domingo, 28 de outubro de 2018

Não há barbárie que dure para sempre. Por Valter Pomar


Não há barbárie que dure para sempre. Por Valter Pomar

 
“Somos melhores do que isso”
POR VALTER POMAR
O TSE acaba de informar que o candidato da extrema direita ganhou as eleições presidenciais de 2018, com 10 milhões de votos de vantagem.
Nossa resposta é: resistiremos.
O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes e mais de 140 milhões de eleitores.
O neofascista e ultraliberal não tem o apoio da maioria do povo brasileiro.
A votação em Haddad é um dos muitos indicadores de que, contra o neofascismo e o ultraliberalismo, haverá muita resistência.
Não devemos ter ilusões: a extrema direita já demonstrou estar disposta a implementar, mesmo que a ferro e fogo, seu programa ultraliberal e antidemocrático.
E um dos principais obstáculos para isso é e continuará sendo o conjunto das organizações da esquerda brasileira, com destaque para o PT, a CUT, o MST, a UNE e a Frente Brasil Popular.
Foram estas forças que vertebraram a luta contra o golpe e contra a extrema direita.
No curto prazo, caberá a estas organizações:
a/contribuir na resistência democrática e popular contra o neofascismo e o ultraliberalismo, mobilizando imediatamente contra o que tentará fazer Temer, no apagar das luzes de seu governo golpista;
b/reforçar as medidas em defesa dos direitos humanos, da vida e da integridade de seus militantes, atividades e sedes, impedindo que a violência combinada de grupos para-militares e a cumplicidade ativa ou passiva de setores do aparato judicial e de segurança destruam, intimidem e/ou desorganizem o funcionamento da esquerda brasileira;
c/formular uma estratégia e um modelo organizativo adequados ao novo momento histórico, articulando partidos e movimentos, bancadas parlamentares e governos liderados pelo PT e aliados, em uma frente democrática e popular em defesa das liberdades democráticas e dos direitos econômicos e sociais do povo;
d/retomar com toda energia a campanha Lula Livre.
No médio e longo prazos, o êxito da resistência, a derrota do neofascismo ultraliberal, a reconquista do governo federal, a luta por transformações democrático populares e socialistas, dependerão de que percebamos que não estamos em 1968, nem em 1987 ou 1995.
A estratégia adotada pela maior parte da esquerda brasileira, nos momentos citados, não é adequada para o momento que teve início na noite de 28 de outubro.
Um dos maiores desafios do PT será ajudar a construir e implementar uma linha política estratégica e uma conduta cotidiana à altura desta nova situação histórica.
As vitórias da extrema direita nos estados de SP, RJ e MG, bem como a força da centro-esquerda e do PT no Nordeste precisam ser objeto de análise detida.
Nossa linha política deve dar grande destaque à questão regional, que sobressai a cada eleição.
Nossa linha também deverá combinar, de maneira adequada, a luta em defesa das liberdades democráticas, com a defesa dos interesses econômicos e sociais das classes trabalhadoras, evitando tanto o economicismo quanto a defesa “em abstrato” da “democracia”.
E nossa linha inclui continuar defendendo e construindo o Partido dos Trabalhadores.
O Partido dos Trabalhadores foi construído em 1980, na luta contra a ditadura e a “transição conservadora”. Em 1989 quase ganhamos à presidência da República. Nos anos 1990 estivemos na linha de frente da oposição ao neoliberalismo. De 2002 a 2016 governamos o Brasil. Desde então, lutamos contra o golpe e lideramos o enfrentamento contra o neofascismo.
Essa trajetória nos converte, automaticamente, em inimigo principal do governo que tomará posse em janeiro de 2019.
Terão continuidade a perseguição midiática, o arbítrio judicial e as violências paramilitares. Tentarão invibializar nosso funcionamento, dividir nossas fileiras e, inclusive, cassar nossa legenda.
Só derrotaremos estas e outras agressões — a começar pela prisão política de Lula — se mantivermos uma linha política correta, o que inclui reconstruir os nossos vínculos com setores da classe trabalhadora que se distanciaram de nós.
Faz parte da defesa do PT o balanço de nossa campanha eleitoral.
Balanço dos acertos (entre os quais destacamos a defesa até o limite da candidatura de Lula), dos erros políticos (entre os quais destacamos o tempo gasto e as concessões feitas no sentido de atrair setores de “centro”, quando mais importante teria sido priorizar a desconstrução de Bolsonaro e a conquista do voto popular) e organizativos (onde se destaca o atraso com que se enfrentou o tema da comunicação nas chamadas redes sociais).
Ao fazer o balanço da campanha presidencial, articulado ao balanço das campanhas para governador, senado e proporcionais, devemos ser os primeiros a apontar nossos erros.
Entre eles, o de não termos conseguido impedir, nem reverter, a conquista de parcelas das classes trabalhadoras pelo discurso neofascista e ultraliberal.
Ao reconhecer erros, não nos furtaremos a desmascarar aqueles que criticam e pedem autocrítica do PT apenas para esconder a contribuição que deram, por ação ou omissão, para o crescimento político e eleitoral da extrema direita. Inclusive, em alguns casos, não tomando posição explícita na reta final do segundo turno.
A covardia destes contrasta com a valentia de milhares de “famosos” e milhões de “anônimos” que dedicaram tempo, suor e saliva para impedir a catástrofe.
A militância do PT ocupou seu lugar na primeira fila no combate contra o neofascismo ultraliberal.
O PT deve estar aberto para acolher a militância que despertou para a luta desde o golpe, bem como aquela que hoje está abrigada em outros espaços, como o MST e organizações próximas.
No caso do PCdoB, o PT deve abrir um diálogo que permita a este partido contornar os problemas criados pela cláusula de barreira.
Diálogo similar deve ser feito no terreno sindical e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, na perspectiva de unificar ao máximo que for possível as forças da esquerda.
O candidato neofascista e ultraliberal ganhou na apuração dos votos, com o apoio da fraude, do arbítrio, da mentira, do abuso de poder econômico e da manipulação midiática.
O período que se inaugura será de imensos desafios e dificuldades. Sem subestimar as dificuldades do governo da extrema direita, tampouco devemos minimizar o tempo e o esforço que serão necessários para derrotá-lo.
Mas a vitória é possível, se ao lado de uma linha política correta, formos capazes de nos manter como expressão do povo consciente e que luta, da classe trabalhadora, dos movimentos populares e sindical, da cidadania democrática e da militância de esquerda. E se formos capazes de continuar construindo o Partido dos Trabalhadores.
Valter Pomar
20:00, 28/10

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