sábado, 31 de janeiro de 2015

Sou Syriza, e não é de hoje.

Sou Syriza, e não é de hoje

Luciana Genro

A vitória do Syriza tem uma importância enorme, não só para os gregos e europeus, mas para nós, brasileiros. A Grécia foi o laboratório mais recente de uma velha receita: diante da crise, austeridade. A ideia de um governo austero pode agradar os mais desavisados. Mas a Grécia nos ensina que a austeridade pregada pela Troika, pelos mercados, pela grande mídia, significa ataques aos direitos do povo.

Na Grécia estes ataques foram radicais: cortes nominais nos salários e aposentadorias, demissões em massa de servidores públicos, privatizações, cortes nos gastos sociais. A Grécia seguiu fielmente a receita exigida pelos mercados. Aliás, entregou aos mercados o comando da Nação. O resultado foi que 1 em cada 4 gregos está desempregado, 50% da população vive na pobreza, 60% da juventude está desempregada.

As primeiras medidas tomadas pelo governo Tsipras vieram no sentido oposto às pregações por austeridade: fim das privatizações, aumento do salário mínimo, energia gratuita para 300 mil lares, readmissão de funcionários demitidos. Além disso, vai lutar pelo cancelamento de 50% da dívida grega e pela suspensão do pagamento da outra parte até que o país volte a crescer. Quanta diferença em relação ao PT!

Aqui no Brasil não vivemos uma situação tão dramática como a da Grécia. No entanto, é sabido que a crise vai se agravar nos próximos meses. A resposta que o governo Dilma dá a esta situação é a mesma, guardadas as proporções do tamanho da crise, que o governo do PASOK (socialdemocracia) e depois o da Nova Democracia (centro direita) deram ao problema grego, isto é, a dita austeridade e a submissão às vontades do mercado financeiro.  Com uma cara de pau impressionante a presidenta  Dilma afirma que não vai mexer nos direitos trabalhistas, ao mesmo tempo em que anuncia restrições no acesso ao seguro-desemprego, justamente em um ano que, todos sabem, vai aumentar o desemprego. Ela também adotou o lema “Brasil Pátria Educadora” e ao mesmo tempo o Ministério da Educação foi o maior atingido pelos cortes anunciados: R$ 7 bilhões de um total de R$ 22,7 bi cortados do orçamento.  Vivemos um momento de desmoralização da eleição de Dilma. Parece que foi tudo uma encenação de mau gosto para enganar o povo. O recado de junho de 2013 realmente não foi ouvido pelas elites políticas!

Os jornais anunciam que o Brasil teve déficit nas suas contas pela primeira vez desde 1997 reforçando a ideia de que temos que cortar gastos. Insistem também em divulgar que a dívida pública federal fechou o ano em R$ 2,29 trilhões, com uma alta de 8,15% no ano. Mas não explicam as verdadeiras razões desta situação. Para onde foi este dinheiro? Por acaso o povo brasileiro está usufruindo de ótimas instalações de saúde? A educação está uma maravilha? O transporte público melhorou? Os servidores públicos estão ganhando muito bem? Não, nada disso. Tudo está ruim e, com a dita austeridade, vai piorar. O clamor por austeridade ignora a situação do povo, com desemprego crônico, baixos salários e serviços públicos degradados.

O que pode vir por aí está na nossa cara. É só olhar para a Grécia, Espanha, Portugal, Itália. Não é casual que nestes países crescem as alternativas aos partidos do sistema. O Podemos na Espanha pode ser o próximo a derrotar a velha política.

Para defender a austeridade sempre dizem que “não há almoço grátis”. É verdade, para o povo não há. O que é distribuído em tempos de bonança econômica é rapidamente retirado nos momentos de crise. Mas tem gente almoçando, jantando e se empanturrando de graça sim. É para eles que está indo o grosso do dinheiro que aumenta a dívida e o déficit. Para exemplificar, o Bradesco lucrou R$ 15 bilhões em 2014, um salto de 25,6% em relação a 2013! E o Banco Central prevê novas altas de juros, que já está em 12,25% ao ano.

O mercado de "private banking" brasileiro caminha para alcançar R$ 1 trilhão em 2016, pois a previsão é de que quase 500 mil novos milionários entrem no mercado até lá, elevando o total de 319 mil para 815 mil em quatro anos. Nas estimativas do banco Credit Suisse, o Brasil terá uma das maiores taxas de crescimento de milionários do mundo no período, com 155% de aumento.

A austeridade não atinge os bancos e os milionários. Nem passa pela cabeça do austero Joaquim Levy diminuir a taxa de juros para estancar a sangria de recursos para pagamento da dívida, muito menos realizar a auditoria demandada na Constituição de 1988. Causou arrepios a todos os defensores da austeridade a proposta que defendi na campanha eleitoral de regulamentar o Imposto sobre Grandes Fortunas ou acabar com os privilégios tributários dos bancos e especuladores. A casta parasitária, que nada produz e só vive dos ganhos financeiros, não perde a oportunidade de defender o arrocho, mas não quer nem discutir a hipótese de taxar os milionários e atingir a cleptocracia dos banqueiros e seus aliados: os políticos do sistema e os grandes meios de comunicação que reproduzem, sem contraponto, o discurso dos mercados. 

