Terça, 21 de agosto de 2012
Onda de suicídios choca a Grécia
Em 16 de julho, um empresário e pai de três se enforcou em sua loja na ilha de Creta. Um homem de 49 anos de Patras foi encontrado por seu filho. Ele também se enforcou. Em 25 de julho, um homem de 79 anos, da península de Peloponeso, se enforcou com um cabo preso a uma oliveira. Em 3 de agosto, um garoto de 15 anos se enforcou em Pieria. E em 6 de agosto, um ex-jogador de futebol de 60 anos imolou a si mesmo em Cálcis.
Eles também são relatos da Grécia, relatos que, à primeira vista, parecem não ter nada a ver com a economia. Eles se juntam para formar uma estatística sombria, levantando questões sobre o que está provocando os suicídios e se a incidência elevada é apenas uma coincidência.
Eles também são relatos da Grécia, relatos que, à primeira vista, parecem não ter nada a ver com a economia. Eles se juntam para formar uma estatística sombria, levantando questões sobre o que está provocando os suicídios e se a incidência elevada é apenas uma coincidência.
A reportagem é de Barbara Hardinghaus e Julia Amalia Heyer, publicada no jornal Der Spiegel e reproduzida peloPortal Uol, 19-08-2012.
Ou as pessoas veem o suicídio como uma saída para a crise que tomou conta do país e de suas vidas? Elas estão cedendo antes que as coisas piorem ainda mais? A Alemanha e o Fundo Monetário Internacional (FMI) são contrários a um novo pacote de ajuda a Atenas. O país precisa levantar pelo menos 40 bilhões de euros. A Grécia pode muito bem falir oficialmente em breve.
A Grécia, um país cuja Igreja Ortodoxa é contra o suicídio, sempre apresentou uma das taxas mais baixas de suicídios na Europa. Mas agora, foram 350 tentativas de suicídio e 50 mortes em Atenas apenas em junho. A maioria dos suicídios ocorre entre membros da classe média e, em muitos casos, o ato em si é realizado em público, quase como se fosse uma apresentação teatral.
Desespero por dignidade
Em 4 de abril, logo após as 9 horas da manhã, um farmacêutico de 77 anos se matou com um tiro na Praça Syntagma, no centro de Atenas. Dimitris Christoulas, um homem de baixa estatura, se recostou em uma das grandes árvores da praça, segurou a pistola contra sua têmpora e puxou o gatilho.
“Meu pai era uma pessoa política, um lutador”, diz sua filha, Emily Christoulas. Semanas após a morte de seu pai, ela está sentada em sua sala de estar em Chalandri, um subúrbio no norte de Atenas. Ela é uma mulher esbelta de 42 anos vestindo jeans largos, com cabelo preto curto com uma mecha grisalha.
O pai dela era politicamente ativo, um membro do movimento “Não Pagaremos”. Ele pedia repetidamente por uma revisão internacional da dívida nacional da Grécia, porque estava convencido de que ela não era culpa do povo. Ele ia todo dia ao centro de Atenas no ano passado para participar dos comícios e para prestar ajuda, geralmente na tenda da Cruz Vermelha.
Quando ele foi à Praça Syntagma pela última vez, em 4 de abril, ele enviou para sua filha uma mensagem de texto consistindo apenas de uma sentença breve: “É o fim”. Então ele desligou seu celular. “Foi exatamente às 8h31min”, dizEmmy, pegando uma cigarrilha de um maço amassado. Quando ela não conseguiu contatar seu pai por telefone após receber a mensagem de texto, ela e duas amigas foram ao apartamento dele.
A Grécia, um país cuja Igreja Ortodoxa é contra o suicídio, sempre apresentou uma das taxas mais baixas de suicídios na Europa. Mas agora, foram 350 tentativas de suicídio e 50 mortes em Atenas apenas em junho. A maioria dos suicídios ocorre entre membros da classe média e, em muitos casos, o ato em si é realizado em público, quase como se fosse uma apresentação teatral.
Desespero por dignidade
Em 4 de abril, logo após as 9 horas da manhã, um farmacêutico de 77 anos se matou com um tiro na Praça Syntagma, no centro de Atenas. Dimitris Christoulas, um homem de baixa estatura, se recostou em uma das grandes árvores da praça, segurou a pistola contra sua têmpora e puxou o gatilho.
