domingo, 2 de junho de 2013

Como funcionam a mídia podre, abominável, corrupta, etc e seus beneficiários e apoiadores


Emir Sader e o extermínio de ornitorrincos no Brasil

1/6/2013 13:00
Por Emir Sader - do Rio de Janeiro

Só para constar, antes que iniciem alguma campanha por aí: Não existem ornitorrincos no Brasil. Eles são nativos da Austrália e estão preservados da extinção
Só para constar, antes que iniciem alguma campanha por aí: Não existem ornitorrincos no Brasil. Eles são nativos da Austrália e estão preservados da extinção
As coisas funcionam assim: Um domingo a Veja denuncia que o governo teria pronto um plano para eliminar todos os ornitorrincos do território nacional.
À noite, o Fantástico, com uma reportagem cheia de detalhes, dando a impressão que já a tinha preparada, rogando aos espectadores para que façam algo para parar o extermínio. E, enquanto soa uma música dramática de fundo, diz que não façam por cada um de nós, mas pelos ornitorrincos.
No dia seguinte, a Folha intitula: “Feroz investida do governo contra os ornitorrincos”. “Ameaça de extinção”
Na terça, o Jô coloca a pergunta: Vão desaparecer os ornitorrincos? Como os brasileiros não reagem frente à extinção dos ornitorrincos?
Miriam Porcão fala da escassez dos ornitorrincos, com seus reflexos na inflação e na pressão para novo aumento da taxa de juros.
FHC escreve sobre a indiferença do Lula e a incompetência gerencial do governo para proteger a vida de um animal que marcou tão profundamente a identidade nacional como o ornitorrinco.
Aécio diz que está disposto a por em prática um choque de gestão, similar ao que realizou em Minas, onde a reprodução dos ornitorrincos está assegurada.
Marina diz que a ameaça de extinção dos ornitorrincos é parte essencial do plano do governo da Dilma de extinção do meio ambiente. Que assim que terminar de conseguir as assinaturas para ser candidata, vai apelar a organismos internacionais a que intervenham no Brasil para evitar a extinção dos ornitorrincos.
Marcelo Freixo denuncia que são milícias pagas pelo governo os que estão executando, fria e sistematicamente, os ornitorrincos.
Em editorial, o Estadão afirma que o extermínio dos ornitorrincos faz parte do plano de extinção da imprensa livre no Brasil e que convocará reunião extraordinária da SIP para discutir o tema.
Um repórter do Jornal Nacional aborda o ministro da Agricultura, perguntando os motivos pelos quais o governo decidiu terminar com os ornitorrincos, ao que o ministro, depois de olhar o microfone, para saber se é do CQC, respondeu: Mas se aqui não há ornitorrincos! O repórter comenta para a câmera: No governo, não querem admitir a existência do plano de extermínio dos ornitorrincos, que já está sendo posto em prática.
Começam a circular mensagens na internet, que dizem: “Hoje todos somos ornitorrincos” e “Se tocam em um ornitorrinco, tocam a todos nós”.
Heloisa Helena declara que os ornitorrincos são só o princípio e que o governo não tem limites na sua atuação criminosa, os coalas e os ursos pandas que se cuidem.
Uma ONG com sede em Washington lança uma campanha com o lema: “Fjght against Brazilian dictatorship!! Save the ornitorrincs!!
O Globo, Folha e o Estadão com a mesma manchete: Sugestivo silêncio da presidente confirma culpabilidade.
Colunista do UOL diz que, de fonte segura, lhe disseram que o governo, diante da péssima repercussão do seu plano de exterminar os ornitorrincos, decidiu retroceder.
Todos os jornais editorializam, no final da semana, que os ornitorrincos do Brasil estão salvos, graças à heroica campanha da imprensa livre.
(Este artigo é a simples tradução e adaptação dos nomes para personagens locais, de um texto que corre nas redes da Argentina. As coisas funcionam assim lá e aqui)
Emir Sader é jornalista e escritor.

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