Me chamam de radical. Pois sou mesmo. Quero ir à raiz dos problemas, às suas causas. Sou Syriza, e não é de hoje. 


sábado, 24 de janeiro de 2015

Ex-oficial da Marinha dos EUA sustenta que CIA matou Eduardo Campos


Luiz Müller


Ex-oficial da Marinha dos EUA sustenta que CIA matou Eduardo Campos

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Claudio Tognolli em seu blog
Jornalista de renome nos EUA, Wayne Madsen publicou em sua coluna no jornal on-line Strategic Culture Foundation o texto em que denuncia que a morte do candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) em acidente de avião em 13 de agosto teria sido uma trama da CIA.
O artigo é intitulado “All factors point to CIA aerially assassinating brazilian presidential candidate” (“Todos os fatores indicam que a CIA assassinou por via aérea candidato brasileiro à Presidência”). Madsen estabelece que uma derrota de Dilma Rousseff representaria uma vitória para os planos de Barack Obama de eliminar “presidentes progressistas” da América Latina.
Wayne Madsen concedeu entrevista exclusiva a este blog, em que reafirma a tese de que a CIA matou Campos. Ex-oficial da Marinha dos EUA, o jornalista Wayne Madsen é taxativo: “Marina Silva é a favorita de Obama e do George Soros. Marina defende que os EUA comandem a globalização, o livre comércio, investimentos privados e Marina é pró-Israel. Marina é do jeito que o Pentágono e Wall Street adoram”. Ele é taxativo: os técnicos da National Transportation Safety Board, órgão dos EUA que investiga acidentes, vieram ao Brasil para levar as provas do acidente de Campos para os EUA – e sumiram com elas.
Tognolli – Você conhece algum caso nos EUA que envolva não gravação de conversações e fatos similares aos de Campos?
Wayne Madsen – O caso da queda do avião de Campos não recebeu nenhuma cobertura na mídia dos EUA. Mas aqui nos EUA já vimos casos similares em não divulgação de teor de caixas pretas após grandes acidentes, como no caso da queda do TWA 800, voo Airlines 587 de Nova Iorque a Santo Domingo, na República Dominicana, e queda dos aviões do senador Paul Wellstone e de John F. Kennedy Jr.
Nota do blog
Sobre a morte de Wellstone, clique aqui.
Em 16 de julho de 1999, John Kennedy, sua esposa Carolyn e sua cunhada Lauren morreram num acidente de avião. Kennedy estava pilotando o monomotor. Os três estavam indo para o casamento da prima de John, Rory. Ele faleceu aos 38 anos e seu corpo foi cremado.
Tognolli –Você apenas opina sobre a participação da CIA na morte de Campos ou tem elementos como indícios de prova material?
Wayne Madsen –Os rastros do envolvimento da CIA na morte de Campos são as anomalias técnicas que envolvem a queda e a confusa história da propriedade do avião. A L3 Communications and Textron prestam serviços para a CIA.
Nota do blog
A L3 Communications Inc. é uma empresa de defesa norte-americana, baseada em Manhattan, Nova Iorque, que fabrica equipamentos de “controle e comando” de comunicação, inteligência, monitoramento, sistemas de reconhecimento aéreo, além de instrumentação e produtos oceânicos e aeroespaciais. A empresa possui 63 mil funcionários e um faturamento superior a US$15 bilhões. Seus principais clientes são oDepartamento de Defesa dos Estados Unidos, a CIA, a Nasa e diversas empresas de telecomunicação e forças armadas internacionais.
A Textron Company é uma holding norte-americana que controla empresas fabricantes de aeronaves civis e militares. A Textron foi fundada em 1923, por Royal Little, como Special Yarns Company hoje inclui empresas em diversos ramos de negócios como: Bell Aircraft Corporation, Cessna Aircraft Company e Lycoming Engines.
Tognolli – Quais outros casos envolvem a CIA?
Wayne Madsen – A CIA dispõe de vasta experiência em derrubar aviões: derrubaram o avião dos presidentes Jaime Roldos, no Equador, Omar Torrijos, no Panamá, do líder revolucionário cubano Camilo Cienfuegos, em 1959, e o também o avião da Cubana Aviación 455, em Barbados. A CIA também derrubou o avião do primeiro-ministro de Portugal, Sá Carneiro, e de seu ministro da Defesa, mortos na queda do Cessna 421 em Lisboa, em 1980, numa pré-eleição muito parecida agora com a pré-eleição de Eduardo Campos. Essa queda pavimentou a entrada de um governo português pró-EUA. Temos também a morte do candidato presidencial venezuelano Renny Ottolina, morto numa suspeita queda de um Cessna 310, em 1978. Renny Ottolina era um apoiador das ideias bolivarianas para a integração total da América Latina, ideais que foram mais tarde adotados por Hugo Chavez e eram obviamente combatidos pela CIA. Ottolina seria um futuro alvo primordial da CIA por sustentar esses ideais no poder. O líder político indiano Madhavrao Scindia morreu numa queda suspeita de Cessna C90 em 2001. Ele era o autêntico marajá da cidade de Gwalior, e se desse certo como líder político nacional teria trazido de volta as regras de antigos principados, muitas das quais seriam radicalmente opostas à globalização da sociedade indiana. Ele seria um dos maiores estorvos para a CIA.
Nota do blog
Gwalior é uma cidade do estado de Madhya Pradesh, na Índia. Localiza-se no centro do país. Tem cerca de 917 mil habitantes. Foi capital de um principado semi-independente até 1947.
Tognolli – Por que, em sua opinião, a CIA escolheu Campos, e não o venezuelano Maduro ou nossa presidente Dilma?
Wayne Madsen – Porque o PT de Dilma teria nomeado rapidamente um substituto caso ela fosse assassinada. Campos virou um alvo para poder elevar Marina e garantir uma derrota a Dilma e ao PT.
Tognolli – Há casos similares de queda de Cessna 560 XLS, como o de Campos?
Wayne Madsen – Não, esse avião tem índices de segurança exemplares. Mas o avião de John Kennedy era um Cessna que se suspeita tenha sofrido sabotagem. Um Cessna 310 caiu e matou o republicano Hale Boggs, um membro dissidente da Comissão Warren, que investigava a morte do presidente John. Boggs acusava a CIA de estar por detrás do assassinato de Kennedy. A queda de um Cessna 335 matou também o governador do estado do Missouri, Mel Carnahan, um dia antes das eleições.
Nota do blog
A Comissão Warren (nome oficial The President’s Commission on the Assassination of President Kennedy) foi estabelecida em 29 de novembro de 1963 pelo presidente dos EUA Lyndon Johnson para investigar o assassinato de John Kennedy.
Tognolli – Por que você não confia nos membros da National Transportation Safety Board, que veio ao Brasil investigar a queda do Cessna de Campos?
Wayne Madsen – Porque esse pessoal da NTSB foi publicamente acusado de acobertar as causas da queda do TWA 800.
Tognolli – Como ex-oficial da Marinha dos EUA, você foi um dos responsáveis por ter implantado o primeiro programa de segurança deles. Você dispõe de fontes militares para acusar a CIA na morte de Campos?
Wayne Madsen – Eu de fato tenho muitas fontes da comunidade de inteligência dos EUA que acusam o diretor da CIA, John Brennan, de participar de mortes praticadas pela CIA em serviços clandestinos que fazem parte rotineira das operações diárias da CIA.
Tognolli – Como a CIA mascara crimes, como você sugere tenha sido feito com Campos?
Wayne Madsen – Mascaram fazendo com que tais crimes se pareçam com acidentes e depois passam a acusar quem os põe em xeque como sendo teóricos da conspiração, fazendo uso de jornalistas pagos pela CIA para disseminar a propaganda dos serviços de inteligência dos EUA.
Tognolli – Como a National Transportation Safety Board opera então no Brasil?
Wayne Madsen – O pessoal da NTSB só atua em nome do governo doa EUA, sempre acusando alguém pela queda de aviões, para despistar, como fizeram agora contra o governo da Rússia, acusando-o de ter derrubado o avião da Malásia Airlines 17 na Ucrânia.
Tognolli – Quem são os políticos favoritos dos EUA no Brasil e quem são os mais odiados?
Wayne Madsen – Marina Silva é a favorita de Obama e do Soros. Marina defende que os EUA comandem a globalização, livre comercio, investimentos privados e Marina é pró-Israel: Marina é do jeito que o Pentágono e Wall Street adoram.
Tognolli – Como um repórter investigativo brasileiro poderia ter atuado no caso Campos?
Wayne Madsen – Jamais deveriam ter permitido que o pessoal da National Transportation Safety Board tivesse retirado evidências e dados físicos da cena da queda do avião de Campos e os levado aos EUA: jamais.
Nota do blog
George Soros é um empresário e homem de negócios húngaro-americano. Ficou famoso pelas suas atividades como especulador, nomeadamente em matéria de taxas de câmbio, chegando a ganhar US$1 bilhão em um único dia apostando contra o banco da Inglaterra, bem como pela sua atividade filantrópica, que apoiou entre outros, a Universidade Central Europeia.

