PAULO GUEDES TEM FAMA DE BRIGUENTO E EXPERIÊNCIA ZERO EM GESTÃO

Mesmo no mercado financeiro, o berço de Paulo Guedes, sua elevação ao posto de comandante do Superministério da Economia é vista como uma jogada de altíssimo risco e baixa chance de êxito; entre seus colegas, Guedes tem fama de arrogante e briguento, o que torna complicada a missão de quem terá que negociar com uma multiplicidade quase infinita de atores com interesses no mais das vezes divergentes; no Congresso, Paulo Guedes foi questionado por senadores se gostaria de incluir alguma ação na peça orçamentária de 2019 e reagiu com um misto de arrogância e ignorância; "Façam o orçamento de vocês que eu faço o meu"
9 DE NOVEMBRO DE 2018 ÀS 16:05 // INSCREVA-SE NA TV 247 

247 - Mesmo no mercado financeiro, o berço de Paulo Guedes, sua elevação ao posto de comandante do Superministério da Economia é vista como uma jogada de altíssimo risco e baixa chance de êxito. Entre seus colegas, Guedes tem fama de arrogante e briguento, o que torna complicada a missão de quem terá que negociar com uma multiplicidade quase infinita de atores com interesses no mais das vezes divergentes. Além disso o futuro ministro não tem qualquer experiência em gestão, e estará à frente de uma máquina gigantesca e complexa, resultante da fusão dos atuais ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Nas últimas semanas, Guedes fez jus à fama, arrumando confusão com o Mercosul, os empresários da indústria e nada menos que o Congresso Nacional, a quem ameaçou com "uma prensa" para arrancar a aprovação da reforma da Previdência.
Durante visita à Comissão mista de Orçamento do Congresso, Paulo Guedes foi questionado por senadores se ele gostaria de incluir alguma ação na peça orçamentária que entrará em vigor em 2019. Guedes reagiu com um misto de arrogância e ignorância. "Não, façam o orçamento de vocês que eu faço o meu", disse ele. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, o alertou que não dá para fazer um orçamento para o ano vigente e que há ritos constitucionais a serem observados na elaboração da lei que prevê receitas e despesas do governo.
O caso foi comentado pela jornalista Cristiana Lôbo, da Globonews, e teve vídeo divulgado nas redes sociais. Assista:
O que será que diriam de mim se eu não soubesse quando se elabora o ORÇAMENTO DO PAÍS? Esse é o Posto Ipiranga do presidente eleito. pic.twitter.com/7YUvyyh9iA— Manuela (@ManuelaDavila) 8 de novembro de 2018
Segundo os jornalistas Vanessa Adachi, Fábio Pupo e Beth Koike, "Guedes tem fama de briguento e coleciona desafetos. Ex-colegas atribuem isso ao fato de o economista dizer sempre o que pensa, sem filtro. 'Ele é autêntico e nada jeitoso. Não está preocupado se o que defende vai agradar ou não as pessoas', diz um deles. 'Ele tem opiniões fortes e é meio teimoso', diz outro" (se quiser, leia aqui). O perfil não parece ser o mais adequado para quem pretende ser bem sucedido no cipoal da capital federal e que dependerá de milhares de pessoas para executar seus projetos, a começar dos parlamentares e integrantes de 15 órgãos colegiados. Um estilo "deixa que eu chuto" terá enormes dificuldades na presidência do Conselho Monetário Nacional (CMN), do Conselho de Política Fazendária (Confaz), onde todas as decisões precisa ser aprovadas por consenso com os 27 secretários estaduais das Fazendas, e do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).
A inexperiência de Guedes como gestor e sua tarefa hercúlea deixa muitos abismados. O economista Mailson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda no governo Sarney e que não pode ser acusado de petista -e sequer de progressista-, escreveu artigo sobre a fusão dos ministérios debaixo da Pasta da Economia com um diagnostico sombrio. "Uma ideia que não faz sentido" foi o título do artigo que escreveu e foi publicado nesta quarta-feira (7) no arquiconservador O Estado de S.Paulo. Nóbrega pontuou: "A pretensão parece ser a de criar um novo czar da economia, com carta branca para resolver décadas de problemas do setor público. Trata-se de obra ciclópica, que não depende de um indivíduo nem tem como ser levada a cabo num período de governo".
No artigo, o ex-ministro fez picadinho do projeto. Mailson da Nóbrega escreveu que, com a estrutura atual, o Ministério da Fazenda "um gigante, demanda do ministro dedicação de 12 horas diárias ou mais" -ele sabe sobre o que escreve, pois esteve à frente da Pasta entre 1988 e 1990.
Ele condenou taxativamente e ideia da fusão da Fazenda com o Planejamento -a condenação é uma unanimidade entre ex-ministros e gestores públicos com alguma experiência. Escreveu Nobrega sobre o assunto:
"A incorporação do Planejamento comete um erro elementar, o de juntar funções que devem ser segregadas: as de elaboração e execução do Orçamento. É assim em praticamente todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos. Lá, a preparação do Orçamento está a cargo de um órgão da Casa Branca, o Office of Management and Budget (OMB), enquanto a execução cabe ao Departamento do Tesouro. Ambos têm status ministerial.
A fusão poderia piorar a qualidade do Orçamento. A separação tem uma lógica. Sua elaboração considera o médio e o longo prazos; o órgão que o executa focaliza as questões de curto prazo, ligadas à política fiscal. Afora esse erro, a junção agregaria às já amplas responsabilidades do superministro a supervisão de 23 órgãos e entidades: quatro colegiados, nove secretarias e seis fundações e empresas públicas. A ele se subordinariam, entre outros, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O Planejamento cuida de assuntos que não se ajustam ao papel da Fazenda, caso da gestão de pessoal civil da União."
A eliminação do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços é vista como quase um disparate por Nóbrega:
"A incorporação do Planejamento comete um erro elementar, o de juntar funções que devem ser segregadas: as de elaboração e execução do Orçamento. É assim em praticamente todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos. Lá, a preparação do Orçamento está a cargo de um órgão da Casa Branca, o Office of Management and Budget (OMB), enquanto a execução cabe ao Departamento do Tesouro. Ambos têm status ministerial.
A fusão poderia piorar a qualidade do Orçamento. A separação tem uma lógica. Sua elaboração considera o médio e o longo prazos; o órgão que o executa focaliza as questões de curto prazo, ligadas à política fiscal. Afora esse erro, a junção agregaria às já amplas responsabilidades do superministro a supervisão de 23 órgãos e entidades: quatro colegiados, nove secretarias e seis fundações e empresas públicas. A ele se subordinariam, entre outros, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O Planejamento cuida de assuntos que não se ajustam ao papel da Fazenda, caso da gestão de pessoal civil da União."
Na conclusão do texto, o ex-ministro apelou à história e convidou Guedes a desistir da ideia: "A ideia não leva em conta a História. A mesma fusão foi decidida por Fernando Collor e deu errado. Foi abandonada logo após o impeachment, quando Itamar Franco reorganizou a estrutura das pastas ministeriais. Paulo Guedes não precisa ser um superministro para se tornar um dos mais relevantes membros do próximo governo. Poderia desistir de uma ideia que não faz o menor sentido."
Com o perfil de Guedes, a chance de ele desistir equivale a zero. A economia poderá sofrer com o superministro, mas a mídia terá assuntos à farta enquanto Paulo Guedes conseguir segurar-se no poder. É bom lembrar que de agora à posse o tempo de quase dois meses parece ser uma longuíssima estrada, com a capacidade do escolhido por Bolsonaro causar abalos e crises.
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