“Meu pai era uma pessoa política, um lutador”, diz sua filha, Emily Christoulas. Semanas após a morte de seu pai, ela está sentada em sua sala de estar em Chalandri, um subúrbio no norte de Atenas. Ela é uma mulher esbelta de 42 anos vestindo jeans largos, com cabelo preto curto com uma mecha grisalha.
O pai dela era politicamente ativo, um membro do movimento “Não Pagaremos”. Ele pedia repetidamente por uma revisão internacional da dívida nacional da Grécia, porque estava convencido de que ela não era culpa do povo. Ele ia todo dia ao centro de Atenas no ano passado para participar dos comícios e para prestar ajuda, geralmente na tenda da Cruz Vermelha.
Quando ele foi à Praça Syntagma pela última vez, em 4 de abril, ele enviou para sua filha uma mensagem de texto consistindo apenas de uma sentença breve: “É o fim”. Então ele desligou seu celular. “Foi exatamente às 8h31min”, dizEmmy, pegando uma cigarrilha de um maço amassado. Quando ela não conseguiu contatar seu pai por telefone após receber a mensagem de texto, ela e duas amigas foram ao apartamento dele.
Ela então ouviu a notícia no rádio de que alguém tinha se suicidado com um tiro sob uma árvore da Praça Syntagma. “Primeiro a mensagem de texto, depois a notícia”, ela diz. “Eu tinha certeza que era ele.”
Desde a morte de seu pai, Emmy Christoulas tem tomado muitas vezes o metrô até a praça, a nove estações de seu apartamento. Ela visita o memorial ao pai dela duas ou três vezes por semana, geralmente ao anoitecer. Quando o faz, ela mantém uma curta distância da árvore.
A praça está tranquila, onde uma banda está tocando e o som de violão viaja pelo ar quente. Christoulas cruza os braços sobre o peito e olha para as pessoas que param no memorial. Ele consiste de coroas de flores e alguns poucos animais de pelúcia encostados na árvore, assim como bilhetes pregados no tronco. “Não caminhe como um robô! Abra seu espírito!” dizia uma em letras vermelhas, escrita em um pedaço de papelão. As palavras escritas por Dimitris Christoulas no bilhete de suicídio estão gravadas em uma placa de mármore.
“O governo aniquilou todos os traços da minha sobrevivência, que se baseava na pensão digna para a qual contribuí por 35 anos sem ajuda do Estado. Eu não vejo outra solução do que este fim digno à minha vida, para que não me veja revirando latas de lixo em busca de sustento.”
As palavras “O gesto de Dimitris não pode ser repetido” estão escritas em um pedaço de papel acima da placa. Mas seu gesto está se repetindo quase diariamente. O jornal “Ta Nea” descreve o sentimento entre os gregos como sendo “uma sociedade à beira de um colapso nervoso”. A incerteza em relação ao que o dia seguinte trará cresce diariamente.
Christoulas encerrou sua carta de despedida com as palavras: “Eu acredito que os jovens sem futuro algum dia pegarão em armas e enforcarão os traidores deste país na Praça Syntagma”.
Continuando a luta
A tristeza causada pela morte de seu pai não diminui, diz Emmy Christoulas, sentada em seu apartamento. Ela gira o anel de prata em seu polegar e diz: “Quando passo um momento sem pensar nisso, eu percebo que não estou mais apenas fazendo o papel de filha dele”. Quando ela pensa na sociedade grega e no sofrimento ao seu redor, ela diz que deseja enviar suas próprias mensagens ao país. Uma delas é: “Progresso e mudança vêm por meio da perda”.
Da forma como ela descreve, quase soa como se o suicídio de seu pai tivesse sido uma necessidade política – e que ela percebeu que tem que extrair o melhor possível disso e continuar a luta que ele começou.
Emmy tinha cinco anos quando participou de sua primeira manifestação, sentada sobre os ombros de seu pai. Era 25 de abril de 1975, após o fim da junta militar grega. Quando ela fala, ela cita o poeta boêmio-austríaco Rainer Maria Rilke e o filósofo alemão Jürgen Habermas, e fala sobre modelos de democracia e sobre uma sociedade aberta. Ela acredita em grandes ideias e, neste aspecto, é bem a filha de seu pai. Quando ela não vai ao bar ao anoitecer para beber uma dose de vodca, ela fica em casa sozinha com seus cães. Ela não fala muito sobre sua dor.
Desde a morte de seu pai, Emmy Christoulas tem tomado muitas vezes o metrô até a praça, a nove estações de seu apartamento. Ela visita o memorial ao pai dela duas ou três vezes por semana, geralmente ao anoitecer. Quando o faz, ela mantém uma curta distância da árvore.
