O triste destino de um país que tinha chances de evoluir
O mapa político mudou. A onda liderada por Jair Bolsonaro elegeu o Congresso mais conservador das últimas três décadas. O PSL, partido do candidato, hoje com bancada de apenas oito deputados, recebeu votações maciças nos maiores colégios eleitorais do país e é a nova cara do Parlamento. Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, foi o deputado federal mais votado da história, com 1,8 milhão de votos em São Paulo. O discurso moralizador da Lava-Jato fez efeito, e os partidos tradicionais, envolvidos com o esquema de corrupção, perderam força.
Projeção feita pela corretora XP mostra que o PSL terá uma bancada de 51 deputados. É superada apenas pelo PT, que deverá ter, de acordo com essa estimativa, 57 representantes — 13 a menos do que elegeu em 2014. O PSDB de Geraldo Alckmin foi reduzido a 24 deputados, a menor bancada do partido desde 1994. O MDB, partido de Michel Temer, o mais impopular dos presidentes brasileiros, poderá ser reduzido à metade: de 66 eleitos em 2014 para 33 deputados. O estudo mostra que até 14 dos 32 partidos que disputaram as eleições não conseguiram o percentual mínimo de votos exigido pela lei para ter direito de funcionar no Congresso, o que deverá provocar rapidamente um movimento de fusões e incorporações de legendas.
A eleição varreu do Legislativo antigos e poderosos atores, a começar do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que não conseguiu a reeleição. Apesar da aliança com o governador petista Camilo Santana, reeleito em primeiro turno, ficou em terceiro lugar. Ganhou a vaga Eduardo Girão, do PROS, apoiado pelo senador tucano Tasso Jereissati.
Aécio Neves, abatido pela Lava-Jato, só teve condições de tentar uma vaga na Câmara e amargou a 19ª maior votação, com pouco mais de 106 mil votos. Foi eleito com uma fração ínfima dos mais de 50 milhões de votos que teve na eleição presidencial de 2014. Sua adversária à época, a petista Dilma Rousseff, que liderou as pesquisas de intenção de voto para o Senado durante toda a campanha, alcançou apenas o quarto lugar, com 15%.
O antipetismo que ajudou levar Bolsonaro ao segundo turno também tirou do Senado Lindbergh Farias (RJ) e Jorge Viana (AC), ambos muito identificados com Lula. Vitimou até o carismático Eduardo Suplicy, que tentava voltar ao Senado, mas esbarrou na força de outro aliado de Bolsonaro, Major Olímpio (PSL), que levou a primeira vaga com 8,8 milhões de votos, quase o dobro do que obteve o petista.
Políticos tradicionais, como Edison Lobão (MDB-MA) e Roberto Requião (MDB-PR), deixam o Senado em fevereiro. Romero Jucá (MDB-RR), líder dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Michel Temer, perdeu a reeleição para Mecias de Jesus, do PRB, por menos de mil votos. Cristovam Buarque (PPS-DF) pagou o preço pelo apoio ao impeachment de Dilma, contrariando seu eleitorado, majoritariamente do campo da esquerda. Cede a vaga à novata Leila do Vôlei, do PSB.
No Rio, um dos estados mais atingidos pela crise econômica e também pela Lava-Jato, sai o MDB de Michel Temer e Sérgio Cabral e entra o PSL. O subtenente do Exército Hélio Fernando Barbosa Lopes, conhecido como Hélio Negão, foi o mais votado, com 341 mil votos. Superou Marcelo Freixo, do PSOL, que ficou em segundo, com cerca de 340 mil votos. Seu companheiro de partido, Jean Wyllis, o deputado que, em plenário, cuspiu em Jair Bolsonaro, foi rejeitado pelo eleitor e amargou a 77ª posição, com 0,32% dos votos.
Os herdeiros de políticos que dominaram o estado nos últimos 20 anos e hoje estão presos ou processados tiveram um desempenho pífio. Marco Antonio Cabral, Leonardo Picciani e Clarissa Garotinho não ficaram entre os 50 mais votados. Estreante nas urnas, Daniele Cunha, filha de Eduardo Cunha, também não conseguiu seguir os passos do pai. O filho do prefeito Marcello Crivella é outro que tentou e não levou.
Em outro clã, o clima também é de derrota. Pela primeira vez, em seis décadas, Brasília não terá um Sarney no poder. O ex-presidente José Sarney já estava sem mandato desde 2014. A vitória de Flávio Dino (PCdoB) sobre Roseana Sarney na disputa pelo governo do Maranhão derrubou também a candidatura de Sarney Filho (PV) para o Senado. Seu filho Adriano, porém, tornou-se a nova esperança da família: conseguiu renovar o mandato de deputado estadual.
Da Época.
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