OS BASTIDORES DA ENTREVISTA DE LULA AO EL PAÍS
Em entrevista à TV 247, o jornalista Florestan Fernandes Jr., que entrevistou o ex-presidente, e a diretora do El País no Brasil, Carla Jimenez, contam os bastidores de uma das entrevistas mais lidas e assistidas no mundo; assista
4 DE MAIO DE 2019 ÀS 06:10
247 - O jornalista responsável pela primeira entrevista com o ex-presidente Lula após sua prisão política, Florestan Fernandes Jr., e a diretora do El País no Brasil, Carla Jimenez, contaram à TV 247 episódios que antecederam a ida à Polícia Federal e analisaram o impacto da entrevista.
Florestan lembrou da interferência da Polícia Federal que tentou inserir na entrevista jornalistas de outros veículos com o pretexto de "assegurar a liberdade de expressão". "Eu e a Carla na quinta-feira fomos chamados para conversar com o delegado da Polícia Federal e estava também o advogado do Lula, aí eles apresentaram aquela interferência, um documento que liberava nossa entrevista mas que, para ajudar a liberdade de expressão, eles já estavam selecionando jornalistas, escolhidos por eles, para colocá-los dentro da sala onde iria ocorrer a entrevista do Lula para o El País e Folha de S.Paulo. É lógico que aquilo ali era uma coisa totalmente absurda, eu e a Carla ficamos muito constrangidos com aquela reunião, a Carla chegou até a se exaltar em um determinado momento e eu falei para ela ter calma porque ainda teria muita coisa a rolar pela frente. Os advogados do El País, da Folha e do Lula foram ao Supremo e as coisas foram recolocadas em seus devidos lugares".
O jornalista também comentou a parceria entre ele e Mônica Bergamo, jornalista da Folha de S. Paulo, que também entrevistou Lula e relatou as intensas horas de trabalho após a entrevista. "A gente mostrou que é possível fazer bom jornalismo tendo que dividir a entrevista. A gente se reuniu com a Mônica Bergamo e a gente fechou um acordo para se fazer a entrevista da melhor maneira possível. Ela teria que mandar para a Folha mas o El País tem o site aqui no Brasil e tem na Espanha, então você tem que fazer matérias para a Espanha e para o Brasil, tem que fazer a transcrição dessa entrevista, tem que fazer legenda, enfim, a Carla trabalhou para caramba, você não tem noção, ela tinha que escrever em espanhol, fazer nosso texto em português. Eu saí de lá meia noite, ela nem dormiu".
Florestan Fernandes Jr. avaliou a entrevista positivamente em termos jornalísticos e éticos. "Formou-se um grupo ali para fazer a entrevista em que ninguém queria ser estrela, a estrela era o entrevistado. Acho que quem assistiu a entrevista viu que ela foi tranquila, extremamente ética, foi correta e cumpriu seus objetivos. Tenho muito orgulho de ter feito esse trabalho ao lado de duas mulheres muito competentes".
Sobre a polêmica de que o El País teria censurado o pronunciamento de Lula que iniciou a entrevista, Florestan declarou que não houve censura e que o objetivo era dar o foco principal à entrevista de fato. "Aquela fala do Lula foi uma fala que foi escrita por assessores juntos com ele, era uma coisa oficial do Lula ou do partido, não sei, tinha um tom de que não era o Lula falando, era uma declaração que foi pensada pelo Lula junto com a sua assessoria. Então a gente achou que o que o pessoal mais queria era ouvir o Lula falando e isso ele faz na entrevista. Se ele está lendo um papel não é uma coisa natural dele, eu acho que o mais saboroso do material que a gente colocou no ar é a entrevista dele, é ele falando o que ele está pensando desse momento. O que o assessores pensam junto com ele é importante, mas não era o fundamental para nós".
Carla Jimenez contou que ainda não foi possível fechar os números que retratam o impacto da entrevista mas que o material produzido chegou a números surpreendentes. "A gente ainda não conseguiu fechar o número, o grande impacto inicial foi muito curioso. Poucas vezes as matérias do Brasil são mais lidas do que as da Espanha, o Brasil é a segunda maior audiência no mundo, e todos os textos e vídeos que a gente subiu do Lula eram mais lidos do que as matérias do próprio El País espanhol. Isso só aconteceu no impeachment, na última eleição presidencial, quando o presidente Jair Bolsonaro ganhou, quando teve a comoção com a queda do avião da Chapecoense e agora. São casos muito específicos, e nesse caso a entrevista com o Lula teve uma audiência muito acima do que a gente mesmo estava esperando".
Ela também comentou sobre a polêmica da suposta censura do jornal ao pronunciamento do ex-presidente."O que a gente tinha que entregar rapidamente ao leitor? A entrevista, foi a promessa. Mas a gente, por entender o retorno e a expectativa que havia em relação a essa entrevista, publicou na íntegra, todas as perguntas, até as que não entraram, e a gente publicou também esse pronunciamento e no vídeo na íntegra também tem".
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