Esta é a liberdade de imprensa que a chamada "grande mídia" defende

Je suis Falha de S.Paulo

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Bom humor: Mário e Lino Bocchini no dia do julgamento do TJ/SP. O caso agora está no STJ.
Chega ao Superior Tribunal de Justiça recurso de dois jornalistas brasileiros contra Folha de S.Paulo, que quer puni-los por críticas em forma de humor.
Via Desculpe a Nossa Falha e lido no Outras Palavras
A disputa jurídica entre o jornal Folha de S.Paulo e os irmãos Mário e Lino Bocchini, autores do blog satírico Falha de S.Paulo, chegou ao Superior Tribunal de Justiça. O caso, julgado em primeira e segunda instâncias pela justiça paulista, agora está nas mãos do ministro Marco Buzzi.
“O agravo que interpusemos está no STJ, mas não tem data marcada para ser julgado”, explica Luís Borrelli Neto, advogado responsável pela defesa dos irmãos criadores da Falha ao lado de Leopoldo Eduardo Loureiro.
A disputa começou em setembro de 2010, às vésperas das eleições presidenciais. No começo daquele mês os irmãos Bocchini abriram um blog chamado Falha de S.Paulo, no domínio falhadespaulo.com.br. A página satirizava o jornal com fotomontagens e comentários, sempre com o objetivo de mostrar que a empresa, apesar de se dizer imparcial, tem preferências político-partidárias claras e esconde isso do leitor.
A suposta neutralidade é um dos pilares do marketing do Grupo Folha, e a reação foi rápida: apenas 17 dias depois do blog entrar no ar, os advogados da família Frias conseguiram uma liminar censurando-o. A mando da direção foi aberto ainda um duro processo contra os autores. Desde 30 de setembro de 2010, quando o blog satírico foi tirado do ar, Mário e Lino vêm tentando, por meio de seus advogados, reverter a decisão.
O jornal alega estar defendendo sua marca, baseado na Lei de Propriedade Industrial. A advogada Taís Gasparian, que assina a ação de 88 páginas que censurou o site, defende que o leitor da Folha poderia não conseguir diferenciar o blog satírico do site oficial do jornal, e ao entrar na Falha, poderia achar que estava na Folha. Diz ainda que foi feito “uso indevido da marca”.
Os autores do blog dizem acreditar na inteligência do leitor da Folha, alegam não ter infringido lei alguma e afirmam que a empresa da família Frias, no fundo, incomodou-se com o conteúdo crítico da página, e por isso resolveu censurá-la juridicamente.
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Personagem-símbolo da Falha, “Otavinho Vader”, mistura Otavio Frias Filho com Darth Vader. Ao fundo o guarda-costas Sérgio “Freedom of Speech” Dávila, inspirado no editor do jornal.
“Hoje nem faríamos um blog como aquele, a Folha perdeu muito de sua relevância, há anos não é sequer o jornal mais lido da cidade de São Paulo. A nossa maior preocupação é com a jurisprudência. Trata-se de um processo inédito no Brasil: é a primeira vez que uma grande empresa de comunicação, com seu poder econômico, consegue censurar um outro veículo que a critica. Sendo assim, o que for decidido em Brasília balizará casos futuros”, explica o jornalista Lino Bocchini, que criou o blog com seu irmão Mário, programador e designer.
“O conteúdo da decisão extrapola os limites subjetivos da causa, podendo atingir outros órgãos de imprensa, humoristas e artistas que utilizem a paródia como meio de crítica. A ameaça ao direito fundamental da liberdade de expressão é notória”, afirmam os advogados Borrelli e Loureiro no agravo que encontra-se no STJ.
O alerta dos autores da página cassada e de defensores é que, em caso de vitória da Folha, outras empresas terão à disposição um precedente jurídico lastreando novos atos de censura como o cometido pelo jornal.
A ação é tão desproporcional que, em caso de vitória da empresa, a decisão poderia ser usada futuramente contra os cartunistas ou articulistas da própria Folha.
O jornal argumenta que a crítica é livre desde que não seja usado o nome Falha de S.Paulo, o endereço falhadespaulo.com.br, fontes ou layouts semelhantes aos do jornal. “A argumentação da Folha é de um atraso secular e não tem conexão alguma com a realidade. Já nos anos de 1920 o Barão de Itararé mantinha o suplemento satírico A Manha, brincando com o jornal A Manhã, e não sofria ameaça alguma. Nos anos de 1990, Ziraldo utilizou a mesma logotipia e diagramação da revista Caras em sua revista Bundas. E há dezenas de outros exemplos. Por essa lógica da Folha, o Lula ou o Sílvio Santos poderiam censurar cada um de seus imitadores”.
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Essa charge do cartunista Angeli, publicada na Folha poucos dias após a liminar, poderia ser censurada pelo Mc Donald’s com o mesmo argumento da Folha: “Uso indevido da marca.”
