Mauro Ostwald
Empresário e consultor
O hipotético assassinato de um amigo
A morte de um verdadeiro amigo não é fácil. Assassinado então, nem se fala. Agora imagine se você fosse o responsável direto por ordenar essa execução... deve ser terrível. Amigo não tem preço, está sempre presente, principalmente quando mais precisamos, naquelas horas mais difíceis de nossas vidas
A morte de um verdadeiro amigo não é fácil. Assassinado então, nem se fala. Agora imagine se você fosse o responsável direto por ordenar essa execução... deve ser terrível. Com certeza algo que assombraria você pelo resto da vida. Amigo não tem preço, está sempre presente, principalmente quando mais precisamos, naquelas horas mais difíceis de nossas vidas. Os verdadeiros amigos são assim. Tomar a decisão, qualquer que seja a sua motivação, para que um amigo desse tipo seja eliminado, é algo brutal demais. É algo que só seria compreendido por alguém tão louco e mau quanto você seria, se realmente mandasse matar um amigo. Um verdadeiro amigo.
Superar os bons momentos que tiveram durante anos, décadas, os projetos em comum, as conquistas, os sonhos, as homanagens eventualmente feitas, as famílias e o auxílio daqueles parentes mais próximos, mais necessitados de recursos, por vezes empregando eles, mesmo que tomasse deles parte de suas remunerações. Superar isso tudo e conseguir dar a ordem para matar o seu verdadeiro amigo. Talvez você fosse classificado como louco, sem honra, covarde, psicopata. Talvez você fizesse parte da escória de nossa sociedade, parte daquilo que ela tem de mais sujo e podre, aquilo de mais doente, nojento, desprezível. Afinal de contas, vocês eram amigos. Verdadeiros amigos.
Deixando de lado a culpa, o peso, o que você faria para tentar encobrir os seus rastros? Primeiro convencê-lo de que sua segurança estava em risco, como consequência de alguns eventuais projetos em comum em que ele tenha sido o protagonista e você o coadjuvante. Seria essa uma boa ideia? Na sequência, mandá-lo para longe, quem sabe escondido em um local afastado dos grandes centros. O tempo passaria, os projetos ficariam cada vez mais distantes, soterrados no passado, nas lamas dos Brumadinhos da vida. Seu amigo, seu verdadeiro amigo teria a falsa sensação de segurança. Afinal de contas, ele sabe que pode confiar em você. Vocês são verdadeiros amigos.
Depois de alguns meses, pronto, bastaria contratar um matador de aluguel e o serviço seria fácil, tranquilo, sem maiores dificuldades. Agora imagine se você fosse alguém com muito poder e influência... o sucesso seria ainda mais garantido, certo? O amigo teria ainda mais confiança em você com seus super poderes, ficaria ainda mais relaxado, um alvo ainda mais fácil. Por mais que ele fosse, imaginemos, alguém experiente o suficiente para lidar com situações de altíssimo risco, mesmo que ele fosse um mestre nessa arte, ele seria um alvo fácil. Paralelo a isso, com tanto poder e influência, você usaria tudo que tem não para proteger seu amigo de fé, muito pelo contrário. Você chegaria nele com tudo que tivesse e ele morreria sem nem mesmo entender o que você fez. O assassinato de um verdadeiro amigo.
Melhor ainda seria se você pudesse jogar sobre ele alguma culpa que você eventualmente tivesse, decorrente de algum trabalho nefasto que não tenha dado muito certo. Algo que esteja ainda nos dias de hoje maculando a sua imagem e de sua família. Algo que mesmo com seu eventual poder e influência esteja fedendo mais do que a Baía de Guanabara. Imaginou? Com apenas mais um assassinato – supondo que você já tivesse envolvimento com outros – você conseguiria resolver esse problema também, jogando no amigo morto toda a sua culpa. Um crime hipotético, sem perdão e provavelmente sem nenhuma punição. Brilhante? Ultra brilhante. Enfim, seria amigo verdadeiro até na hora da morte.
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