Ademir Alves de Melo*
Os
homens que inventaram Deus devem ter a finura de desinventar o princípio da sua
infalibilidade, justificada, recorrentemente, nos acertos e nos erros humanos
com a sentença reducionista que dá por encerrada a questão: “Por que Deus
quer”.
Se
a Natureza por acaso fez de uma placenta hospedeira de dois óvulos sertanejos
que se desenvolveram e tornaram em frutos do mesmo ramo - tão parecidos que, às
vezes, um não sabe se é ele mesmo ou se é o outro – não se pode atribuir à
vontade divina nem à Natureza responsabilidade por uma candidatura geminada,
tão legítima e verdadeira quanto a propriedade de Jesus sobre um veículo
adesivado com essa invencionice, como usualmente se vê em circulação essa
manifestação de fé enganosa.
Os
placentários juram pelo sangue de Cristo e a hóstia consagrada apoio à
candidata de Dilma Rousseff à presidência da República. Não escondem do
material de propaganda em divulgação esta opção concertada, mesmo a contragosto
de Lula e Dilma, que rejeitam esse apoio, nos termos propostos, por seus
fundamentos. Paradoxalmente e de encontro a essa declaração talhada de
fidelidade, a turma do PT de estrela vermelha alaranjada chancela a
candidatura à reeleição do governador,
que se esmera na campanha oposicionista de Eduardo Campos. Este presidenciável
não poupa críticas ao governo Dilma e ao PT, somando voz às forças tenebrosas
da reação e do golpismo latejante. Assim, a candidatura da placenta oxigena,
via Ricardo Coutinho, os esforços de Campos e da oposição ranzinza, para impedir
a vitória de Dilma no primeiro turno, e regatear, depois, vantagens e prebendas
no eventual segundo turno. Até porque, vai ficar desempregado.
O
candidato girassol faz a derrubada de votos com a força devastadora das derrubadas
das florestas pelas lâminas e marinadas das serras e dos Serras, esperando
compensação no novo governo social-desenvolvimentista, verbi gratia a remissão da
maquiavélica engenharia política que ora conduz. Nem Augusto dos Anjos foi tão enfático
na exaltação do EU.
Ricardo
arrasta na ciranda subalterna lideranças que repetem as lições mal aprendidas de
FHC, ao dispensar a opinião pública no ocaso de seu desgoverno: “Esqueçam o que
falei”. Lições mal assimiladas porque FHC sabia que se despedia da vida pública
para entrar na história como o vendilhão da pátria, enquanto que os seus
aprendizes, na esquerda descarrilhada do PT, pretendem entrar na política e
fazer história como querem, alheios às circunstâncias com que se defrontam
diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado, como nos ensinam os mestres
da socioeconomia.
E
se Dilma ganhar no primeiro turno, como fica a situação da turma da placenta e
entourage?
* Professor doutor do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB
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