A praça está tranquila, onde uma banda está tocando e o som de violão viaja pelo ar quente. Christoulas cruza os braços sobre o peito e olha para as pessoas que param no memorial. Ele consiste de coroas de flores e alguns poucos animais de pelúcia encostados na árvore, assim como bilhetes pregados no tronco. “Não caminhe como um robô! Abra seu espírito!” dizia uma em letras vermelhas, escrita em um pedaço de papelão. As palavras escritas por Dimitris Christoulas no bilhete de suicídio estão gravadas em uma placa de mármore.
“O governo aniquilou todos os traços da minha sobrevivência, que se baseava na pensão digna para a qual contribuí por 35 anos sem ajuda do Estado. Eu não vejo outra solução do que este fim digno à minha vida, para que não me veja revirando latas de lixo em busca de sustento.”
As palavras “O gesto de Dimitris não pode ser repetido” estão escritas em um pedaço de papel acima da placa. Mas seu gesto está se repetindo quase diariamente. O jornal “Ta Nea” descreve o sentimento entre os gregos como sendo “uma sociedade à beira de um colapso nervoso”. A incerteza em relação ao que o dia seguinte trará cresce diariamente.
Christoulas encerrou sua carta de despedida com as palavras: “Eu acredito que os jovens sem futuro algum dia pegarão em armas e enforcarão os traidores deste país na Praça Syntagma”.
Continuando a luta
A tristeza causada pela morte de seu pai não diminui, diz Emmy Christoulas, sentada em seu apartamento. Ela gira o anel de prata em seu polegar e diz: “Quando passo um momento sem pensar nisso, eu percebo que não estou mais apenas fazendo o papel de filha dele”. Quando ela pensa na sociedade grega e no sofrimento ao seu redor, ela diz que deseja enviar suas próprias mensagens ao país. Uma delas é: “Progresso e mudança vêm por meio da perda”.
Da forma como ela descreve, quase soa como se o suicídio de seu pai tivesse sido uma necessidade política – e que ela percebeu que tem que extrair o melhor possível disso e continuar a luta que ele começou.
Emmy tinha cinco anos quando participou de sua primeira manifestação, sentada sobre os ombros de seu pai. Era 25 de abril de 1975, após o fim da junta militar grega. Quando ela fala, ela cita o poeta boêmio-austríaco Rainer Maria Rilke e o filósofo alemão Jürgen Habermas, e fala sobre modelos de democracia e sobre uma sociedade aberta. Ela acredita em grandes ideias e, neste aspecto, é bem a filha de seu pai. Quando ela não vai ao bar ao anoitecer para beber uma dose de vodca, ela fica em casa sozinha com seus cães. Ela não fala muito sobre sua dor.
Na manhã de 4 de abril, Dimitris Christoulas vestiu seu casaco de cor clara, colocou a pistola em um bolso, a carta de despedida em outro e partiu para a praça, como fez muitas vezes antes, e escreveu a última mensagem de texto para sua filha.
Um dia após o serviço fúnebre para seu pai, Emmy Christoulas levou o corpo de seu pai por 13 horas de carro até a Bulgária, para que fosse cremado. A Igreja Ortodoxa Grega nega enterros religiosos para pessoas que cometeram suicídio. O pai dela deixou dinheiro para a viagem.
Emmy Christoulas, uma assistente de um parlamentar do Partido Syriza de centro esquerda, não foi trabalhar por dois dias. Ela retomou sua vida no terceiro dia. Os cidadãos moldam a política, não o contrário, ela diz, repetindo o mantra de seu pai.
Inicialmente, ela removia os bilhetes e os animais de pelúcia, que ela mantinha em uma caixa em casa, toda vez que ia visitar a árvore na Praça Syntagma. Quando ela vai lá atualmente, ela nem mais nota as cartas e bilhetes, e não se importa quando as pessoas vêm falar com ela. “Pelo contrário”, ela diz, notando que estranhos frequentemente a parabenizam. “Isso me deixa orgulhosa e mais forte”, ela diz. Enquanto não desaparecer da mente das pessoas, a morte dele terá sentido, ela diz. Ela vê como uma oportunidade para aqueles que querem mudanças – e para aqueles que usam a única coisa que restou, a própria vida, para influenciar a política.