Solidariedade e corporativismo
O entendimento de que a ação do Grupo Folha é um grave atentado à liberdade de expressão ultrapassou as fronteiras brasileiras. Três meses após o ocorrido, Julian Assange, criador do WikiLeaks, afirmou o seguinte ao jornal O Estado de S.Paulo: “Entendo a importância de proteger a marca e temos sites similares que se passam por WikiLeaks. Mas o blog não pretende ser o jornal e acho que deve ser liberado. A censura é um problema especial quando ocorre de forma camuflada. Sempre que haja censura, ela deve ser denunciada”.
A organização Repórteres Sem Fronteiras soltou um apelo em três idiomas: “Essas ações, que procuram asfixiar financeiramente um meio de comunicação, ilustram uma nova forma de censura. O desfecho desse caso poderia constituir um precedente perigoso em matéria de direito à caricatura, parte integrante da liberdade de expressão e de opinião. É por esse motivo que solicitamos à direção de A Folha de S.Paulo que renuncie a esse combate desigual e que desista do processo contra os irmãos Bocchini. Esse gesto contribuiria para a reputação do diário, que mostraria assim seu apego à livre circulação das ideias, opiniões e críticas, garantidas pela Constituição de 1988. A mídia deve aceitar estar exposta à crítica pública como qualquer outro poder ou instituição”. O jornal ignorou o pedido.
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Mário e Lino Bocchini conversam com o relator da ONU.
O relator especial da ONU para a Liberdade de Expressão, Frank La Rue, durante visita ao Brasil em 2013, também se manifestou: “É interessante esse uso da ironia que vocês fizeram usando as palavras Folha e Falha. Uma das formas de manifestação mais combatidas hoje em dia, e que deve ser defendida, é o jornalismo irônico”. La Rue citou, entre outros, o jornal norte-americano The New York Times, alvo de diversas sátiras sem nunca ter apelado para a justiça contra quem o criticava.
A então ombudsman da Folha, Susana Singer, assinou em janeiro de 2011 a coluna “David e Golias”. A jornalista tentou minimizar a gravidade dos atos de sua empresa, mas concluiu desta forma: “Não faz bem a um veículo de comunicação progressista – e que se considera ‘jornal do futuro’ – cercear um blog caseiro, apelativo sem dúvida, mas inofensivo”.
Em outubro de 2011, o atentado contra a liberdade de expressão cometido pela Folha foi ainda tema de uma audiência pública no Congresso Nacional. Participaram 16 parlamentares de nove partidos diferentes, do PP ao PSOL. As críticas à Folha foram unânimes.
O caso Folha × Falha foi notícia ainda em centenas de sites do Brasil e do exterior e objeto de reportagens de veículos como a revista Wired ou o jornal Financial Times.
A disputa jurídica nunca foi noticiada, contudo, por nenhum jornal, rádio, tevê, site ou revista da autodenominada “grande imprensa” brasileira.
“Ficamos muito felizes e agradecidos com todo esse apoio. E agora que o processo está no STJ e podemos conseguir uma importante vitória, todo suporte e divulgação, mesmo em páginas pessoais de redes sociais, é extremamente bem vindo”, diz o programador Mário Ito Bocchini.
Abuso do poder econômico
Quando a Folha pediu à Justiça paulista a cassação do blog satírico, solicitou ainda uma multa aos irmãos no valor de R$10 mil por dia que o site continuasse no ar. O juiz concedeu a liminar, mas baixou o valor da sanção para R$1 mil por dia.
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A ação trazia outra ameaça financeira: os advogados da empresa pediam uma multa aos irmãos, de valor a ser determinado pela Justiça, a título de “indenização por danos morais”.
O julgamento em primeira instância, confirmado pelo TJ/SP, negou o pedido financeiro. Manteve, contudo, o site fora do ar e foi além, congelando o endereço no Registro.br, departamento responsável pelo gerenciamento dos endereços de internet no Brasil. Por conta disso, hoje, ninguém pode utilizar-se do domínio falhadespaulo.com.br.
“Sob pretexto de proteção da marca Folha, proíbe-se Falha, mas pode ser proibido também Filha, Folia, Pilha e toda sorte de combinação de letras que se aproximem de Folha. Do ponto de vista estritamente comercial, a restrição pode fazer sentido. Mas, quando passamos para o direito de crítica, de expressão, a proibição transforma-se em censura”, argumenta o recurso apresentado ao STJ pelos advogados da Falha.
Neste momento em que a defesa da liberdade de expressão ganha força no mundo todo e consolida-se como um direito inegociável, o caso Folha × Falha está mais atual do que nunca.
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A mídia não defende a liberdade de expressão



