Paulo Nogueira
A cena simboliza os nossos dias.
De um lado, a virtude, a integridade. De
outro o cinismo e o vício.
Me refiro à troca de palavras entre
Gleisi Hoffmann e Cristovam Buarque em que este confessou que o golpe foi
armado para que fosse aprovada a chamada PEC do Fim do Mundo.
O confronto de estilos não poderia ser
mais revelador das diferentes entre os dois lados.
Gleisi está séria, firme, altiva, olhos
cravados não apenas nos olhos de Cristovam — mas em sua alma. Cristovam,
esparramado em sua poltrona, é uma mistura de deboche e nervosismo. Está
descomposto, a despeito do paletó e da gravata. Os risos entrecortados não
conseguem esconder que ele está acuado.
Gleisi foi vivaz o suficiente para
aproveitar um vacilo do oponente e levá-lo a confessar a motivação dos
golpistas. Diz que queria vê-los ganhar a eleição com aquele programa.
Desconcertado, Cristovam admite que os golpistas fatalmente perderiam nas
urnas.
Não poderia haver uma confissão mais
cândida, e abjeta, de crime de lesademocracia do que aquela. Mas Cristovam está
com o sentido de ética e decência tão amortecido que parece não se dar conta da
barbaridade que proferiu. Gleisi, ao contrário, sabe que está registrando um
diálogo para a posteridade, e trata de extrair tudo dele.
Eles são perfeitos antagonistas. A crise
que levou ao golpe fez Gleisi crescer extraordinamente. Uma guerreira emergiu
daquele período tão sinistro da história nacional.
Cristovam, em compensação, diminuiu na
mesma proporção em que Gleisi se elevou. Até o embate com Gleisi, parecia que
ele não poderia se rebaixar mais.
Mas ele estabeleceu um novo recorde
pessoal em patifaria ontem — uma espécie de lembrança, para todos nós, de que
não existem limites para a canalhice.
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