Concentração de renda sobe e Bolsonaro aprofunda desigualdade, diz Oxfam
Jamil Chade
Colunista do UOL
20/01/2020 05h36
O número de bilionários do mundo duplicou nos últimos dez anos e essa camada já soma mais recursos que 60% da população mundial. O alerta está sendo publicado nesta segunda-feira pela entidade Oxfam, que denuncia as políticas econômicas de Bolsonaro e alerta que a estratégia do governo aprofundará a desigualdade.
O documento está sendo publicado às vésperas da reunião de Davos, na presença das maiores lideranças internacional e da elite do mundo das finanças.
Para escancarar a incapacidade do sistema em lidar com a desigualdade, a Oxfam traz dados sobre o que representa hoje a concentração de renda.
"Os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África", diz o relatório. No total, 2,1 mil bilionários têm em 2020 uma riqueza acumulada superior aos 4,6 bilhões de pessoas mais pobres do planeta.
A constatação também aponta que, se esse grupo de pouco mais de 2 mil pessoas pagasse apenas 0,5% de imposto extra sobre a sua riqueza durante uma década, 117 milhões de novos empregos em áreas sociais seriam criados. Hoje, existem pouco mais de 180 milhões de desempregados no mundo.
O informe também destaca como mulheres e meninas pobres vivem no final dessa escala de riqueza. Juntas, elas acumulam 12,5 bilhões de horas de trabalho não remunerado todos os dias. Em um ano, isso representaria US$ 10,8 trilhões por ano.
"Nossas economias falidas estão enchendo os bolsos dos bilionários e dos grandes negócios às custas dos homens e mulheres comuns", afirma o documento. "Não surpreende que as pessoas comecem a questionar se os bilionários devem sequer existir", disse o chefe da Oxfam na Índia, Amitabh Behar.
A entidade também ataca as opções econômicas de alguns governos, como o do Brasil. "A maioria dos líderes mundiais ainda está perseguindo agendas políticas que conduzem a uma maior distância entre os que têm e os que não têm", disse.
"Líderes como o Presidente Trump nos EUA e o presidente Bolsonaro no Brasil são exemplos dessa tendência. Eles estão oferecendo políticas como redução de impostos para bilionários, obstruindo medidas para enfrentar a emergência climática, ou o racismo, o sexismo e o ódio às minorias", declarou.
"Diante de líderes como esses, pessoas em todos os lugares estão se reunindo para dizer que já chega. Do Chile à Alemanha, os protestos contra a desigualdade e o caos climático são enormes. Milhões estão tomando as ruas e arriscando suas vidas para exigir o fim da desigualdade extrema e exigir um mundo mais justo e mais verde", alertam.
As críticas também se dirigem às medidas adotadas durante o governo de Michel Temer. "Os cortes governamentais também estão exercendo pressão sobre as organizações de mulheres. No Brasil, em 2017, os cortes nos gastos públicos contribuíram para uma redução de 66% do financiamento federal no orçamento inicialmente destinado em 2017 aos programas de direitos das mulheres que promovem a igualdade de gênero", diz a Oxfam.
"O fosso entre ricos e pobres não pode ser resolvido sem políticas deliberadas de combate à desigualdade", disse Behar.
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