A mídia não defende a liberdade de expressão!

Miguel do Rosário


É preciso enterrar esta mentira.

A mídia brasileira não defende a liberdade de expressão.

Nem absoluta, nem parcial, nem nenhum tipo de liberdade de expressão.

A única liberdade que a mídia conhece é aquela que lhe interessa comercialmente.

A mídia brasileira não deu quase nada sobre a sonegação da Rede Globo.

Houve um sinistro pacto de silêncio em torno do assunto, apesar de envolver 1 bilhão de reais, roubo de processo e lavagem de dinheiro em diversas off shore no exterior.

A mídia brasileira apoiou o golpe, sustentou a ditadura e se enriqueceu à margem de um regime totalitário que censurava, matava e prendia quem tinha coragem de se expressar livremente.

Além disso, a liberdade de expressão não existe num regime de monopólio.

O sistema de comunicação brasileiro não é democrático e, portanto, não é livre.

E se não é livre, não existe liberdade de expressão.

O poder de poucas famílias sobre tvs, rádios e jornais, não encontra paralelo no mundo democrático.

O arcabouço legal, após o fim da lei de imprensa, também não colabora para a liberdade de expressão.

Ricos e poderosos podem processar judicialmente qualquer um que lhes incomode. Como não há lei, depende-se da opinião de juízes, que infelizmente ainda formam, no Brasil, um estamento patrimonialista a serviço da classe dominante

É o caso, por exemplo, de Ali Kamel, que processa vários blogueiros, por conta de ninharias.

Ninguém lhe chamou de ladrão. Ninguém ofendeu sua família. Ninguém o desrespeitou como pessoa.

Houve apenas humor, chiste e, no meu caso, uma crítica política ao chefe do jornalismo do maior monopólio da América Latina.

Não existe liberdade de expressão nem na própria mídia.

Se alguém elogiar um político do qual a mídia não gosta, é demitido.

Se alguém fizer uma charge crítica ao político que a mídia gosta, é demitido.

O jornalismo brasileiro encontra-se cada vez mais oprimido por um patronato sectário.

Não há liberdade nenhuma!

Enquanto todas as profissões liberais se expandem no Brasil (médicos, advogados, arquitetos, etc), o jornalismo declina.

Os salários são cada vez menores, há cada vez menos empregos. Os jornalistas se sentem cada vez mais oprimidos nas redações.

