O discurso assassino de Bolsonaro faz a primeira vítima. Por Vinícius Segalla

 





O presidente do Brasil

Estava demorando para verter em sangue o discurso homicida do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo de extrema-direita. Imagens reveladas no início da noite desta quinta-feira (18) mostram um caminhão passando por cima de pessoas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que protestavam em uma rodovia, atrapalhando o tráfego. Um homem de 72 anos morreu.
O irmão do suspeito aparece, em outro vídeo, na delegacia, dizendo que “tem que passar por cima mesmo”, porque estavam, os manifestantes, de fato atrapalhando o tráfego. E o Brasil, acima de tudo, não pode parar. Estava demorando para algo assim acontecer.
Afinal, já disse o presidente (em sentido figurado, claro): “Vamos fuzilar a petralhada!”. Também já alertou o presidente: “Petralhada, vai tudo vocês pra Ponta da Praia!”. Ele se referia ao local de desova de cadáveres mortos pela Ditadura nos anos 70, no Rio de Janeiro. Depois, explicou que falava em sentido figurado, claro.
Também já informou, Bolsonaro, que o MST vai ser tratado como grupo terrorista. E, “se resolver morrer, é problema dele“. Nessa vez, o presidente não disse que era em sentido figurado.
Um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, com o seu jeito peculiar de (des)tratar a língua portuguesa, em outra oportunidade, disse que o “MST quer ‘filtrar’ Bolsonaro, impedindo defesa pessoal e de residências particulares e avanços do que a população pede”. Tá aí, o caminhão avançou, matou um homem de 72 anos, em defesa pessoal do seu direito de rodar pela estrada.
Todo mundo sabe que este texto poderia seguir listando dezenas (centenas?) de declarações e posicionamentos com o mesmo teor de Jair Bolsonaro, de seus filhos, de membros de seu governo e de sua horda de seguidores.
Vão dizer que a Esquerda já está fazendo uso político de uma morte, vão dizer que não podem responder por o que fez um caminhoneiro que agiu por conta própria, vão dizer que se o MST não estivesse bloqueando rodovia, isso não teria acontecido, vão dizer…
Resta àqueles que se enojam com este discurso permissivo da violência, com este governo fascistoide, com este presidente irresponsável e infinitamente menor do que o cargo que ocupa, resta àqueles que se enojam com tudo isso, como este que escreve, esperar o que a História vai dizer disso tudo.
E, até lá, que não morra tanta gente.

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Observação deste blogueiro: na verdade, não foi a primeira vítima. Antes, foram eliminados muitos indígenas, quilombolas, agricultores, sindicalistas e afrodescendentes.