Resistir para barrar
retrocessos e garantir direitos
Roberto Amaral, uma das lideranças da
Frente Brasil Popular, afirmou que o desfecho da votação no Senado sobre a
admissibilidade do processo de impeachment “não é nem o ponto de partida ou de
chegada do golpe”, mas a preparação de um processo que ameaça direitos e a
democracia brasileira. Ele reforça, contudo, que o movimento popular já
encontrou sua saída: “É resistir para impedir o retrocesso da direita e avançar
na defesa dos interesses do povo trabalhador”.
Dayane Santos
“Estamos num golpe que teve início em
2014, após as eleições, com a tentativa de recontagem dos votos. Começava ali o
processo de cerco contra o governo que vai se transformar no decorrer de 2015
numa exacerbação que transforma o governo federal em refém”, analisa Amaral,
que foi ministro durante o governo Lula e fundador do PSB.
“O golpe não se conclui com a decisão de
desta quarta nem com a decisão daqui há 180 dias. Isso é uma preparação para um
golpe mais profundo que é a tomada de poder dos sem voto pelas forças
neoliberais e reacionárias para a construção de uma nova agenda de repressão
aos movimentos sindicais, populares, estudantis. Uma agenda cujo fundo
ideológico se encontra nos votos dados no dia 17 de abril [votação do
impeachment na Câmara dos Deputados]. Claramente se vê naqueles votos o projeto
de sociedade que caberá ao Temer implantar”, completou.
Roberto Amaral considera que “é a
questão grave”. Para ele, o eventual governo do vice-presidente Michel Temer,
representará um “retrocesso na política externa, no que se refere à soberania
nacional, ao pré-sal”, bem como, um retrocesso nos termos da política de
privatização, na manutenção da política de juros altos. “Um retrocesso que
privilegia o grande capital”, salienta.
Amaral ressaltou que o consórcio
golpista é formado por uma concentração que inclui os meios de comunicação, a
Polícia Federal, setores do Poder Judiciário e do Ministério Público e os
partidos de oposição.
Ele cita como exemplo, a atuação do
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que atuou para
impedir a governabilidade da presidenta Dilma Rousseff.
“Há sinais claros de tentativa de
impedir o funcionamento do governo. A liminar esdrúxula do também esdrúxulo
ministro Gilmar Mendes, o boquirroto, que por liminar impede a presidente da
República de nomear um ministro de Estado. Isto, nos termos do
presidencialismo, é uma exorbitância, uma loucura”, enfatiza.
E completa: “Esse ato é corroborado por
outro ministro, o Teori [também ministro do STF] quando deixa de trazer a
questão à baila, ou seja, uma das formas do Supremo julgar, de dirimir, é não
julgar. A presidenta é afastada sem que se tenha o julgamento desse liminar”.
Amaral enfatiza que nos momentos mais
agudos da ação da direita contra o movimento popular, “historicamente só temos
uma alternativa: nossa unidade”. Ele destaca que a formação da Frente Brasil
Popular, fundada em 5 de setembro de 2015 e que reúne movimentos sociais,
sindicatos, partidos políticos e personalidades intelectuais, foi um importante
avanço para enfrentar a atual conjuntura.
“Nesse sentido a Frente Brasil Popular
foi um grande avanço, na medida em que colocou na mesma mesa os partidos, os
movimentos sociais e a sociedade civil organizada. O movimento popular já
encontrou sua saída: é resistir para impedir o retrocesso da direita e avançar
na defesa dos interesses do povo trabalhador”, conclui.
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