No centro das atividades de política externa de Correa está o
fortalecimento de organizações regionais latino-americanas nas quais não há
representante dos EUA: a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe
(CELAC), a União das Nações Sul-americanas (UNASUR), a Aliança Bolivariana para
os Povos da América (ALBA) e outras. Correa sempre apoiou as iniciativas de
Hugo Chávez que viabilizaram uma menor dependência da região em relação ao
Império, o esvaziamento da Doutrina Monroe no Hemisfério Ocidental e a
interação entre países latino-americanos com outros centros de poder. Nessa
direção, o Equador está fixando um novo padrão e um exemplo, ao estabelecer
relações amplas com China e Rússia nos campos político, econômico e militar. A
presença dos EUA no país está diminuindo, e o governo Obama tenta romper essa
tendência. O presidente Correa foi declarado principal responsável pela
deterioração das relações EUA-Equador.
Foi Correa quem iniciou a campanha internacional contra a empresa
Chevron. A Corte de Arbitragem em Haia dispensou a empresa de ter de pagar
multas de vários bilhões de dólares por poluir a bacia do Rio Amazonas em
território do Equador. Correa não aceitou a decisão, que o Equador considerou
humilhante e injustificada. Visitou pessoalmente a zona do desastre e mostrou a
jornalistas e câmeras de televisão as mãos cobertas de óleo cru deixado a vazar
num antigo ponto de extração, e disse: “Esse é o resultado de a empresa usar
aqui tecnologias ultrapassadas.”
Correa conclamou os consumidores a não comprar produtos da Chevron. Um
tribunal equatoriano acolheu processo iniciado por índios que habitam a área do
desastre ecológico, que exigiu que a empresa pagasse multa de 19 bilhões de
dólares em danos ao meio ambiente e contra a saúde da população. Fazendo bom
uso da grande experiência que acumulou nesses processos, Chevron conseguiu
obter uma sentença favorável da Corte Internacional de Arbitragem em Haia.
Mas Correa não desistiu. Obteve o apoio da UNASUR e da ALBA e conclamou
a comunidade internacional a manifestar solidariedade ao Equador. Já não há
propriedades da empresa Chevron no Equador, mas a multa exigida pelos
equatorianos poderá ser paga com propriedades da empresa na Argentina, Brasil
ou Canadá – o que implica graves consequências financeiras para a empresa.
O governo Obama decidiu defender os interesses da Chevron a qualquer
custo. Esse é um dos fatores pelos quais está direcionando os serviços secretos
dos EUA para que deem solução radical ao “problema Correa”.
O presidente do Equador também trabalha contra o avanço da Aliança do
Pacífico, um dos projetos geopolíticos dos neoliberais de Washington e que
inclui México, Colômbia, Peru e Chile. A Aliança foi criada para neutralizar o
bloco da ALBA, e a presença do Equador na ALBA não contribui para os objetivos
estratégicos dos EUA naquela região do Pacífico.
A espionagem dos serviços secretos dos EUA contra o presidente do
Equador é cada dia mais visível. Conversas telefônicas e comunicações em geral
interceptadas no círculo mais próximo do presidente, de seus agentes de
segurança e de sua escolta pessoal ajudam os norte-americanos a saber de todos
os movimentos do presidente, eventos aos quais comparece, listas de participantes
e sistemas de segurança. O monitoramento ininterrupto oferece farto material
para identificar pontos de vulnerabilidade na organização da segurança.
Recentemente, na sua já tradicional fala dos sábados, por televisão, o
presidente Correa falou aos equatorianos sobre a suspeita concentração de
pessoal militar na embaixada dos EUA em Quito.
“Todas as embaixadas têm adidos militares” – disse Correa. – “A
maioria, tem um. Mas aqui no Equador eles têm mais de 50!”
Disse também que instruiu o ministro de Relações Exteriores Ricardo
Patino, que “Verifique essa informação! Esse número gigante de militares
norte-americanos aqui não é possível! Terão de reduzi-lo ao nível normal.”
