das famílias mais pobres. De outro ângulo, os especialistas estão prevendo um apagão elétrico para o ano de 2021, como já aconteceu no estado do Amapá. E agora, no final de 2020, o Brasil está com déficit energético e importa energia do Uruguai e da Argentina, o que explica a Bandeira Vermelha 2 que começará a pesar no bolso dos consumidores em 2021. Ainda com relação ao estado da infraestrutura do país, a Confederação Nacional dos Transportes vem advertindo que o estado geral das rodovias brasileiras piorou em 2019, e 59% da malha rodoviária pavimentada apresentam hoje sérios problemas de manutenção e circulação. Por fim, como consequência inevitável dessa destruição física, a economia brasileira sofreu uma das maiores reversões de sua história moderna, deixando de ser a 6ª ou 7ª maior do mundo, na década de 2010, para passar ser a 12ª em 2020, devendo cair ainda mais, para o 13º lugar, em 2021, segundo previsão do Centre for Economics and Business Research publicada pelo jornal The Straits Times, de Singapura.

As consequências sociais desta destruição econômica eram previsíveis e inevitáveis: mesmo antes da pandemia, em 2019, 170 mil brasileiros voltaram para o estado de pobreza extrema, onde já viviam aproximadamente 13,8 milhões, número que deverá crescer exponencialmente depois que terminar o “auxílio emergencial”, aumentando ainda mais a taxa de desemprego em 2021. A nova realidade criada pelo fanatismo ultraliberal do senhor Guedes já apareceu imediatamente retratada no novo ranking mundial das Nações Unidas, o IDH, que mede a “qualidade de vida” das populações, no qual o Brasil caiu cinco posições, passando de 79º para 84º lugar entre 2018 e 2020. No mesmo período, o Brasil passou a ser o país com a segunda maior concentração de renda do mundo, atrás apenas do Qatar, e o oitavo mais desigual do mundo, atrás apenas de sete países africanos.

Por fim, é impossível completar este balanço dos escombros deste governo sem falar da destruição da imagem internacional do Brasil, conduzida de forma explícita e aleivosa pelo palerma bíblico e delirante que ocupa a chancelaria. Aquele mesmo que comandou a tragicômica “invasão humanitária” da Venezuela em 2019, à frente do seu fracassado Grupo de Lima; o mesmo que fracassou na sua tentativa de imitar os Estados Unidos e promover uma mudança de governo e de regime na Bolívia, através de um golpe de Estado; o mesmo que já comprou briga com pelo menos 11 países da comunidade internacional que eram antigos parceiros do Brasil; o mesmo que se lançou numa guerra beatífica contra a China, o maior parceiro econômico internacional do Brasil; o mesmo que conseguiu derrotar, em poucas semanas, duas candidaturas brasileiras em organismos internacionais; o mesmo que conseguiu que o Brasil fosse excluído da Conferência Internacional sobre o Clima realizada pela ONU em dezembro de 2020; e por fim, o mesmo que celebrou com seus subordinados do Itamaraty, o fato de o Brasil ter sido transformado, na sua gestão, num “pária internacional”. Algo verdadeiramente sem precedentes e que dispensa qualquer tipo de comentário adicional vindo da parte de um rapagão deslumbrado que foi nomeado praticamente por John Bolton e Mike Pompeo, a dupla de “falcões” que comandou durante alguns meses, em conjunto, a política externa do governo de Donald Trump.

Ao final do segundo ano deste governo, compreende-se imediatamente por que a maioria dos que participaram do golpe de Estado de 2016, e que depois apoiaram o governo do senhor Bolsonaro, estejam abandonando o barco e passando para a oposição. Os jovens “cruzados curitibanos”, tendo cumprido a missão que lhes foi encomendada e depois dos seus cinco minutos de celebridade, estão fugindo ou voltando para o seu anonimato, enquanto afundam na lama da sua própria corrupção. A grande imprensa conservadora mudou e hoje dedica-se a atacar o governo diariamente, enquanto os partidos tradicionais de centro e centro-direita, que estiveram juntos com o senhor Bolsonaro desde o golpe de 2016, agora se afastam e tentam construir um bloco parlamentar de oposição. E até mesmo o “mercado” parece cada vez mais insatisfeito com o seu ministro da Economia, que já foi comemorado em outros tempos como a Joana d’Arc da revolução ultraliberal no Brasil. Assim, neste momento o governo só conta com o apoio político do submundo fisiológico do Congresso Nacional, que a imprensa chama delicadamente de “centrão”, o mesmo mundo em que o senhor Bolsonaro vegetou durante 28 anos no mais absoluto anonimato, em nove partidos diferentes. Esse grupo parlamentar sempre esteve e estará pendurado em qualquer governo que lhe ofereça vantagens, mas nunca teve nem terá capacidade autônoma de constituir ou sustentar um governo por sua própria conta. Por isso, depois de dois anos dessa desgraceira, existe uma pergunta que não quer calar: como se sustenta, afinal, este governo mambembe, apesar da destruição que vai deixando pelo caminho?