Um dia após o serviço fúnebre para seu pai, Emmy Christoulas levou o corpo de seu pai por 13 horas de carro até a Bulgária, para que fosse cremado. A Igreja Ortodoxa Grega nega enterros religiosos para pessoas que cometeram suicídio. O pai dela deixou dinheiro para a viagem.
Emmy Christoulas, uma assistente de um parlamentar do Partido Syriza de centro esquerda, não foi trabalhar por dois dias. Ela retomou sua vida no terceiro dia. Os cidadãos moldam a política, não o contrário, ela diz, repetindo o mantra de seu pai.
Inicialmente, ela removia os bilhetes e os animais de pelúcia, que ela mantinha em uma caixa em casa, toda vez que ia visitar a árvore na Praça Syntagma. Quando ela vai lá atualmente, ela nem mais nota as cartas e bilhetes, e não se importa quando as pessoas vêm falar com ela. “Pelo contrário”, ela diz, notando que estranhos frequentemente a parabenizam. “Isso me deixa orgulhosa e mais forte”, ela diz. Enquanto não desaparecer da mente das pessoas, a morte dele terá sentido, ela diz. Ela vê como uma oportunidade para aqueles que querem mudanças – e para aqueles que usam a única coisa que restou, a própria vida, para influenciar a política.
Heroísmo ou desespero?
Nikiforos Angelopoulos, um psiquiatra de Atenas, tem acompanhado os suicídios e, a cada nova morte, fica com mais medo. Ele tenta ver cada ato como o fracasso de uma pessoa confusa, individual.
O psiquiatra de 60 anos fez sua dissertação de doutorado sobre o assunto “hostilidade”. O suicídio é uma desordem, ele diz, uma forma de hostilidade – a hostilidade da pessoa contra si mesma. Ele está sentado em seu consultório no bairro rico de Kolonaki, um homem rijo com uma franja de cabelo grisalho e olhos azuis alertas. Ele está determinado a impedir suicídios por imitação, mas teme que a onda esteja crescendo. Isso faz com que ele se recorde dos anos 20, quando intelectuais cometeram suicídio depois que a Grécia perdeu uma guerra contra a Turquia. Ele quer impedir que mais pessoas se enforquem, envenenem ou atirem em si mesmas.
A mulher de 90 anos que saltou para a morte de um terraço de cobertura na Praça Vathi, saltou juntamente com seu filho. Mas a verdade é que ela não pulou. O filho dela a empurrou. Então esperou três minutos e seguiu sua mãe. Foi uma queda de 15 metros até o pavimento abaixo. O nome dele era Anthony Perris, um músico e escritor, um homem quieto de 60 anos.
O ponto em que ele atingiu o chão fica a três quilômetros da Praça Syntagma, ao lado do prédio onde ele morava com sua mãe. Perris cuidou de sua mãe por 20 anos, que tinha Alzheimer e câncer. Ele a levava todo dia para uma breve caminhada em um pequeno parque próximo. Na noite anterior ao suicídio, ele fechou as persianas do apartamento. Na manhã seguinte, ele levou sua mãe até o elevador e ao terraço na cobertura, acima do sexto andar.
Perris também deixou um bilhete de suicídio, o deixando sobre a mesa da cozinha. “Minha vida se tornou uma tragédia constante”, ele escreveu. Ele tentou vender sua casa, mas ninguém tinha dinheiro para comprar. Ele era dono de uma casa, de um barco e uma lambreta.
“De que vale ter coisas quando você não tem dinheiro para comprar comida?” Perris perguntou no bilhete de suicídio.
Tudo o que os jornais estão dizendo sobre a onda de suicídios é “enganador e perigoso”, diz Angelopoulos, o psiquiatra. As pessoas que cometem suicídio, ele nota, não são lutadores políticos, mesmo que o público as transforme em heróis.
O farmacêutico que se matou com um tiro na Praça Syntagma era um indivíduo desesperado, assim como todos os outros, diz Angelopoulos, que também soa um pouco desesperado. Ele está travando uma batalha solitária. Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde da Grécia montou uma linha telefônica de ajuda a suicidas há poucas semanas. Apesar de todos os cortes orçamentários e medidas de austeridade, ele sente que a despesa é justificada.
Um problema crescente
Quando perguntada sobre se tinha alguma ideia de que seu pai levaria sua luta tão longe, Emmy Christoulas pensa um pouco antes de responder. Olhando para trás, ela diz, sempre houve sinais. Pouco antes de sua morte, o pai dela transferiu para o nome dela o fusca vermelho que a família usava para viajar pela Europa. “De repente ele parecia com pressa”, ela diz, mas não entendia o motivo.
