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Historiador diz que Brasil foi protagonista na Operação Condor
Jair Krischke pediu para prestar depoimento de forma pública e deverá apresentar detalhes da operação montada no Cone Sul para capturar opositores da ditadura militar
Jair Krischke pediu para prestar depoimento de forma pública e deverá apresentar detalhes da operação montada no Cone Sul para capturar opositores da ditadura militar
O historiador Jair Krischke prestará depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) no próximo dia 26 deste mês e sustentará que a chamada Operação Condor, que atuou em países da América do Sul, foi, na verdade idealizada e executada principalmente pelo aparelho repressivo brasileiro durante a ditadura militar.
Krischke exigiu que seu depoimento fosse realizado de forma pública. “Tenho que ter testemunhas do que vou dizer para poder cobrar ações depois”. Ele disse que vai apresentar documentos dos próprios militares que, segundo ele, indicam a articulação e comprovam as operações. “Essa tal de comunidade de informações se transformou em um verdadeiro estado paralelo que agiu na repressão à margem da lei”.
O gaúcho Jair Krischke tem 74 anos e é fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanosno Rio Grande do Sul. “O que tenho para mostrar vou comprovar com documentos”, disse. A operação também é conhecida como Carcará foi uma aliança político-militar entre os regimes militares do Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai.O objetivo era de coordenar ações para eliminar os líderes da resistência às ditaduras desses países. Estima-se que a Operação Condor resultou em mais de 400 mil torturados e 100 mil assassinatos.
Segundo Krischke, os documentos desmentem a tese de que a Operação Condor foi formalizada em uma reunião em Santiago (Chile) em 1946, para a qual o Brasil enviou dois representantes que sequer assinaram a ata. Esses representantes se declararam depois apenas observadores do Estado brasileiro. “A reunião no Chile aconteceu depois que o Brasil já havia liquidado todo e qualquer grupo de resistência. O que ocorreu em Santiago foi apenas uma oficialização de tudo que já havia ocorrido”, defende.
Na audiência, Krischke apresentará documentos recolhidos no Brasil, Estados Unidos, Argentina e Uruguai. A ação conjunta foi documentada também pelo governo norte-americano que negou sua participação. Entre vários episódios atribuídos à operação, inclusive o conhecido sequestros dos uruguaios Universindo Rodríguez Díaz e Lilian Celiberti, em 1978, os documentos, segundo Krischke apontam atos repressivos realizados pelo Estado brasileiro inclusive após a Lei da Anistia, promulgada em 28 de agosto de 1979.Um dos casos refere-se à prisão de dois argentinos no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro no dia 26 de junho de 1980. “Isso foi ação da Operação Condor e está relatada em documentos”, destaca.
Outro caso ocorreu dois meses depois em Porto Alegre com a captura do padre argentino Jorge Oscar Adur e do estudante ítalo-argentino Lorenzo Viñas. Todos foram entregues ao aparelho repressivo do país vizinho. Uma ação na Justiça italiana investiga o desaparecimento do padre e do estudante em um processo no qual Krischke é testemunha.
Uma das principais críticas é justamente a possibilidade da medida tornar a produção desse tipo de conteúdo exclusividade dos historiadores.
Espera-se que o depoimento de Krischke também lance luz a questão dos arquivos da ditadura. “Os arquivos não foram destruídos, eles existem e eu vou apontar onde estão”, disse.“O Rio Grande do Sul, por exemplo, queimou publicamente os arquivos, tudo documentado pela imprensa. Depois eu encontrei dois documentos que eram dessa leva em Montevidéu, Acabei descobrindo que tudo foi microfilmado. A papelada é que foi queimada. Os arquivos ainda existem, estão em Porto Alegre e eu vou indicar onde estão”, disse.
Fonte: Último Segundo/ Café História
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