Opinião
Pulga golpista
No ataque a CartaCapital, Sá Leitão só prova a sua incultura
Janine Moraes/MinC
Que esperar deste senhor?
Um cidadão que se assina Sérgio Sá Leitão, presença por mim até hoje ignorada, de improviso surge na minha vida por obra de um texto divulgado pelo Facebook na segunda-feira 2 de julho.
Verifico que o indivíduo se apresenta como ministro da Cultura do governo ilegítimo de Michel Temer e se dispõe a atacar CartaCapital e o autor da reportagem publicada na edição passada sobre o racha no seu ministério, o esvaziamento da Ancine e a saída do secretário do Audiovisual.
Sá Leitão afirma não haver uma única “palavra de verdade” na reportagem, a representar “um recorde mundial de mentiras e distorções”, bem como “uma façanha diluviana até mesmo para os padrões sórdidos” da revista. A qual “não merece o nobre título de revista”, tampouco “a nobre qualificação de jornalista” quem assina o texto execrado.
Logo Sá Leitão aclara suas razões. Segundo ele, a “esquerda lulopetista perdeu o monopólio da política e do setor cultural, e agora esperneia”. Daí a sentença inexorável: “Merece o destino do seu mentor”, ou seja, “a lata do lixo da história e uma cela fria em Curitiba”.
Leve reparo inicial: não sabíamos que o jornalismo confere a quem o pratica um título de nobreza, supúnhamos tratar-se de profissão igual a outra qualquer. Muito menos o merece quem, em vez do jornalismo, entrega-se à propaganda, como se dá com a mídia nativa, salvo raras exceções.
Observação miúda, além de óbvia. Vamos à questão central: o ministro navega na névoa como um pesqueiro escocês ao largo em uma madrugada invernal e sem dispor de sirene. Cultura do seu próprio país ele desconhece completamente.
Tivesse um mínimo entendimento da história do nosso jornalismo, saberia que Jotabê Medeiros é um profissional de longo curso, respeitadíssimo em seu meio, com passagem feliz por várias redações. Quanto relata na sua reportagem são fatos.
CartaCapital é apenas o último capítulo de um longo enredo percorrido por exemplares profissionais honestos. Sá Leitão não me ofende, quero deixar bem claro, ao ignorar que, desde os meus 26 anos, ou seja, há quase seis décadas, dirigi as equipes pioneiras de Quatro Rodas, Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ, Senhor semanal, novamente IstoÉ, que passara alguns anos à sombra da Gazeta Mercantil.
Ao cabo, já faz 24 anos, aportei a CartaCapital, e meu companheiro na empreitada é Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos mais notáveis mestres brasileiros de economia e cidadania republicana. Muitos dos que me acompanham agora já estiveram comigo em várias ocasiões.
Nada disso nos há de surpreender: que esperar do ministro de um governo de assaltantes? Sim, de longe, infinitamente de longe, preferimos aqueles de Lula e Dilma Rousseff e, com certeza inicial em 2002, os escolhemos como nossos candidatos, conforme costume da mídia de países civilizados e democráticos. Sou amigo do ex-presidente faz 40 anos e CartaCapital reconhece nele o único líder popular brasileiro, como comprovam, de resto, as pesquisas eleitorais.
Acompanhei de perto a criação do PT e imaginei então que um partido de esquerda contribuiria para a modernização do Brasil. Nem por isso me filiei à nova agremiação e, desde a primeira vitória de Lula, não deixei de repetir neste mesmo espaço que, no governo, o PT portou-se como todos os demais clubes recreativos no Brasil chamados erradamente de partidos.
Ao nos acusar de lulopetismo, Sá Leitão alia-se a quem por 13 anos nos definiu como revista chapa-branca, a mostrar que jornalismo independente incomoda a todos. CartaCapital, pasma diante da incultura do ministro, enxerga nele um fascistoide de ocasião digno do país da casa-grande e da senzala.
Uma pulga golpista, bilioso recalcado capaz de alegrar-se se, condenado sem provas e preso em uma cela fria com a conivência de uma alta corte de fancaria, Lula é vítima do absoluto desrespeito dos princípios do Direito e da lei brasileira. Quanto à lata do lixo da história, mais cedo ou mais tarde engolirá os golpistas hoje no poder, sem cuidar de registrar entre eles o insignificante Sá Leitão.
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