Na manhã após nossa visita a Christoulas, a polícia de Atenas recebeu outro chamado de emergência. Um homem de 61 anos se enforcou em uma árvore em uma colina do Parque Aghios Philippos, não distante de sua casa. Ele era um marinheiro que tinha perdido o emprego recentemente. Ele tinha esposa, filho, filha e um cachorro. O corpo dele foi removido à tarde, poucas horas depois de sua morte.
A fita vermelha e branca que isola um cenário de crime ainda está pendurada entre as duas árvores, tremulando ao vento acima da grande cidade.
Nikiforos Angelopoulos, um psiquiatra de Atenas, tem acompanhado os suicídios e, a cada nova morte, fica com mais medo. Ele tenta ver cada ato como o fracasso de uma pessoa confusa, individual.
O psiquiatra de 60 anos fez sua dissertação de doutorado sobre o assunto “hostilidade”. O suicídio é uma desordem, ele diz, uma forma de hostilidade – a hostilidade da pessoa contra si mesma. Ele está sentado em seu consultório no bairro rico de Kolonaki, um homem rijo com uma franja de cabelo grisalho e olhos azuis alertas. Ele está determinado a impedir suicídios por imitação, mas teme que a onda esteja crescendo. Isso faz com que ele se recorde dos anos 20, quando intelectuais cometeram suicídio depois que a Grécia perdeu uma guerra contra a Turquia. Ele quer impedir que mais pessoas se enforquem, envenenem ou atirem em si mesmas.
A mulher de 90 anos que saltou para a morte de um terraço de cobertura na Praça Vathi, saltou juntamente com seu filho. Mas a verdade é que ela não pulou. O filho dela a empurrou. Então esperou três minutos e seguiu sua mãe. Foi uma queda de 15 metros até o pavimento abaixo. O nome dele era Anthony Perris, um músico e escritor, um homem quieto de 60 anos.
O ponto em que ele atingiu o chão fica a três quilômetros da Praça Syntagma, ao lado do prédio onde ele morava com sua mãe. Perris cuidou de sua mãe por 20 anos, que tinha Alzheimer e câncer. Ele a levava todo dia para uma breve caminhada em um pequeno parque próximo. Na noite anterior ao suicídio, ele fechou as persianas do apartamento. Na manhã seguinte, ele levou sua mãe até o elevador e ao terraço na cobertura, acima do sexto andar.
Perris também deixou um bilhete de suicídio, o deixando sobre a mesa da cozinha. “Minha vida se tornou uma tragédia constante”, ele escreveu. Ele tentou vender sua casa, mas ninguém tinha dinheiro para comprar. Ele era dono de uma casa, de um barco e uma lambreta.
“De que vale ter coisas quando você não tem dinheiro para comprar comida?” Perris perguntou no bilhete de suicídio.
Tudo o que os jornais estão dizendo sobre a onda de suicídios é “enganador e perigoso”, diz Angelopoulos, o psiquiatra. As pessoas que cometem suicídio, ele nota, não são lutadores políticos, mesmo que o público as transforme em heróis.
O farmacêutico que se matou com um tiro na Praça Syntagma era um indivíduo desesperado, assim como todos os outros, diz Angelopoulos, que também soa um pouco desesperado. Ele está travando uma batalha solitária. Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde da Grécia montou uma linha telefônica de ajuda a suicidas há poucas semanas. Apesar de todos os cortes orçamentários e medidas de austeridade, ele sente que a despesa é justificada.
Um problema crescente
Quando perguntada sobre se tinha alguma ideia de que seu pai levaria sua luta tão longe, Emmy Christoulas pensa um pouco antes de responder. Olhando para trás, ela diz, sempre houve sinais. Pouco antes de sua morte, o pai dela transferiu para o nome dela o fusca vermelho que a família usava para viajar pela Europa. “De repente ele parecia com pressa”, ela diz, mas não entendia o motivo.
Na manhã após nossa visita a Christoulas, a polícia de Atenas recebeu outro chamado de emergência. Um homem de 61 anos se enforcou em uma árvore em uma colina do Parque Aghios Philippos, não distante de sua casa. Ele era um marinheiro que tinha perdido o emprego recentemente. Ele tinha esposa, filho, filha e um cachorro. O corpo dele foi removido à tarde, poucas horas depois de sua morte.
A fita vermelha e branca que isola um cenário de crime ainda está pendurada entre as duas árvores, tremulando ao vento acima da grande cidade.
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