O recado de Putin a Bolsonaro
A América Latina está passando por uma renovação no âmbito da política internacional, onde as maiores potencias do mundo voltaram a disputar influência política e econômica, em moldes similares aos que ocorreram durante o período da Guerra Fria. Em meio a essa nova configuração, dois países passam a ocupar um polo de destaque nessa disputa: Brasil e Venezuela. Outrora aliados políticos e ideológicos, as declarações do governo brasileiro eleito em relação ao país vizinho parece tê-los colocados em lados opostos nessa disputa, liderada por EUA e Rússia. Mas esse jogo tem reações a cada ação. E a reação do Kremlin pelo apoio irrestrito do governo eleito aos EUA chegou ao Brasil "a jato". Ou melhor, jato não, bombardeiro. E dos grandes.
Ontem a Rússia enviou para a Venezuela dois bombardeiros TU-160, com capacidade nuclear além de outras aeronaves auxiliares. 100 pilotos russos já estão em solo venezuelano para a realização de manobras militares em defesa do país governado por Nicolás Maduro. "Devemos dizer ao povo da Venezuela e ao mundo inteiro que assim como estamos cooperando em diversas áreas de desenvolvimento para ambos os povos, também estamos nos preparando para defender a Venezuela até o último palmo quando for necessário", disse o Ministro da Defesa Vladmir Padrino Lopez.
Os EUA reagiram imediatamente, fazendo com que o Secretário de Estado emitisse duras críticas aos dois países, que os taxou de serem "corruptos" enquanto promovem sofrimento a seu povo. O Kremlin treplicou as acusações, considerando as críticas inapropriadas por terem vindas de um país "cuja metade do orçamento militar seria suficiente para alimentar toda a África", conforme declarou o porta-voz oficial de Moscou, Dmitry Peskov. Mas o que tem gerado tamanha instabilidade na região a ponto de armas de potencial nuclear serem testadas? As ameaças de Jair Bolsonaro ao vizinho bolivariano.
Desde a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro vem fazendo duras críticas e ameaças ao governo de Maduro, a quem já chamou de "narcoditador". Ademais, o presidente eleito tem tomado diversas ações demonstrando apoio incondicional aos EUA de Donald Trump, um dos maiores opositores de Maduro e responsável pelo embargo econômico que impede a recuperação econômica no país. Bolsonaro, muitas vezes, se referiu à Venezuela com desrespeito durante a campanha presidencial, incluindo-a, inclusive, seu fatídico discurso no Acre: "Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vamos botar esses picaretas para correr do Acre. Já que gostam tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá. Só que lá não tem nem mortadela. Vão ter que comer capim mesmo", disse o então candidato em discurso, antes de ser ovacionado pela plateia.
Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito e um dos principais articuladores do novo governo, já chegou ameaçar a Venezuela com todas as letras, antes da realização do segundo turno das eleições presidenciais: "O general Mourão já falou: a próxima operação de paz do Brasil vai ser na Venezuela. Vamos libertar nossos irmãos venezuelanos da fome e do socialismo"
A política internacional não é jogada com blefes e fake News e o governo eleito precisa aprender isso muito antes que coloque a soberania e o povo brasileiros em risco. Os bombardeiros russos vieram mostrar que a Venezuela ainda tem aliados importantes, não importa o quão grande seja o novo aliado dos EUA no continente. A autodeterminação dos povos ainda é um princípio universal e está cravada como cláusula pétrea em nossa constituição. Afinal, não se pode agir como os EUA, com orçamento e exército de Brasil. Digam para o presidente eleito, Putin mandou avisar.
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