Intervenção
no Rio de Janeiro!
É certo que temos muitas e variadas opiniões circulando
na imprensa e nas redes sociais sobre a decretação de uma Intervenção Militar
no Rio de Janeiro, assinada na sexta-feira (16) pelo presidente ilegítimo. Mas
poucas matérias que lemos nesses dois dias faz menção a um fato que demonstra
que não deveríamos ficar surpresos com a medida.
Antes de comentarmos sobre os impasses na votação da
Reforma da Previdência é preciso voltar pouco na relação do governo golpista
com o Rio de Janeiro. É preciso lembrar que, desde o início do ano passado,
Temer vem deixando o Rio sem alternativas, cortando verbas e ajudas, para
forçar a privatização das empresas públicas em nosso estado, em particular a
Cedae.
Isso mesmo! Temer, por duas vezes em 2017, colocou o
governador Pezão contra a parede exigindo mais pressa na privatização de
algumas empresas, mas vem encontrando resistência por parte dos sindicatos e movimentos
organizados. Agora resolveu “jogar pesado”, como dizemos em conversas de bar. O
vampiro neoliberal mostrado no desfile da Paraíso do Tuiuti resolveu arreganhar
os dentes contra e aproveitar outras desculpas para tentar se desforrar. Mais
do que nunca, a privatização da Cedae e de outras empresas estará na ordem do
dia durante essa intervenção. Esclarecido esse primeiro ponto, vamos aos
meandros que envolvem a medida.
E não foi só o desfile da Tuiuti que colocou os
golpistas em alerta total. Vamos relembrar que, em pleno carnaval, o povão
invadiu o aeroporto Santos Dumont para repudiar o prefeito do Rio, Marcelo
Crivella. O vídeo foi um dos mais vistos nas redes sociais. Mais do que isso,
tenha surgido de onde for, a faixa colocada na entrada da favela da Rocinha,
mandando um recado para o STF, deixou a direita com o cabelo arrepiado. A ameaça
de que “o morro vai descer” deve ter deixado muita gente com vontade de
“carimbar os passaportes” se preparando para uma fuga!
Na tarde/noite de quinta-feira, em pleno apagão no Rio
de Janeiro por conta do temporal, o conhecido direitista Reinaldo Azevedo fez
um comentário na Rádio Bandeirantes criticando o desfile da Tuiuti e defendendo
a reforma trabalhista. O pulha teve a coragem de dizer que a reforma vai abrir
novos empregos e é boa para o trabalhador. Quase ao final da sua crônica ele
disse que a crítica política não deve ser tema de carnaval. Que o samba “deve
ser alegre e popular”. Quase repetiu a frase preferida dos militares durante os
anos da ditadura: “trabalhador tem que trabalhar, estudante tem que estudar e
política é coisa para quem entende”. Pois é, o Reinaldo tentou dizer que o
morro tem só que sambar para os turistas baterem palmas. Mas a reação popular
ao desfile mostrou exatamente o contrário. Há, pelo menos no Rio de Janeiro, um
novo movimento “de baixo para cima”.
“Pezão”, governador do Rio, depois de sua visita ao
Planalto, passou a fazer declarações contraditórias e tão loucas quanto ele.
Deixou claro que é incapaz de deter a escalada de violência, afinando seu
discurso com a imprensa amestrada e com os golpistas. Aceitou, humildemente, a
decisão da intervenção federa, ao contrário do presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia, que demonstrou inicialmente um total descompasso com a
medida.
O certo é que o presidente golpista sabe que não tem os
votos necessários para aprovar a Reforma da Previdência que havia prometido ao
mercado. Segundo os cálculos mais recentes, ele ainda precisa “convencer” cerca
de 60 deputados a votarem na proposta, mas está encontrando dificuldade pois
2018 é ano eleitoral e muitos temem ficar marcados em seus estados e não
conseguir uma reeleição.
Nesse ponto é importante fazer uma reflexão
intermediária: uma grande parte do atual Congresso é de deputados e senadores
com processos na Justiça e precisam manter o chamado “foro privilegiado” para
não pararem na prisão! Então, estão “se borrando de medo” de perderem votos.
Campanhas como a lançada por algumas centrais sindicais, do tipo “se votar não
volta”, colocou alguns da defensiva, mesmo com todo o dinheiro que está
correndo para comprar votos.
