A cada dia que passa, fica claro o preço
que a presidente Dilma Rousseff teve que pagar para garantir a governabilidade,
antes do golpe parlamentar que a derrubou.
Para conseguir os votos do PMDB no Congresso,
Dilma teve que engolir Geddel Vieira Lima numa vice-presidência da Caixa
Econômica Federal e aliados de Eduardo Cunha em postos chave da administração
federal – todos, é claro, indicados pelo então vice-presidente Michel Temer.
Agora que se sabe a finalidade dessas
indicações, quem foi às ruas contra a corrupção se dá conta de que a presidenta
honesta foi derrubada para que o PMDB, que vendia seu apoio no Congresso,
pudesse governar sem intermediários.
A Operação Cui Bono, deflagrada na
sexta-feira 13 pela Polícia Federal, foi pedagógica. Revelou que Geddel Vieira
Lima, indicado por Michel Temer para uma vice-presidência da Caixa Econômica
Federal, estava lá com uma finalidade específica: garantir recursos para o PMDB
e políticos aliados por meio de propinas cobradas de grandes empresários. Tudo
isso em parceria com Eduardo Cunha, outro grande parceiro de Temer.
No modelo político brasileiro, do
chamado presidencialismo de coalizão, Dilma se elegeu duas vezes presidente da
República, mas sempre em minoria no Congresso. A aliança com o PMDB, em tese,
deveria dar equilíbrio aos governos do PT.
No entanto, mesmo tendo Michel Temer
como vice, a relação PT-PMDB sempre foi tensa. Políticos como Geddel e Cunha,
além de Eliseu Padilha e Moreira Franco, outros expoentes do quarteto ligado a
Temer, sempre cobravam mais espaços no governo.
Como Dilma conhecia as intenções desse
quarteto, ela fazia o máximo possível para conter o estrago. Por isso mesmo,
frequentemente, era acusada de inabilidade política. No glossário peemedebista,
ser inábil politicamente significa não entregar a mercadoria.
Dilma engoliu essa turma enquanto pôde.
No entanto, quando Cunha se elegeu presidente da Câmara, provavelmente
financiando uma penca de deputados, como revelam as mensagens trocadas com o
Pastor Everaldo, o preço se tornou alto demais. Se antes era necessário
entregar apenas os anéis, agora era hora de dar os dedos, as mãos, os braços e
os colares.
Como Dilma não cedeu, perdeu o pescoço.
Curiosamente, no entanto, os brasileiros que foram às ruas contra a corrupção
contribuíram para a deposição de Dilma e para instalar no poder justamente os
maiores especialistas em mercantilização da política.
A presidente honesta foi derrubada para
que o PMDB, que vendia seu apoio no Congresso, pudesse governar sem
intermediários.
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