Luís Nassif
Não se pode acusar o Procurador Geral da
República (PGR) Rodrigo Janot de imprevisível. Sua atuação tem ajudado a
confirmar todos os cenários traçados pelo Xadrez sobre a maneira como trabalha
os inquéritos contra seu conterrâneo, o senador Aécio Neves: empurrar com a
barriga o máximo de tempo possível.
A delação do ex-senador Delcídio do
Amaral criou uma dor de cabeça para Janot. Delcídio avançou uma série de
acusações contra Lula, Dilma e o PT. Mas incluiu na delação denúncias contra
Aécio. Como não poderia ignorar algumas denúncias e acatar outras, Janot foi
obrigado a abrir dois inquéritos contra Aécio: um, sobre o sistema de propinas
de Furnas; outro, sobre a
falsificação de documentos para a CPMI dos Correios, visando ocultar o mensalão
mineiro.
Um ano antes, em março de 2015, já havia
uma série forte de indícios contra Aécio – a Operação Norbert (que permaneceu
na gaveta da PGR desde 2010), identificando contas em Liechtenstein, as
informações de Alberto Yousseff sobre as propinas de Furnas, o nome do diretor que recolhia a caixinha, Dimas
Toledo, da empresa que lavava o dinheiro, a Bauruense, a titular da conta onde
o dinheiro era depositado, Andréa Neves.
Mesmo assim, Janot não pediu o
indiciamento de Aécio, denunciando outros senadores – como Lindbergh Faria e
Antônio Anastasia – com base em indícios muitíssimos mais frágeis,
surpreendendo o relator Teori Zavascki.
Com a delação de Delcídio, foi obrigado
a voltar ao tema.
De lá para cá, tem havido um jogo de
empurra e de adiamento das investigações, quase escandaloso.
Em maio de 2016, Janot decidiu pedir
autorização para abrir dois inquéritos contra Aécio.
Batendo no STF (Supremo Tribunal
Federal), o suspeito algoritmo do tribunal jogou os dois pedidos de abertura de
inquérito nos braços de Gilmar Mendes. Que, obviamente, não autorizou a
abertura dos inquéritos, obrigando Janot a insistir. Não autorizou sequer a
tomada de depoimento de Aécio e a colheita de provas adicionais na Lava-Jato.
Deixou-se de lado a conta em Liechtenstein sob a alegação de que a cooperação
internacional não chegava até lá.
Ante a falta de sutileza de Gilmar,
Janot foi obrigado a insistir no pedido, que acabou autorizado.
No entanto, até 23 de novembro, ou seja,
com oito meses de investigações, nem a PGR nem a Polícia Federal haviam sequer
colhido depoimentos autorizados, entre eles o de Dimas Toledo, obrigando Gilmar
a prorrogar o prazo:
"Os autos foram remetidos à
Corregedoria-Geral da Polícia Federal para inquirição de três testemunhas,
interrogatórios do investigado, além de requisição e juntada de documentação
constante dos autos de outras investigações. A remessa dos autos à Corregedoria-Geral
da Polícia Federal foi feita em 10.6.2016. (...) As inquirições não foram
realizadas ou agendadas. (...) Ficam a Autoridade Policial e o Ministério
Público Federal instados a observar os prazos de tramitação, nesta e em todas
as investigações supervisionadas por este Relator", diz a decisão.
Vencido o prazo, a conclusão da
investigação sobre a suposta atuação de Aécio Neves maquiando dados para a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – escondendo sua relação com o Banco
Rural – foi mais uma vez adiada a pedido de Janot.
Pediu prazo de mais 120 dias para o
ingente trabalho do liquidante do Banco Rural fornecer informações solicitadas.
“No decorrer desse lapso de tempo, a Procuradoria-Geral da República
providenciará a análise, ainda que preliminar, dos documentos da CPMI dos
Correios”. 120 dias para uma análise preliminar dos documentos da CPMI dos
Correios.
Até hoje ainda não foi identificado o
gestor do Banco Rural que enviou os documentos falsos. Nada ocorreu com Dimas
Toledo, o notório diretor de Furnas que se vangloriava de passar propinas para
mais de uma centena de parlamentares. Para se ter uma ideia da sua importância,
o papel de Dimas em Furnas equivaleria
a de Alberto Yousseff e Paulo Roberto Costa somados na Petrobras.
Há limites para a hipocrisia. E Janot
corre o risco de desmoralizar-se a si e ao MPF com essa solidariedade mineira.
www.jornalggn.com.br 22/02/2017
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