Não podem pensar, não podem falar, não podem desenhar, não podem sequer desabafar nas redes sociais.

Quer dizer, podem desabafar sim, desde que o desabafo seja agradável aos patrões!

Podem falar o que quiser, desde que toquem conforme a música dos barões da mídia!

E agora a mídia brasileira, uma mídia monopolista, conservadora, golpista, astutamente, toma para si a bandeira de Charlie, um jornalzinho nascido na luta contra os monopólios, contra os conservadores, e que sempre defendeu, de verdade, a democracia.

No enterro de Charb, seus amigos cantaram a Internacional, a famosa canção revolucionária, com os punhos erguidos, e Jean-Luc Melechon, uma das principais lideranças da esquerda francesa, fez o discurso principal.

Melechon foi o candidato a presidente da Frente de Esquerda, nas eleições de 2012. É um homem público extremamente sério e respeitado pela esquerda européia.

A esquerda francesa defende a Palestina, defende os imigrantes, defende todas as minorias, lança candidatos muçulmanos, contra uma direita cada vez mais racista, cada vez mais reacionária quando o tema é imigração.

A nossa mídia nunca fez um “Globo Repórter” em detalhes sobre o socialismo francês, que inclui um sistema tributário progressivo, leis sobre a herança e sobre as grandes fortunas, educação e saúde públicas para todos.

O socialismo francês hoje está em crise inclusive por seus excessos, e pelos vícios do próprio homem. Por exemplo, há 25 anos, o Estado francês, a partir de conselhos de psicanalistas, começou uma nova política em relação aos órfãos. Ao invés de orfanatos, as crianças eram alocadas em famílias que receberiam auxílio do Estado para criá-las. Resultado: uma quantidade crescente de famílias que rejeitavam os filhos quando este completavam 18 anos, e o Estado parava de pagar o auxílio.

Os terroristas do atentado são um exemplo. Eles foram criados por famílias que recebiam auxílio do Estado, e foram rejeitados em seguida, ingressando no mundo do crime e, depois, aderindo ao terrorismo.

A mídia brasileira é uma talentosa alquimista. Ela consegue inverter tudo. No primeiro dia da ditadura, os jornais diziam que a democracia tinha voltado.

Transformaram a democracia de Jango em ditadura, e a ditadura em democracia.

E agora transformam um jornalzinho comunista-libertário de Paris em ícone da sua visão distorcida, monopolista, hipócrita de liberdade de expressão!

Os chargistas do Globo apenas podem fazer charges que corroborem a linha reacionária do jornal.
Nenhum chargista do Globo tem ou terá liberdade de expressão para praticar uma arte livre e irreverente!

Sobretudo se a crítica deriva de uma ideologia socialista, anarquista ou libertária, como era a dos chargistas do Charlie.

Ao contrário, a mídia demite imediatamente qualquer empregado que tenha manifestação de livre pensamento, sobretudo se esta liberdade se volta em defesa da classe trabalhadora.

O controle da narrativa permite à mídia criar um universo paralelo, para dentro do qual até mesmo a esquerda se vê abduzida.

No afã de ser contra a mídia, muitas vezes fazemos exatamente o jogo dela.

A mídia, malandramente, pegou o discurso de liberdade de expressão, que é um discurso vencedor, e passou a defender um Charlie e uma França que sempre representaram tudo que a nossa mídia não é: socialista e libertária.

No grande jogo da geopolítica mundial, um jogo hoje profundamente midiatizado, a mídia brasileira quer posar ao lado dos vencedores, mesmo que estejamos falando de um jornaliznho comunista e libertário de Paris.

No fundo, ela age certo.

A esquerda, neste caso, é que pode ter cometido um erro, ao se deixar levar por um pensamento binário (a mídia é favor, então sou contra), permitindo que a mídia brasileira se finja de paladina de valores que ela, a mídia, historicamente, nunca defendeu: a democracia e a liberdade de expressão.
A mídia brasileira, tal como ela é hoje, se consolidou na ditadura.

Jornalzinhos como Charlie Hebdo, havia de montão no Brasil na década de 60, atendendo a atmosfera da época, profundamente libertária. Todos foram censurados. Os jornalistas e chargistas só encontraram emprego em dois ou três jornais do eixo Rio e São Paulo.

Sem concorrentes, sem outros jornais, empresas como Globo e Folha passaram a dar as cartas na opinião pública brasileira, durante décadas, e sua influência cresce vertiginosamente após a redemocratização.

Os poucos artistas do texto e da charge que sobreviveram à hecatombe da ditadura e às terríveis crises econômicas das décadas de 80 e 90, tiveram que se tornar submissos intérpretes do pensamento patronal.

Em suma, temos que deixar isso bem claro: a mídia brasileira é exatamente o contrário de tudo que se pode chamar de liberdade de expressão.

O PSDB e sua obra-prima de gestão: o racionamento em São Paulo



O PSDB e sua obra-prima de gestão:
o racionamento em SÃO PAULO

Saul Leblon

Após um ano de dissimulações, o PSDB oficializou o racionamento de água em SP nesta 4ª feira.

O novo presidente da SABESP, Jerson Kelman, em entrevista ao SPTV, da Globo, anunciou um corte  drástico no fornecimento, que caiu de 16 mil litros/s na 3ª feira, para 13 mil l/s a partir de agora.