Já foi mais difícil, mas hoje a resposta está absolutamente clara, porque na medida em que os demais sócios relevantes foram se afastando, o que sobrou de fato foi um simulacro de governo militar, absolutamente mambembe. Basta olhar para os números, uma vez que todos sabem que o próprio presidente e seu vice são militares, um capitão e o outro general da reserva. Mas além deles, 11 dos atuais 23 ministros do governo também são militares, e o próprio ministro da Saúde é uma general da ativa, todos à frente de um verdadeiro exército composto por 6.157 oficiais da ativa e da reserva que ocupam postos-chave em vários níveis do governo. Segundo dados extraoficiais, são 4.450 do Exército, 3.920 da Aeronáutica e 76 da Marinha, número que talvez seja até maior do que o dos militantes oficiais do PSDB e do PT que ocuparam postos governamentais durante seus governos em décadas passadas. Por isso, depois de dois anos fica difícil tapar o céu com a peneira e tentar separar as FFAA  do senhor Bolsonaro, não apenas pela extensão e pelo grau de envolvimento pessoal dos militares instalados dentro do Palácio da Alvorada, mas também pelo nível e intensidade dos contatos e reuniões regulares mantidas durante estes dois anos entre generais e oficiais da reserva e da ativa, dentro e fora do governo, sobretudo entre os altos escalões das duas instituições. Depois de tudo isso, seria como querer separar dois ovos de uma mesma gemada.

Isto posto, o fracasso deste governo deverá atingir pesadamente o prestígio e a credibilidade das FFAA brasileiras, colocando uma pá de cal sobre o mito da superioridade técnica e moral dos militares com relação ao comum dos mortais. Agora está ficando absolutamente claro, e de uma vez por todas, que os militares não foram treinados para governar. Uma coisa são seus manuais de geopolítica e exercícios de ginástica e de guerra, outra coisa inteiramente diferente são os conhecimentos e a experiência acumulada indispensável para a formulação de qualquer tipo de política pública, ainda mais para se propor a governar um país com o tamanho e a complexidade do Brasil. Além disso, também ficou claro na história recente que a presunção da superioridade moral dos militares é apenas um mito, porque os militares são tão humanos e corruptíveis quanto todos os demais homo sapiens. Basta lembrar o episódio recente da solicitação irregular, por parte de centenas de militares, da “ajuda emergencial” destinada às pessoas mais pobres, na primeira fase da pandemia no Brasil. Estima-se que foram mais de 50 mil casos de irregularidades denunciadas pelo Tribunal de Contas da União e que tiveram que devolver o auxílio aos cofres públicos. Mas mesmo depois da devolução dos valores adquiridos irregularmente, o que esse episódio ensina é que não existe  nenhuma razão para acreditar que os soldados estejam acima de qualquer suspeita e que sejam inteiramente infensos às “tentações mundanas”.

Aliás, não existe caso mais exemplar do fracasso desta crença na superioridade do juízo militar do que o que se passou com o próprio ex-Comandante em Chefe das FFAA brasileiras, que autoconvencido de sua “genialidade estratégica” e de sua grande “sabedoria moral” decidiu avalizar em nome das FFA, e  tutelar pessoalmente a operação que levou à presidência do país um psicopata agressivo, tosco e desprezível, cercado de por um bando de patifes sem nenhum princípio moral, e de verdadeiros bufões ideológicos, que em conjunto fazem de conta que governam Brasil, há dois anos. Que sirva de exemplo para que não se repitam estas pessoas que se consideram superiores e iluminadas, com direito a decidir em nome da sociedade, usem farda, toga, batina ou pijama.

No século XX, os militares deram uma contribuição importante para a industrialização  da economia brasileira, mas também contribuíram de forma decisiva para a construção de uma sociedade extremamente desigual, violenta e autoritária. E castraram toda uma geração progressista que poderia ter contribuído para o avanço do sistema democrático instalado em 1946. Assim mesmo,  agora no século XXI, a nova geração de militare, bastante mais medíocre, está se dedicando a destruir o que de melhor haviam feito no século passado.

Por tudo e com tudo, parece que está chegando a hora de a sociedade brasileira se desfazer desses “mitos salvadores” e devolver seus militares a seus quartéis e suas funções constitucionais. Assumir de uma vez por todas, com coragem e com suas próprias mãos, a responsabilidade de construir um novo país que tenha a sua cara, e que seja feito à sua imagem e semelhança, com seus grandes defeitos, mas também com suas grandes virtudes. Que seja um país altivo e soberano, mais justo e menos violento, que respeite as diferenças e todas as crenças, e que volte a ser mais humano, mais fraterno e mais divertido. E que o Brasil volte a ser aceito, admirado e respeitado pelo resto do mundo. Estes pelo menos são meus votos para o ano de 2021.

 

31 de dezembro de 2020



[1] Em homenagem ao meu grande amigo Luiz Alberto Gomes de Souza, que faleceu no dia 30 de dezembro de 2020, e que foi um grande guerreiro na luta contra  a ditadura militar e contra desigualdade a a injustiça da sociedade brasileira.

[2] Declaração do Gal Eduardo Villas Boas, feita no dia 3 de abril de 2018, véspera do julgamento do pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi lida na época como uma pressão explícita do ex-Comandante em Chefe das FFAA sobre o STF, a favor da condenação do ex-presidente e pela sua exclusão da disputa presidencial de 2018.