O próprio golpista ainda não descartou totalmente uma
possível tentativa de reeleição, porque também tem medo de perder o foro
privilegiado e virar réu em uma montanha de processos e acusações que já correm
contra ele. E a “jogada” de uma intervenção no Rio de Janeiro, usando a opinião
da classe média assustada pela violência que diariamente é propagandeada pela
Globo e outras mídias, pode angariar alguma simpatia para o “manequim de
funerária”.
Toda essa movimentação do Planalto pode justificar a
derrota na votação da reforma previdenciária, mas pode também estar servindo
para desembocar em uma suspensão das eleições em 2018. Cabe esperar os próximos
passos e a reação popular no Rio de Janeiro.
• A intervenção sob o aspecto legal. Segundo a advogada Giselle Farinhas, em entrevista ao
jornal Monitor Mercantil, “a intervenção é medida constitucional
excepcionalíssima que deve ser invocada como última alternativa. Desde a
criação do instituto jurídico, na vigência da Constituição de 1988, é a
primeira vez que esta será decretada sendo, portanto, de significativa
importância histórica para a democracia do nosso país”.
E ela acrescenta: “A intervenção federal pode
interferir na aprovação da reforma da Previdência, pois com a medida, nenhuma
emenda à Constituição poderá ser aprovada por força do art. 60 da
Constituição.”
E aqui entra outra questão para reforçar o que dissemos
acima. Rodrigo Maia, fala em parecer que admite a tramitação da proposta de
emenda constitucional (PEC), mas a aprovação só poderia ocorrer após o fim da
intervenção. Ou seja, Maia continua firme na sua promessa de votar a reforma e,
talvez por isso, tenha sido inicialmente contrário à intervenção.
As intenções do golpista estão ficando mais claras: a)
está tentando reduzir a sua impopularidade e ser candidato à reeleição (opção
desesperada para não ser preso tão logo deixe o cargo); b) com a intervenção,
abriu caminho para um dos seus projetos mais secretos, ou seja, criar o
Ministério da Segurança Pública, fato consumado e que aumentaria sua influência
sobre a Polícia Federal.
Em um artigo publicado pelo Diap (Departamento
Intersindical de Análise Parlamentar) Luiz Alberto dos Santos, Consultor
legislativo do Senado Federal e advogado, esclarece que tramitam no Congresso
Nacional, no momento, inúmeras propostas de emenda à Constituição. Somente na
Câmara dos Deputados, são nada menos do que 35 propostas de emenda à
constituição com comissões especiais constituídas e em funcionamento, ou cujo
parecer aguarda votação em plenário. Entre elas a famigerada PEC 287/2016, que
trata da “reforma da previdência” e deveria ser debatida no próximo dia 20.
Escreve o advogado: “Nesse momento, em que é anunciada
a edição de decreto presidencial instituindo intervenção federal na segurança
pública do Estado do Rio de Janeiro, surgem dúvidas sobre os efeitos dessa
decretação: ela impedirá a apreciação da PEC 287/2016 pelo Plenário? Ela poderá
continuar tramitando na Câmara e seguir ao Senado? Se aprovada pelo Senado,
poderá ser promulgada? Qual a condição para tal decreto manter-se vigente?”.
E ele dá algumas respostas depois de citar o Artigo 34
da Constituição Federal. Esclarece que “Compete privativamente ao Presidente da
sua decretação (art. 84, X), devendo seguir os ritos estabelecidos no art. 36,
dependendo, em alguns casos, de solicitação do Legislativo ou do STF”. Mas diz
ainda que “o decreto de intervenção deve especificar a amplitude, o prazo e as
condições de execução da intervenção, e, quando for o caso, nomear o
interventor, e deverá ser submetido à apreciação do Congresso Nacional no prazo
de vinte e quatro horas. Cessado o motivo da intervenção, as autoridades
afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal”.
Ao término da longa análise ele diz: “Caso haja a
persistência do Presidente da Câmara dos Deputados em pautar a matéria, de
forma a obrigar os parlamentares a deliberarem sobre ela uma vez aprovada pelo
Congresso a intervenção federal decretada, caberá mandado de segurança no
Supremo Tribunal Federal a ser ajuizado pelos parlamentares para proteger
direito líquido e certo à observância da limitação constitucional”.