O racionamento anunciado  oficializa uma realidade que já atinge mais de seis milhões de habitantes, cujo abastecimento declina há um ano acumulando um corte de 60% no fornecimento padrão da SABESP às suas torneiras (de 33 mil l/s para 13 mil l/s).

E isso é só o começo.

 'Estamos fechando a torneira porque em março, no mais tardar em junho, SP fica sem água', admitiu presidente da SABESP na entrevista.

Nada como um copo após o outro.

Na reta final da campanha presidencial de 2014, quando o então diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, advertiu na Assembleia Legislativa de São Paulo, que o abastecimento da cidade estava, literalmente, por um fio de água, foi chamado de ‘bandido’ pelo grão tucano, vereador Andrea Matarazzo.

Ele disse aquilo que o PSDB se recusava a admitir: restavam apenas 200 bilhões de litros do volume morto do sistema Cantareira, que provê boa parte da água consumida na cidade.

O pior de tudo: a derradeira reserva de água da cidade encontra-se disponível na forma de lodo.

E será com isso que a sede paulistana terá que ser mitigada caso não chova o suficiente até o final de março.

Como de fato não tem chovido nos mananciais, nem há expectativa séria de que isso ocorra suficientemente até o final da estação das águas, avizinha-se o que o novo presidente da SABESP finalmente admitiu: ‘em março, no mais tardar em junho, SP fica sem água'.

Corta e volta para a campanha eleitoral de Aécio Neves em 2014.

O estandarte da eficiência tucana era martelado diuturnamente como um tridente contra aquilo que se acusa de obras e planos nunca realizados por culpa da (Aécio enchia a boca para escandir as sílabas) ‘má governança’.

Corta de novo e volta para o presente com o foco na contagem regressiva anunciada por Jerson Kelman, o novo titular do espólio da Cantareira e da SABESP.

Vamos falar um pouco de governança?

Atribuir tudo à  ingratidão a São Pedro é um pedaço da verdade.

Num sugestivo contorcionismo eleitoral, Aécio negou a esse pedaço da verdade a explicação para a alta nos preços dos alimentos afetados pela seca.

Ou isso ou aquilo.

Estocar comida, que não grãos, caso do vilão tomate, por exemplo, que pressionou os índices de alimentos no período eleitoral,  está longe de ser uma opção exequível em larga escala no enfrentamento de uma seca.

Mas estocar água e planejar dutos interligados a mananciais alternativos, calculados para enfrentar situações limite, mesmo que de ocorrência secular, é uma obrigação primária de quem tem a responsabilidade pelo suprimento de grandes concentrações urbanas.

A SABESP sob o comando do PSDB detém essa responsabilidade há 20 anos em São Paulo.

Omitiu-se, com as consequências previsíveis que agora assombram o horizonte de milhões de moradores da Grande São Paulo.

Carta Maior lembrou no período eleitoral - enquanto Geraldo Alckmin fazia expressão corporal de seriedade, que Nova Iorque e o seu entorno, com uma população bem inferior a de São Paulo (nove milhões de habitantes), nunca parou de redimensionar a rede de abastecimento da metrópole  movida por uma regra básica de gestão na área: expansão acima e à frente do crescimento populacional.

Tubulações estendidas desde as montanhas de Catskill, mencionou-se então, situadas a cerca de 200 kms e 1200 m de altitude oferecem ao novaiorquino água pura, dispensada de tratamento e potável direto da torneira.

Terras e mananciais distantes são periodicamente adquiridos pelos poderes públicos de NY  para garantir a qualidade e novas fontes de reforço da oferta.

O sistema de abastecimento da cidade reúne três grandes reservatórios que captam bacias hidrográficas preservadas em uma área de quase 2.000 km2.

A adutora original foi inaugurada em 1890; em 1916 começou a funcionar outro ramal a leste da cidade; em 1945 foi concluída a obra de captação a oeste, que garante 50% do consumo atual.

Mesmo com folga na oferta e a excelente qualidade oferecida, um novo braço de 97km de extensão está sendo construído há 20 anos.

Para reforçar o abastecimento e prevenir colapsos em áreas de expansão prevista da metrópole.

Em 1993 foi concluída a primeira fase desse novo plano.

Em 1998 mais um trecho ficou pronto.

Em 2020, entra em operação um terceiro ramal em obras desde o final dos anos 90. Seu objetivo é dar maior pressão ao conjunto do sistema e servir como opção aos ramais de Delaware e Catskill, que estão longe de secar.

Uma quarta galeria percorrerá mais 14km para se superpor ao abastecimento atual do Bronx e Queens.

Tudo isso destoa de forma superlativa da esférica omissão registrada em duas décadas ininterruptas de gestão do PSDB no Estado de São Paulo, objeto de crítica até de um relatório da ONU, contestado exclamativamente pelo governador reeleito, Geraldo Alckmin.

Se em vez do mantra do choque de gestão, os sucessivos governos de Covas, Alckmin, Serra e Alckmin tivessem reconhecido o papel do planejamento público, São Paulo hoje não estaria na iminência de beber lodo.

Ou nem isso ter  para matar a sede.

Pergunta aos sábios tucanos: caiu a ficha?