O presidente também exigiu que seja investigado um incidente na
fronteira Equador-Colômbia, de queda de um helicóptero equatoriano, com vários
militares dos EUA a bordo. A preocupação de Correa é compreensível; a base dos
EUA em Manta foi fechada em 2009, mas assessores militares do Pentágono e
agentes dos serviços secretos dos EUA continuam a manter operações em
território equatoriano sem qualquer limitação.
A intensificação da espionagem e de atividades de subversão por agentes
norte-americanos no Equador é óbvia. Segundo informação da inteligência
militar, divulgadas pelo site contrainjerencia.com,
só o número de agentes da CIA já dobrou, entre 2012-2013, na ‘base’
equatoriana. Dúzias de novos agentes chegaram ao país. Operam não só a partir
da embaixada dos EUA em Quito, onde há, no mínimo, uma centena de diplomatas
(!), mas também usam o consulado em Guayaquil. Para criar acomodações para o
número crescente de agentes norte-americanos de espionagem (“pessoal de
inteligência”) nessa importante cidade portuária, estrategicamente crucial, o
Departamento de Estado teve de construir um novo prédio para o consulado, o
qual, segundo agência de inteligência que colabora com o Equador, abriga o
equipamento eletrônico da Agência de Segurança Nacional dos EUA. O cônsul dos
EUA em Guayaquil é David Lindwall, chegado ao país depois de ter sérvio no
Iraque como Conselheiro de Assuntos Político-Militares. Lindwall também serviu
como Adido Político nas embaixadas em Bogotá, Manágua, Tegucigalpa, Assunção e
outras capitais latino-americanas.
O nome de Lindwall aparece com alta ocorrência nos telegramas
diplomáticos distribuídos por WikiLeaks. Qualquer rápida pesquisa nos
telegramas assinados por ele obriga a concluir que Lindwall é experiente
funcionário de carreira da CIA, muito informado sobre a América Latina, enviado
ao Equador para resolver problemas muito sensíveis.
O presidente Correa várias vezes falou dos EUA como “potência
arrogante” que tenta impor ao mundo o que entende que sejam “valores
democráticos universais” e vive a dar aos outros “lições de moral e boas
maneiras”. O presidente frequentemente repete que os EUA têm um dos sistemas
eleitorais mais imperfeitos do mundo, que permite a eleição de candidatos
derrotados nas urnas. Correa considera “insultantes” as tentativas da Agência
de Desenvolvimento Internacional (USAID), para impor padrões da democracia
norte-americana ao Equador e outros países, como se fossem colônias dos EUA.
Recentemente, ao comentar o fim do financiamento que a USAID dava a projetos no
Equador, no valor de 32 milhões de dólares, Correa sugeriu, não sem sarcasmo,
que Washington aplicasse a mesma quantia para aprimorar a democracia
norte-americana.
O escritório da USAID está deixando o Equador, mas as operações de
espionagem dos EUA para desestabilizar o país continuam. Ao que tudo indica,
novos ataques nessa área podem estar em conexão com planos de Correa para
reduzir o tamanho das forças armadas e transferir parte do pessoal militar para
as agências policiais. “Exércitos de dissidentes” anônimos já divulgaram
declaração hostil a Correa e suas “tentativas para tomar o lugar de Chávez no
continente”. Até o palavreado indica quais são as forças por trás da campanha
que está sendo lançada contra Correa.
Durante levante policial em setembro de 2010, o presidente do Equador
foi apanhado no fogo cruzado de atiradores postados em prédios; daquela vez,
escapou ileso. É perfeitamente possível que a inteligência dos EUA esteja
planejando coisa semelhante para futuro próximo. Afinal, depois dos ataques
contra New York em 2001, as agências norte-americanas de espionagem receberam
carta branca para eliminar todos os declarados inimigos dos EUA. Ninguém
cancelou essa ordem.
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