O desespero da
imprensa com as chances de Lula para 2018
Patricia Faermann
Os jornais amanheceram no último dia de
festejos de carnaval anunciando o que aguardam para os próximos acontecimentos
do ano: a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não à toa ou
coincidências, que a Folha de S. Paulo manchetou "Pelo prazo médio da Lava
Jato, Lula pode ficar inelegível durante eleição", enquanto o Estado de S.
Paulo dedicou editorial à pressão direta.
São desdobramentos de uma entrevista há
quase uma semana do ex-ministro Gilberto Carvalho, afirmando o que todos já
sabiam: "Lava Jato fará de tudo para condenar Lula", disse ao Valor.
Sintetizava a expectativa do próprio ex-presidente e de todos seus aliados, de
que a intenção dos investigadores e do juiz Sérgio Moro era condená-lo na
primeira instância, deixando-o inelegível.
Entretanto, acrescentava Carvalho, em
trecho ainda mais importante da entrevista: "Na primeira instância, podem
condená-lo. Mas a repercussão e a nossa guerra será tanta que apostamos que na
segunda instância possamos reverter [a condenação], e também nos tribunais
superiores. Lula, ao fim e ao cabo, será candidato".
Mas essa parte foi ignorada. A
repercussão foi mesmo da inelegibilidade nos jornais, que aguardaram para
recuperar a entrevista logo no fim do carnaval, iniciando
"oficialmente" o ano. "O desespero do PT", é o título do
editorial do Estadão nesta manhã, que preferiu transferir os ânimos do jornal
para o partido, em interpretação.
"O Partido dos Trabalhadores (PT),
que, mais do que nunca, não passa de um apêndice de Luiz Inácio Lula da Silva,
deflagrará uma “guerra” caso seu timoneiro seja condenado pela Justiça em algum
dos diversos processos nos quais é réu", iniciou o diário.
O espaço opinativo se debruça naquilo
que o ex-ministro Gilberto Carvalho poderia ter falado ao Valor, mas não falou,
o que levanta a impressão de que faltavam sustentações para o editorial.
"Carvalho não se preocupou, em
nenhum momento, em contestar as acusações que pesam contra o Padrinho, pois
obviamente não é disso que se trata – e se nem os ativos advogados de Lula da
Silva conseguem alinhavar argumentos em sua defesa, por que Carvalhinho o
faria? Para Carvalho, como para os petistas em geral, o único crime pelo qual
Lula será condenado é o de ter ajudado os pobres", continua.
Na entrevista, o ex-ministro deixou
claro que a vitória de Lula contra a Lava Jato virá na segunda instância,
porque já naquela Justiça não poderá haver espaços para erros e abusos
judiciais, sob o risco de um crime histórico. "Eles pensarão duas vezes
antes de fazer bobagem", lembrou, diante da óbvia reação popular em caso
de condenação ou prisão do ex-presidente.
Mas a conclusão do Estadão foi:
"Não há outra maneira de entender as inspiradas palavras de Carvalho –
leia-se Lula. Ele aposta que a mística em torno do grande líder será capaz de
levar a militância às ruas para intimidar os magistrados. O PT sabe que, se os
processos contra Lula forem tratados somente no âmbito jurídico, a derrota do
petista é certa, e não porque a Lava Jato “persegue” Lula, mas sim porque, ao
que tudo indica, sobram provas contra ele".
Nessa linha, mas em formato
"informativo" publicou a Folha de S. Paulo em suas duas reportagens
dedicadas ao tema. Uma delas, direto de Curitiba, a repórter Estelita Hass
Carazzai mostra entregar o veredicto da Justiça daquela região: "Se
seguirem o ritmo de outros processos, as ações contra o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva que correm pelas mãos de Sergio Moro podem torná-lo
inelegível ainda antes do pleito de outubro de 2018".
Na verdade, o que fez a repórter foi
calcular quanto tempo o Tribunal Regional Federal julgou recursos de réus
contra o juiz Sérgio Moro. As contas chegaram a 1 ano e 10 meses, desde uma
denúncia até o julgamento da segunda instância. "Mantido esse ritmo, o
petista ficaria inelegível em meio à campanha de 2018 –entre julho e
outubro".
O jornal não detalhou, entretanto que,
ainda que Lula responda a dois processos no Paraná, pelo apartamento triplex no
Guarujá e por suposto benefício obtido da Odebrecht, em terreno onde seria a
sede do Instituto Lula, cada caso da Lava Jato leva um tempo de investigação. E
que o andamento da fase de testemunhas pode retroceder as estimativas da
imprensa e do Paraná, uma vez que os depoimentos negam as teses sustentadas.
A outra publicação do diário paulista é
assinada por Igor Gielow, antes diretor da sucursal de Brasília da Folha,
passou recentemente a publicar coluna de opinião. Nesta, buscou revestir a
publicação de aparente imparcialidade, porque conversou com
"observadores" para se chegar a conclusão.
"Apesar dos anos de desgaste, o
cenário atual entre observadores prevê alguém da centro-esquerda com chances de
ir ao segundo turno em 2018", inicia. "Os olhos convergem para o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, único nome do PT com densidade
eleitoral, exceto que o partido aposte em algum derrotado de 2016, como o
ex-prefeito paulistano Fernando Haddad", completa.
Já admitindo que o ex-presidente pode,
sim, conseguir vencer a Lava Jato, focou o artigo no desgaste para Lula de
enfrentar uma campanha política, após todos os questionamentos da Lava Jato e
pressões diversas.
A exasperada coluna do Estadão, após
insistentemente defender uma indiscutível inelegibilidade, chega a conclusão de
admitir de que o ex-presidente pode sim avançar contra as acusações da Lava
Jato, mostrando o desespero com os resultados recentes das pesquisas, com as
grandes chances de Lula nas eleições 2018.
Não deixando de atirar: "O partido
e seu demiurgo não apenas são os responsáveis pela pior crise econômica da
história brasileira, mas também são as estrelas do maior escândalo de corrupção
que já se viu no País.
"O problema é que os “fatos
alternativos” dos petistas podem não ser suficientes para esconder a dura
realidade de que, além de Lula – que pode não concorrer em razão de seus
enroscos com a Justiça –, o PT não tem outro candidato. 'Depois do Lula,
quem?'", conclui.
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