Emir
Sader
A derrota da campanha das diretas esgotou o impulso das mobilizações
populares contra a ditadura e permitiu o governo conservador de José Sarney. O
ciclo seguinte de grandes mobilizações populares foi pela derrubada do Collor,
mas se esgotou com o governo Itamar, que promoveu a continuidade do
neoliberalismo, com o projeto de FHC.
Lula se elegeu pelo esgotamento e o fracasso do governo FHC, mas sem
ser acompanhado de um grande processo de mobilizações populares. Os governos do
PT promoveram, como nunca, os direitos dos trabalhadores e de todo o povo.
Mas o novo grande ciclo de mobilizações populares se dá agora, com as
Caravanas de Lula. As viagens da Caravana de Lula, começadas pelo Nordeste e
agora continuadas por Minas Gerais, permitem ao PT reconstituir suas bases
populares de apoio, ao mesmo tempo em que se elabora a plataforma que permitirá
o retorno do Brasil à democracia.
Vai se criando um novo consenso nacional, que articula o resgate dos
direitos expropriados pelo governo golpista, com a volta do desenvolvimento
econômico, propiciado com as eleições diretas e o retorno da democracia. Lula
recolhe as reivindicações e os pontos de vista da população, que sobe ao palanque
para expor suas vivências, as transformações das suas vidas ao longo deste
século e as perdas que vivem atualmente.
Lula vai formulando, nos seus discursos, as vias de reversão dos
retrocessos. A centralidade da educação foi se consolidando ao longo da
Caravana de Minas, como direito, conquista de todos, mas também como fator
indispensável para a construção de um país avançado e da própria soberania
nacional.
O retorno a um governo popular, democrático e soberano, por sua vez,
requer o referendo revogatório, colocado como condição de recuperar a
capacidade de governar para todos. De deixar de governar para um terço da
população, como se voltou a fazer.
As Caravanas passam a uma nova etapa com a reunião de Lula com os
reitores das universidades públicas. Até esse momento, Lula se dirigia
basicamente às distintas camadas do povo, seja no Nordeste ou nas Gerais, na
região mineira mais próxima das condições de vida do Nordeste. A aceitação
unânime dos reitores da necessidades indispensável do referendo revogatório
aponta para o potencial dessa medida, que atende às reivindicações da maioria
esmagadora da sociedade, vítima dos pacotes implementados pelo governo
golpista.
Esse será um instrumento fundamental na construção de uma plataforma de
reconstrução nacional, característica dos discursos de Lula. Se tratará não
apenas de eliminar a medida que congela os recursos para políticas sociais por
20 anos, como reverter as decisões que afetam duramente os interesses dos
trabalhadores.
A participação entusiasta da massa da população aponta a que o discurso
do Lula atente a suas necessidades, a suas demandas e a sua esperança. Se trata
agora, além de consolidar esse apoio em outras regiões do Brasil, com caravanas
pelo centro sul e pelo norte, de estender o diálogo, para incorporar também as
camadas médias, resistentes, mas sensíveis, porque são igualmente vítimas da
recessão, do desemprego e das perda de direitos.
O tom das posições deverá ser, cada vez mais, o de apontar para um
Brasil para todos, em que cabem a todos os que se identificam com a retomada do
desenvolvimento com políticas de distribuição de renda e de inclusão social.
Haverá lugar para todos os que apoiam esse projeto, os que vivem do seu
trabalho, os que se dispõem a integrar-se na retomada do desenvolvimento
econômico.
As Caravanas contêm assim, no seu bojo, uma estratégia de reconquista
da democracia, do desenvolvimento econômico, da inclusão social e da soberania
social. Seu grande líder, Lula, protagoniza esse processo como grande condutor
desse momento em que o país decide seu futuro, no prazo de um ano, por toda a
primeira metade do século XXI.
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