A “roubada” do general
Se o general Braga Netto, interventor na Segurança Pública no Rio de Janeiro é, como suas declarações até agora indicam, um homem ponderado sabe que o enfiaram numa “roubada”, como a gente chama aqui entrar numa “fria”.
O fato de ser convocado, em plenas férias, para assumir a missão, imediatamente anunciada ao público, no início de um final de semana de Carnaval, mostra a falta de seriedade com que é tratado o comandante militar. Não lhe deram sequer um dia para planejar uma intervenção que já estava vigorando e que, por isso, já coloca sob sua responsabilidade tudo o que acontece.
O colocaram, assim, diante de uma situação de “vácuo” de comando das polícias e dos presídios. Os grupos envolvidos em promiscuidade nestas áreas – e não são poucos – podem se encolher, num primeiro momento, como tartarugas. Mas são cobras.
Sobretudo se, como se anuncia, o general vai mesmo alterar drasticamente os comandos intermediários da Polícia Militar, com base nas informações que levaram – infelizmente sem consequências por meses – o Ministro da Justiça ter dito que comandantes de batalhões da PM eram “sócios do crime organizado”, Se não foram palavras vãs, são informações que certamente chegaram do Comando Militar do Leste, chefiado por Braga Netto e envolvido na operação de Garantia da Lei e da Ordem desde o final de julho.
Também não escapa aos militares que, apesar de todo o comprometimento histórico das forças policiais do Rio de Janeiro (e não só aqui), a decisão de fazer agora a intervenção foi eminentemente política, ajudada pela degradação política do governo local, contraditoriamente base política do Governo Federal. Logo após o ato, o Comandante do Exército, Eduardo Villas Boas, embora prometendo todo o apoio ao interventor, diz que ” a missão enlaça o General diretamente ao Sr. Presidente da República”. Não foi gratuito dizer que Braga está sob o comando de Temer, não dele.
Não está claro ainda que Braga Netto conseguirá evitar entrar afoitamente na batalha pela opinião pública, o principal “front” desta “guerra”, como a Segurança Pública é demagogicamente tratada. Ações espetaculares têm alto risco de acidentes e baixo nível de eficácia. Ainda mais quando, a esta altura, todos estão avisados de que ela pode acontecer. Nos tempos de comunicação instantânea e onipresente, bloqueios e blitzen são ainda mais ineficientes do que sempre foram.
Os próximos dias, pelo grau de concessão que o General Braga Netto fará – e alguma terá de fazer – ao “espetáculo da Segurança”. E de como as cobras, que agora parecem tartarugas, irão se movimentar.
O sumiço da faixa do “Vampirão” da Sapucaí, na madrugada de ontem, mostra que outros tipos de répteis já estão se movendo pelas sombras.
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