Ou seja: “Dessa forma, a PEC 287 não somente não pode
continuar a ser apreciada enquanto vigorar a intervenção, como qualquer ato
relativo a qualquer outra PEC, mesmo que já aprovada e aguardando promulgação,
poderá ser praticado, por ser absoluto o impedimento do art. 60, § 1º, que
prejudica o prosseguimento de qualquer das fases do processo legislativo” com
referência às PECs em andamento.
Para simplificar, a intervenção federal, por lei,
impede que nesse período seja votada qualquer alteração na Constituição. Com
isso, Temer assume derrota na Previdência, que não poderá mais ser votada. Mas
deixa aberta uma porta ainda mais perigosa: entrega nas mãos da direita o
“discurso da ordem” que pode incentivar um aprofundamento do golpe de 2016.
• PT votará contra a intervenção. O deputado federal Paulo Pimenta, líder do PT na
Câmara dos Deputados, divulgou um vídeo através das redes sociais criticando as
medidas do golpista Temer sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro. Ele
classificou o decreto como “politicagem barata” e uma decisão “autoritária e totalmente
equivocada do governo”.
Em nota oficial assinada pela presidenta, Gleisi
Hoffmann, por Paulo Pimenta e pelo Senador Lindbergh Farias, líder o Partido no
Senado Federal, o Partido dos Trabalhadores assegura que a “crise da Segurança
Pública é um dos mais graves problemas da população do Rio de Janeiro e de todo
o Brasil, especialmente da população mais pobre, exigindo participação ativa do
Governo Federal”, mas esclarece que os “governos do PT assumiram sua
responsabilidade neste tema com medidas de forte impacto, como a criação da
Força Nacional de Segurança Pública e do Pronasci, o fortalecimento da Polícia Federal,
da Polícia Rodoviária Federal, entre outras iniciativas, como a proteção das
fronteiras, com participação constitucional e adequada das Forças Armadas”.
Mas
assegura que a “intervenção anunciada hoje, no entanto, pode ser um perigoso
passo para a consolidação e o aprofundamento de um estado de exceção no
Brasil”.
“Não se
pode afastar a relação do agravamento da crise da segurança com o
enfraquecimento do estado, falido por conta de um grave ajuste fiscal,
promovido pelo governo Temer e intensificado pelo governo estadual do MDB, que
afeta, inclusive, verbas para pagamento de policiais e investimentos
necessários para políticas de segurança mais eficientes”.
Mas
a nota alerta ainda: “É gravíssimo o fato de o governo anunciar que pode
suspender o decreto, caso tenha os votos necessários para aprovar a proposta de
emenda constitucional, quando a própria Constituição Federal impede a
promulgação de qualquer PEC na vigência de intervenção federal sobre um Estado.
Inaceitável, sob todos os aspectos, esse novo drible à Constituição seria mais
uma vergonha imposta ao país pelo governo golpista”.
• Vai para lá, vai (1)!
Estamos muito acostumados a ouvir um argumento da direita provocando nossas
convicções: “vai para Cuba, vai”! Chegou a hora de mostrarmos também um pouco
do “sonho americano” dessa mesma direita que idolatra tudo o que vem daquele
país de m*erda!
Para começar, vamos citar a estatística que mostra que,
em apenas 40 anos, cerca de 600.000 menores e adolescentes morreram nos EUA por
motivos que outros países desenvolvidos já conseguiram evitar. Desde a década
de 1970, segundo os dados agora revelados, milhares de meninos e meninas
estadunidenses morreram ou não podiam ser salvas enquanto as estatísticas iam
melhorando em todos os países ditos “desenvolvidos”.
Em 2013, o Centro de Estudos da UNICEF publicou uma
análise que derruba qualquer argumento dos eternos amantes da “grande nação do
Norte”. Foram analisados os mais diversos parâmetros de saúde e qualidade de
vida das crianças, desde os índices de obesidade, passando pela questão da
violência e da segurança habitacional, até o desempenho educativo. Entre os 29
países pesquisados, os EUA ficaram em 26º lugar!
Foram feitos estudos sobe: maior índice de mortalidade
infantil, menor esperança de vida ao nascer, piores índices de lesões, mais
riscos de infecções por HIV, maior número de gravidez entre adolescentes, etc.
E isto em um país que declarou ter gasto 2 bilhões e 660 milhões de dólares em
saúde infantil, em 2014!
