segunda-feira, 27 de junho de 2016

CONTINUO PRESIDENTA




CONTINUO PRESIDENTA
 

 

Em entrevista concedida às jornalistas Andrea Dip, Marina Amaral, Natalia Viana e Vera Durão,  publicada nesta segunda-feira 27, a presidente eleita Dilma Rousseff conversa sobre diversos assuntos, faz duras críticas ao governo interino e volta a denunciar o "golpe parlamentar" ocorrido no País para tirá-la do poder.

 

Ao comentar o tratamento dado a ela pela imprensa, Dilma admitiu passar "surpresa todos os dias". "Passei surpresa desde o início do meu mandato, não só por ser mulher, mas também pelo projeto que eu represento. Eu não sou propriamente uma pessoa cujos aspectos positivos são realçados", analisa.

 

A presidente acredita que quem mais perdeu com as manifestações de rua em defesa do impeachment foi o PSDB, que "cometeu um gravíssimo equívoco político", porque se "endireitou do ponto de vista dos valores" ao se aliar a "um movimento que era baseado em algumas questões inadmissíveis. Como é que o PSDB se mistura com um movimento que defende o golpe militar?".

 

Para ela, o PMDB também deu uma "guinada" à direita, "quando o Cunha assume a hegemonia dele. Porque ele teve a hegemonia. E essa hegemonia está expressa no governo do Michel Temer. Ele é Cunha. O Jucá não mente quando diz que Michel é Cunha. Um dos grandes problemas desse governo é esconder o Cunha. Porque o Eduardo Cunha não é uma pessoa lateral deles. Ele é o líder deles. Líder em todos os sentidos".

 

Em algumas das críticas contra o governo provisório, ela aponta os prejuízos que deverão trazer a nova política de gastos públicos e diz que na questão da política externa, o chanceler interino José Serra faz crítica a uma "coisa que não existe", ao dizer que irá "impedir a ideologização que o Brasil faz". "Então denuncia coisa que não existe. E a imprensa apoia", afirma Dilma.

 

Questionada sobre a possibilidade de interferência de outros países para a realização do golpe no Brasil, ela sustenta que "não é necessário para discutir o golpe no Brasil atribuir responsabilidade a nenhum outro país do mundo. Eles foram competentes na arte de dar um golpe aqui no Brasil; não precisamos de fora para fazerem o golpe. Este golpe é endógeno. A responsabilidade por ele é das oligarquias locais. Pode ter gente muito feliz – é outra coisa. Pode ter gente até que deu uma mãozinha – é outra coisa. Mas não é relevante".

 

Para ela, o que "está ocorrendo" é "uma nova forma de retirar governos que criam descontentamento em relação à oligarquia econômica, ou política, ou um grupo de interesses, que se considera descontente em relação a alguma das características do governo em exercício. Aí o que eles fazem? Dão um golpe parlamentar. Em que consiste um golpe parlamentar? Ele não é igual a um golpe militar. Um golpe militar não só extingue o governo em questão, mas acaba também com o regime democrático".

 

Dilma vê possibilidade de o caso do Brasil acontecer também em outros países da América Latina. "Acho que pode. Não só eu acho, como chefes de Estado da América Latina, todos temem isso. Qualquer um".

 

A presidente diz ter "imensa indignação" com o "uso político das investigações da Lava Jato", mas diz estar "vacinada" ao comentar a possibilidade de interferência das últimas denúncias da investigação no processo de impeachment no Senado. "Eu acho que eu estou em um nível de vacinação absoluta contra isso. Isso tem sido feito sistematicamente contra mim. Sistematicamente. A última que arquivaram foi aquela em que quase caiu o mundo na minha cabeça porque eu liguei para o Lula e falei: 'Vou mandar aí o Bessias'. Agora foi arquivado. Agora, o pato que eu pago enquanto não está arquivado é imenso".

 

Sobre seu retorno ao poder, afirmou: "Eu farei basicamente um governo de transição. Porque é um governo que vai ter dois anos, e o que nós temos de garantir neste momento é a qualidade da democracia no Brasil, o que vai ocorrer em 2018. Eu farei isso, sobretudo. Acho que cabe a discussão de uma reforma política no Brasil, sem dúvidas. Nós tentamos isso depois de 2013 e perdemos fragorosamente. Tentamos Constituinte, tentamos reforma política, tentamos..."

 

Questionada sobre convocar um plebiscito para consultar a população sobre novas eleições antes de 2018, Dilma disse não saber se há força para isso, e negou que haja um "compromisso" dela já firmado sobre esse tema. "Está em discussão isso. Não há um consenso. É uma das coisas. Uma das propostas colocadas na mesa. Agora, há de todo mundo uma opção por eleição direta, né? Sempre".

 


 

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