1576: Morre
Hans Staden, autor de relato de viagem sobre Brasil
Felipe Tadeu | Deutsche Welle | Bonn - 30/07/2017 - 10h46
Em 30 de julho de 1576, o alemão Hans Staden, autor
de um importante relato de viagem sobre o Brasil pós-descobrimento, morria em
seu país natal
Em Wahrhaftige Historia, o alemão Hans Staden
relata duas viagens que realizou ao Brasil entre os anos de 1548 e 1555.
Quatrocentos e cinquenta anos depois de sua primeira edição, o livro permanece
um dos mais curiosos documentos sobre a cultura dos índios brasileiros,
especialmente os tupinambás, que aprisionaram o navegante e mercenário alemão
e, segundo ele próprio, quase o devoraram em seus rituais canibalescos.
Os homens do outro
lado do Atlântico
O relato de Hans Staden (1525–1579) está para os
alemães assim como a carta de Pero Vaz de Caminha para os reis de Portugal. Em
Verdadeira História dos Selvagens, Nus e Devoradores de Homens, Encontrados no
Novo Mundo, A América, a reportagem feita por Staden é a descrição de um homem
simples, de forte fervor religioso, sobre a natureza e a paisagem do Brasil e
os costumes de seus habitantes.
Uma aventura onde se revelam também as
questionáveis formas de colonização empregadas pelos europeus na conquista de
outros continentes e o inevitável choque cultural entre os chamados
"selvagens" e "civilizados".
Segundo a Brasiliana da Biblioteca Nacional, de
2001, o livro de Staden foi determinante para os europeus: "A sua
influência no meio culto da época ajudou a criar, no imaginário europeu
quinhentista, a ideia da terra brasílica como o país dos canibais, devido às
ilustrações com cenas de antropofagia".
Monteiro Lobato foi taxativo ao estimar o valor dos
escritos do autor alemão: "É obra que devia entrar nas escolas, pois
nenhuma dará melhor aos meninos a sensação da terra que foi o Brasil em seus
primórdios."
Em suas próprias palavras, Staden não pretendia se
vangloriar de suas experiências junto a um povo tão exótico para ele. "O
porquê de ter escrito este livrinho foi enfatizado por mim em diversos trechos.
Todos nós devemos louvar e agradecer a Deus por ter-nos protegido desde o
nascimento até os dias de hoje, ao longo de uma vida inteira."
Gemeinfrei
Relato de Hans Staden revela também as questionáveis formas de colonização empregadas pelos europeus na conquista de outros continentes
Relato de Hans Staden revela também as questionáveis formas de colonização empregadas pelos europeus na conquista de outros continentes
"Assim como os portugueses, franceses,
espanhóis e holandeses, os alemães também participaram da exploração do Brasil
no início do século 16. Minha primeira viagem para a América foi em uma nau
portuguesa. Éramos três alemães a bordo, Heinrich Brant von Bremen, Hans von
Bruchhausen e eu. A segunda viagem ia de Sevilha, na Espanha, para o Rio de La
Plata", conta o autor, que na segunda expedição era o único alemão
presente. "Acabamos sofrendo um naufrágio em São Vicente. Trata-se de uma
ilha que fica bem próxima à terra firme brasileira e é habitada por
portugueses."
O livro revisitado
Os nove meses em que Hans Staden ficou em poder dos
tupinambás renderam um relato impressionante em nível antropológico,
sociológico, linguístico e cultural que é constantemente revisitado.
O livro, considerado um sucesso editorial, já
inspirou montagens teatrais pelo mundo afora, semeando a imaginação dos
modernistas Raul Bopp e Oswald de Andrade na criação da Revista de
Antropofagia, de 1928, onde foi publicado o substancial Manifesto
Antropofágico, de Oswald: "Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele
me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem
chamava-se Galli Mathias. Comi-o".
A aventura de Hans Staden acabou sendo levada às
telas pelas mãos do cineasta brasileiro Luiz Alberto Pereira em Hans Staden, um
dos poucos filmes na história do cinema em que a língua falada pelos atores é,
predominantemente, a tupi, e que conquistou diversos prêmios no Brasil e nos
Estados Unidos.
O livro ganhou em 1998 uma primorosa edição da
Dantes Editora e Livraria, do Rio de Janeiro, em tradução de Pedro Süssekind,
que traz, além das ilustrações originais, desenhos e gravuras de Theodoro de
Bry, Roque Gameiro, Van Stolk, entre outros.
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