A Dra. Alexandra D. Forrest, da Universidad de Drexel,
Filadélfia, acaba de publicar um estudo sobre mortalidade infantil na revista
especializada Health Affairs. Ela revisou e comparou as taxas de mortalidade
infantil por diferentes causas nos países da OCDE nos últimos 50 anos. E assegura
que “apesar do maior gasto em saúde infantil, acreditamos que as persistentes
taxas de pobreza, os poucos resultados educativos e a frágil segurança social
converteram os EUA na mais perigosa das nações para se nascer”!
Entre 1961 e 2010 as taxas de mortalidade infantil
caíram em todo o mundo, até mesmo nos EUA. Todos os países se voltaram para o
problema e começaram a combater doenças infecciosas. Milhões de vidas foram
salvas. Mas, a partir da década de 1970 as crianças estadunidenses entre um e
dezenove anos de idade começaram a fazer crescer as estatísticas
significativamente piores que o restante da OCDE. Na década de 1980 as
estatísticas pioraram também para recém-nascidos com menos de um ano de idade.
Entre a década de 1990 e os primeiros anos do novo
século os dados ficaram ainda piores. Crianças estadunidenses entre 1 e 19 anos
tinham 57% mais probabilidades de morrer que no restante dos países ricos.
Entre as crianças com menos de 1 ano as estatísticas pioraram: 76% mais riscos
de morrer!
As razões são muitas: imaturidade das mães, lesões
durante o parto, asfixia ou obstruções respiratórias depois do parto, doenças
causadas pelo sangue ou falta de nutrição adequada.
• Vai para lá, vai (2)! Em 2002, o Instituto de
Medicina de uma das quatro principais Academias dos EUA publicou um informe
comparativo sobre a saúde da população. O título era bem significativo: “Vidas
mais curtas, saúde mais pobre”!
O estudo identificava as carências que mais
prejudicavam a saúde dos estadunidenses: “condições socioeconômicas adversas,
hábitos pouco saudáveis e um sistema sanitário fragmentado, tudo somado a uma
frágil rede de seguridade social”.
A doutora Forrest participou dos estudos que
confirmaram as informações anteriores: as taxas de mortalidade infantil começaram
a piorar quando a pobreza infantil relativa foi se estendendo pelos EUA, entre
os anos 70 e 80.
• Vai para lá, vai (3)!
Somando-se ao péssimo desempenho estadunidense na saúde neonatal, outro grande
problema são as consequências do chamado “sonho americano”: os carros e as
armas!
Por tudo o que faça, os EUA não conseguem atingir os
mesmos índices da OCDE quando se trata de prevenção de mortes causadas por
acidentes de trânsito. Os números melhoraram, mas em ritmo muito mais lento do
que em outros países desenvolvidos: enquanto os EUA reduziram em apenas 23% o
número de mortes em estradas, os demais países chegaram a reduzir em até 64%!
Mas a vida das crianças por lá deve superar um problema
ainda maior. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram, em 2017,
um dos mais detalhados levantamentos de lesões e mortes causadas por armas de
fogo em cidadãos entre 0 e 17 anos. Entre acidentes, homicídios e suicídios, a
cada ano morrem 1.300 menores por armas de fogo; 5.790 ficam feridas.
Aproximadamente, 82 vezes mais do que no restante da OCDE. Entre os meninos
negros não hispânicos as armas são a principal causa de mortes!
(Fuente:
http://www.elsaltodiario.com/desigualdad/Estados-Unidos-600000-muertes-pobreza-infantil)
• Vai para lá, vai (4)!
E aconteceu mais uma vez. Mais um atentado em uma escola nos EUA deixou 17
mortos na quarta-feira (14). Um ex-aluno de um colégio a 70 quilômetros de
Miami invadiu o estabelecimento e disparou contra estudantes e adultos.
Preso duas horas mais tarde, Nikolas Cruz possuía um
rifle AR-15 (arma de guerra que permite carregar grande quantidade de munição).
Segundo a polícia local, o jovem era um admirador de armas e havia sido expulso
da escola por razões disciplinares. Segundo as autoridades, Cruz comprou a arma
semiautomática legalmente há cerca de um ano.
Desde 2000, já foram registrados mais de 40 atentados
com armas de fogo em escolas naquele país, segundo o FBI. Ocorrido em 1999, o
massacre de Columbine, um dos episódios mais conhecidos de violência em escolas
dos EUA, deixou 12 alunos e um professor mortos.
Desculpem. O temporal no Rio me deixou alguns dias sem
Internet.
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