É verdade que o Brasil todo desidrata sob o maçarico de um evento climático extremo.

Sinal robusto dos tempos.

 Mas desde os alertas ambientais dos anos 90 (a Rio 92, como indica o nome, aconteceu no Brasil há 22 anos) essa é uma probabilidade que deveria estar no monitor estratégico de governantes esclarecidos.

Definitivamente não se inclui nessa categoria o tucanato brasileiro: em 2001 ele já havia propiciado ao país um apagão de energia elétrica pela falta de obras e a renúncia deliberada ao planejamento público.

Os mercados cuidariam disso com mais eficiência e menor preço – ou não era isso que se falava e se volta a ouvir agora sobre todos os impasses do desenvolvimento brasileiro?

Ademais de imprevidente, o PSDB desta vez mostrou-se mefistofelicamente oportunista na mitigação dos seus próprios erros.

Ou seja, preferiu comprometer o abastecimento futuro de milhões de pessoas, a adotar um racionamento preventivo que alongaria a vida útil das torneiras, mas poria em risco o seu quinto mandato em São Paulo.

É importante lembrar em nome da tão evocada liberdade de imprensa: a dissimulação tucana não conseguiria concluir a travessia eleitoral sem a cumplicidade da mídia conservadora que, mais uma vez, dispensou a um descalabro do PSDB uma cobertura sóbria o suficiente para fingir isenção, sem colocar em risco o continuísmo no estado.

É o roteiro pronto de um filme de Costa Gavras: as interações entre o poder, a mídia, o alarme ambiental e o colapso de um serviço essencial, que deixa uma das maiores metrópoles do mundo no rumo de uma seca épica.

O PSDB que hoje simula chiliques com o que acusa de ‘uso político da água’, preferiu ao longo das últimas duas décadas privatizar a SABESP, vender suas ações nas bolsas dos EUA e priorizar o pagamento de dividendos a investir em novos mananciais.

Há nesse episódio referencial outro subtexto para o filme de Costa Gavras: a captura dos serviços essenciais pela lógica do capital financeiro.

Enquanto coloca em risco o abastecimento de 20 milhões de pessoas, revelando-se uma ameaça à população, a SABESP foi eleita uma das empresas de maior prestígio entre os acionistas estrangeiros.

Mérito justo.

Como em um sistema hidráulico, o dinheiro que deveria financiar a expansão do abastecimento, vazou no ralo da captura financeira. Encheu bolsos endinheirados à custa de esvaziar as caixas d’água dos consumidores.

Não é uma metáfora destes tempos. É a síntese brutal da sua dominância.

Mesmo que a pluviometria do verão fique em 70% da média para a estação, o sistema Cantareira - segundo os cálculos da ANA - ingressará agora no segundo trimestre de 2015 com praticamente 5% de estoque (hoje está com algo em torno de 6%).

Ou seja, São Paulo chegará no início da estação seca de 2015 com a metade da reserva que dispunha em período equivalente de 2014 e muito perto da marca desesperadora do início deste  verão, quando ainda apostava no alívio da estação das chuvas - inexistente no inverno.

A seca que espreita as goelas paulistanas não pode ser vista como uma fatalidade.

Dois anos é o tempo médio calculado pelos especialistas para a realização de obras que poderiam tirar São Paulo da lógica do lodo.

Portanto, se ao longo dos 20 anos de reinado tucano em São Paulo, o PSDB de FHC e Aécio Neves, tivesse dedicado 10% do tempo a planejar a provisão de água, nada disso estaria acontecendo.

Deu-se o oposto.

 De 1980 para cá, a população de São Paulo mais que dobrou. A oferta se manteve a mesma com avanços pontuais.

O choque de gestão tucano preferiu se concentrar em mananciais de maior liquidez, digamos assim.

Entre eles, compartilhar os frutos das licitações do metrô de SP com fornecedores de trens e equipamentos. A lambança comprovada e documentada sugestivamente pela polícia suíça, até agora não gerou nenhum abate de monta no poleiro dos bicos longos.

‘Todos soltos’, como diz a presidenta Dilma.

A rede metroviária de São Paulo, embora imune a desequilíbrios climáticos, de certa forma padece da mesma incúria que hoje ameaça as caixas d’agua dos paulistanos.

Avulta daí um método – o jeito tucano de governar não pode ser debitado na conta de São Pedro.

O salvacionismo tucano em São Paulo não conseguiu fazer mais que 1,9 km de metrô em média por ano, reunindo assim uma rede inferior a 80 km, a menor entre as grandes capitais do mundo.

A da cidade do México, por exemplo, que começou a ser construída junto com a de São Paulo, tem 210 km.

Não deixa de ser potencialmente devastador para quem acusa agora o PT de jogar o país num abismo de má gestão só ter a oferecer à população de SP a seguinte progressão: racionamento drástico imediato, seguido de seca de consequências imponderáveis na vida de uma das maiores manchas urbanas do mundo.

É essa a perspectiva para um serviço essencial na capital do estado onde o festejado choque de gestão está no poder há 20 anos.

Ininterruptos.
Uma questão para refletir:

O legado recomenda uma recidiva da receita para todo o Brasil, como exigem os centuriões do mercado e alguns cristãos novos petistas?

A ver.